terça-feira, 29 de março de 2011

A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO

A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO

Atos 5.3,4 = “Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”

É essencial que os crentes reconheçam a importância do Espírito Santo no piano divino da redenção. Sem a presença do Espírito Santo neste mundo, não haveria a criação, o universo, nem a raça humana (Gn 1.2; Jó 26.13; 33.4; Si 104.30).

Sem o Espírito Santo, não teríamos a Bíblia (2 Pe 1.21),
Nem o NT (Jo 14.26, 1 Co 2.10)

E nenhum poder para proclamar o evangelho (1.8).

Sem o Espírito Santo, não haveria fé, nem novo nascimento, nem santidade
e nenhum cristão neste mundo. Este estudo examina alguns dos ensinamentos básicos a respeito do Espírito Santo.

A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO.

Através da Bíblia, o Espírito Santo é revelado como Pessoa, com sua própria individualidade (2 Co 3.17,18; Hb 9.14; 1 Pe 1.2).

Ele é uma Pessoa divina como o Pai e o Filho (5.3,4).

O Espírito Santo não é mera influência ou poder. Ele tem atributos pessoais, a saber:

Ele pensa (Rm 8.27),
Sente (Rm 15.30),
Determina (1 Co 12.11)

E tem a faculdade de amar e de deleitar-se na comunhão.

Foi enviado pelo Pai para levar os crentes à íntima presença e comunhão com Jesus (Jo 14.16-18,26;).

A luz destas verdades, devemos tratá-lo como pessoa, que é, e considerá-lo Deus vivo e infinito em nosso coração, digno da nossa adoração, amor e dedicação (ver Mc 1.11, nota sobre a Trindade).


.A OBRA DO ESPIRITO SANTO

(1) A revelação do Espírito Santo no AT. Para uma exposição da operação do Espírito Santo no AT,

(2) A revelação do Espírito Santo no NT.

 (a) O Espírito Santo é o agente da salvação. Nisto Ele convence-nos do pecado (Jo 16.7,8),

Revela-nos a verdade a respeito de Jesus (lo 14.16,26),
Realiza o novo nascimento (Jo 3.3-6),
E faz-nos membros do corpo de Cristo (1 Co 12.13).

Na conversão, nós, crendo em Cristo, recebemos o Espírito Santo (Jo 3.3-6; 20.22)

E nos tomamos co-participantes da natureza divina (2 Pe 1.4;).

(b) O Espírito Santo é o agente da nossa santificação.

Na conversão, o Espírito passa a habitar no crente, que começa a viver sob sua influência santificadora (Rm 8.9; 1 Co 6.19).

Note algumas das coisas que o Espírito Santo faz, ao habitar em nós. Ele nos santifica, i.e., purifica, dirige e leva-nos a uma vida santa, libertando-nos da escravidão ao pecado (Rm 8.2-4; Gl 5.16,17; 2 Ts 2.13).

Ele testifica que somos filhos de Deus (Rm 8.16), ajuda-nos na adoração a Deus (At 10.45,46; Rm 8.26,27)

E na nossa vida de oração, e intercede por nós quando clamamos a Deus (Rm 8.26,27).

Ele produz em nós as qualidades do caráter de Cristo, que O glorificam (Gl 5.22,23; 1 Pe 1.2).

Ele é o nosso mestre divino, que nos guia em toda a verdade (Jo 16.13; 14.26; 1 Co 2.10-16)

E também nos revela Jesus e nos guia em estreita comunhão e união com Ele (Jo 14.16-18; 16.14).

Continuamente, Ele nos comunica o amor de Deus (Rm 5.5)
E nos alegra, consola e ajuda (Jo 14.16; 1 Ts 1.6).

(c) O Espírito Santo é o agente divino para o serviço do Senhor, revestindo os crentes de poder para realizar a obra do Senhor e dar testemunho dEle. Esta obra do Espírito Santo relaciona-se com o batismo ou com a plenitude do Espírito.

Quando somos batizados no Espírito, recebemos poder para testemunhar de Custo e trabalhar de modo eficaz na igreja e diante do mundo (1.8).

Recebemos a mesma unção divina que desceu sobre Cristo (Jo 1.32,33)

E sobre os discípulos (2.4; ver 1.5),
E que nos capacita a proclamar a Palavra de Deus (1.8; 4.31)
E a operar milagres (2.43; 3.2-8; 5.15; 6.8; 10.38).

O plano de Deus é que todos os cristãos atuais recebam o batismo no Espírito Santo (2.39).

Para realizar o trabalho do Senhor, o Espírito Santo outorga dons espirituais aos fiéis da igreja para edificação e fortalecimento do corpo de Cristo  (1 Co 12—14).

Estes dons são uma manifestação do Espírito através dos santos, visando ao bem de todos (1 Co 12.7-11).

(d) O Espírito Santo é o agente divino que batiza ou implanta os crentes no corpo único de Cristo, que é sua igreja (1 Co 12.13)

E que permanece nela (1 Co 3.16),
Edificando-a (Ef 2.22),
E nela inspirando a adoração a Deus (Fp 3.3),
Dirigindo a sua missão (13.2,4),
Escolhendo seus obreiros (20.28)
E concedendo-lhe dons (1 Co 12.4-11),
Escolhendo seus pregadores (2.4; 1 Co 2.4),
Resguardando o evangelho contra os erros (2 Tm 1.14)
E efetuando a sua retidão (Jo 16.8; 1 Co 3.16; 1 Pe 1.2).

(3) As diversas operações do Espírito são complementares entre si, e não contraditórias. Ao mesmo tempo, essas atividades do Espírito Santo formam um todo, não havendo plena separação entre elas.

Alguém não pode ter

(a) a nova vida total em Cristo,
(b) um santo viver,
(c) o poder para testemunhar do Senhor ou
(d) a comunhão no seu corpo, sem exercitar estas quatro coisas.

Por exemplo: uma pessoa não pode conservar o batismo no Espírito Santo se não vive uma vida de retidão, produzida pelo mesmo Espírito, que também quer conduzir esta mesma pessoa no conhecimento das verdades bíblicas e sua obediência às mesmas.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Bíblia de Estudo Pentecostal

terça-feira, 22 de março de 2011

Os Dons Espirituais e o Evangelismo

Os dons espirituais e o evangelismo

Trago em minha memória a chama viva de um incidente que aconteceu há muitos anos. Eu havia sido convidado para falar em um pequeno trabalho missionário pentecostal em Londres, mas exatamente antes da reunião, o líder levou-me para fora e deu- me a seguinte orientação bastante alarmante: “Nós não entramos no assunto de dons espirituais aqui; estamos em busca de almas” .Faz apenas algumas semanas desde que recebi uma carta de um líder pentecostal bastante proeminente nos Estados Unidos. Ele havia observado que as congregações mais sadias eram geralmente aquelas que estavam voltadas para o evangelismo, ao invés de estarem voltadas para os dons do Espírito.

Aqui está uma declaração com implicações suficientes para fazer qualquer pregador pentecostal pensar seriamente. Por que deve haver essa impossibilidade aparente de entrar no assunto de dons espirituais e ao mesmo tempo continuar num evangelismo ofensivo? Por que não podem funcionar os dois modos ao mesmo tempo?

Em que lugar não estamos de acordo com o Novo Testamento? É certo que não existe tal antagonismo nas Escrituras. Aqueles que pregaram essa grande salvação tiveram sua palavra testificada pelos dons do Espírito Santo (Hb 2.3,4). Uma experiência feliz unida a um evangelismo bem-sucedido está presente em todo o Novo Testamento desde o dia de Pentecoste, quando o falar em línguas produziu um efeito eficaz nos três mil convertidos até a última epístola de Paulo, na qual ele exorta Timóteo a duas coisas: “despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos e faze a obra de um evangelista” (2 Tm 1.6; 4.5). As dificuldades de combinar o exercício dos dons espirituais com o evangelismo revela algo de errado com nossa compreensão sobre os dons do Espírito, sobre o verdadeiro evangelismo ou sobre ambos.

Essa suposição de que os dois não podem ser combinados tornou-se mais do que uma teoria, tornou-se uma política. Existem congregações e líderes pentecostais que estão muito ligados a um evangelismo ativo, e ainda assim sentem que o único modo pelo qual podem continuar a ter êxito em seu objetivo é desaprovar todo exercício dos dons espirituais pelo menos nas reuniões públicas. Sob tal política de experiência e testemunho pentecostal distintos, geralmente acontece uma parada total nos convertidos em relação ao recebimento do batismo com o Espírito Santo. Freqüentemente esses lugares vão aos poucos recorrendo simplesmente a métodos naturais de atração e de conduta nos cultos, ao invés de uma dependência do poder sobrenatural do Espírito. É difícil acreditar que alguns desses métodos na verdade não entristecem o Espírito Santo. A visão de uma igreja verdadeira do Novo Testamento fica obscurecida e perdida.

É apenas satisfatório acrescentar que existem outros líderes e congregações que dão importância pelo me- nos a alguns dos dons do Espíritos mas, quando se trata de evangelismo, deixam falhas visíveis.
Contudo, eles algumas vezes gabam-se de ser pentecostais verdadeiros e consideram os outros como desviados infelizes. Pentecostais verdadeiros (para esse grupo) não vão além do quarto versículo de Atos 2; não há interesse no quadragésimo primeiro versículo! A falta de fervor, como a do ganhador de almas, parece não conscientizá-los estão contentes em ficar em suas reuniõezinhas, usufruindo de bons momentos e (presumivelmente) deixando o Senhor de lado, como se o Cristo do Calvário não se preocupasse mais com as ondas encapeladas do infortúnio e do sofrimento humanos. Às vezes essas pequenas organizações assumem um interesse louvável pelas missões estrangeiras1 mas o interesse evangélico que está voltado para o exterior e que é diferente daquele do seu país corre o perigo de tornar-se simplesmente algo sentimental e, certamente, não é pentecostal no sentido bíblico verdadeiro.

SERÁ QUE OS DOIS PODEM SER COMBINADOS?

Uma indagação como essa nunca deveria ser feita seriamente diante de uma Bíblia aberta. Eles nasceram combinados na Igreja Primitiva com resultados notáveis. Eles têm de ser combinados hoje, se é que temos de alcançar tudo aquilo que o “Pentecoste” realmente significa. O lugar preeminente do Espírito Santo em todo o evangelismo verdadeiro é conhecido por todos. É seu
trabalho especifico convencer do pecado (Jo 16.8); é Ele quem exalta a Cristo ( Jo 15.26; 16.14); através do seu poder gracioso somos nascidos de novo (Jo 3.5). Os dons que provêm dEle e que são sua “obra” (1 Co 12.7-11) não podem ser antagônicos ao evangelismo, mas devem ter um lugar bem definido e de valor em tudo o que tem a ver com o ganhador de almas.

Felizmente possuímos uma riqueza de material no Novo Testamento para provar isso. Vamos nos apropriar dos dons do Espírito um por um.

A PALAVRA DE SABEDORIA

Paulo decisivamente dispõe as “palavras ensinadas pela sabedoria humana” de um lado na sua formação de igrejas cristãs, mas ele assim o fez apenas para que possa usar de uma maneira mais notável aquelas palavras de sabedoria “ensinadas pelo Espírito Santo”. E que sabedoria divina é esta? Não é outra senão “Cristo crucificado” (1 Co 1.23-31). Na pregação de Cristo e sua cruz está contida a própria essência da Palavra de Sabedoria. E aí está o coração do Evangelho. Não pode haver nenhuma divergência entre esse dom espiritual e o evangelismo. Uma pregação inspirada e ungida de “Cristo, e este crucificado”, é a principal arma para se ganhar almas. O evangelismo moderno sofre exatamente daquilo que Paulo descartou como sendo vão — “palavras ensinadas pela sabedoria humana”.

Foi essa mesma palavra de sabedoria dada pelo Espírito que inspirou todas as suas epístolas (2 Pe 3.15) e que tornou-as alimento tão rico para seus jovens convertidos.
A PALAVRA DA CIÊNCIA

Neste ponto deixemos o campo do evangelismo inicial porque é imprescindível o ensino da doutrina para a edificação do crente. Aqueles que fazem isso são como Apoio: ajudam bastante os que têm crido (At 18.27) e são os mais importantes aqui; são os regadores” que seguem os “plantadores” (1 Co 3.6). Contudo, o evangelismo descuidado evangeliza e abandona, não ensina: não apresenta nenhuma preocupação pelo crescimento espiritual das almas que ele trouxe ao novo nascimento. Exatamente neste ponto está uma outra fraqueza fundamental nos muitos avivamentos modernos: eles não acompanham suficientemente os que crêem.

Além disso, a palavra da ciência (observe o “sabemos” da Primeira Epístola de João) forma aquela base essencial para o evangelismo. Se ele e o ganhador de almas não tiveram conhecimento do “sabemos” sobre a salvação, eles serão apenas cegos guiando outros cegos.

O DOM DA FÉ

O dom da fé sobrenatural toca a fonte de todo poder espiritual verdadeiro. Essa fé reside na fonte dos dons miraculosos mais visíveis que se seguem: ela afirma vitórias aparentemente impossíveis sobre todos os poderes das trevas e sobre as derrotas; encontra-se em seu próprio reino naquela oração intercessória e naquele esforço pelas almas, o que é a fonte oculta de todo o avivamento real e evangelismo bem-sucedido. Não há nenhuma necessidade de métodos questionáveis para incentivar um avivamento quando e onde o dom da fé está operando. Veja o êxito de Estêvão (At 6.8). O evangelismo sem a fé não tem poder.

O DONS DEA CURAR

É desnecessário insistirmos numa relação profunda e inestimável entre os dons de curar e um evangelismo bíblico. Isso foi exemplificado primeiramente pelo próprio Senhor Jesus e, de forma não menos ilustre, por aqueles que o seguiam. Filipe, o evangelista, exercitava-os poderosamente em seu notável ministério evangelístico em Samaria (At 8). A cura física muitas vezes abre a porta do coração para a mensagem do Evangelho como nada mais o faria.

A OPERAÇÃO DE MARAVILHAS

O mesmo também aplica-se a este dom. O período de grande êxito de Paulo no evangelismo, em Éfeso (At 19), estava grandemente ligado à operação divina de “maravilhas extraordinárias” através de suas mãos. Devemos lembrar-nos entretanto que, simples sinais e maravilhas em si mesmos não salvam nenhuma pessoa. O propósito de sinais e maravilhas é atrair, prender a atenção, mas a pregação da Palavra é que salva.
O elemento “fantástico” no evangelismo é sempre um fator j de risco, e se isso acontece com uma emonstraçã0 espiritual genuínas quanto mais com o sensacionalismo barato?!

O DOM DE PROFECIA

O dom de profecia, ou o dom da palavra pelo Espírito numa linguagem conhecida, é outro dom destinado primeiramente à edificação dos crentes (1 Co 14.4,22). Entretanto, está estritamente expresso no mandamento divino que, quando este dom espiritual estiver sendo exercido na igreja, ele tenha efeito o mais poderoso e convincente possível sobre o não-crente presente (v. 24). Embora não seja endereçado diretamente ao não-crente, ele pode ficar maravilhosamente convencido. Não há nenhuma restrição para salientar esse dom, mesmo que aconteça não-crentes estarem presentes ao culto. É lógico que este dom pode ser usado pelo Espírito para um tipo de evangelismo eficiente e profundamente pessoal. Silas, o profeta (At 15.32), foi um dos cooperadores mais valiosos de Paulo em seu evangelismo apostólico.

DISCERNIMENTO DE ESPIRITOS

Esse dom espiritual é um dos protetores da Igreja contra o engano e o fingimento, quer pelo poder demoníaco (como a jovem em Filipos — At 16); ou pela hipocrisia (como Ananias e Safira — At 5); ou por ambos (como Simão, o mágico — At 8). O último nome mencionado é um exemplo surpreendente da necessidade e do valor do dom de discernimento de espíritos, mesmo no meio de um trabalho evangelístico de sucesso. Satanás jrá destruir o avivamento mais próspero se esse dom não intervier. Algumas vezes o evangelismo dotado sofre terrivelmente pela falta de discernimento nas coisas espirituais.

VARIEDAE DE LINGUAS

Este dom é um dos “sinais” de Deus para o descrente (1 Co 14.22), e tem, portanto, de ter um lugar legítimo nas ocasiões em que o incrédulo estiver presente. No Dia de Pentecoste, ele produziu um resultado duplo de espanto e escárnio (At 2.13,14), mas exerceu claramente uma grande importância para atrair a atenção do povo para a mensagem evangélica pregada por Pedro. O único fundamento correto que tomamos é o de que esse dom não é antagônico, mas útil para o evangelismo quando usado corretamente. Se alguém verificou ser esse dom um obstáculo para o trabalho evangelístico, pode ser apenas porque vem sendo usado incorretamente, provavelmente por pessoas sinceras, mas mal orientadas.

Talvez devêssemos acrescentar que, como um “sinal” para os descrentes com relação aos cultos evangelístivos talvez esse dom seja usado pelo Espírito Santo muito raramente. “A intimidade gera o desrespeito”, e um “sinal” usado duas ou três vezes em cada reunião logo se torna enjoativos ao invés de convincente. Entre- tanto, usado uma vez ou outra pode ter resultados admiráveis, e esse parece ser o propósito divino. Não estamos nos referindo a usos particulares do dom para fins devocionais (1 Co 14.2), mas ao seu lugar na reunião pública.

Interpretação de Linguas

Esse dom possui um Único valor com relação ao “indouto”, mas pode incluir o “infiel” (1 Co 14.23), o qual estamos particularmente interessados em evangelizar; o fato de que Deus coloca as “línguas” faladas pelos santos na congregação, ao alcance do nosso entendimento (vv 13-16), envolve a possibilidade de a mensagem ter o mesmo efeito sobre o não-crente, no momento da profecia (v. 24). A “interpretação” nem sempre é necessária quando o Espírito está usando o dom de línguas como um sinal direto para os infiéis. Julgamos, a partir de Atos 2, que haverá momentos quando a língua falada será bem compreendida por aquele a quem o sinal é dirigido. O dom de interpretação é primeiramente para a igreja (v. 5).

Por que há dificuldades?

Tendo já demonstrado biblicamente que os dons espirituais não são antagônicos ao evangelismo, e sim uma parte essencial dele, podemos muito bem fazer a pergunta de novo: “Por que essa idéia constante, muitas vezes gerada para sustentar uma política, de que os dons espirituais e um evangelismo bem-sucedido não podem caminhar juntos?

Vamos admitir livremente que em alguns casos têm havido motivos suficientes, infelizmente devido à posição firme adotada por alguns evangelistas que desencorajaram o uso dos dons do Espírito nos cultos de evangelismo. Nós não os censuramos. Queremos achar a saída. A resposta não sugere necessariamente qualquer coisa essencialmente errada, tanto com os dons espirituais como com o evangelismo. E simplesmente aquele velho problema com que Paulo teve de lidar em Corinto na sua época. O evangelismo de êxito lá estava correndo o risco de ser arruinado pelos erros e abusos com os dons perfeitamente corretos (1 Co 14.23). Nossos problemas e os deles são praticamente idênticos, o que é também outra prova indireta de que o “Pentecoste” como concebemos hoje é verdadeiramente do Espírito de Deus, apesar das falhas. A congregação de Corinto estava errando em três pontos:

Uma avaliação desequilibrada dos dons

Certamente eles pensavam que o poder do Espírito manifestava-se mais nas “línguas” do que na palavra de sabedoria ou na palavra da ciência, ao passo que o contrário era o mais provável de ser verdadeiro. Assim, muitos grupos pentecostais estimados cometem o mesmo erro hoje, e dificilmente reconhecem 109 o poder do Espírito ou os dons, exceto as línguas.
Temos até mesmo ouvido líderes referirem-se às expressões em línguas como o falar do Espírito, com uma influência forte de que Ele fica em silêncio a não ser que um dom em particular esteja sempre em operação. Deus nos livre! Precisamos reconhecer a voz do Espírito em todos os seus diversos dons e, se assim fosse, haveria provavelmente menos dessas interrupções perturbadoras de evangelistas e outros pregadores pelo simples balbuciar emocional em línguas que tem sido provavelmente um dos motivos pelos quais evangelistas cheios de ardor sentem-se, às vezes, direcionados a tomar uma atitude firme, infeliz e sem base bíblica contra qualquer uso desses dons em quaisquer das suas reuniões. As “línguas” não são o Único modo pelo qual o Espírito fala, e é um crime interromper um pregador ungido por um simples balbuciar do nosso próprio espírito.

A falta do amor divino

O verdadeiro amor pensa primeiro nos outros. Esse é o principal motivo para o evangelismo. Mas os crentes de Corinto não se importavam com o infiel em seu meio, enquanto podiam soltar as rédeas da imaginação numa euforia descontrolada ou dispor de seus próprios dons espirituais. A consideração pelos “outros” era o lema de Paulo (1 Co 14.17-19), com respeito aos irmãos crentes como aos não-crentes.

Cometeríamos pouquíssimos erros com relação aos dons espirituais se fôssemos sempre controlados, acima de tudo, por uma paixão pelas almas — pelos “outros”. Não é a obra do Espírito Santo nas reuniões evangelísticas que precisamos temer. Ele nunca irá direcionar uma alma para fora do Evangelho, quer durante o prólogo, a pregação ou o apelo. É a obra do nosso próprio espírito que precisa de tal vigilância. E essa vigilância deve ser redobrada em cultos evangelísticos, lembrando-se de que a salvação das almas é que está em jogo. Um erro nesse momento pode ser fatal. É melhor errar na repressão pessoal, ainda que erremos totalmente. O Espírito provavelmente não ficará muito entristecido se o nosso motivo foi o cuidado para não impedir a redenção daquela alma por Cristo. Cada parte de um culto evangelístico é melhor vivida por aqueles que tiveram experiência e que têm provado conhecer a mente do Espírito.

UM USO DESORDENADO DOS DONS

Não foi o falar em línguas que gerou o perigo de as pessoas dizerem que a congregação de Corinto tinha agido mal; foi o fato de todos falarem em línguas (14.23), quer dizer, todos ao mesmo tempo ou em número excessivo, e sem interpretação. Foi um uso desordenado de um dom que poderia ser tremendamente eficaz se fosse usado na hora certa e da maneira certa.
Algumas pessoas acham que não precisamos ser ensinados como usar os dons do Espírito, mas precisamos.

Não que o Espírito Santo em si mesmo vá algum dia cometer qualquer erro, mas o nosso próprio espírito pode e, portanto há a necessidade das regras estabelecidas em 1 Coríntios 14.27-33, de modo que possamos fazer um auto-exame a esse respeito. O grande objetivo é que o Espírito de Deus controle tão perfeitamente cada membro do corpo de Cristo, que cada operação de um dom seja uma obra do Espírito Santo (1 Co 12.11). Assim podemos estar certos de que não haverá nenhum obstáculo para o evangelismo, ou para a santificação, ou para qualquer outra grande obra em que o Espírito esteja envolvido no momento. Mas os filhos de Deus estão em vários estágios de compreensão espiritual. Com relação aos dons espirituais os coríntios eram qualquer coisa, exceto “adultos” (1 Co 14.20), e tememos que a mesma coisa possa ser escrita hoje sobre muitos grupos pentecostais queridos de Deus. Por isso Paulo tinha de estabelecer regras que seriam quase desnecessárias se os coríntios estivessem continuamente no Espírito.


O resumo simples final de toda a problemática está no capítulo 14.40: “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem”. Nenhum dom espiritual, exercitado no Espírito, jamais violará essa regra e, portanto, nunca irá impedir o verdadeiro evangelismo. Corretamente compreendidos e corretamente usados, os dons do Espírito são o único equipamento adequado da Igreja para cumprir sua grande comissão de pregar o Evangelho a toda criatura.


Como Receber o Batismo no Espírito Santo – Donald Gee

Os Dons de Cura e Milagres

Os dons de cura e milagres

Nas duas relações de dons, em I Coríntios 12, Paulo faz referência aos dons de curas e milagres. Nos versículos 9 e 10 ele fala sobre “dons de curar” e “operação de milagres”. No versículo 28 ele se refere a “operadores de milagres” e “dons de curar”, invertendo a ordem.

A palavra “curar” é a tradução do vocábulo grego iáomai, geralmente usado para designar a cura milagrosa. Outro verbo, therapéuo, também significa curar, mas pode ser usado na língua grega para indicar a cura por meio de processos medicinais. A palavra “milagres” (dunámeis) também significa “poderes”, dando a idéia de que o milagre é uma expressão do poder de Deus.

Milagre é um termo genérico que pode ser descrito como “um fenômeno que de tal modo transcende os processos naturais, ou se manifesta em tais circunstâncias que só pode ser atribuído à interferência de algum poder sobrenatural”9. A cura é também um milagre, mas tem a ver com a restauração da integridade física.

1. Curas e milagres no ministério de Jesus - Mt 4.23-25; 10.1,8

Mateus 4.23-25 descreve o ministério tríplice de Jesus. Ele ensinava, pregava e curava, O texto especifica alguns dentre os vários tipos de doenças que Jesus curava e descreve o interesse das multidões que o seguiam, atraídas pelas curas.
Além das curas, Jesus realizou também milagres que demonstraram o seu poder sobre as forças da natureza, como aconteceu na tempestade que foi acalmada (Mt 8.23-27), multiplicação dos pães e peixes (Mt 14.13- 21; 15.29-39), na caminhada sobre o mar(Mt 14.22-36) e com a figueira infrutífera (Mt 21.18-22).

No ministério de Jesus, as curas e milagres tiveram uma finalidade específica: provar a sua divindade. Nesse particular, as expulsões de demônios ocuparam lugar especial, pois significaram que em Jesus o reino de Deus já estava presente neste mundo para sobrepujar o reino de Satanás e libertar os homens de suas garras malignas (Mt 12.22-32).

A passagem dos Evangelhos que talvez fale mais objetivamente a respeito da finalidade dos milagres e curas de Jesus é João 20.30,31. João entendeu que os sinais que Jesus operou eram a maior prova de que ele era o Filho de Deus e o melhor meio de conduzir as pessoas à fé salvadora.

Ainda durante o seu ministério, Jesus comissionou os 12 apóstolos a quem escolhera e deu-lhes poder sobre todo tipo de enfermidades (Mt 10.1,8). O relato da história da igreja primitiva, no livro de Atos dos Apóstolos, mostra-nos como se desenvolveu essa atividade entre os apóstolos.



2. Curas e milagres na era apostólica - At 2.43; 5.12,16; 19.11,12; Tg 5.14-16

Os apóstolos realizaram curas miraculosas, de acordo com o que está registrado no livro de Atos. Na primeira parte do livro, sobressaem as figuras de Pedro e João, especialmente a de Pedro. A primeira referência fala da cura de um homem coxo que estava à porta do templo em Jerusalém (At 3.1-10), envolvendo a Pedro e João. Mais adiante, Pedro, na cidade de Lida, cura Enéias, que havia oito anos era paralftico (At 9.32- 35), e na cidade de Jope ressuscita Tabita, ou Dorcas (At 9.36-43).

É interessante notar a afirmação, em Atos 2.43, de que “muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos”, o que leva a crer que os demais, além de Pedro e João, também estivessem envolvidos nesse ministério. Mais interessante ainda é a referência em Atos 5.12-16, onde se lê que os doentes eram trazidos às ruas de Jerusalém para que ao menos a sombra de Pedro pudesse cobri-los, talvez na esperança de que fossem curados.

Na segunda parte do livro, que se dedica à narrativa da obra missionária de Paulo, encontramos, no ministério desse apóstolo, ocorrências de milagres semelhantes aos que aconteceram no ministério de Pedro. Paulo também curou um paralítico (At 14.8-10), expulsou um espírito adivinhador (At 16.16-18), curou por meio de meios estranhos (At 19.11,12), ressuscitou um morto (At 20.9-12), curou Públio, que estava acometido de febre, e muitos outros enfermos na Ilha de Malta (At 28.7-10).

Dois pontos importantes devem ser observados nestes registros do livro de Atos. O primeiro é que os apóstolos sempre atribuíam as curas ao poder do Senhor Jesus Cristo e não a algum poder que eles mesmos possuíssem. É significativa a pergunta que Pedro dirigiu ao povo que estava atônito por contemplar um milagre: “Por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” (At 3.12). Na cura de Enéas, o apóstolo desfaz, de antemão, qualquer dúvida com respeito ao autor do milagre - “Enéias, Jesus Cristo te cura’ (At 9.34). Não era Pedro o autor, mas o Senhor. Em Listra, as multidões queriam oferecer sacrifícios a Paulo e Bamabé, por causa da cura do homem aleijado, pensando que eles fossem deuses. Paulo procurou desfazer essa falsa concepção, dizendo que ele e Barnabé eram também humanos. O milagre da cura tinha sido efetuado por Deus.

O segundo ponto a salientar refere-se aos resultados das curas milagrosas. Em Jope, o resultado foi que “muitos creram no Senhor” quando tomaram conhecimento de que Pedro havia ressuscitado Tabita (At 9.42). Os sinais e prodígios que Pedro e os demais apóstolos realizavam em Jerusalém faziam com que cada vez mais se agregassem “crentes ao Senhor em grande número, tanto de homens como de mulheres” (At 5.14).
Os milagres extraordinários que Deus operou pelas mãos de Paulo em Éfeso fizeram com que o nome do Senhor fosse engrandecido e a palavra de Deus crescesse poderosamente naquela cidade (At 19.11-20).

Assim, na era apostólica, as curas e milagres foram utilizados por Deus para autenticar a mensagem do evangelho que estava sendo proclamada. Tanto entre os judeus como entre os gentios, os milagres produziram fé. Os que presenciavam os milagres criam no Senhor Jesus Cristo, agregavam-se à igreja, promovendo o seu crescimento e expansão, e dessa maneira o nome do Senhor era engrandecido.

Há, portanto, uma seqüência entre o ministério de Jesus e a era apostólica. Em ambas as fases os milagres produziram fé. Primeiramente, fé na pessoa de Jesus como Filho de Deus. Depois, fé na mensagem que a igreja proclamava acerca de Jesus.

No estudo de curas e milagres na era apostólica, uma passagem que alguns acham difícil de entender é Tiago 5.14-16, especialmente por causa da referência ao óleo. Algumas considerações sobre esse texto poderão ser úteis.

Em primeiro lugar, deve-se perceber que a ênfase de toda a passagem (v. 13-18) não está em curas, mas no poder da oração. Esta é prescrita para várias situações da vida, inclusive em casos de doença.

Os anciãos ou presbíteros eram, na igreja cristã primitiva, os que exerciam a função de liderança. A orientação que Tiago dá para chamar os anciãos reflete algo que a igreja já vinha fazendo. Não é um mandamento para começar algo novo, pois este era um costume proveniente do judaísmo. Nas comunidades judaicas, os anciãos oravam em favor dos enfermos. Como a igreja cristã, na fase inicial, era composta essencialmente de judeus, essa prática continuou sendo adotada.

O ato de ungir com óleo é significativo. Este ato reflete também um costume daquela época. O óleo era usado como remédio para várias doenças. A parábola do bom samaritano reflete esse emprego, quando diz que ele colocou óleo e vinho nas feridas do homem assaltado (Lc 10.34). Mas o óleo passou a ter também um sentido simbólico, sendo aplicado mesmo em curas milagrosas (Mc 6.13).

O fato importante é que o texto não afirma que a cura é realizada pelo óleo, mas pela eficácia da oração e pela intervenção direta do Senhor: “E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará” (v. 15). O óleo era apenas um símbolo da presença do Senhor naquela cura. Tiago, mais uma vez, não está prescrevendo algo novo, pois já se usava o óleo simbolicamente. Ele não está dizendo aos crentes de sua época que em todos os casos de doença deve-se usar o óleo.
Também não está dizendo que essa prática deveria perpetuar-se para todas as épocas e estender-se para todos os povos e culturas. O que ele ensina é que o crente deve confiar no poder da oração como meio de receber uma cura do Senhor.

A expressão “e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”, na parte final do versículo 15, remonta a um pensamento corrente no primeiro século, e entre alguns ainda hoje, de que toda enfermidade é conseqüência de pecado. É verdade que o estado espiritual e psicológico de uma pessoa pode afetar o seu físico. A ciência atesta a realidade das doenças psicossomáticas, produzidas por estados emocionais. Por outro lado, problemas físicos podem gerar problemas psicológicos. Também há doenças que são causadas por atitudes pecaminosas, mas nem toda doença é fruto direto de um pecado. A literatura do judaísmo registra afirmações de que uma pessoa não seria curada de uma enfermidade enquanto seus pecados não fossem confessados e perdoados. Esse ponto de vista está refletido no versículo 16 do texto de Tiago.

3. Curas e milagres hoje

O assunto deste capítulo levanta a questão da possibilidade de curas e milagres em nossos dias. À luz do ensino geral da Bíblia, Deus sempre operou e sempre poderá operar milagres. Não há limites de tempo para o seu poder. No entanto, é necessário que consideremos alguns pontos.

Em primeiro lugar, a Bíblia mostra que houve épocas específicas na história que se caracterizaram pela presença marcante dos milagres. Três períodos principais podem ser identificados, de acordo com Schaly, em “Doutrina do Espírito Santo, Parecer da Comissão dos Treze”, pp. 110-113):

1) O período da libertação do povo de Israel do cativeiro egípcio até a sua consolidação como nação, destacando-se as figuras de Moisés e Josué;

2) O período da restauração do culto de Jeová no Reino do Norte, quando estão em evidência os profetas Elias e Eliseu;

3)0 período da instituição da igreja, com milagres realizados por Jesus e seus discípulos. Nesses períodos os milagres se realizaram com uma função específica, em épocas especiais da revelação de Deus. Houve intervalos de vários séculos entre cada período. Nesses intervalos houve milagres, não como regra geral, mas como casos esporádicos. Os milagres realizados por Jesus e pelos apóstolos aconteceram num período específico para provarem a divindade de Jesus e estabelecerem a igreja cristã. Após os tempos apostólicos, os milagres diminuíram gradativamente.

Em segundo lugar, mesmo no Novo Testamento encontramos indicações de que não se deve desprezar os recursos médicos para a cura.
Paulo recomendou que Timóteo usasse um pouco de vinho por causa de seu estômago e de suas freqüentes enfermidades (l Tm 5.23). Deus nos concede recursos científicos de que devemos dispor para a restituição da saúde. O uso do óleo, no primeiro século, é também uma evidência dc que não se desprezava os recursos medicinais daquela época.

Finalmente, reafirmamos que Deus cura ainda hoje. No entanto, não é atribuição da igreja fazer das curas e milagres a sua plataforma, como se esta fosse a razão de ser da sua presença no mundo. A missão ampla da igreja inclui evangelizar os perdidos, doutrinar os crentes, adorar a Deus, ajudar os necessitados e praticar a comunhão cristã. O maior milagre que a igreja pode ostentar é o poder do evangelho para transformação de vidas.

A Doutrina do Espírito Santo – Roberto Alves de Souza

segunda-feira, 21 de março de 2011

Os Dons Espirituais

Os Dons Espirituais

O reavivamento e crescimento do Cristianismo ao redor do globo, especialmente nos países do Terceiro Mundo, é um testemunho poderoso de que os dons espirituais estão operando na promoção do Reino de Deus. O Movimento Pentecostal/Carismático cresceu de 16 milhões, em 1945, a 405 milhões, até 1990.’ As dez maiores igrejas no mundo pertencem a esse movimento.
A exegese de todos os textos do Novo Testamento concernentes aos dons espirituais está além do escopo deste capítulo.2 Meu enfoque recairá nos principais ensinos de Paulo a respeito dos dons na Igreja e no viver diário do crente, sobre como se relacionam os dons e os frutos e a maneira de exercer os dons. O ensino bíblico sem a prática é decepcionante; a prática sem o ensino sólido é perigosa. Por outro lado, o estudo deve levar à prática, e a prática pode iluminar o estudo.

O batismo no Espírito Santo é estudado no capítulo 13 deste livro. Mesmo assim, preciso enfatizar três propósitos chaves no derramamento do Espírito no dia de Pentecostes.

Primeiro, os crentes foram equipados com poder para realizar a obra de Deus, como nos dias do Antigo Testamento. A unção do Espírito, no Antigo Testamento, abrangia todos os ministérios que Deus quisesse suscitar: sacerdotes, artífices para o tabernáculo, líderes militares, reis, profetas, músicos. O propósito da unção era equipar as pessoas para o serviço. E nesse contexto que Lucas e Atos consideram a unção do Espírito. Em Lucas 1 e 2, uma unção repousava sobre dois idosos sacerdotes: Zacarías e Simeão. Duas mulheres, Isabel e Maria, foram ungidas para, milagrosamente, ter filhos e criá-los. João Batista era cheio do Espírito desde o ventre da mãe, não para ser sacerdote, como o pai, mas profeta e precursor do Messias. Semelhantemente, em Atos, o enfoque recai sobre a unção que revestiu de poder a Igreja e transformou o mundo.

Em segundo lugar, são todos sacerdotes nessa nova comunidade. Desde que começou como nação, Deus desejava que Israel fosse um reino de sacerdotes e uma nação santa (Ex 19.5,6). Os deveres dos sacerdotes incluíam a adoração, a oração, o ensino, a edificação, a reconciliação, o aconselhamento, tudo com muito amor. Era seu dever também construir relacionamentos e levar a Deus as pessoas que sofriam. Do mesmo modo, os crentes em Cristo, “como pedras vivas, são edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pe 2.5).

Em terceiro lugar, essa comunidade é profética. Moisés disse a Josué: “Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29). Joel falou da vinda do Espírito sobre toda a carne para profetizar (JI 2.28,29). Jesus identificou seu próprio ministério como profético (Is 61.1-3; Lc 4.18,19). Pedro equiparou a experiência no dia de Pentecostes ao cumprimento da profecia de Joel (At 2. 16-18).
Paulo disse: “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados” (1 Co 14.31). Claramente a Igreja desempenha papel profético ao levar a presença de Deus e a sua poderosa Palavra aos pecadores, às questões éticas, às nações e aos indivíduos.

Paulo vai além do contexto de Lucas e Atos. Ele focaliza a ativação dos dons, o aprimoramento do fruto, o andar no Espírito e a edificação dos crentes da igreja local até a maturidade. Paulo considerava a Igreja um organismo interdependente e interativo — tendo Cristo por cabeça — andando na retidão e no poder, antecipando a alegria pela volta do Senhor. Para captarmos o conceito paulino de Igreja, precisamos compreender os dons.

A IGREJA MEDIANTE A EXPRESSÃO DOS DONS

Os pensamentos mais profundos de Paulo estão registrados nas suas epístolas às igrejas em Roma, Corinto e Efeso. Estas igrejas eram instrumentos da estratégia missionária de Paulo. Romanos 12, 1 Coríntios 12 e 13 e Efésios 4 foram escritos a partir do mesmo esboço básico.3 Embora fossem igrejas diferentes, são enfatizados os mesmos princípios. Cada texto serve para lançar luz sobre os demais. Paulo fala do nosso papel no exercício dos dons, do exemplo da unidade e diversidade que a Trindade oferece, da unidade e diversidade no corpo de Cristo, do relacionamento ético — tudo à luz do último juízo de Cristo.

O contexto dessas passagens pararalelas é a adoração. Depois de uma exposição das grandes doutrinas da fé (Rm 1— 11), Paulo ensina que o modo apropriado de corresponder a elas é mediante uma vida de adoração (Rm 12 — 16). Os capítulos 11 a 14 de 1 Coríntios também se referem à adoração.

Os capítulos 1 a 3 de Efésios apresentam uma adoração em êxtase. Efésios 4 revela a Igreja como uma escola de adoração, onde aprendemos a refletir o Mestre supremo. Paulo considera os seus convertidos apresentados em adoração viva diante de Deus (Rm 12.1,2; 2 Co 4.14; Ef 5.27; Cl 1.22,28). Conhecer a doutrina ou corrigir as mentiras não basta. A totalidade da nossa vida deve louvar a Deus. A adoração está no âmago do crescimento e reavivamento da igreja.
Estude o gráfico a seguir. Note o fluxo do argumento, as semelhanças e propósitos que Paulo tem em mente. Em seguida, examinaremos os princípios-chaves desses textos bíblicos.


NATUREZA ENCARNACIONAL DOS DONS

Os crentes desempenham um papel vital no ministério dos dons. Romanos 12.1-3 nos diz para apresentarmos nosso corpo e mente como adoração espiritual e que testemos e aprovemos o que for a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Semelhantemente, 1 Coríntios 12.1-3 nos adverte a não perdermos o controle do corpo e a não sermos enganados pela falsa doutrina, mas deixar Jesus ser Senhor. E Efésios 4.1-3 nos recomenda um viver digno da vocação divina, tomar a atitude correta e manter a unidade do Espírito.

Nosso corpo é o templo do Espírito Santo e, portanto, deve estar envolvido na adoração, Muitas religiões pagãs ensinam um dualismo entre o corpo e o espírito. Para elas, o corpo é mau, uma prisão, ao passo que o espírito é bom e precisa ser liberto. Essa opinião era comum no pensamento grego.

Paulo conclama os coríntios a não se deixarem influenciar pelo passado pagão. Antes, perdiam o controle; como conseqüência, podiam dizer qualquer coisa e alegar que ela provinha do Espírito de Deus. O contexto bíblico dos dons não indica nenhuma perda de controle. Pelo contrário, à medida que o Espírito opera através de nós, temos mais controle do que nunca. Entregamos nosso corpo e mente a Deus como instrumentos a seu serviço. Oferecemos-lhe a mente transformada e a colocamos debaixo do senhorio de Cristo, num espírito meigo e disciplinado, para deixar Deus operar através de nós. Efésios 4.1-3 diz-nos que as atitudes certas levam ao ministério eficaz. Por isso, o corpo, a mente e as atitudes ficam sendo instrumentos para a glória de Deus.

Há várias teorias a respeito da natureza do dons do Espírito. Uma delas entende que os dons são capacidades naturais. Por exemplo: o cantor tem o dom da música, e o médico (através da ciência), o dom da cura. Mas o talento humano, isoladamente, nunca poderá transformar o mundo. Outra teoria entende que os dons são totalmente sobrenaturais. Nega o envolvimento humano, afirmando que o Espírito ignora a mente do homem. Entende que a carne é iníqua, capaz apenas de distorcer as coisas. Aqui, o perigo é que poucos terão coragem de exercer os dons. A maioria se sentirá indigna, e considerará os dons místicos ou além da sua compreensão. Terão medo de cometer um engano. Mas ter dom não é comprovação de santidade ou de conquistas espirituais.

A terceira teoria é bíblica. Os dons são encarnacionais. Isto é, Deus opera através dos seres humanos. Os crentes submetem a Deus sua mente, coração, alma e forças. Consciente e deliberadamente, entregam tudo a Ele. O Espírito, então, os capacita de modo sobrenatural a ministrar acima das suas capacidades humanas e, ao mesmo tempo, a expressar cada dom através de sua experiência de vida, caráter, personalidade e vocabulário, Os dons manifestos precisam ser avaliados. Isto não diminui em nada a sua eficácia, pelo contrário, dá à congregação a oportunidade de testar, pela Bíblia, sua veracidade e valor para a edificação.
O princípio encarnacional é visto na revelação de Deus à raça humana. Jesus é Emanuel, Deus conosco (plenamente Deus e plenamente humano). A Bíblia é ao mesmo tempo um livro divino e um livro humano. E divina, inspirada por Deus, autorizadora e inerrante. E humana, pois reflete os antecedentes, situações vivenciais, personalidades e ministérios dos escritores. A Igreja é uma instituição tanto divina quanto humana. Deus estabeleceu a Igreja, pois de outra forma ela nem existiria. Apesar disso, sabemos que a Igreja é bastante humana. Deus opera através de vasos de barro (2 Co 4.7). O mistério que permaneceu oculto através das gerações e agora foi revelado aos gentios é “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.27).

Não precisamos ter medo. O que Deus ministra através de sua vida, ministério e personalidade talvez seja diferente do que Ele ministra através dos outros. Não devemos pensar que estamos garantindo a perfeição quando temos um dom espiritual. Isto pode ser avaliado por outras pessoas, com amor cristão. Basta sermos vasos submissos, buscando edificar o corpo de Cristo. Ao invés de focalizarmos a nossa atenção na dúvida — se um dom é totalmente de Deus — façamos a pergunta mais vital: Como posso melhor atender as necessidades do próximo e alcançar os pecadores para Cristo? Somente a compreensão desse princípio deixará a Igreja livre para manifestar os dons.

UNIDADE E DIVERSIDADE NA TRINDADE

Para o leitor superficial, debater a doutrina da Trindade neste contexto talvez não dê a impressão de reforço ao argumento. Para o apóstolo Paulo, no entanto, é fundamental. Até mesmo a ordem como é listada, em 1 Coríntios 12.4- 6 e em Efésios 4.4-6, é a mesma: Espírito, Senhor, Pai. Cada Pessoa da Trindade desempenha um papel vital na manifestação dos dons. As vezes os papéis se sobrepõem parcialmente, mas, em essência, é o Pai quem supervisiona o plano da salvação e a expressão dos dons por todo o processo. Jesus nos redime e nos coloca em nossa posição no ministério da Igreja. O Espírito Santo concede os dons. As Pessoas da Deidade desempenham papéis diferentes, porém cooperam vitalmente entre si e se harmonizam numa unidade perfeita de expressão.

A Igreja deve refletir a natureza do Senhor, a quem ela serve. Não há cisma, divisão, orgulho carnal, glorificação do próprio-eu, luta pela primazia ou usurpação de direitos no âmbito da Trindade. Não devemos fazer o que nossa vontade ordena, mas o que vemos Deus fazendo (Jo 5.19). Quanta diferença faria na maneira de compartilharmos os dons! Ministrados corretamente, os dons revelam a coordenação, a unidade criativa na diversidade e a sabedoria e poder que o Espírito harmoniza. Por toda parte vemos a diversidade. A Igreja pode vir a enfrentar situações as mais diferentes. Mas podemos dispor dessa obra do Espírito, que nos harmoniza numa unidade maior, se nos prostrarmos diante do Deus de tremenda santidade, poder e propósitos.


A DIVERSIDADE DE MININISTÉRIOS

Existem muitos dons, e nenhuma das listas visa ser exaustiva. Vinte e um deles são alistados no Novo Testamento. Todos são complementares entre si: nenhum é completo em si mesmo. Por exemplo: todos os dons em Romanos 12.6-8 podem ser proveitosamente aplicados a uma situação de aconselhamento. Dons encontrados em determinada lista podem ser facilmente relacionados a dons constantes em outras relações. O dom de contribuir pode manifestar-se como misericórdia, socorros, exortação ou mesmo o martírio. Alguns dons são facilmente identificados: as línguas e a interpretação, as curas e os milagres. Outros dons, porém, como a palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento, o discernimento de espíritos e a profecia, talvez exijam um exame cuidadoso antes de serem identificados.

O fato de nenhuma pessoa ser auto-suficiente leva à interdependência. Cada crente é um membro do corpo de Cristo; e cada membro precisa dos demais. Juntos, podem fazer o que um indivíduo sozinho jamais conseguiria. Mesmo quando as pessoas manifestam os mesmos dons, fazem-no de modo diferente e com resultados diferentes. Ninguém individualmente possui um dom na sua manifestação total. E necessária a participação de todos.

Os dons devem ser exercidos com amor, por causa do perigo de serem comunicados de modo errôneo, até mesmo por pessoas com as mais sinceras intenções. E todo dom deve ser avaliado péla igreja. Paulo é extremamente prático. Na questão dos dons do Espírito Santo, nada indica seja mera teoria. A maioria dos estudiosos classificam os dons de 1 Coríntios 12.8-10 em três categorias: revelação, poder e expressão, com três dons em cada categoria. Trata-se de uma divisão conveniente e lógica. Creio, à luz de 1 Coríntios 12.6-8 e 14.1-33, que Paulo está fazendo uma divisão funcional.”
Com base no emprego da palavra grega heteros (“outro de tipo diferente”) por duas vezes em 1 Coríntios 12.6-8, podemos ver os dons divididos em três categorias de dois, cinco e dois dons respectivamente.

Dons de Ensino (e Pregação):
A palavra da sabedoria
A palavra do conhecimento

Dons do Ministério (à Igreja e ao Mundo):

Dons de curar
Operação de maravilhas
Profecia
Discernimento de espíritos
Dons de Adoração:
Variedades de línguas
Interpretação de línguas

Essa tríplice divisão pode ser confirmada dividindo-se 1 Coríntios 14 em parágrafos. Note que Paulo acrescenta nova categoria em 1 Coríntios 14.20-25: “um sinal.., para os incrédulos” (v. 22).

A palavra da sabedoria. O ensino, a busca da orientação divina, o conselho e a luta com as necessidades práticas do governo e administração da igreja podem oferecer oportunidade para o dom de sabedoria. Mas este não deve ser limitado à adoração na igreja ou às experiências na sala de aula. Ele ensina as pessoas a crescer espiritualmente quando aplicam seus esforços ao estudo da sabedoria e fazem escolhas que levam à maturidade. Por si só, no entanto, o dom é uma mensagem, proclamação ou declaração de sabedoria, não significa que os que ministram a mensagem sejam necessariamente mais sábios que os outros.13
Nossa fé não deve depender de sabedoria humana (1 Co 2.5).

Se nos faltar a sabedoria, somos exortados a pedi-la a Deus (Tg 1.5). Jesus prometeu aos seus discípulos “boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lc 21.15). Esta promessa refere- se a um dom sobrenatural, pois assim demonstra o seu mandamento: “Proponde, pois, em vosso coração não premeditar como haveis de responder” (Lc 21.14), Esse dom, portanto, vai além da sabedoria e preparo humanos.

A palavra da conhecimento. Este dom está relacionado ao ensino das verdades da Palavra de Deus. Não é o resultado do estudo por si só. Donald Gee descreve-o como “raios de introspecção da verdade que penetram além da operação do... intelecto humano por si só”. O conhecimento pode incluir os segredos de Deus, como a revelação da vinda próxima das chuvas, dos planos dos inimigos ou dos pecados secretos de reis e servos aos profetas do Antigo Testamento. Podemos identificá-lo também no conhecimento que Pedro tinha da mentira de Ananias e Safira e na proclamação da sentença de cegueira contra Elimas, feita por Paulo.



Fé. Oração fervorosa, alegria extraordinária e coragem incomum acompanham o dom da fé. Não se trata da fé salvífica, mas da fé milagrosa para uma situação ou oportunidade especial, tal como o confronto entre Elias e os profetas de Baal (1 Rs 18.33-35). Pode incluir a capacidade especial de inspirar fé nos outros, como fez Paulo a bordo do navio em meio à tempestade (At 27.25).

Dons de curar. Em Atos dos Apóstolos, muitos aceitaramo Evangelho e foram salvos depois de milagrosamente curados. No texto grego, a expressão inteira aparece no plural. Assim, parece que ninguém recebe o dom exclusivo da cura.
Pelo contrário, muitos dons de cura estão à disposição para satisfazer as necessidades de casos específicos em ocasiões específicas. As vezes Deus cura soberanamente, e às vezes, de conformidade com a fé do enfermo.

O que ora pelo enfermo é mero agente; o enfermo (quer tenha enfermidade física ou emocional) é quem precisa do dom e realmente o recebe. Em todas essas ocasiões, a glória deve ser dada exclusivamente a Deus. Podemos, no entanto, juntar a nossa fé com a do enfermo e, juntos, estabelecer o ambiente de amor e aceitação no qual os dons da cura fluem melhor. No corpo de Cristo há poder e força para a satisfação das necessidades de um membro fraco. A cura possui aspecto encarnacional.

Operação de maravilhas. “A operação de maravilhas” consiste em dois plurais: de dunamis (façanhas de grande poder sobrenatural) e energêma (resultados eficazes). Esse dom pode estar relacionado à proteção, provisão, expulsão de demônios, alteração de circunstâncias ou juízo. Os evangelhos registram milagres no contexto da manifestação do Reino (ou domínio) messiânico, da derrota de Satanás, do poder de Deus e da presença e obra de Jesus. A palavra grega para “milagre”, em João, enfatiza o seu valor como sinal para encorajar as pessoas a crer e a continuar crendo. Atos dos Apóstolos enfatiza a continuação dessa obra na Igreja, de monstrando que Cristo é vencedor.

Profecia. Em 1 Coríntios 14, a profecia refere-se a várias mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito, numa língua conhecida a quem fala “para edificação [especialmente na fé], exortação [especialmente para avançar na fidelidade e no amor] e consolação [que anima e revivifica a esperança e a expectativa]” (14.3). Com esse dom, o Espírito ilumina o progresso do Reino de Deus, revela os segredos dos corações das pessoas e submete o pecado à convicção (1 Co 14.24,25). Um exemplo típico é Atos 15.32: “Judas e Suas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras”.

Aqueles regularmente usados com o dom da profecia eram chamados profetas. Qualquer crente, no entanto, pode exercer esse dom. Mas deve ser aquilatado cuidadosamente (e em público) pelos “outros”, ou seja, pela congregação (1 Co 14.29). Essa avaliação deve ainda explicar qual o propósito de Deus no assunto, a fim de que todos possam aprender e tirar beneficio.

Discernimento de espíritos. A expressão inteira, no grego, apresenta-se no plural. Este fato indica uma variedade de maneiras na manifestação desse dom. Por ser mencionado imediatamente após a profecia, muitos estudiosos o entendem como um dom paralelo responsável por “julgar” as profecias (1 Co 14.29).’ Envolve uma percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos ataques de Satanás e dos espíritos malignos (cf. 1 Jo 4.1). O discernimento nos permite empregar a Palavra de Deus e todos os demais dons para liberar o campo à proclamação plena do Evangelho.

Da mesma forma que os demais dons, este não eleva o indivíduo a um novo nível de capacidade. Tampouco concede a alguém a capacidade de sair olhando as pessoas e declarando de que espírito são. E um dom específico para ocasiões específicas.
Línguas e interpretação. O dom de línguas precisa de interpretação para ser eficaz na igreja. Alguns ensinam que, por estarem alistados em último lugar, estes dons são os menores em importância. Semelhante conclusão é insustentável. As cinco listas encontradas no Novo Testamento colocam os dons em ordens diferentes.

Através do dom de línguas, o Espírito Santo toca em nosso espírito. Achamo-nos livres para exaltar a bondade de Deus e edificamos a nós mesmos. A medida que falamos, somos edificados espiritualmente. Em seguida, quando a interpretação deixa os membros da igreja entenderem a mensagem, estes são encorajados a adorar. O louvor vem mais prontamente após as línguas e a interpretação que depois da profecia. As expressões proféticas visam mais a instrução.

A diferença básica entre o fenômeno das línguas em Atos e em 1 Coríntios está no seu propósito. Em Atos, as línguas visam a edificação pessoal, deixando evidente que os discípulos realmente haviam recebido o dom prometido do Espírito Santo, para revesti-los “do poder do alto” (Lc 24.49; At 1.4,5,8; 2.4). Não precisavam ser interpretadas. Em 1 Coríntios, o propósito era a bênção a outras pessoas na congregação, por isso era necessária a comunicação.

O Espírito Santo distribui todos os dons segundo o seu poder criador e sua soberania. O verbo “querer” (1 Co 12.11, gr. bouletai) está no tempo presente e sugere nitidamente sua personalidade continuamente criativa. Notamos, também, que a Bíblia não faz distinções herméticas entre os dons. “Encorajar” faz parte do dom da profecia em 1 Coríntios 14.3, mas em Romanos 12.8 é tratado como um dom distinto. As categorias de dons acima citadas não se excluem mutuamente. Além disso, personalidades diferentes talvez expressem os dons de modos diferentes em vários ministérios.

Em 1 Coríntios 14.1-5, o valor funcional das línguas e da interpretação pode ser comparado ao da profecia no ensino (14.6-12), na adoração (14.13-19), no evangelismo (14.20- 25) e no ministério ao Corpo (14.26-33) O ensino, o ministério do corpo de Cristo à Igreja e ao mundo e a adoração são três chaves para uma assembléia local saudável. Se possuirmos apenas duas dessas categorias estaremos em desequilíbrio, abrindo a porta a dificuldades. Se, por exemplo, tivermos ensino e ministério, sem adoração consistente, poderemos perder boa parte do impacto do reavivamento. Nosso zelo para servir pode facilmente esgotar- se. Se tivermos ensino e adoração, sem ministério prático, nossos membros ficarão preguiçosos, voltados apenas para si mesmos, ineficazes, críticos e facciosos.

Se tivermos o ministério e a adoração, sem ensino sólido, correremos o risco de cair nos extremos, no “fogo de palha”que danificará o reavivamento a curto e longo prazo. Sem essas três chaves operando conjuntamente, a igreja não poderá alcançar seu pleno potencial.
E evidente o interesse de Paulo pelos resultados práticos, que deixarão a igreja livre para o discipulado, o evangelismo, a união e a vida semelhante à de Cristo.
Em 1 Coríntios 12.4-6, Paulo ensina que há dons (gr. charismatõn) diferentes, ministérios (gr. diakoniõn) diferentes e resultados (gr. energêmatõn) diferentes. Isto é, cada dom pode ser exercido através de ministérios diferentes e produzir resultados diferentes, sendo que todos honrarão a Deus. Paulo, usando a analogia dos diferentes membros do corpo, diz que Deus distribui os membros no Corpo conforme Ele deseja, dando-nos ministérios diferentes com resultados variados, O esboço em 1 Coríntios 14 trata da função prática. Incrível diversidade, incrível praticabilidade!

Examinando os textos paralelos e acrescentando 1 Pedro 4.10,11, obtemos as 13 diretrizes que se seguem:

1. Devemos exercer o nosso ministério proporcional- mente à nossa fé.26
2. Devemos concentrar a nossa atenção nos ministérios que sabemos possuir, e aprimorá-los.
3. Devemos manter as atitudes certas: contribuir com generosidade, orientar com diligência e ter alegria em demonstrar misericórdia.
4. Todos temos funções diferentes no corpo de Cristo, e devemos compreender o relacionamento com o corpo inteiro.
5. Os dons devem edificar a todos, e não somente ao indivíduo,27
6. A ninguém cabe o senso de superioridade ou inferioridade, pois cada membro é igualmente importante.

7. Os dons são dados a nós, mas não os alcançamos por nossos méritos. A vontade e a soberania de Deus determinam essa distribuição. Sua ação específica de distribuir os dons na Igreja é demonstrada pelos seguintes verbos: “dar” (Rm 12.6; Ef 4.11) e “por” (1 Co 12.28). Paulo afirma ainda, em 1 Coríntios 12.28-3 1, que devemos concentrar nossos esforços nos ministérios que sabemos que Deus nos tem dado.

8. Ao mesmo tempo, são manifestações dadas por Deus, e não talentos humanos. Deus continua outorgando dons conforme o seu querer.28 Devemos acolher todos eles com receptividade. Se soubermos qual parte do Corpo somos e quais os nossos ministérios, poderemos canalizar com eficácia os dons.

9. Embora exerçamos um dom até à sua máxima capacidade, tudo será fútil sem o amor, Evidentemente, temos apenas o conhecimento parcial, e é só o que conseguimos compartilhar. Os dons são dados continuamente, segundo nossa medida de fé (e não uma vez por todas). Os dons devem ser testados; devem estar sujeitos aos mandamentos do Senhor. O enfoque é o amadurecimento da igreja, e não a grandeza do dom. Estas verdades devem nos levar à humildade, à estima por Deus e pelo próximo e à zelosa disposição de obedecer a Ele.

10. Ministérios de capacitação têm a função especial de deixar livres outras pessoas para exercer seus ministérios e desenvolver a maturidade. Apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres são dons à Igreja. Aparecem na ordem histórica da fundação e estabelecimento da igreja, e não segundo uma classificação qualquer de autoridade (1 Co 12.28)

11. Devemos ministrar a graça de Deus nas suas várias formas. 1 Pedro 1.6 revela que os cristãos haviam passado por tristezas as mais variadas. Deus tem uma graça especial para ministrar a cada tristeza. O ministro fiel saberá ministrar a cada necessidade. Devemos escolher com cuidado quando, onde e como melhor ministrar a graça de Deus.

12. Devemos ministrar com confiança, na força do Senhor, sem timidez e sem tentar fazer tudo pelos próprios esforços. Conceito semelhante encontramos em Romanos 12, onde o ministrar é proporcional à nossa fé. Mas Pedro ordena falarmos como se fossem as próprias palavras de Deus! (lPe4.11).

13. Finalmente, Deus deve receber toda a glória. Todos os dons são graças com que Deus tem abençoado a sua Igreja.

UM SÓ CORPO MUITOS MEMBROS

A união no corpo de Cristo baseia-se na experiência da salvação que temos em comum. Todos somos pecadores, salvos pela graça de Deus,
A analogia elaborada por Paulo, entre a Igreja e o corpo humano, talvez tenha sido por demais terrena para os coríntios, que só queriam pensar em coisas espirituais. Talvez considerassem o corpo humano pecaminoso. Mas o próprio Deus o criou. Nenhuma analogia descreve melhor a interação e interdependência da Igreja. Paulo, desde o momento da sua conversão, na estrada de Damasco, notou que perseguir a Igreja era perseguir o próprio Jesus Cristo (At 9.4).

A Igreja é nada menos que o corpo de Cristo! Paulo tinha em alto conceito a Igreja e o valor desta para Deus. Temos a sublime vocação e obrigação de edificar uns aos outros, ajudar cada membro a achar um ministério pessoal, manter abertas as comunicações entre os membros e dedicar as nossas vidas uns aos outros.

O mundo derruba e desfaz tudo. Os cristãos edificam. Mas, para fazermos assim, nós mesmos devemos ser edificados primeiro. Falar em línguas edifica a nós pessoalmente (1 Co 14.4,14,17,18). Se não formos edificados, estaremos ministrando com vasos vazios. A vida devocional de muitos cristãos modernos é lastimavelmente fraca. A oração e a adoração são nossas fortalezas interiores. Mas, se buscarmos somente a nossa edificação pessoal, ficaremos espiritualmente como esponjas que absorvem água sem passá-la adiante. Precisamos esforçar-nos para edificar outras pessoas.

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4.29). Um corpo sadio edifica a si mesmo, tendo a capacidade de curar as próprias feridas. A edificação deve ser o alvo supremo da Igreja, no uso dos dons. O amor edifica. O propósito dos dons é edificar. O povo de Deus deve apoiar-se mutuamente, perdoar e estender a mão uns aos outros. Quão bom exemplo semelhante ato seria diante do mundo!

A verdadeira comunhão edifica-se na empatia. Devemos alegrar-nos com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12.15). Devemos ter a mesma solicitude uns para com os outros. Se uma parte sofre, as demais partes sofrem com ela; se uma parte for honrada, cada parte se regozija com ela (1 Co 12.25,26). Este modo de pensar é contrário ao pensamento do mundo, onde é mais fácil alegrar-se por causa dos que choram e chorar pelos que se alegram; isto porque a natureza humana prefere julgar os outros. Os crentes, porém, pertencem uns aos Outros. A minha vitória é motivo para você se alegrar, porque o Reino de Deus é promovido. Quando você alcança uma vitória, também eu fico animado, Efésios 4.16 demonstra o ponto culminante da empatia: o Corpo se edifica em amor, à medida que cada ligamento de apoio recebe forças de Cristo e cumpre a sua tarefa.

O termo para “apoio” (“justa operação”) é epíchorêgias, usado na literatura grega para descrever o líder de um coral tomando sobre si a responsabilidade de suprir com abundância as necessidades do seu grupo, ou um líder que supre amplamente de viveres e munições o seu exército, ou um marido que em tudo cuida da sua esposa, oferecendo-lhe sustento abundante. Se cada um cumprir a sua responsabilidade, o resultado será vitalidade e saúde. Quão grande liberação de poder acontecerá numa comunhão dessa qualidade! Milagres e curas podem facilmente surgir nesse ambiente! Se soubermos apoiar uns aos outros com mútua receptividade, deixaremos Os cristãos em melhores condições para buscar em Deus as respostas.

Todos temos personalidades, temperamentos e ministérios diferentes. Devemos assumir o compromisso de entendermos uns aos outros e de nos deixarmos mutuamente livres para ministrar. Isso leva tempo. A medida que aprendermos a respeito dos outros, começaremos a dar valor a eles, a honrá-los e a crescer na comunhão.

AMOR SINCERO

Após cada uma das exposições a respeito dos dons, Paulo elabora três belas mensagens baseadas num único esboço sobre o amor (Rm 12.9-21; 1 Co 13; Ef 4.17-32). Cada uma dessas mensagens tem suas diferenças criativas, mas os mesmos temas essenciais estão presentes.


Anders Nygren assim comenta Romanos 12: “Basta fazermos da palavra ‘amor’ o único sujeito da passagem inteira de 12.9-2 1 para vermos quão perto o conteúdo dessa seção fica de 1 Coríntios 13, Romanos 12 é uma
unidade. Paulo não está falando de dois assuntos distintos, os dons e a ética (o amor) O contexto de Romanos 12 é a urgência da hora, como o bem forçosamente triunfando sobre o mal e o viver à luz da segunda vinda de Cristo.

O povo de Deus precisa viver em relacionamentos corretos. Não se pode fazer uma divisão entre os capítulos 12 e 13 de 1 Coríntios. O contexto para o exercício dos dons é o amor. Efésios 4 enfatiza a diferença dramática entre a nossa vida anterior, como pagãos, e a nossa nova vida em Cristo. E por isso que devemos falar a verdade em amor. O amor é prático quando edificamos uns aos outros. 33 As três passagens bíblicas aqui estudadas desenvolvem temas em separado. Mesmo assim, a vitória do bem sobre o mal, o amor no exercício dos dons e a verdade no amor são todas expressões dinâmicas do amor — o exército do Messias marcha numa progressão diferente! Nossa maneira de viver é essencial para a utilização eficaz dos dons. (Estudaremos mais esse assunto na seção “O Relacionamento entre os Dons e o Fruto”.)

O JUIZO FINAL

Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá- lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem (Rm 12.19-21),

Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado... Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido (1 Co 13.10,12).

Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo... cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo... E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o Dia da redenção (Ef 4.13,15,30).

O exame dos versículos acima demonstra que todos as menções ao amor encontram-se no contexto da conduta cristã à luz da segunda vinda de Cristo. Não temos alicerçada a nossa ética na filosofia, na cultura ou na conveniência, mas na justiça de Deus, tendo em vista o derradeiro juízo. Os teólogos chamam a isso conduta escatológica.

A citação em Romanos 12.20 provém da literatura sapiencial do Antigo Testamento (Pv 25.2 1,22).
Nas passagens a respeito do amor, Paulo cita Jesus, a Lei, a literatura sapiencial, e revela solicitude profética pelos pobres e necessitados. Essa é a sabedoria de Deus. “Amontoar brasas de fogo sobre a cabeça” talvez retrate uma prática egípcia de a pessoa carregar na cabeça uma panela de brasas vivas como penitência. Se for assim, Paulo está dizendo que, mediante o amor, podemos levar a pessoa ao arrependimento. Que o inimigo saiba que está lutando contra Deus, e não contra nós. Não queremos derrotar nossos inimigos humanos; queremos ganhá-los para o Senhor! Não devemos sucumbir às pressões de Satanás. A guerra é entre o mal e o bem, Somente poderemos vencer o mal com o bem. 1 Coríntios prevê tempos de esclarecimento total, nos quais veremos face a face e conheceremos plenamente assim como somos plenamente conhecidos. E o dia da vinda do Senhor. E o Dia do Juízo! Todas as nossas ações serão julgadas segundo os padrões divinos (Rm 2.6,16).

Em Efésios, há fartas referências às últimas coisas profetizadas. Paulo fala do estágio futuro da maturidade plena e sobre o dia da redenção. Somos selados pelo Espírito até aquele dia (Ef 4.13,15,30). Mas, até então, os dons são o poder que Deus nos dá a fim de cumprirmos a tarefa de nos edificarmos mutuamente e influenciar o mundo. O que Paulo ordena em todas as partes da Epístola aos Efésios exige mudança radical, dramática e urgente. Devemos aproveitar ao máximo todas as oportunidades (Ef 5.16). Cristo deseja apresentar a si mesmo uma Igreja radiante (Ef 5.27). Escravos e senhores têm um Senhor no Céu, diante de quem terão de prestar contas (Ef 6.9). E, no fim, a expressão “finalmente”, ou “no demais” (Ef 6.10), pode ser uma referência aos derradeiros dias, quando chegar “o dia mau” (Ef 6.13).

Os textos paralelos de Romanos 12, 1 Coríntios 12 e 13 e Efésios 4 focalizam o modo de viver do crente cheio do Espírito — procurando seu lugar no corpo de Cristo, exercendo os dons com amor, testemunhando e servindo, tudo como antegozo da vinda do Senhor. Este é o propósito e vocação da Igreja. A Igreja é uma escola. Quando os crentes se reúnem, aprendem a ministrar dons espirituais e a ser discípulos de Cristo, Saindo para ministrar ao mundo, aplicam o poder de Deus às situações da vida. Devemos ser receptivos à voz do Espírito, que pode falar através de nós a qualquer momento.

AS FUNÇÕES DOS DONS

Paulo faz um contraste entre o valor das línguas e o da profecia em quatro funções diferentes, em 1 Coríntios 14: o ensino (vv. 6-12), a adoração (vv. 13-19), os sinais para o descrente (vv. 19-25) e o ministério à igreja local (vv. 26- 33). Ele admoesta contra o abuso dos dons e oferece diretrizes positivas ao seu exercício. Resumi abaixo as instruções essenciais.

A comunicação é complexa. A comunicação nítida fortalece (14.3). E fácil entender erronearnente intenções, atitudes e palavras. Somos imperfeitos. E por isso que os dons precisam ser exercidos com amor.
Os coríntios, egoístas, fingiam-se ultra-espirituais e abusavam das línguas estranhas. Surgiram muitos problemas. Paulo reenfatiza a necessidade da clareza na orientação e instrução. Por isso, toma a profecia como exemplo para representar todos os dons exercidos no idioma conhecido. As línguas estranhas, quando interpretadas, incentivam a congregação a adorar (1 Co 14.2,5,14,15) e se constituem num dom tão válido quanto a profecia. Não há fundamento bíblico para classificar os dons como superiores ou inferiores.

Cada dom desempenha uma tarefa única e incomparável, se comunicado corretamente. Paulo oferece a analogia da flauta, da cítara e da trombeta tocadas sem um som nítido: não há benefício para o ouvinte. Na assembléia local, precisamos transmitir com nitidez a orientação divina, o que Deus está dizendo a todos nós Paulo tinha em alta estima o dom de línguas para a adoração (1 Co 14.2), a edificação do indivíduo (14.4), a oração (14.4), a ação de graças (14.17) e como sinal para o incrédulo (14.22). Paulo orava em línguas, cantava em línguas, louvava em línguas e falava em línguas (14,13-16). Na realidade, falava em línguas ainda mais que os exuberantes coríntios. Ele fala do valor de louvar e orar com o Espírito e também com o entendimento.

Os coríntios haviam exagerado no uso do dom de línguas. Alguns talvez acreditassem que falavam línguas angelicais (1 Co 13.1). E possível que os cultos tenham sido dominados pelas línguas (14.23), e parece que os que falavam em línguas interrompiam uns aos outros para entregar suas mensagens, sem interpretação (14.27,28).

Há uma pergunta fundamental a respeito dessa passagem. Estaria Paulo encorajando ou desencorajando períodos de adoração em que todos na assembléia falam em outras línguas? Duas opiniões são sustentadas a respeito de 1 Coríntios 14.23,24. Uma delas é que Paulo estava reduzindo ao mínimo o uso do dom das línguas e que nunca, por nenhum motivo, deveria haver mais que duas pessoas (ou no máximo três) falando num culto. Assim fica excluída a adoração pública em línguas. Segundo esta opinião, Paulo faz uma concessão mínima àqueles em Corinto que falavam em línguas.

Uma segunda opinião considera que 1 Coríntios 14.23- 24 consiste em duas declarações paralelas: todos falam em línguas; todos profetizam. Se 14.23 significa que todos falam línguas estranhas ao mesmo tempo, obviamente 14.24 refere-se a todos profetizando ao mesmo tempo. Obviamente, 14.24 não pode significar isso. Todos profetizando ao mesmo tempo seria confusão ou mesmo demência. Paulo certamente permite às pessoas profetizarem “uns depois dos outros” no ministério à congregação (1 Co 14.3 1). E, se a profecia representa todos os dons no idioma conhecido, outros dons também podem ser ministrados profeticamente.


A única limitação imposta às mensagens proféticas é que seja feito “tudo decentemente e com ordem”. Os coríntios não deveriam consumir a totalidade do horário falando “uns depois dos outros” em línguas. Há um limite de duas ou (no máximo) três expressões em línguas com interpretações (14.27). O propósito básico das línguas estranhas com interpretação é adorar a Deus e encorajar os outros a fazer o mesmo. Se uma congregação está disposta a adorar, não serão necessárias mais que duas ou três exortações para situá-la nesse propósito.

Em Atos 2.4, 10.44-46 e 19.6, vemos que todos falavam em línguas na adoração coletiva. Nenhuma interpretação é mencionada. A interpretação sem preconceitos de 1 Coríntios 14.2,22-25 não pode negar que todos adoravam em línguas ao mesmo tempo. Paulo e Lucas não se contradizem mutuamente.

Se o propósito primário das línguas é louvar a Deus, as línguas com interpretação encorajarão as pessoas a adorar. Assim, recusar às pessoas a oportunidade de adorar a Deus em línguas parece uma contradição. Nesse caso, Paulo estaria dizendo: “Adorem com o entendimento na assembléia, mas não no Espírito. Somente duas ou três pessoas têm licença para aquela experiência”. Que diremos das reuniões em que a oração é o tema principal na agenda? Ou das reuniões que visam encorajar os outros a receber a plenitude do Espírito? Ou dos momentos de pura celebração espiritual? Quando Deus nos toca, no meio de qualquer assembléia pública, nós correspondemos. Essa nossa resposta, no entanto, não deve atrair sobre nós mesmos qualquer atenção indevida.

O reavivamento pentecostal/carismático no mundo inteiro jamais se desculpou pela celebração espiritual genuína. Tem, sim, encorajado a adoração sincera. O espírito do indivíduo não é abafado pelo coletivo. Pelo contrário, é plenamente aproveitado no Corpo, com o devido controle. O dom de línguas não está limitado aos devocionais particulares. Pelo contrário, aprendemos no modelo da adoração pública a maneira de adorar em particular. Se todos entendessem que há ocasiões diferentes para se louvar a Deus, não existiria nenhuma confusão.

Todos os dons têm valor como sinal e valor no seu conteúdo. No dom de línguas, destaca-se o aspecto de sinal: desperta a atenção. Na profecia, o conteúdo, embora em certos casos tenha grande valor como sinal. Ela confronta as pessoas com a Palavra de Deus e as convida ao arrependimento. Palmer Robertson ressalta: “As ‘línguas’ servem como indicador; a ‘profecia’, como comunicador. As ‘línguas’ chamam a atenção aos atos poderosos de Deus; a ‘profecia’ conclama ao arrependimento e à fé como forma de corresponder aos atos poderosos de Deus”.

As curas têm valor como sinal para os que observam, e valor de conteúdo para os que são curados. As palavras de sabedoria e conhecimento destacam muito mais o valor do conteúdo, embora às vezes tenham grande valor como sinal.
E uma questão pragmática — o que Deus está fazendo e o que
é necessário à situação.
Embora nada possa substituir a Palavra de Deus nem valer mais que ela,38 Deus continua falando às igrejas e às necessidades individuais. Reunimo-nos para ouvir a mensagem de Deus. Ele fala à nossa situação presente através da sua Palavra e do corpo de Cristo. Se todos comparecermos com a disposição de ministrar dons e surgir a oportunidade, o ministério poderá fluir livremente. O ambiente ideal para esse ministério é o pequeno, tal como um grupo familiar. Horários apertados, grandes multidões e membros acanhados são obstáculos (14.26).

Paulo guiava a igreja em Corinto com mão firme. Muitos estavam unidos contra ele. Alguns coríntios julgavam-se ultra-espirituais, pensando que o Reino já havia chegado e que não haveria necessidade de ressurreição para quem realmente tivesse fé. Somente eles tinham a manifestação mais plena dos dons. Mas Paulo não reage fortemente contra eles. Oferece diretrizes positivas. A primeira é que a profecia precisa ser comunicada com clareza, a fim de fortalecer, encorajar e consolar (14.3).

A segunda diretriz a ser considerada consiste nas necessidades dos crentes, dos incrédulos e dos interessados. Os crentes precisam ser instruídos e edificados (14.1-12), render graças juntamente com os outros crentes (14.17), tornar-se maduros no pensamento (14.20), ministrar vários dons (14.26-33), avaliar os dons (14.29) e ser discipulados (14.31). Os incrédulos precisam compreender o que está acontecendo num culto (14.16),tomar conhecimento do fato de que Deus está falando (14.22) e ter os segredos do coração desvendados diante de Deus (14.25), a fim de serem levados à fé. Os interessados, que buscam a Deus, precisam compreender o que está acontecendo no culto (14.16), sem
ficar confusos (14.23), e saber que Deus está verdadeira- mente entre nós (14.25).

A terceira diretriz é a importância de não reagir. Paulo aconselha aos coríntios: “Procurai com zelo os dons espirituais” (14.1), canalizando esse zelo para a edificação da Igreja (14.12), e não proibindo o falar em outras línguas (14.39). O medo de cair em extremos freqüentemente leva as igrejas a recuar diante da aceitação de um ministério completo de dons. Nesse caso, o nenê é jogado fora junto com a água suja do banho, o fogo é evitado por causa da possibilidade de fogo-fátuo ou, conforme diz o provérbio chinês, podamos os dedos dos pés a fim de fazer o sapato servir. Por outro lado, seguir zelosamente uma posição teológica sem fundamento bíblico é prejudicar o próprio reavivamento, que todos estamos buscando.

As vezes condenamos sem misericórdia, de modo farisaico, os que cometem enganos. E assim, desanimamos outras pessoas que querem ministrar com os dons. O medo exagerado de erros pode nos deixar sem a bênção de Deus. Precisamos de teologia sólida como base.
Mas também devemos ensinar com amor, testar as revelações à luz da consciência espiritual que outros membros maduros do corpo de Cristo possuem e aprimorar (ao invés de repudiar) os dons genuínos do Espírito (14.39,40).
A quarta diretriz é a prestação de contas. Na totalidade do capítulo, Paulo revela que os modos de corrigir os exageros são: o exercício saudável dos dons, a avaliação e a prestação de contas. Somos responsáveis uns diante dos outros.

No culto de adoração, a prioridade suprema é edificar os outros. Nossa vida, nossa metodologia e nossas expressões vocais devem ser levadas adiante, no contexto do que Deus está fazendo na Igreja, e sujeitas espontaneamente à avaliação do corpo dos fiéis. Exageros surgem quando as pessoas exercem dons ou fazem declarações sem ter de prestar contas a ninguém.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Teologia Sistemática – Stanley M. Horton

O RELACIONAMENTO ENTRE OS DONS E O FRUTO

O RELACIONAMENTO ENTRE OS DONS E O FRUTO

Qual o relacionamento entre os dons e o fruto do Espírito? O fruto tem a ver com o crescimento e o caráter; o modo da vida é o teste fundamental da autenticidade. O fruto, em Gálatas 5.22,23, consiste nas “nove graças que perfazem o fruto do Espírito — o modo de vida dos que são revestidos pelo poder do Espírito que neles habita”. Jesus disse: “Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16-20; ver também Lc 6.43-45). Os aspectos do fruto estão entrelaçados de modo delicado nas três passagens que falam dos dons. Tanto em Gálatas quanto nos textos que definem os dons, as qualidades do fruto fluem horizontalmente entre sino ministério (1 Co 13; Rm 12.9,10; Ef 4.2). O tema principal de Gálatas não é a justificação pela fé, embora pareça predominar. O fato é que o propósito da justificação pela fé é o andar no Espírito.

A mesma ênfase no andar (ou vida) no Espírito prevalece nas lições às igrejas na Asia Menor (Efeso), na Acaia (Corinto) e na Itália (Roma).

Examinemos agora as qualidades do fruto citadas em Gálatas 5.22,23 e como estão entrelaçadas com o exercício dos dons, segundo Paulo.

AMOR

A palavra grega agapê é mais freqüentemente usada no tocante ao amor (“caridade”) com grande lealdade, visto no seu grau mais elevado como uma revelação da própria natureza de Deus. E o amor inabalável, concedido livre e gratuitamente. O amor é o âmago em cada um desses textos bíblicos (Rm 12.9-21; 1 Co 13; Ef 4.25 —5.2). Realmente, o amor é o princípio ético, a força motivadora e a metodologia correta para todos os ministérios. Sem o amor, há pouco benefício ao próximo e nenhum para quem exerce o dom. Os desentendimentos surgem, e a Igreja fica dividida; as pessoas saem magoadas. O amor forma o alicerce para o ministério com os dons e o contexto em que estes devem ser recebidos e entendidos.

Gozo

A palavra grega chara, que traduzimos por “gozo” ou “alegria”, inclui a idéia de um deleite ativo. Paulo fala em regozijar-se na verdade (1 Co 13.6). O termo também está estreitamente ligado à esperança. Paulo fala em regozijar-se
na esperança (Rm 12.12). E a expectativa positiva de que Deus está operando na vida dos nossos irmãos na fé, uma celebração da nossa futura vitória total em Cristo. A alegria é o âmago da adoração. Os deveres pesados são transformados em deleite, o ministério é elevado a um plano mais alto e a operação dos dons torna-se cintilante com essa alegria.



PAZ

A palavra grega eirênê inclui a idéia de harmonia, saúde, integridade e bem-estar. Em nossos relacionamentos, devemos viver em paz com todos (Rm 12.18); no exercício dos dons, Deus não é um Deus de desordem, mas de paz (1 Co 14.33); e, na assembléia, devemos esforçar-nos por manter a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3). A paz é condição fundamental para progredirmos na união, para acolhermos os ministérios de outras pessoas e para aprendermos, ainda que através dos fracassos. O exercício dos dons deve levar à maior união e paz. Reconhecemos a necessidade que temos uns dos outros, sabemos que as bênçãos divinas fluem através das outras pessoas, pois nenhum dom é exercido numa manifestação perfeita, e todos cometemos enganos. Por isso, é fundamental aprendermos a tratar com ternura uns aos outros e a buscar o sumo bem de todos.

LONGANIMIDADE

A palavra grega makrothumia refere-se à paciência que temos com nosso próximo. Ser longânime é tolerar a má conduta dos outros contra nós, sem nunca buscar vingança. Dentro em breve, os cristãos em Roma passariam por perseguições. Sob tensão e sofrimento, os cristãos podem vir a ter menos paciência uns com os outros, de modo que Paulo conclama: “Sede pacientes na tribulação” (Rm 12.12). Ao ensinar sobre os dons, Paulo inicia tratando da paciência com as pessoas e termina com a paciência nas circunstâncias (1 Co 13.4, 7). Para nós, que formamos a Igreja, leva tempo amadurecermos através de todas as diferenças que provêm das nossas culturas, educacionais e personalidades. Por isso, Paulo nos conclama a ser completamente humildes e mansos, “com longanimidade” (Ef4.2).

Para um ministério pleno no Espírito, precisamos aprender juntos e juntamente cometer enganos, crescer, perdoar e confrontar-nos com amor, sem qualquer atitude de crítica. Tudo isso, só com paciência! Sempre que o poder de Deus é manifesto é importante olharmos para Ele, e não para nossas próprias insuficiências. Assim, não agiremos precipitadamente nem iremos a extremos prejudiciais à Igreja.

BENIGNIDADE

A palavra grega chréstotês nos faz lembrar Cristo, exemplo supremo da benignidade. Paciência e benignidade estão juntas na primeira linha da descrição do amor de Deus (1 Co 13.4). Paulo nos conclama a seguir o exemplo de Cristo, a sermos benignos e compassivos, perdoando uns aos outros (Ef4.32). A severidade não é o modo de agir do corpo de Cristo. A mútua estima e respeito, sim. A benignidade é o bálsamo que nos une, à medida que aprendemos a dar valor uns aos outros. Até mesmo os dons são resultado da benignidade de Deus para conosco.
Não merecemos os dons nem fazemos por merecer a benignidade dos outros. Recebemos ambos com o coração agradecido, e passamos então a compartilhar ambos incondicionalmente.

BONDADE

O significado essencial de agathõsunê, traduzido por “bondade”, é a generosidade que flui de uma santa retidão dada por Deus.44 Paulo recomenda: “Comunicai [reparti] com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade” (Rm 12.13), para “repartir com o que tiver necessidade” (Ef 4.28).
A razão básica dos dons é ser uma bênção ao próximo. A bondade, ou generosidade, nos leva à preocupação com as pessoas de modo prático e dinâmico, onde quer que estas se encontrem. A Igreja Primitiva sabia praticar a mútua generosidade, sem medo de exagerar nos cuidados.


Embora a generosidade descu dada não seja mordomia eficiente, nosso motivo é sermos sempre generosos. O único perigo é demonstrarmos generosidade com o fim de nos gabarmos. Em tudo que fizermos ao próximo, devemos ter amor; de outra forma, não haverá benefl’cios (1 Co 13.3).

FÉ (ou FIDELIDADE)

A palavra grega pistis freqüentemente significa a confiança expressa numa vida de fé. Nesse contexto, significa “fidelidade”. A fidelidade reflete a natureza do nosso Pai celeste. Ele é fidedigno. Sua paciência para conosco nunca se esgota, por mais vezes que o tenhamos decepcionado. Ele tem um compromisso conosco, à altura do seu grande plano de redenção! Devemos refletir diante dos outros as características divinas. E ser fidedignos. Se tivermos fiel compromisso uns com os outros, Deus poderá derramar toda a abundância das bênçãos do Espírito. A fé, a esperança e o amor (1 Co 13.13) são qualidades que usamos para edificar relacionamentos. Mediante a unidade da fé, podemos alcançar a medida total da plenitude de Cristo (Ef 4.13). A medida que esse fruto amadurece em nós, nossa confiança em Deus é fortalecida. Pode ser um degrau para alcançar o dom da fé. O dom da fé é o primeiro na categoria dos cinco dons de poder, em 1 Coríntios 12.8-10, relacionados ao mútuo ministério entre os membros do corpo de Cristo.

MANSIDÃO

A palavra grega prautês transmite o conceito de ternura humilde que tem mais solicitude pelo próximo que consigo mesmo. Jesus disse: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mt 5.5). A palavra cognata praus significa “meigo”, “humilde”, “manso”, “suave”. Aristóteles a descreve como o meio-termo entre a disposição excessiva à ira e a incapacidade de irar-se. A pessoa meiga tem o espírito disciplinado.
Potencialmente, todas as bênçãos espirituais estão à disposição de tal pessoa. Esse espírito meigo, apesar de a própria palavra “mansidão” não ser empregada em Romanos, é descrita em 12.12-14 — a capacidade de perseverar na aflição e na perseguição, servindo fielmente na oração e nos cuidados práticos com o próximo. A mansidão sabe que Deus está cuidando de tudo, e por isso não toma a vingança nas próprias mãos (Rm 12.17-21; Ef 4.26). Ao invés de sermos grosseiros, egoístas e facilmente provocados à ira, demonstremos mansidão, protejamos o próximo e perseveremos (1 Co 13.5,7). Nossa atitude uns para com os outros deve ser completamente humilde, suave, sem arrogância (2 Co 10.1; Ef 4.2).

Com demasiada freqüência, as manifestações espirituais têm sido expressas de modo rigoroso e absolutista, manipulação das pessoas. Esse método, ao invés de encorajar o próximo no ministério dos dons, chega mesmo a sufocá-lo, mormente o ministério que provém do Corpo inteiro. Quão importante é aprendermos a resguardar a dignidade e os brios morais uns dos outros! Seja meigo!

TEMPERANÇA

A palavra grega egkra teia significa “temperança” ou “domínio próprio” até sobre as paixões sensuais. Inclui, portanto, a castidade.46 Essa ênfase não aparece nos textos de Romanos 12 e 1 Coríntios 12—14. Por outro lado, o contexto anterior oferece um tratamento completo do assunto. Em Efésios 4.17-22, a vida nova é contrastada nitidamente com a antiga. A imoralidade não tem lugar na vida de uma pessoa que procura ser vaso de bênçãos nas mãos de Deus. Se o viver santo não acompanhar os dons, o nome de Cristo é envergonhado, O ministério verdadeiramente eficaz perde seu impacto. Os milagres talvez continuem durante algum tempo, mas Deus não recebe nenhuma glória. Os milagres não garantem a santidade, porém a santidade é vital para o verdadeiro ministério espiritual.

Os dons e os frutos estão cuidadosamente intercalados entre si. Quando os dons são enfatizados ao custo do abandono do fruto, a perda é grande demais! O caráter cristão, viver santo e os relacionamentos com os irmãos na fé são deixados de lado com a fraca desculpa de que Deus nos abençoa com poder. Assim, dilui-se a obra do Espírito Santo. Não devemos nos desvencilhar do poder da santidade. Deus nos purifica para nos transformar em vasos de bênçãos. Os cristãos cuja vida é consistente e livre dos grilhões da carnalidade ficarão livres da condenação. Terão uma boa reputação. Serão poderosos.

Embora nem a idade nem a experiência sirvam de garantia de maturidade espiritual, o fruto do Espírito a produz. A maturidade espiritual envolve melhor entendimento do Espírito de Deus e das necessidades das pessoas. Nessas condições, poderemos melhor exercer os dpns. A maturidade aumenta nossa sensibilidade diante do Espírito Santo, a fim de compreendermos como operam os dons e quando são necessários.
Perceberemos o equilíbrio, sem irmos a extremos. Procuraremos resultados a longo prazo, e não apenas bênçãos para o momento, Buscaremos um reavivamento que perdurará até à vinda de Jesus.

A maturidade espiritual ajuda-nos a ter bons relacionamentos com as pessoas. Passamos a compreendê-las melhor e a reconhecer a melhor maneira de ministrar a elas. Devemos esforçar-nos para alcançar a união. As pessoas, ao observarem o nosso caráter e conduta, passarão a ter confiança em nós. A Igreja Primitiva escolheu seus sete primeiros diáconos com base na sua “boa reputação” (At 6.3). Uma boa reputação confirmada pelo próximo é crucial à plena liberação do Espírito no ministério aos outros e ao crescimento da Igreja.

O fruto é a maneira de se exercer os dons. Cada fruto vem acondicionado no amor, e qualquer dom, mesmo na sua mais plena manifestação, nada é sem o amor. “Por outro lado, a plenitude genuína do Espírito Santo forçosamente produzirá também frutos, por causa da vida renovada e enriquecida da comunhão com Cristo”.47 Conhecer o amor, poder e graça de Deus, inspiradores de reverente temor, deve fazer de nós vasos de bênçãos cheios de ternura. Não merecemos os dons. Nem por isso Deus se nega a nos revestir de poder. E passamos a ser obreiros do Reino, prontos para trazer a colheita. Subimos a um novo domínio.

O EXERCÍCIO DOS DONS

A liderança desempenha o papel vital de conduzir congregação até o ponto de exercer os dons. As sugestões abaixo podem revelar-ser úteis:

1. Ofereça oportunidades. Nas reuniões de conselho e de dirigentes, bem como nos retiros de obreiros, reserve tempo suficiente para que todos ouçam o Espírito e compartilhem as impressões de Deus sobre os seus corações. Verifique se
Deus está dizendo coisas semelhantes a várias pessoas e se o que está sendo dito encaixa-se à situação da assembléia naquele momento. Ore pelos enfermos, continue exercendo solicitude e, se não houver cura imediata, ore de novo.

2. Produza consciência espiritual. Dê testemunho dos milagres que ocorrem entre os membros da sua congregação. Permita que os dons se manifestem espontaneamente; os force nem os exija. Não estamos visando o curto, nt o longo prazo. O Espírito pode ministrar num culto, reunião de grupo familiar ou na conversa pessoal.

3. Cultive a disposição de compartilhar com os outros. Os dons são manifestos quando as pessoas têm a expectativa de ouvir um recado de Deus, quer através das Escrituras, dos cânticos ou de um sussurro suave. Ensine-as a ouvir a voz de Deus. Ofereça aplicações práticas com exemplos pessoais e da vida de outras pessoas. Quando os dirigentes determinam um horário para compartilhar os dons, eles mesmos devem ter uma bênção para contar.
Não deixe que ninguém diga, depois de longo período de silêncio: “Ninguém ouviu um recado de Deus”. Pelo contrário, devemos dizer: “Permaneçamos na presença do Deus que nos inspira reverência, e, se alguém tiver uma bênção para contar, fale”. Chegue, então, a um término positivo, contando aos demais as impressões de Deus sobre você. Como líder, esteja disposto a compartilhar, Seja um exemplo de semelhante expectativa.

4. Crie um espírito de receptividade. Os membros da congregação não devem se sentir acanhados, nem achar que estão sendo criticados por outras pessoas. Comece com grupos pequenos. Use um tom natural de voz. Não se preocupe com a possibilidade de cometer enganos, mas ensine com mansidão e amor. A igreja é uma escola, e nós, os alunos.

5. Avalie. Faça um comentário depois de três ou quatro pessoas terem compartilhado um corinho, textos bíblicos, exortações ou até mesmo testemunhos. Tudo isso aplica-se à sua assembléia local? Ensine os membros a acolher com sensibilidade o que Deus estiver dizendo durante o culto inteiro e realizando na comunidade. Aplique as Escrituras ao que é dito. E crucial o reforço positivo oferecido por você. Se você nada disser, as pessoas ficarão confusas ou desanimadas no exercício contínuo dos dons. Afirme o que pode ser afirmado, e deixe de lado como provisório tudo que exige avaliação. Procure evitar as críticas e avaliar com amor. A avaliação dá às pessoas um senso de segurança, um arcabouço dentro do qual possam ministrar os dons.
6. Dedique tempo à oração. Edifique a igreja na oração. Nada substitui o tempo gasto na presença de Deus. Pratique a presença de Deus durante o dia inteiro. Deus falará com você e através de você. Os membros só orarão se nós, líderes, orarmos também.

Compreenda as diferenças culturais, A igreja que pastoreio é multicultural. A maneira de eu pregar às pessoas de cultura chinesa e às de cultura inglesa é diferente, embora o conteúdo básico seja o mesmo. Em anos recentes, visto muitas diferenças no modo de adoração e nas expectativas das pessoas quando lhes falamos, antes de orar por elas. No culto, alguns gostam de hinos, outros preferem corinhos e outros querem músicas que reflitam a sua cultura e tradição. Alguns promovem entrevistas complexas com cada pessoa antes de orar por ela, outros fazem uma só oração generalizada, abrangendo um grupo grande de pessoas. Seja singelo. Os dons compartilhados num tom de voz natural encorajam outras pessoas a compartilhar. Além disso, encorajamos maior participação dinâmica. Não precisamos forçar cada assembléia a seguir o mesmo estilo de adoração ou a mesma forma de manifestar os dons.

A adoração robusta libera os dons. A adoração leva à expectativa de um encontro com Deus, que é digno de reverente temor. E nesse ambiente que milagres podem facilmente ocorrer. Leve a congregação a atingir um ou dois pináculos de adoração. Se os membros souberem que há uma ocasião melhor para compartilhar os dons, assim farão.
Mas a pausa depois de cada corinho é menos eficaz, pois deixa a incerteza quanto a compartilhar ou não. A adoração deve seguir padrões semelhantes, dar às pessoas um senso de segurança e plena liberdade para adorar naquele contexto. Mudar o padrão todas as semanas não é tão eficaz. Inclua salmos, hinos e cânticos espirituais. Deixe a congregação inteira sentir-se à vontade para entrar em comunhão com Deus através da adoração.

9. Freqüentemente, ouço o recado de Deus em primeiro lugar; depois, dou aos outros a oportunidade de compartilhar e então afirmo o que Deus já me disse. Assim, os outros ficam encorajados. As vezes digo: “Deus tem tocado no meu
coração com três pensamentos, mas antes de compartilhá-los, quero lhes dar a oportunidade de ministrar uns aos outros”, E assim, quando as pessoas que nunca antes exerce ram dons se conscientizam de que estão em harmonia com
Deus, da mesma forma que a liderança, são encorajadas a compartilhar melhor.

10. A via de comunicação para os dons espirituais é o ministério. Marcos 16.17 indica os sinais que seguirão aos que crêem. A medida que formos ativos em alcançar o mundo, ministrando onde Deus nos coloca, tornamo-nos vasos que podem ser usados. Muitos milagres, em Atos, aconteceram no decurso do cotidiano. Os cristãos estavam a caminho do Templo, para testemunhar e sofrer por amor a Cristo. Se tivermos a disposição de estender as mãos
necessitados, passaremos a levar-lhes os dons de Deus, mo em ocasiões e situações incomuns, Os dons surgem enquanto os cristãos estão “a caminho” do serviço do Senhor.

11. Evidencie o processo global. Os dons fluem através das pessoas. O que Deus está fazendo na vida delas? Além disso, as palavras são importantes. O que realmente está sendo dito? O contexto é vital. As mensagens compartilha das têm relação com a vida da igreja ou com o andamento do culto? O modo de corresponder é importante. Como devemos receber o que foi compartilhado? Lembre-se sempre: o alvo é edificar a Igreja e ganhar os perdidos para Cristo. A missão da Igreja é a suprema prioridade. Os dons devem ser considerados à luz da obra global que Deus está realizando entre o seu povo. Quando não compreendemos a natureza e o propósito dos dons, centralizamos a atenção nos problemas errados.

Não é o principal saber quais são os meus dons, mas como exercê-los para a edificação da Igreja. Ao invés de considerarmos que a manifestação dos dons indica o nosso nível de espiritualidade, apreciemos e procuremos a contribuição de todos, fortes ou fracos. Ao invés de pressupormos os dons cem por cento sobrenaturais e, portanto, infalíveis, reconheçamos que os dons são ministrados através de seres humanos falíveis e precisam ser testados. Crescemos à medida que aprendemos a exercê-los. Ao invés de perguntar se as mulheres têm um lugar no ministério público, perguntemos quais as metodologias corretas para o ministério.

Ao invés de debatermos qual o maior ou o menor entre os dons, precisamos compartilhar com amor os dons que Deus nos dá. A igreja que desconsidera a dinâmica do ministério dirigido pelo Espírito está alheia à obra de Deus neste mundo. Permitir o fluxo saudável dos dons, pio nisso, é a alternativa bíblica ao temor dos extremos.

Se os dons são exercidos somente no culto de domingo, decerto não são considerados essenciais ao crescimento da igreja. Se focalizarmos somente os dons mais espetaculares, serão meras opções espirituais. Por outro lado, se considerarmos os dons um elemento essencial à vida diária e crucial para o ministério eficaz, poderemos nos tornar tão sensíveis ao Espírito que ficaremos liberados para ministrarmos todos os dons. Nenhum deles é opção adicional para nos tornar superiores ao nosso próximo.

Os evangelhos não chegam a um fim formal. Mateus registra a grande comissão que a Igreja ainda terá de cumprir, com a autoridade que Jesus lhe outorgou. Marcos termina abruptamente, deixando o leitor em reverente e silencioso temor, na expectativa da atuação do Senhor onipotente e todo-suficiente, que pode irromper no meio de qualquer situação, por mais desesperadora que seja. Lucas e Atos são realmente “uma só obra integrada”.48 Lucas 24 não é término do relato. A Igreja Primitiva levou adiante a missão e a obra realizada por Crista na Terra.

E nem Atos dos Apóstolos encerra a história. João, ao registrar no seu evangelho a comissão dada pessoalmente por Jesus a Pedro, após a ressurreição Øo 21), deixa claramente entendido que a Igreja continuará a obra até a volta de Cristo.
Todas as epístolas de Paulo foram escritas para proclamar a morte do Senhor “até que Ele venha”, Os dons do Espírito foram dados como penhor, “uma primeira prestação, entrada”, um antegozo da herança integral que a Igreja receberá. A Epístola aos Hebreus encoraja-nos a “correr com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hb 12.1). O Apocalipse termina com as palavras: “Amém! Ora, vem Senhor Jesus!” (Ap 22.20). Conforme já observado, jamais uma nova revelação ultrapassará ou deixará de lado a Bíblia. Ao mesmo tempo, Deus continua falando aos seus fiéis revestidos pelo poder do Espírito e proclamando sua mensagem através deles.

Todo pastor precisa escutar o que o Espírito quer lhe dizer a respeito do ministério dos dons na assembléia, Cada assembléia deve avançar agressivamente para dentro da área dos dons espirituais. Tudo que os cristãos fazem nessa área é parte da sua adoração a Deus. Ele é o auditório, e a nossa vida é o palco da redenção onde, em adoração, nos expressamos. O pregador não labuta na Palavra a fim de impressionar a sua congregação, mas com o fim de apresentá-la como oferenda ao Senhor. Não agimos de modo cristão com o nosso próximo se trabalhamos na assembléia para impressionar os outros com nossa espiritualidade e dinamismo eclesiástico. Faça-se tudo para adorar a Deus.

Agindo assim, teremos um ministério livre. Já não estaremos amarrados pelo medo das opiniões humanas, mas procuraremos apenas ser fiéis à nossa vocação em Cristo. No transbordar da adoração, receberemos a capacitação sobrenatural proveniente de Deus. Seremos protegidos do esgotamento mental, graças ao repouso dado pelo Senhor e encorajamento dos outros crentes. Os santos serão vivificados e se animarão. Os dons fluirão como parte da vida normal da assembléia que edifica e evangeliza.

Cada membro de semelhante ekldêsia poderá ser uma testemunha poderosa (At 1.8), tendo profunda afeição filial ao Senhor e temendo entristecê-lo ou magoá-lo. A demonstração do poder de Deus será a função normal da sua comunidade (At 4.33), que gozará do favor e respeito de todos, e ao seu número haverá um incremento diário, à medida que as almas forem sendo salvas (At 2.47),
Amém! Assim seja. Que a Igreja realize o seu potencial e alcance o mundo!

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Teologia Sistemática – Stanley M. Horton