quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Missão da Igreja

A Missão da Igreja

Qualquer debate a respeito da missão da Igreja leva-nos a considerar os alicerces nos quais acha-se edificada a sua identidade. Os pentecostais certamente tornaram-se notórios pelo fervor de sua reação à missão redentora que nos confiou o Senhor Jesus Cristo. Mesmo assim, cada geração deve ter a sua própria apreciação da missão e propósitos nos quais centralizam-se a sua identidade.’

Nosso conceito da Igreja e de sua missão encontra-se profundamente arraigado à nossa experiência com Cristo e com o Espírito Santo. Sugerir que nos esquivemos dessa influência para, simplesmente, teorizarmos a respeito da Igreja e de sua missão, implica na remoção da parte essencial de nossa vocação.

Embora algumas tradições religiosas considerem o Movimento Pentecostal como basicamente centralizado nas experiências, não devemos permitir que isso lance dúvidas à obra soberana de Deus reintroduzida no século XX. O Espírito tem, graciosamente, permitido que o nosso movimento sirva de testemunho do revestimento de poder necessário à Igreja ser o meio de levar a efeito a missão redentora que nos confiou Deus.2

A MISSÃO DA IGREJA SEGUNDO A BÍBLIA

Embora os temas do Pentecostes e da missão da Igreja sejam importantes à nossa reflexão, a compreensão bíblica torna-se indispensável. Desde a Criação até à Consumação, a Bíblia registra a reconciliação como o aspecto fundamental do caráter divino. A missão de Deus, que é reconciliar consigo mesmo a humanidade, segundo os registros autorizados das Escrituras, revela a origem de nossa motivação suprema quanto à missão da Igreja.

ALICERCES NO ANTIGO TESTAMENTO

O Antigo Testamento oferece-nos as figuras iniciais dos esforços de Deus em redimir um povo que lhe refletisse a glória. A história primitiva do povo de Deus está fixada no contexto de “as nações” (Gn 12.3; 22.17). Esse fato tem profunda relevância para o desdobramento da intenção de Deus: a redenção da humanidade.

Gênesis 1.26-28 revela que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Embora esse fato requeira explicações consideráveis, dois elementos fazem-se fundamentais:

(1) Fomos criados para ter comunhão com Deus.

(2) Temos a responsabilidade, pelo fato de termos sido criados à sua imagem, de manter esse relacionamento com Deus.

A totalidade da raça humana compartilha de uma origem e dignidade comuns em virtudes de suas raízes também comuns. Jamais poderemos contemplar o mundo sem vermos a Deus como o Deus de toda a humanidade, Estamos sujeitos a Deus, e vivemos na esfera de sua atividade redentora.

O Gênesis (capítulos 1 — 11) registra os inícios da História; o Apocalipse, a sua culminação. O caráter redentivo de Deus permeia o tema da salvação, tema este que abre caminho pelas complexidades da História, e que terá como auge a redenção de um número incontável de pessoas de cada “tribo e língua” reunidas em derredor do trono divino (Ap 5.9,10; 7.9-17). No relato da família de Abraão, vemos o início do escopo mundial da redenção (Gn 12.1-3). Não foi para excluir o restante da humanidade que Deus escolheu um homem ou um povo.

Pelo contrário: Abraão e Israel foram escolhidos para que canalizassem as bênçãos divinas a todos os povos da terra (Gn 12.3). Deus foi lidando com Abraão e com Israel a fim de exprimir suas reivindicações redentoras sobre todas as nações. Israel, como o povo de Deus no Antigo Testamento, tinha um triste histórico: esquecer-se do propósito para o qual fora escolhido por Deus. Seu orgulho veio a ser causa de muitas tragédias. Deus usava continuamente os profetas, inspirados pelo Espírito Santo, para lembrar ao povo de que sua identidade era de “luz para todas as nações” (Is 49.6).

Exodo 19.4-6 retrata como Deus salvou a Israel do Egito. O Senhor era, para com Israel, como se fosse uma águia vigiando seus filhotes no aprendizado do vôo. Israel era “propriedade peculiar” de Deus. A terra inteira era do Senhor, mas Israel devia ser “reino sacerdotal e povo santo”. Santo no sentido de ser separado para Deus, a fim de cumprir o seu propósito de abençoar a todas as nações.

Num trecho paralelo (Dt 7.6-8), Deus induziu a seu povo a lembrar-se de que não mereciam essa condição por sua própria grandeza qualitativa ou quantitativa. Eram sua possessão preciosa pela sua própria escolha e graça, e porque Ele é amor. Como povo santo de Deus, deviam refletir-lhe o amor. Por isso, tomou-os um “reino sacerdotal”. Nesse trecho, Deus estava fazendo seu povo lembrar-se de sua missão. Israel devia funcionar como intermediário entre as nações e Deus.

Como “nação santa”, teria de se dedicar completamente aos propósitos para os quais foram escolhidos e colocados. Sua identidade não tinha outra fonte senão o amor de Deus, e seu propósito não tinha outra origem senão aquela definida pelo Senhor.

Outro trecho do Antigo Testamento oferece-nos uma perspectiva clara acerca da intenção de Deus para o seu povo. O Salmo 67 é um cântico missionário; uma oração para que Deus abençoe o seu povo. As bênçãos divinas sobre os israelitas demonstrariam às nações que Ele é gracioso. Sua salvação seria então conhecida, e todas as nações da terra participariam de seu louvor jubiloso. Esse salmo era cantado regularmente em conexão com a bênção sacerdotal (Nm 6.24-26).

Vemos aqui uma mensagem tanto ao povo de Deus no Antigo Testamento, quanto à Igreja: Deus entrega ao seu povo o papel central na tarefa mediadora de proclamar e demonstrar às nações o seu nome (ou seja: o seu caráter) e a sua salvação.

O povo de Deus é convocado

(1) para proclamar às nações o seu plano (Gn 12.3);

(2) para participar do seu sacerdócio como agentes de bênção para o mundo (Ex 19; Dt 7); e

(3) demonstrar o seu propósito a todos os povos ( Sl 67) .

O SERVO DO SENHOR

A missão redentora de Deus, vista mais claramente em Jesus Cristo, deve ser examinada dentro do fundo histórico do que Deus já estava fazendo durante o período veterotestamentário. Esse fato é ressaltado nitidamente em Isaías 49.3-6.

No v. 3, o Servo é chamado Israel, mas não pode haver referência à nação de Israel, pois o propósito de Deus é usar o Servo para trazer a restauração ao próprio Israel (v. 5) . Deus declara ao Servo: “Também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (v. 6). O Espírito Santo pairava sobre Simeão quando este tomou o Menino Jesus nos braços, e louvou a Deus por Ele haver cumprido Isaías 49.6 (Lc 2.25-32).

Jesus passou a comissão adiante aos seus seguidores em Lucas 24.47,48 e Atos 1.8, com o mandamento adicional de esperar a promessa do Pai: o poder do alto. O mesmo versículo (Is 49.6) oferece mais motivos para a salvação dos gentios (At 28.28).

A encarnação de Cristo, portanto, demonstrou, na carne humana, o caráter reconciliador de Deus. Ele, na sua graça soberana, procura restaurar a sua criação a si mesmo. A identidade e a missão da Igreja acham-se arraigadas na pessoa de Jesus Cristo e naquilo que Deus tem realizado através dEle. Ao buscarmos entender a Igreja e a sua missão, devemos sempre voltar à missão redentora tão claramente articulada e exemplificada pelo Unigênito de Deus - Jesus Cristo.

Em Jesus Cristo, vemos o testemunho mais fundamental do Reino de Deus. Este estava personificado em Jesus, conforme vemos no seu ministério e milagres. Sua vida, morte e ressurreição garantem-nos que, quando Ele vier de novo, esmagará a soberba que tem destruído a harmonia entre as nações bem como entre as pessoas. Em Jesus, vemos o poder de Deus que um dia neutralizará o governo humano, e encherá o mundo com um reino de justiça.” O reino, ou governo de Deus, através da vida e ministério de Jesus, revelou o poder para destruir o domínio sufocante que o pecado tem sobre a humanidade. Essa é a base da missão global da Igreja na era presente.

A proclamação feita por Jesus das boas-novas do Reino deve ser entendida em termos da aliança com Abraão, cujas condições declaravam o propósito de Deus: abençoar a todos os povos da terra (Gn 12.3).

Jesus não deixou dúvidas quanto ao Reino de Deus já ter entrado na História, embora sua derradeira consumação ainda esteja no futuro (Mt 24.14).

Porque esse reíno já está manifestado à destra do trono do Pai, onde Jesus está agora exaltado, e intercede por nós (At 2.33,34; Ef 1.20-22; Hb 7.25; 1 Jo 2.1) e de onde “tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.33), a Igreja pode avançar com confiança. O testemunho autorizado do ministério terrestre de Cristo, registrado nos evangelhos, ajuda-nos a compreender onde acharemos o nosso propósito, e como devemos oferecer o nosso serviço no cumprimento da missão que nos confiou Cristo,

É essencial, para entendermos a natureza da Igreja e de sua missão, tomar consciência de que qualquer tentativa de se ministrar em nome de Jesus deve reduplicar seu ministério no seu propósito, caráter e poder. Nosso ministério é legítimo somente se representar de modo verídico o ministério de Cristo.

Qualquer esforço que tenha por alvo o ministério de Cristo, deve refletir a solicitude do Salvador pela redenção eterna da humanidade. Cristo anda em nosso meio com a firme intenção de ministrar aos perdidos, aos quebrantados, aos cativos e aos oprimidos deste mundo. Ser cristão é perguntar onde Cristo está operando e como poderemos participar de sua obra. Esse propósito eterno é a única causa que merece a nossa filiação, e em direção da qual vale a pena levar o povo de Deus.

ALICERCES NEOTESTAMENTÁRIOS

O Novo Testamento registra o testemunho, não somente do ministério terrestre de Cristo, como também do aparecimento da Igreja como a expressão mais plena do povo de Deus. São numerosos os temas que se acham nas Escrituras que, de maneira bastante clara, fornecem as bases adequadas para qualquer tentativa séria de reflexão teológica sobre a missão da Igreja. Vários textos fundamentais ajudam-nos a compreender devidamente o assunto.

O mandato para as missões acha-se em cada evangelho e em Atos dos Apóstolos. Porque toda a autoridade nos céus e na terra foi entregue a Jesus: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do

Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a Obedecer a tudo o que eu lhes ordenei.

E eu estarei sempre com vocês, até ao fim dos tempos” (Mt 28.18-20 [NIV]).

“Vão” (gr. poreuthentes) não é um imperativo. Significa, literalmente, “tendo ido”. Jesus toma por certo que os crentes irão, quer por vocação, por lazer, ou por perseguição. O único imperativo nesse trecho bíblico é “façam discípulos” (gr. mathêteusate), que inclui batizá-los e ensiná-los continuamente.

Marcos 16.15 também registra esse mandamento: “Tendo ido por todo o mundo, proclamem [anunciem, declarem e demonstrem] as boas novas a toda a criação” (tradução literal).

Lucas 24.45 narra como Jesus abriu a mente dos seus seguidores “para compreenderem as Escrituras”. Em seguida, declara-lhes: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46,47). Deviam esperar, contudo, até que Jesus enviasse o que o Pai lhes prometera, até serem “revestidos de poder do alto” (Lc 24.49).

Jesus também disse que, “quando ele (o Espírito Santo) vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo” ( Jo 16.8). E, posteriormente, quando os discípulos viram o Senhor ressuscitado, receberam dEle esta comissão:

“Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.21). Mas não teriam de ir com as próprias forças. As palavras de Jesus antes de sua ascensão confirmaram que o mandato deve ser levado a efeito no poder do Espírito (At 1.8). O Espírito, através deles, faria o trabalho da convicção e do convencimento do mundo.

Posteriormente, o apóstolo Paulo ofereceu um quadro de como a Igreja deve compreender a si mesma e à sua missão (2 Co 5.17-20). 0 v. 17 declara que o governo de Cristo veio em grande poder a fim de abrir uma era de vitória e reconciliação. Os vv. 18-20 deixam bem claro que a vitória de Cristo, agora, será tornada tangível pelos crentes que são chamados “embaixadores de Cristo”. Paulo retrata a Igreja cujos membros, pelas suas ações, demonstram diante do mundo o que significa ser reconciliado com Deus. O apóstolo quer que haja uma Igreja que, mediante a sua vida coletiva, demonstre ao mundo o caráter de Deus, o Deus da reconciliação. De modo confiante e ousado, como embaixadores de Cristo, devemos fazer um apelo à humanidade para que se reconcilie com Deus.

Nossa missão como Igreja descobre a sua razão de ser ao compartilhar, com um mundo moribundo, um Deus cujo propósito é “ter um povo separado do meio de todos os povos”.

A Epístola aos Efésios retrata uma Igreja que centraliza sua atenção nas missões. Acaba com qualquer tentativa de se conceber a missão da Igreja como um mero programa, ou seja: a idéia de que as missões nacionais e estrangeiras devem receber uma ênfase meramente simbólica, sem prioridade sobre números ou programas. Efésios retrata uma nova comunidade de pessoas que refletem o governo do seu Rei vitorioso em todos os aspectos do seu relacionamento. Essa

comunidade não é deixada em dúvidas sobre o que seus membros podem e devem fazer (Ef 1.9,10).

Estão unidos na identidade que o próprio Senhor Jesus dá à comunidade. Seu interesse primário é o único grande propósito: a continuação da missão reconciliadora de Cristo, que a Igreja, revestida de poder, deve levar adiante.

Paulo ressalta o fato de que todas as nossas considerações a respeito da Igreja e de sua missão não são meras abstrações, nem simples assuntos a serem estudados ou debatidos. A Igreja é uma comunidade visível que reflete a missão de um

Deus reconciliador. A Igreja deve ser a “hermenêutica do Evangelho”, o lugar onde as pessoas poderão ver o Evangelho retratado em cores vivas (2 Co 3.3).

Como o Evangelho pode ser suficientemente fidedigno e poderoso a ponto de levar as pessoas a crerem que um homem pendurado na cruz realmente tem a derradeira palavra nos assuntos humanos? Sem dúvida, a única resposta, a única hermenêutica, é uma congregação que crê nisso e que vive à altura de sua fé (Fp 2.15,16).

Isso quer dizer: somente uma igreja ativa na missão pode dar a razão adequada para a necessidade da reconciliação que o mundo está pedindo aos brados sem ter consciência disso.

A Primeira Epístola de Pedro faz da Igreja um tema de destaque. No segundo capítulo, Pedro cita livremente dois temas do Antigo Testamento e os aplica à Igreja. Nos vv. 9 e 10 refere-se aos textos de Deuteronômio e Exodo que já receberam um breve estudo neste capítulo. A Igreja deve ser uma demonstração coletiva da reconciliação, ou seja: um sacerdócio real, A Igreja é um povo santo, separado para uma missão bem definida. Os crentes declaram as boas- novas de que Deus os redimiu das trevas da autodestruição e do domínio de Satanás.

Agora se acham na luz divina que revela a sua identidade e propósito como o povo de Deus. Pedro, nesses versículos, sintetiza seu conceito da Igreja e de sua missão. A missão da Igreja baseia-se na missão de Deus para reconciliar a humanidade consigo mesmo. A Igreja declara entre todos os povos o que Deus tem feito em Jesus Cristo. Pedro parece estar relembrando a admoestação do Salmo 96.3: “Anunciai entre as nações a sua glória; entre todos os povos, as suas maravilhas”.

Claramente, o Novo Testamento retrata uma comunidade revestida pelo poder do Espírito a fim de continuar a missão divina da reconciliação. Com Cristo e o Espírito, a Igreja já começou sua existência como o povo de Deus, não somente tendo suas raízes no passado, mas também, e do modo mais importante, enfocando o futuro. Essa última dimensão dá um senso de confiança e de coragem ao povo de Deus ao viver a koinõnia (“comunhão”, “convívio”, “parceria”) do Espírito e ao dar poderoso testemunho das boas- novas de Jesus Cristo ao mundo inteiro.

PODER PARA A MISSÃO

Para o cristão realmente entender o que ele realmente é, faz-se indispensável a afirmação de que a missão da reconciliação, revestida pelo poder do Espírito Santo, fornece a essência de nossa identidade:

Somos um povo vocacionado e revestido pelo poder do alto (At 1.8) para sermos cooperadores de Cristo na sua missão redentora. A partir daí, o que significa ser um pentecostal está pelo menos parcialmente incorporado à avaliação da natureza e do resultado do batismo no Espírito Santo conforme registrado em Atos 2. Os pentecostais têm afirmado historicamente que esse dom, prometido a todos os crentes, é o poder para a missão. Os pentecostais recebem esse nome, disse o missiólogo pentecostal Melvin Hodges, porque acreditam que o Espírito Santo virá aos crentes nos tempos atuais assim como veio aos discípulos no Dia de Pentecostes. Um encontro desse tipo resulta na presença poderosa do Espírito que passa a assumir a liderança. O resultado também inclui manifestações evidentes do seu poder para redimir e para levar a efeito a missão de Deus.2’

A RELEVÂNCIA DO PENTECOSTALISMO

No Dia de Pentecostes, Jesus concedeu aos discípulos o dom do Espírito. O prometido derramamento do Espírito sobre os que o esperavam, deu-lhes a possibilidade de continuarem a fazer e a ensinar as coisas “que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar” (At 1.1,2). O dom do Espírito sugere que os crentes foram revestidos, no Dia de Pentecostes, com a mesma unção que Jesus recebera para executar a sua missão.

O revestimento de poder infundiu confiança nos 120 e nos que iam sendo acrescentados diariamente à Igreja. Não seriam deixados a cumprir a tarefa por conta própria. O Pentecostes, portanto, fazia parte essencial de como a Igreja passou a compreender a si mesma e ao seu propósito. Dois mil anos mais tarde, o Pentecostes continua sendo vital para a Igreja compreender a si mesma. Devemos buscar sempre e continuamente mais esclarecimento a respeito.

No Dia de Pentecostes, passou a existir uma comunidade carismática como a residência primária do governo de Deus. Os crentes podiam ir adiante na sua declaração do Reino, porque o Cristo reinante chegara a todos eles mediante o Espírito. Agora, passariam a ser testemunhas do governo de Cristo, e ressaltariam com palavras e ações o caráter e o poder autorizados do Rei. “O Pentecostes é Deus quem se oferece a si mesmo, de modo totalmente adequado aos seus filhos, sendo que isso foi possibilitado pela obra redentora do seu Filho Jesus Cristo.

O Pentecostes é a chamada de Deus aos seus filhos para serem purificados interiormente, e para serem revestidos de poder para testemunhar”. A vinda do Espírito foi a primeira prestação do Reino e testemunha da realidade deste. Foi, também, testemunha da continuação da missão redentora de Deus, que é levada adiante até “às regiões além” com fervor incansável, obra esta que é sustentada pela distribuição dos dons.

Conforme foi declarado antes, o Pentecostes é crucial para os pentecostais entenderem a sua existência.

Não somente é um evento de relevância na História da Salvação, como também fornece implicações profundas para um debate sobre a Igreja e sua missão. Esse dom está vinculado à formação da missão da Igreja para proclamar as boas-novas, e também à sua missão para criar padrões de testemunho de vidas transformadas.

O MODO DE LUCAS ENTENDER A MISSÃO

O modo de Lucas elaborar essa conexão crucial entre o batismo no Espírito e a eficácia da missão da Igreja pode ser visto no mútuo relacionamento de pelo menos três textos em Lucas e Atos. Lucas 24.49 oferece uma perspectiva missionária no seu enfoque da necessidade de poder para a tarefa que a Igreja tem diante de si: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”.

O tema de revestimento de poder para a missão é retomado em Atos 1.8, onde Jesus, imediatamente antes de subir ao Pai, reafirma aos discípulos: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém corno em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Essa promessa foi cumprida no Dia de Pentecostes, conforme se vê registrado em Atos 2. O batismo no Espírito Santo, com sua manifestação exterior do falar noutras línguas, é vital para o cumprimento da promessa que aparece em todos esses textos.

As palavras inspiradas de Pedro que seguiram o derramamento pentecostal demonstram que ele recebeu um esclarecimento relevante da missão que Cristo veio introduzir. Falando pelo Espírito, Pedro identificou as implicações apostólicas na profecia do antigo profeta Joel. O apóstolo viu claramente a vinda do Espírito no Dia de Pentecostes como uma confirmação de que já tinham chegado os “últimos dias” (At 2. 14-21). Isto quer dizer que a Era da Igreja, a era do Espírito, é a última era antes da volta de Cristo para estabelecer seu reino na terra. Não haverá nenhuma outra era antes do Milênio. Pedro explicou, ainda, que a vinda do Espírito deixou claro que a obra de Cristo era vitoriosa, e que sua posição como Senhor e Cristo era garantida (At 2.34-3 6).

Pedro passou, então, a experimentar um resultado surpreendente do revestimento de poder mediante o batismo no Espírito: tomou-se porta-voz do Espírito Santo para proclamar as boas-novas do perdão mediante Jesus Cristo, e fez um apelo aos ouvintes para que se reconciliassem com Deus. Ao mesmo tempo, Pedro levou os ouvintes a entender que uma resposta obediente à mensagem da reconciliação resulta em sua imediata integração à comunidade que demonstra vividamente, através de uma nova ordem redentora, o que significa ser reconciliado com Deus (At 2.37-40).

O restante do capítulo dois oferece um pequeno relance da primeira igreja.

Vemos como os crentes procuravam concretizar a chamada envolvida no batismo pentecostal para serem uma comunidade nascida do Espírito e comissionada a testemunhar por meio do Espírito de Cristo.

Uma teologia pentecostal da missão da Igreja deve levar a sério o fato de o batismo no Espírito ser uma promessa cumprida. A linha de argumento seguida pela totalidade de Atos dos Apóstolos demonstra a natureza do papel do Espírito no plano de Deus para a redenção. A estrutura em Atos demonstra que esse revestimento de poder tem a intenção de levar o povo de Deus a atravessar terrenos geográficos e culturais com as boas-novas do Evangelho. A Igreja irrompe da miopia do povo de Deus no Antigo Testamento, e começa a refletir a natureza universal do plano eterno de Deus para a redenção.

O revestimento do poder pentecostal possibilita as várias expressões de ministério que aparecem em Atos, O Espírito Santo é o dirigente da missão. Não somente o Espírito capa- cita as pessoas a testemunhar, como também dirige quando e onde esse testemunho deve ser dado.

Vastas fronteiras culturais foram atravessadas quando o Evangelho avançou além das fronteiras de Jerusalém (At 8). Os cristãos que saíram de Jerusalém proclamavam o Evangelho “por toda parte” (v. 4). Os vv. 5-8 registram como Filipe anunciou o Evangelho aos samaritanos, bem como os poderosos encontros resultantes em que o Evangelho triunfou e trouxe “grande alegria”.

Atos 10 demonstra como a Igreja foi levada a reconhecer que os gentios deviam ser incluídos no Reino de Deus. A Igreja deve abranger todos os povos, e dar testemunho ativo do fato de que o Evangelho é para todas as nações. A visitação angelical e os sonhos também parecem indicar que o sobrenatural pode, na realidade, ter sido bem normal nesse plano de Deus para a redenção, conforme Ele o tornava conhecido aos gentios.

Atos 11.19-26 revela que numerosos gentios foram acolhidos na igreja em Antioquia. Barnabé foi designado a ajudá-los, e avaliou essa igreja crescente como legítima. O resultado foi uma autêntica igreja multicultural que concretizava dois fatos: o Evangelho devia ser pregado com poder até aos “confins da terra”, e aqueles que o ouviam deviam corresponder com uma mudança genuína na maneira de viver e nos seus mútuos relacionamentos. O fato de que “em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (v. 26), demonstra que outras pessoas reconheciam tal transformação em suas vidas.

Esse testemunho incomparável do movimento poderoso do Evangelho através das fronteiras culturais e geográficas produziu muito fruto quando Antioquia veio a tomar-se uma igreja internacional, multicultural e missionária. Atos 13.2,3 registra seu processo de selecionamento e confirmação, quando enviou seus primeiros missionários, Paulo e Barnabé.

Atos 13.4 demonstra que o Espírito Santo, além de instigar a igreja em Antioquia a enviar esses missionários, também lhes determinou os alvos a serem alcançados. Semelhantes atividades missionárias, guiadas pelo Espírito Santo, continuavam a avançar em círculos cada vez maiores, ultrapassando barreiras culturais. Atos 15 narra a orientação do Espírito Santo no sentido de afirmar que o Evangelho de Cristo abrange a todos, e que não é exclusivamente judaico. A decisão da conferência em Jerusalém, orientada pelo Espírito, levou Paulo, Barnabé e outros a atravessar barreiras ainda maiores.

Nos capítulos subseqüentes de Atos dos Apóstolos, Lucas continua seu mapeamento do plano redentor de Deus, levado a efeito pelo Espírito Santo através dos homens revestidos pelo seu poder. Lucas enfatiza com clareza o fato de que esses apóstolos e crentes, descritos em Atos dos Apóstolos, recebiam poder e orientação do Espírito de modo bem semelhante a Jesus quando de seu ministério terreno.

A maneira de Lucas tirar um paralelo entre o batismo no Espírito Santo e o revestimento de poder para a missão da Igreja pode ser resumida de modo sucinto: “A glossolalia, como parte integrante da experiência do batismo no Espírito em Atos 2, representava uma participação verbal no revestimento do poder do Espírito e... no poder criador do Espírito para dar início à ordem de vida redentora de Cristo Jesus”.

Em Atos 10 e 19, essa experiência também é mencionada explicitamente, e é subentendida em vários outros casos (At 4 e At 8). Faz parte crucial da teologia de Atos ligar o falar noutras línguas ao poder do Espírito para admitir uma pessoa e um grupo como testemunhas, participando individual e coletivamente na missão redentora de Jesus Cristo.

Em Atos 11,17 e 15.8, Pedro relata o fato de que a inclusão dos gentios na comunidade redentora está ligada a uma experiência comum no batismo no Espírito. Quando declara que Deus “lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós” (15.8), coloca categoricamente o batismo no Espírito dentro da intenção do derramamento no Dia do Pentecostes. Em essência, diz a todos aqueles que ouvem a narração daquele dia tão importante na casa de Cornélio, que o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar noutras línguas é parte integrante daquele encontro espiritual com Deus.

Esse encontro assinala claramente o senhorio de Cristo: Ele está no comando de tudo. Evidencia a sua autoridade ao criar em nós uma nova língua, demonstrando, assim, que Ele não somente é o Criador como também o Recriador. Ele é o Deus que está incorporando alguns de cada tribo e língua e povo e nação no seu reino, e as portas do hades não poderão prevalecer contra semelhante esforço (Mt 16.18; Ap 5.9).

O mesmo encontro com Jesus Cristo, hoje, dá-nos poder para testemunhar da mensagem do Reino, e para participar de modo criativo da comunidade da redenção que conclama o mundo a reconciliar-se com Deus (2 Co 5,20).

Concluindo: várias questões devem ser reiteradas no tocante à importância do Pentecoste para o desenvolvimento de uma teologia da Igreja e de missões. A conexão entre o batismo no Espírito dado no Dia de Pentecostes e nosso entendimento e implementação da missão da Igreja é estreita e intrínseca. “O Pentecoste significa que a vida eterna e sobrenatural do próprio Deus transbordou sobre a Igreja, e que o mesmo Deus, no seu ser e poder, estava presente no seu meio”.

O revestimento de poder, que está presente no batismo no Espírito Santo, visa levar o povo de Deus a atravessar fronteiras geográficas e culturais com as boas-novas do Evangelho. “A missão da Igreja é a continuação da missão de Jesus Cristo”. Assim como o Espírito Santo foi dado a Jesus para o cumprimento de sua missão (Lc 3.22), assim também o Espírito .é dado aos seus discípulos (At 1.8; 2.4) para continuar essa mesma missão (de reconciliação) — e isso de modo carismático,

A CONEXÃO GLOBAL

“Cosmovisão” é um termo que os antropólogos empregam para descrever o que se acha no âmago de cada cultura. A cosmovisão é uma rede de percepções inter-relacionadas que orientam todas as facetas de nossa vida, E o modo de o universo humano ser percebido e entendido pelos membros de uma determinada sociedade. Fornece diretrizes para o emprego de nosso tempo, bem como para nossas suposições a respeito do mundo material. A cosmovisão faz perguntas tais como: O que causa essas coisas? Que poder está por trás dessa ação? Que forças estão operando no Universo? Que resultados trazem? E essas forças são pessoais ou impessoais? Ou ambas?

A cosmovisão pentecostal reflete um modo de entender que abrange a realidade de todos os aspectos da vida — naturais e sobrenaturais. A profecia, a orientação divina, as visões e os sonhos, as curas e os demais milagres, não são considerados exemplos estáticos daquilo que Cristo fazia. São realidades que continuamos a esperar nos dias de hoje; realidades estas que permitem que sejam demonstradas a grandeza e glória de Deus.

O fato de que o Espírito Santo quer estar operando poderosamente em, e através da vida de cada crente, pode tornar novo e emocionante cada dia. Esse revestimento de poder abre a porta para que o Espírito dê ao cristão um senso daquilo que precisa ser feito, e a capacidade de fazê-lo. Os pentecostais não somente afirmam que os cristãos têm o direito de experimentar o envolvimento sobrenatural do Espírito de Deus, mas também esperam que o poder de Deus permeie a vida de cada seguidor de Cristo.

Não podemos entender a essência do Pentecostalismo sem reconhecer que nosso conceito dinâmico da causalidade realça a forma de nosso entendimento da missão da Igreja e da expressão conseqüente dos ministérios cristãos. A lente através da qual os pentecostais olham para poderem agir, tem o rótulo da declaração do antigo profeta Zacarias: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito” (Zc 4.6). Os pentecostais participam da missão da Igreja, afirmando que Deus cumprirá a sua Palavra. Seus propósitos reconciliadores são inabaláveis, e seu poder para levar a efeito tais propósitos faz parte integrante da ressurreição de Cristo. Afirmamos, também, que o Pentecoste é a garantia de que a missão redentora de Cristo continua intacta mediante o ministério do Espírito Santo. A porta de entrada à semelhante cosmovisão é o batismo no Espírito, conforme descrito em Atos 1.8 e 2.4.

Embora todos os cristãos devam ver na Bíblia a sua derradeira fonte de autoridade, os encontros pessoais com o Deus vivo certamente criam impacto em nosso conceito da missão da Igreja e até mesmo na nossa interpretação dos textos bíblicos. Embora pentecostais responsáveis jamais proporão uma experiência espiritual como um fim em si mesma, afirmamos que um encontro genuíno com o Deus vivo deixará um impacto emocional considerável. Podemos dizer que se trata de “teologia cristocêntrica confirmada pela experiência”. A cosmovisão e, portanto, as pressuposições que os pentecostais têm ao refletirem sobre a Igreja e a sua missão, não pode ser removida desse encontro com Deus, pois faz parte integrante da nossa identidade. Isto não pode suplantar em evidencia o que procuramos expressar e concretizar conceptualmente através da missão da Igreja.

A VISÃO DA MISSÃO

A REFLEXÃO TEOLÓGICA INICIAL

A história do Pentecostalismo não pode ser compreendida corretamente à parte da sua visão missionária. O surgimento do Movimento Pentecostal no início do século XX, produziu um aumento repentino dos esforços missionários. Até mesmo uma avaliação superficial dos primeiros registros do reavivamento pentecostal leva à observação de que foi firmado um relacionamento estreitíssimo entre o falar em línguas como evidência de se estar revestido de poder para o testemunho cristão, a fervorosa esperança na iminência da Segunda Vinda de Cristo, e seu mandamento de se fazer discípulos até aos confins da terra. O batismo no Espírito Santo, considerado o cumprimento da profecia de Joel a respeito dos “últimos dias”, serviu para dinamizar o compromisso que os primeiros pentecostais tinham com os esforços evangelísticos agressivos, que rompiam barreiras culturais e geográficas.

William J. Seymour, o líder negro do Movimento da Santidade no reavivamento na Rua Azusa, afirmou:

Quem é batizado com o Espírito Santo tem o poder de Deus na sua alma e tem poder com Deus e com os homens, poder sobre os remos de Satanás e sobre todos os emissários deste.

Quando o Espírito Santo vem sobre nós, e nos usa como seus instrumentos, esse é o poder que convence homens e mulheres e os leva a ver que servir a Jesus Cristo é a realidade. O Espírito Santo é poder com Deus e com os homens.

A Fé Apostólica, uma publicação da Missão da Rua Azusa, demonstra repetidamente que os primeiros líderes pentecostais consideravam o derramamento do Espírito Santo um cumprimento da profecia de Joel e, conseqüentemente, um motivo ainda maior para o envolvimento nos esforços missionários globais. Escreveram: “O Pentecoste certamente chegou até nós, acompanhado pelas evidências bíblicas... O verdadeiro reaviva-

mento está apenas no início.., deitando os alicerces para um

poderoso vagalhão de salvação entre os inconversos”.

É digno de nota que o batismo no Espírito Santo, com a evidência de falar noutras línguas, tenha sido a experiência de incontáveis pessoas durante a manifestação soberana de Deus no começo deste século. E embora muitos críticos tenham chamado o Pentecostalismo de “movimento das línguas”, os primeiros líderes, tais como William Seymour, deixaram bem claro que havia algo de maior relevância nesse avanço gracioso de Deus. Seymour admoestava as pessoas a “não falar a respeito das línguas ao saírem das reuniões, para procurar levar as pessoas à salvação”.

Embora houvesse excessos, Seymour e outros líderes focalizavam muito mais o impacto cristológico do batismo no Espírito. Exaltar a Cristo era necessário para se receber a experiência. Essa cristocentricidade deve ser vista como um motivo fundamental para o evangelismo fervoroso do reavivamento. O impacto do batismo no Espírito aumentava essa consciência. Os pentecostais antigos acreditavam que a evidência bíblica das línguas era um sinal de que “os dias da Bíblia haviam voltado”. Examinavam Atos dos Apóstolos, e viam que o revestimento do poder do Espírito fazia parte da continuação do ministério de Jesus Cristo atravessando fronteiras culturais.

A lógica deles era simplesmente seguir o padrão bíblico, porque eles, também, haviam tido um encontro com o Senhor ressurreto mediante o batismo no Espírito. Esse encontro produziu uma consciência cada vez maior de que a missão e ministério reconciliadores de Cristo era obra para a qual eles também tínham sido comissionados a realizar. Seus olhos abriram-se para verem a orientação do Espírito. Os pentecostais antigos foram revestidos de poder para obedecer às ordens do Senhor Jesus.

Stanley Frodsham, participante do reavivamento na Rua Azusa e historiador pentecostal, insistia: a essência do Movimento Pentecostal, em seus primórdios, não era o falar em línguas, mas engrandecer a pessoa do Senhor Jesus Cristo.

Essa “teologia comprovada pela experiência” levou a fervorosos esforços missionários no âmbito local e na obra transcultural. Esse motivo teológico teve origem num encontro profundo e incomum com Jesus Cristo, e impulsionou quem dele participou a servir ao Senhor.

J. Roswell Flower, escrevendo em 1908, resumiu assim o significado do batismo no Espírito e seu impacto sobre a Igreja e sua missão: O batismo no Espírito Santo não consiste simplesmente no falar em línguas. Tem um significado muito mais grandioso e profundo. Enche a nossa alma do amor de Deus pela humanidade perdida.

Quando o Espírito Santo entra em nosso coração, o espírito missionário entra junto; são inseparáveis entre si.... Levar o Evangelho às almas famintas deste país e dos demais não passa do resultado natural [de ser batizado no Espírito Santo]

Outro componente essencial da reflexão dos pentecostais antigos no tocante à missão da Igreja era a sua focalização intensa na verdade da Segunda Vinda de Cristo. Tal certeza forjou o fervor missionário do antigo movimento pentecostal. Os pentecostais afirmavam que as promessas do profeta bel também eram para os seus dias. Passavam em revista as considerações bíblicas das chuvas “temporãs” e “serôdias” ( Jl 2.23) e supunham que estivessem no meio do derramamento do Espírito dos últimos dias, que ocorreria imediatamente antes da volta de Cristo. Estava presente a mentalidade dos “últimos dias”

Embora muitos talvez vejam o Pentecostalismo simplesmente como um “movimento de línguas”, os antigos pentecostais tinham um modo teológico de compreender a si mesmos que não pode ser desconsiderado como se fora mera emoção. Os pentecostais antigos demonstravam que mantinham na perspectiva certa as dimensões experimentais de sua espiritualidade, mormente quando vinculavam sua participação obediente aos esforços missionários da Igreja com o revestimento do poder recebido no batismo do Espírito Santo.

APROXIMANDO-NOS DO SÉCULO XX

Uma perspectiva pentecostal da Igreja e de sua missão não pode ser separada de suas raízes no começo do século XX. Ao entrarmos no século XXI, poderemos atingir o entendimento crucial de nós mesmos se examinarmos, como os pioneiros, o batismo no Espírito Santo. Nós, que vivemos num mundo onde o modo teológico se de entender as coisas é um reflexo da cultura popular em derredor, faríamos bem em contemplar o fervor evangelístico dos pentecostais antigos (ver Jo 4.35).

Assim como Atos dos Apóstolos registra o evento do Pentecoste como garantia de que a missão de Cristo na redenção continuava intata, assim também obteremos a perspectiva dos pioneiros do Movimento Pentecostal.

Afirmavam que o “Consolador chegara”, e por isso anunciavam uma seara para os últimos dias da qual participariam alegremente os crentes batizados no Espírito Santo e revestidos pelo seu poder.

O Movimento Pentecostal existe como testemunho a todos os cristãos que anseiam que Deus irrompa a vitalidade espiritual nas formas religiosas vazias, e encha a vida eclesiástica egocêntrica com a dinâmica de uma Igreja com uma missão no mundo. O Deus que graciosamente atuou entre os corações famintos na virada do século XX é o mesmo Deus da redenção; sua missão não mudou. Ele continua a revestir a Igreja com o poder do Pentecoste que sustenta e envia seu povo a cumprir sua missão reconciliadora.

A missão da Igreja é realmente uma continuação da missão divina da reconciliação. A missão de Deus sempre foi suscitar um povo para refletir a sua glória (inclusive seu caráter e sua presença). A revelação que Deus faz de si mesmo sempre envolve seus esforços para reconciliar a humanidade consigo mesmo. Jesus é o quadro mais nítido de Deus e de sua missão. Com a sua vida, morte e ressurreição, vemos vitoriosamente completados todos os fatores necessários para se redimir a humanidade e para se restaurar a comunhão com Deus. A declaração dessas boas-novas foi iniciada na proclamação e ministério de Jesus Cristo. O Pentecoste garante-nos que a missão de Cristo permanece intacta.

Melvin Hodges declarou que a missão da Igreja é facilitada por três aspectos inter-relacionados, sendo que cada um deles é igualmente importante, e que cada um deles é igualmente necessário para a eficácia dos outros dois. Primeiro, a Igreja é chamada a ministrar a Deus através da adoração. Segundo, é chamada a ministrar aos membros da própria Igreja. Os membros da Igreja devem exercer os dons e a koinõnia do Espírito num relacionamento de mútua edificação. Terceiro, a Igreja deve ministrar ao mundo, e proclamar as boas-novas do Evangelho de Jesus Cristo. Esses três aspectos inter-relacionados do ministério sempre devem ser vividos pela igreja local. Todos eles são necessários para a missão eficaz da igreja.

Ministério a Deus. Qualquer estudo do que a Igreja deve ser ou fazer no mundo precisa necessariamente começar com o seu ministério principal a Deus: a adoração. Os cristãos obtêm consciência de quem são com o povo de Deus, e de até que ponto estão reunidos entre si ao se encontrarem com o Deus vivo mediante o ministério da adoração. O ministério ao mundo, refletindo os padrões do ministério de Cristo, deve estar ancorado no ministério fervoroso a Deus, pois somente Ele merece nossas honrarias.

A adoração leva-nos para além das barreiras do tempo e do espaço, e deixa-nos concretizar nossa experiência terrestre num âmbito eterno onde a vontade de Deus é cumprida. A partir desse encontro com o eterno, posicionamo-nos no meio da criação rebelde.

E o fazemos com bom ânimo porque, mediante a adoração ao Deus que nos redime, vemos mais claramente o nosso papel: refletir os propósitos divinos da reconciliação para com uma humanidade necessitada”.

A adoração deve ser marcada pelos vários ministérios do Espírito que edificam espiritualmente os adoradores e honram a Deus. Falar em línguas é uma parte vital do encontro através da adoração que nos relaciona diretamente com Deus (1 Co 14.2,14). Transcende as limitações comuns da linguagem, e alcança um nível de comunhão com Deus que vai além de nossos órgãos fonadores. Capacita o crente a agir à altura de novas possibilidades, nunca imaginadas, e que não provêm de percepções já existentes da realidade, Essa consciência crescente recebe um novo e autêntico caráter.

O ministério a Deus através da adoração, pelo poder do Espírito, produz uma comunidade de crentes que provaram o “vinho novo”. Agora, não são apenas pessoas que têm fome e sede de Deus e de sua justiça, mas também pessoas que

querem agir segundo a motivação e capacitação do Espírito para fazerem parte do ministério contínuo de Cristo.

A adoração pentecostal significa mais que se deleitar na experiência jubilosa do poder de Deus, Ela fica repleta de reverente temor e admiração ao contemplar a majestade de Deus, que muitas vezes deixa-nos assoberbados com o senso de nossa própria insuficiência (Is 6.5). Essa adoração produz uma maturidade que tem poder para dar testemunho das boas novas ao mundo inteiro. E assim, a atividade do Espírito na adoração deve ser contrabalançada por meio do Espírito que compele a Igreja a sair para um mundo necessitado. Deus não nos vocacionou para uma vida acomodada, mas para sermos co-participantes de sua santidade e cooperadores na sua seara. A Igreja não é Igreja a não ser que vidas

sejam transformadas e se tomem diferentes do modo de ser e dos valores dos incrédulos.

Na adoração pentecostal, mormente através da manifestação de todos os dons do Espírito, transcendemos a rotinização que tão facilmente ocorre em nossa vida. Nossas tendências à racionalização devem ser contrabalançadas por encontros

genuínos com Deus que nos. deixam ministrar no Espírito. Nessa arena da “transcendência vivida na prática”, conhecemos o Bom Pastor, e alcançamos intimidade com Ele, pois sua própria natureza é da interação com a sua criação, e

leva-nos em direção aos seus propósitos no ministério da reconciliação.

A comunidade pentecostal, na adoração, está, na realidade, envolvendo-se num ministério a Deus, por reconhecer a sua soberania sobre o Universo. Através do batismo no Espírito Santo e do envolvimento contínuo no falar noutras línguas, os pentecostais participam de uma atividade de adoração que edifica os alicerces de um ministério cristocêntrico

Adorar a Deus é encontrar-se com Jesus, que é o Salvador, o que batiza no Espírito Santo, o Médico dos médicos, e o Rei que há de vir em breve. Por isso, semelhante adoração obriga-nos a participar no ministério arraigado na historicidade de Cristo na terra, ministério este transposto numa forma que se encaixa no contexto atual.

À medida que as comunidades dos crentes se encontram com Cristo na dinâmica da adoração espiritual, também ficam sabendo que a adoração a Deus nunca poderá ser totalmente compreendida a não ser que se realize no contexto dos irmãos na fé. Isso porque, todos os encontros genuínos com Deus, através da adoração, edificarão comunidades que se amadurecerão juntas. Mediante seu mútuo crescimento como canal da graça de Deus, devem avançar com testemunho sacrificial, vocacionados e capacitados pelo mesmo poder que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos.

Ministério à Igreja. A Igreja é o estandarte da reconciliação entre a humanidade e Deus, e dos seres humanos entre si, E “a comunidade dos pecadores justificados,... que experimentam a salvação, e que vivem nas ações de graças... Ela, com os olhos fitos em Cristo, vive no Espírito Santo”.47 O ministério que se estende à Igreja afirma que, aquilo que nos vincula num só, não pode ser resumido na forma de dogmas, mas tem muita coisa a ver com o ser incluído numa comunidade que reflete a comunhão com Deus e, subseqüentemente, o convívio fraternal com uma humanidade redimida.

Os escritos do apóstolo João (especialmente João 17 e 1 João 4) sugerem um paralelo entre a comunhão dentro da Trindade e a comunhão potencial dentro da Igreja. João 17 registra a oração de Jesus na qual Ele faz um paralelo explícito entre a comunhão que Ele tem conhecido com o Pai e aquela que, segundo Ele está pedindo na oração, será manifestada entre os crentes da terra. O ministério dos irmãos na fé uns aos outros deve envolver atividades que fornecerão uma expressão sobrenatural da comunhão entre as Pessoas da Deidade e o povo de Deus na terra, ligando portanto, entre si, os relacionamentos verticais e horizontais. Por isso, devemos tratar nossos irmãos, membros da Igreja, com a mesma atitude de comunhão e convívio amoroso que Deus nos oferece. A comunhão com Deus sem comunhão com nossos irmãos e irmãs no Senhor fica fora do alvo, bíblica e relacionalmente.

O ministério à Igreja inclui o compartilhar da vida divina. Só temos a dinâmica daquela vida à medida que permanecermos nEle e continuarmos repassando a sua vida uns aos outros dentro do Corpo. Esse processo de edificação é descrito por Paulo como relacionamentos de mútua confiança: pertencemos uns aos outros, precisamos uns dos outros, afetamos uns aos outros (Ef 4.13-16). Essa mútua confiança inclui abnegação para ajudarmos a suprir as necessidades uns dos outros. Não somos um clube social mas, sim, um exército que exige mútua cooperação e solicitude ao enfrentarmos o mundo, negarmos a carne e resistirmos ao diabo.

Deus não pede nossos conselhos a respeito de quem Ele trará à Igreja. Gálatas 3.26-29 deixa claro que todas as barreiras entre Deus e a humanidade, levantadas ao longo da história, bem como as barreiras entre uns seres humanos e outros, foram tomadas irrelevantes por Cristo. O Espírito transcendeu os vínculos e fronteiras humanos, e colocou- nos numa união onde vivemos na prática as implicações de pertencermos uns aos outros por causa de nossa mútua fraternidade em Cristo. Quer sejamos ricos ou pobres, cultos ou incultos, talentosos ou imperitos, e independentemente de nossa etnicidade, não devemos desprezar uns aos outros nem imaginar que temos uma posição de superioridade em relação aos outros diante de Deus. Não há favoritismo com Deus (Ef 6.8; Tg 2.1-9).

O emprego por Paulo da metáfora a respeito da Igreja reconhece que todas as partes do corpo “são interdependentes e necessárias à saúde do corpo”.5° A dinâmica do relacionamento não é meramente uma opção conveniente. Fomos feitos à imagem de Deus (Gn 1.26-28), e a Igreja tem o propósito de ser uma restauração corpórea da imagem quebrada. A Igreja não é simplesmente uma idéia genial, como também é essencial ao plano divino da redenção (Ef 3.10,11). Deus manifesta sua presença ao mundo através de um povo interdependente de pessoas que servem umas às outras.

Porque o ministério à Igreja reflete uma figura bíblica que representa a Igreja como um organismo, podemos ver como a dimensão relacional da vida na Igreja é dinâmica, e não estática. Certamente exercemos algum efeito uns sobre os outros. O ministério à Igreja corrige a tendência da sociedade ocidental de enfatizar o indivíduo mais do que a comunidade. O ministério da Igreja inclui equipar um grupo de pessoas que vivem em mútua comunhão, capacitando-as a crescer até formarem uma entidade amorosa, equilibrada e madura. Paulo diz claramente em Efésios 4.11-16 que a equipagem dos santos para o serviço compassivo em nome de Cristo deve acontecer numa comunidade

O crescimento espiritual e o contexto em que ele ocorre de modo mais eficaz não surgem por mera coincidência, O amadurecer do crente não poderá acontecer fora da comunidade da fé. O discipulado não possui nenhum outro contexto que não seja a igreja de Jesus Cristo, porque não se pode seguir fielmente a Jesus à parte de uma participação cada vez mais madura com outros crentes na vida e no ministério de Cristo.

Koinõnia (“convívio fraternal”, “comunhão”, “parceria”, “participação”) é um tema bíblico que oferece uma perspectiva enriquecedora para a compreensão do ministério à Igreja. E criada pelo Espírito Santo ao confirmar a afirmação que os crentes fazem em comum de que Jesus é Senhor da Igreja. A comunidade que mantém sua comunhão na fé consta, idealmente, como uma lembrança sempre presente diante do mundo de como parece a vida quando o Reino de Deus está presente.53 Permeando essa Koinõnía, há o caráter de Cristo, cujo efeito é ensinar e edificar a comunidade cristã.

Embora ensinar a verdade da Palavra de Deus certamente seja um ministério vital à Igreja, os discípulos são edificados, não somente mediante o ensino da verdade, mas também por estarem numa comunidade positiva, amorosa e generosa de pessoas que, juntas, estão sendo conformadas à imagem de Cristo.

Os crentes estão amadurecendo para formar uma comunidade que demonstre o caráter, o poder e a autoridade de Cristo. Logo, as estruturas e processos que estabelecemos para nosso mútuo amadurecimento e equipamento em Cristo, devem facilitar o fruto e dons do Espírito. As igrejas que não permitem que a koinõnia do Espírito crie seu ministério uns com aos outros, perdem a comunhão com Cristo. Ele colocou a promessa “eis que estou convosco sempre” lado a lado com a ordem “ide e fazei discípulos”.

Ministério ao Mundo. É uma premissa da máxima importância que a identidade da Igreja acha-se vinculada ao seu ministério. Devemos, portanto, considerar seriamente as atividades nas quais nos envolvemos em nome de Cristo, e como essas atividades são uma replica do ministério de Cristo na terra. E o ministério de Cristo que estabelece o padrão mediante o qual avaliamos o nosso ministério. Esse processo é crítico, conforme vemos em Mateus 7.21-23. Indica que não devemos tomar nosso ministério como padrão obrigatório. Somente se nosso ministério realmente adotar o seu caráter e propósito, e for referendado com o poder divino, é que poderemos aspirar por alinhar-nos ao ministério contínuo de Cristo. A possibilidade de fazermos assim é garantida pelo Pentecoste e pelo revestimento do poder do Espírito Santo.

Uma das declarações cristãs mais antigas, em forma de credo, é: “Jesus é Senhor”. Esta afirmação, feita pela Igreja Primitiva, mostra que Cristo reina não somente sobre a Igreja mas também sobre o Universo e sobre os seus propósitos. A declaração de quem Jesus Cristo é, e do que Ele tem feito e ainda fará, é a essência da proclamação bíblica. A Igreja não pode fugir do fato: confessar que Jesus é Senhor leva os crentes a proclamarem ao mundo inteiro essa realidade divina. Não poderemos confessar que Jesus é Senhor sem antes proclamar o seu senhorio sobre todas as nações.

Esse tema bíblico certamente dá conteúdo ao ministério ao mundo. A declaração de que Jesus é o Senhor convoca todo ser humano a prestar contas diante de Deus. Todo e qualquer ministério deve levar consigo o ímpeto para declarar uma mensagem de conseqüências divinas; o Evangelho das “boas-novas” (Mc 1.14) é uma palavra de juízo além de ser um caminho de arrependimento e a promessa de um novo modo de viver.

A proclamação de Cristo e de sua oferta de salvação não é apenas uma afirmação para provocar meditação e diálogo — exige uma decisão (Mt 18.3). E uma exigência além de ser um convite para juntar-se ao povo de Deus, que agora desfruta das gloriosas riquezas de Cristo Jesus (Fp 4.19). E, também, uma chamada para sermos totalmente dedicados a Deus e à humanidade.

Deve haver urgência na proclamação desse evangelho, e uma disposição pela Igreja para conclamar ao arrependimento e à obediência à Palavra de Deus.

Diakonia (“serviço”, “ministério”). São os esforços no serviço a Cristo que continuam o ministério encarnacional que Ele realizou e que nos ajuda a realizar. O caráter desse ministério é servir; não imita o padrão da autoridade ou do propósito que este mundo impõe. A essência do ministério tem sido exemplificado por Cristo de uma vez para sempre (Mc 10,45) e, como conseqüência, servimos a Cristo por meio de servir à criação que está debaixo do seu senhorio.

A dimensão de serviço no ministério leva-nos, além de divulgar as boas-novas com denodo e coragem, a participar do desejo de Deus que é alcançar de modo prático os marginalizados da sociedade. As pessoas que não têm ninguém para pleitear a sua causa, e que se encontram desconsideradas e abandonadas, também foram criadas à imagem de Deus. A Igreja, revestida pelo poder do Espírito, terá de passar das palavras para as ações se quer ver realizados os propósitos de Deus. Não poderá haver maneira de fugir deste fato: se vamos realmente servir no ministério continuado de Jesus Cristo, esse serviço deverá seguir o exemplo do seu ministério.

Lucas 4.18-21 enfatiza o ministério do tipo de servo. A regra do Senhor Jesus leva-nos adiante, para alguma coisa além de uma mera versão cristã da Cruz Vermelha. O mal que é perpetrado no mundo inteiro já foi vencido por Cristo. Como é que o ministério do servo demonstrará essa vitória mediante a compaixão no meio do mal? As incapacidades físicas não são impedimentos para o Reino de Deus. No meio da enfermidade e da tragédia física, temos o privilégio de dizer agora: “Levante-se e seja curado!” Aqueles que estão amarrados pelo demonismo, presos pelo poder destrutivo do maligno, podemos proclamar que a libertação está perto e que o “novo” governo de Deus liberta os cativos.62 As numerosas massas que a sociedade tem abandonado à beira do caminho da vida, podemos demonstrar com autoridade, mediante os nossos atos tangíveis de misericórdia e compaixão, que o Reino de Deus traz dignidade e valor humanos a “um destes pequeninos” (Mt 25.40).

Como pentecostais, devemos reconhecer que nosso crescimento explosivo entre os setores mais indigentes da humanidade exige que consideremos com seriedade como poderemos participar de modo mais poderoso e marcante no ministério de servo. O fato de estarmos crescendo de modo sem precedentes nalgumas partes não-ocidentais do mundo não é por acaso. E justamente nesses lugares que a população, de modo geral, está oprimida e sem dignidade.

A Igreja, cheia do Espírito de Deus, pode crescer de modo criativo e agir com compaixão através do serviço (inspirado pelo coração reconciliador de Deus) de “um destes pequeninos”. O poder de Deus para a nossa transformação reúne-nos em comunidades que refletem coletivamente a reconciliação com Deus (1 Co 12.13; 2 Co 5.17-20).

Essas comunidades revestidas de poder não devem se restringir a determinadas pessoas, porque Deus já identificou com clareza o objeto de seu amor (Lc 4.18,19). Temos de imitar o nosso Supremo Comandante, que busca os que estão amarrados pelo pecado, mantidos cativos pelo diabo. O Espírito deseja dar ao seu povo poder para penetrar com ousadia nas arenas do desespero e da destruição, para que não nos tomemos uma Igreja do tipo censurada pelo profeta Amós — um povo com uma religião ritualizada, sem compaixão e sem conteúdo ético. Para o bem do nosso testemunho, precisamos esquecer-nos dos nossos direitos, ser humildes e perdoadores no meio da perseguição, e “estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência” (1 Pe 3.15,16).

Cumpre-nos repetir que a identidade pentecostal deve estar arraigada em At 1.8. Essas palavras declaram nitidamente que a existência da Igreja visa testemunhar ao globo terrestre inteiro. A koinõnia criada pelo Espírito, a proclamação que Jesus é Senhor e Salvador, e o ministério compassivo de servo produzem, no seu conjunto, um testemunho poderoso ao ministério contínuo de Jesus Cristo.66

O testemunho diante do mundo é a operação prática de nossa participação na missão de Deus: a reconciliação com o mundo. Proclamamos e demonstramos o caráter compassivo e o poder autoritativo de Cristo, que já irromperam nesta era.

Por meio de palavras e de ações, damos testemunho das boas-novas de que Jesus ama os pobres, os doentes, os famintos, os endemoninhados, os fisicamente torturados, os emocionalmente feridos, os destituídos de amor e até mesmo os

auto-suficientes. E então continuamos a amá-los e a cuidar deles, fazendo deles discípulos que já não sejam “meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente” (Ef 4.14)

Uma motivação primária do ministério pentecostal no mundo tem sido a crença de que ministramos como testemunhas do poder autoritativo de Cristo. Demonstrações do poder do Espírito, portanto, são um elemento essencial daquele testemunho (Mc 16.15-20), pois o ministério de Cristo continua intato pelo poder do Espírito Santo (Mt 28.19,20). A demonstração sobrenatural da presença e poder de Deus vence a resistência da humanidade ao Evangelho. Essas demonstrações são, na realidade, a presença do Cristo ressurreto que rompeu o domínio de Satanás e que agora está oferecendo um espetáculo público da insuficiência de qualquer potência que questiona a autoridade divina de Cristo (Cl 2.15), Quando as pessoas entram em contato com esse testemunho da autoridade de Cristo, ficam conhecendo a realidade de Deus e a comunidade do poder de Deus que dá testemunho autorizado do senhorio de Cristo sobre o mundo, a carne e o diabo.

Esse poder autoritativo nas palavras e nas ações tem recebido uma renovação nos tempos presentes. A experiência pentecostal dá testemunho de que Deus tem reafirmado a todos quantos recebem a Jesus como Senhor:

Ele não os deixará órfãos (Jo 14.18). Pelo contrário: Ele os comissiona com poder para a continuação da sua missão redentora. O Pentecoste dá testemunho das “chuvas serôdias” (Os 6.1-3; Jl 2.23-27) pouco antes da Segunda Vinda de Cristo. Assim, somos enviados ao mundo com compaixão e paixão divina- mente inspiradas. Entramos nessa batalha com expectativa e antegozo. Stanley Frodsham resumiu bem essa situação, ao escrever:

O tempo está curto; a vinda do Senhor está próxima; as oportunidades para se exercer o evangelismo não durarão muito.

Graças a Deus, porque Ele está derramando poderosamente o seu

Espírito nestes últimos dias.

O fogo continua ardendo,.. e arderá até àquele dia alegre em que o

Senhor Jesus Cristo descerá do Céu, e levará a sua Igreja para estar com

Ele para sempre.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Teologia Sistemática – Stanley M. Horton