A Disciplina na Igreja
TEXTO ÁUREO
E já vos esquecestes da
exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a
correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido. (Hb
12.5)
Aqui o escritor lembra e expõe Pv 3.11-12. As
provações e os sofrimentos na vida cristã vêm de Deus, que os usa para instruir
e disciplinar os cristãos com essas experiências. Esse procedimento é evidência
do amor de Deus por seus filhos (cf. 2Co 12.7-10).
VERDADE PRÁTICA
A disciplina cristã é uma
doutrina bíblica necessária, pois permite ao crente refletir o caráter de
Cristo.
Entenda a
Verdade Prática
Por sermos ainda pecadores e imperfeitos, entendemos
que a disciplina é uma necessidade também para nossos dias. Cristo nos ensinou
e ordenou a sua prática (Mt 18.15-20).
LEITURA BÍBLICA = Hebreus 12.5-13
5. E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos:
Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele,
fores repreendido;
Esta
exortação é encontrada em Provérbios 3: 11-12. O objetivo do apóstolo em
introduzi-lo aqui é mostrar que as aflições foram designadas por Deus para
produzir alguns efeitos felizes na vida de seu povo, e que eles devem,
portanto, suportá-los pacientemente. Nos versículos anteriores, ele os
direciona para o exemplo do Salvador. Neste versículo e no seguinte, para o
mesmo objeto, ele direciona sua atenção para o projeto de provações, mostrando
que elas são necessárias para o nosso bem-estar e que são, de fato, uma prova
do cuidado paterno de Deus.
6. porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por
filho.
Açoita.
Refere-se a fustigar com um açoite, que era um modo cruel c doloroso de
flagelação comum entre os judeus (cf. Mt 10.17; 23.34). Esta também é
uma citação de Provérbios 3. Significa que é uma regra universal que Deus envie
provações àqueles a quem ele realmente ama. Evidentemente, isso não significa
que ele envie um castigo que não é merecido; ou que ele a envia “para o mero
propósito” de infligir dor. Mas isso significa que, com seus castigos, ele
mostra que tem um cuidado paterno por nós. Ele não nos trata com negligência e
desinteresse, como um pai costuma fazer com seu filho ilegítimo.
O
próprio fato de ele nos corrigir mostra que ele tem em relação a nós os
sentimentos de um pai e exerce em relação a nós um cuidado paterno. Se ele não
o fizesse, ele nos deixaria continuar sem atenção e nos deixaria seguir um
curso de pecado que nos envolveria em ruínas. Restringir e governar uma
criança; corrigi-lo quando ele erra, mostra que há uma solicitude dos pais para
ele e que ele não é um pária. E como existe na vida de todo filho de Deus algo
que merece correção, acontece que é universalmente verdade que “a quem o Senhor
ama, ele castiga”.
E açoita todo filho a quem recebe – a quem
recebe ou reconhece como seu filho. Isso não é citado literalmente do hebraico,
mas da Septuaginta. O hebraico é: “como pai, filho em quem se deleita”. O
sentido geral da passagem é mantido, como é frequentemente o caso nas citações
do Antigo Testamento. O significado é o mesmo que na parte anterior do
versículo, de que todo aquele que se torna filho de Deus é tratado por ele com
aquele cuidado vigilante que mostra que ele sustenta em relação a ele a relação
paterna.
7. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há
a quem opai não corrija?
Filhos. Uma
vez que todos são imperfeitos e precisam dc disciplina e instrução, todos os
verdadeiros filhos de Deus são castigados num momento ou noutro, de uma maneira
ou de outra.
8. Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes,
sois, então, bastardos e não filhos.
Bastardos. A
palavra é encontrada somente aqui no NT, mas é usada em outra passagem na
literatura grega cm referência àqueles que nasciam de escravas ou concubinas.
Poderia incluir uma referência implícita a Agar e Ismael (Cn 16), a concubina
de Abraão e seu filho ilegítimo.
9. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e
nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos,
para vivermos?
Submissão.
Respeitara Deus equivale a submeter-se à sua vontade e lei, e aqueles que
prontamente recebem o castigo do Senhor terão uma vida mais rica e mais
abundante (cf. Sl 119.165).
Pai espiritual.
Provavelmente a melhor tradução seja "Pai de nosso espírito", em
contraste com "pais segundo a carne" (literalmente "pais de
nossa carne").
10. Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como
bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da
sua santidade.
- para
aproveitamento. Os pais humanos imperfeitos aplicam uma disciplina
imperfeita, mas Deus é perfeito e, consequentemente, sua disciplina é perfeita
e sempre busca o bem espiritual de seus filhos.
11. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão
de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados
por ela.
Gozo…tristeza – A
objeção de que a punição é dolorosa é aqui antecipada e respondida. Parece
apenas para aqueles que estão sendo castigados, cujos julgamentos são
confundidos pela dor presente. Seu fruto final compensa amplamente qualquer dor
temporária. O objetivo real dos pais em correção não é que eles sintam prazer
na dor das crianças. Os desejos satisfeitos, nosso Pai sabe, seriam muitas
vezes nossas reais maldições.
Fruto pacífico de justiça – a
justiça (na prática, brotando da fé) é o fruto produzido pela correção (Filipenses
1.11). “Pacífico” (compare com Isaías 32.17): em contraste com a provação
do conflito pela qual ele foi vencido. “Fruto de justiça para ser desfrutado em
paz após o conflito” (Tholuck). Como a coroa de oliveira, o emblema da paz,
assim como a vitória, era colocada na cabeça do vencedor nos jogos.
Exercitados por ela – como
atletas exercitados em treinamento para a competição. Castigo é o exercício
para dar experiência e tornar o combatente espiritual irresistivelmente
vitorioso (Romanos 5.3). [Jamieson; Fausset; Brown]
12. Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos
desconjuntados,
Exercitados. A
mesma palavra usada em 5.14 é traduzida por "exercitadas" (cf. 1Tm
4.7).
Fruto de justiça. Essa é
a mesma expressão que aparece em Tg 3.18.
13. e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se
não desvie inteiramente; antes, seja sarado.
O autor
retoma a metáfora da corrida que começou nos vs. 1-3 (cf. Pv 4.25-27) e
incorpora uma linguagem extraída de Is 35.3 para descrever a condição do
indivíduo disciplinado como um corredor cansado cujos braços caem e os joelhos
vacilam. Quando estiver passando por provações na vida, o cristão não deve
permitir que as circunstâncias levem vantagem sobre ele. Pelo contrário, ele
deve suportar e recuperar as forças para continuar a corrida.
INTRODUÇÃO
Por sermos ainda pecadores e imperfeitos, entendemos
que a disciplina é uma necessidade também para nossos dias. Cristo nos ensinou
e ordenou a sua prática (Mt 18.15-20). Uma igreja que não exerce a
disciplina aos membros faltosos, destrói a si mesma e perverte o ensino do
Evangelho de nosso Senhor Jesus. Uma igreja que não pratica a disciplina certa,
bíblica, constante, cuidadosa, atenciosa, respeitosa, firme e afetuosa, não
deve observar a Ceia do Senhor. A disciplina deve ser feita com amor,
compaixão, sem vingança, ódio ou retaliação (Gl 6.1).
Vale lembrar que disciplina é um ato de compaixão,
purificação e amor de nosso Pai (Pv 13.24; Hb 12.4-8). “A disciplina
eclesiástica, em grande parte, ocorre de maneira informal na medida em que
cristãos falam a verdade em amor entre si e apontam uns aos outros para a graça
do evangelho. Entretanto, no mundo caído, há momentos em que a disciplina
informal não é suficiente; quando aqueles que pertencem à igreja se recusam a
se arrepender e prosseguem nas veredas do pecado. É para tais ocasiões que
Jesus proveu instruções para a disciplina eclesiástica: “Se teu irmão pecar
[contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu
irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para
que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça.
E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja,
considera-o como gentio e publicano”. (Mt 18.15-17)
PALAVRA-CHAVE: Disciplina
Depois da pregação da Palavra, a administração fiel
da disciplina é uma das características da igreja verdadeira.
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I. A NECESSIDADE DA DISCIPLINA BÍBLICA
1. Deus é santo. No episódio narrado em
Lucas 5.8, a pesca extraordinária foi claramente um milagre, surpreendendo a
todos os pescadores de Cafarnaum (v. 9). Pedro imediatamente percebeu que
estava na presença daquele que era santo e que estava exercendo o seu poder
divino, e foi tomado de vergonha pelo seu próprio pecado (Êx 20.19; 33.20;
Jz 13.22; Jó 42.5-6). Esse mesmo temor diante da santidade de Deus levou
Isaías a reconhecer que era um homem de lábios impuros (Is 6.5). Se os
lábios estão impuros, também o coração o está. A visão da santidade de Deus fez
o profeta lembrar-se de maneira muito intensa da sua própria indignidade, que é
merecedora de condenação. Jó (Jó 42.6) e Pedro (Lc 5.8) tiveram a mesma
experiência a respeito de si mesmos, quando foram confrontados com a presença
do Senhor (Ez 1.28 2.27; Ap 1.17).
2. A Igreja é santa. A
santidade, em essência, define a nova natureza e conduta do cristão em
contraste com o seu estilo de vida anterior à salvação. A razão para praticarem
um estilo santo de vida é que os cristãos estão associados com o Deus santo e
devem tratar a ele e sua Palavra com respeito e reverência. Portanto, nós o
glorificamos da melhor maneira quando somos semelhantes a ele (1Pe 1.16-17;
Mt 5.48; Ef 5.1; cf. Lv 11.44-45; 18.30; 19.2; 20.7; 21.6-8). A
complacência, a cumplicidade com o pecado pode corromper todo o corpo. Ao
disciplinar um membro, a igreja deve fundamentar seus argumentos nas Sagradas
Escrituras, não na tradição nem no sentimentalismo. E ao disciplinar deve
também cuidar, tratar e curar a pessoa ou pessoas envolvidas.
3. Quando a igreja não disciplina. Depois da pregação da
Palavra, a administração fiel da disciplina é uma das características da igreja
verdadeira; mas esta característica está desaparecendo em nossos dias. Os
sermões não atacam os pecados sociais e o materialismo. E os pecados morais
raramente são confrontados. O resultado dessa atitude é uma gradual infiltração
do mundanismo na igreja. Muitas igrejas pensam que uma estrita aceitação da
disciplina na igreja é subversiva ao seu crescimento. Para uma época que não vê
nada menos que sucesso em números, a disciplina se torna uma desvantagem.
Exceto nos casos de pecados horríveis, a disciplina na igreja tem sido
amplamente abandonada por muitos. Aquele que ordena a disciplina na igreja é o
mesmo que estabelece o padrão a ser seguido no exercício da mesma. Esse padrão
consiste primeiramente em amor paternal (Hb 12.4-13). É certo que o
mundo vê a disciplina como expressão de ira e hostilidade, mas as Escrituras
mostram que a disciplina de Deus é um exercício do seu amor por seus filhos.
Amor e disciplina possuem conexão vital (Ap 3.19). Além do mais,
disciplina envolve relacionamento familiar (Hb 12.7-9), e quando os
cristãos recebem disciplina divina, o Pai celestial está apenas tratando-os
como seus filhos. Deus não disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegítimos (v.
8). O padrão de disciplina divina revela também maravilhosos benefícios. A
disciplina que vem do Senhor "é para o nosso bem (v. 10)." Ainda que
seja inicialmente doloroso receber disciplina, a mesma produz paz e retidão (v.
11). O v. 13 ensina que o propósito de Deus em disciplinar não é o de
incapacitar permanentemente o pecador, mas antes de restaurá-lo à saúde
espiritual.
II. O
PROPÓSITO DA DISCIPLINA BÍBLICA
1- Manter a honra de Cristo. A igreja deve disciplinar procurando a glória e a
honra do nome de Cristo. Não disciplinar membros que cometem pecados
escandalosos desonra o nome do Senhor. “Desde o tempo dos reformadores, para
distinguir entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, teólogos têm
descrito três “marcas” da igreja: a pregação adequada da Palavra de Deus, a
administração apropriada dos sacramentos e a administração apropriada da
disciplina eclesiástica. Embora não seja controverso pensar que uma igreja
verdadeira ensinaria a Palavra de Deus e obedeceria o mandamento de Cristo para
observar os sacramentos, muitos cristãos duvidariam que a disciplina
eclesiástica é necessária para se ter uma verdadeira igreja. Na realidade,
contudo, a ideia da disciplina na igreja é um paralelo essencial às primeiras
duas marcas. Afinal, a Bíblia não nos diz que não é suficiente que a Palavra
seja ensinada e pregada apropriadamente, mas que ela também deve ser obedecida
e praticada (Rm 2.13; Tg 1.22)? E como a igreja pode administrar os
sacramentos apropriadamente sem determinar a quem eles se aplicam? A disciplina
eclesiástica é o mecanismo que o Senhor decretou para designar e edificar a sua
igreja, a família de Deus. A igreja não é apenas uma organização — é a personificação
do propósito e do plano de Deus para redimir pecadores e reconciliá-los consigo
mesmo. O mesmo crente em Jesus Cristo que é justificadoatravés da fé também é
adotado através da fé. Nosso grande Deus triuno não se satisfaz apenas com o
fato de seu povo ser declarado não culpado diante do seu trono de julgamento (Rm
5.1).
Ele também torna cada pecador redimido seu filho,
parte da família de Deus (João 1.12). Quando vemos a igreja como uma
família, começamos então a ver o propósito e a bênção da disciplina
eclesiástica. Assim como pais e mães que carinhosamente amam os seus filhos
devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los, pastores e presbíteros que
amam o Senhor e o povo do Senhor devem tomar tempo para corrigi-los e
encorajá-los.”
2. Frear o comportamento pecaminoso. Embora
estas coisas possam fazer parte de nossa experiência de igreja, o Novo
Testamento deixa claro que a igreja é fundamentalmente um povo, uma congregação
caracterizada por seu compromisso com Cristo e uns com os outros. Portanto,
quando a Bíblia fala de disciplina na igreja, isto envolve o cuidado espiritual
das pessoas.
É o processo pelo qual os membros de uma igreja se
protegem mutuamente do engano do pecado e reafirmam a verdade do evangelho. Sem
disciplina não há possibilidade de restauração. Mais cedo ou mais tarde os
pecados virão à luz, e quando a liderança da igreja tem conhecimento e não toma
posição, ela coloca a igreja sob a opressão do diabo. A disciplina procura
gerar quebrantamento, arrependimento e o desafio da pessoa andar com Cristo
corretamente (Hb 12.11- 13).
3. Não tolerar a prática do pecado. A igreja em Corinto não era apenas uma igreja
dividida, mas também desonrada. Havia pecado no meio de sua congregação, e,
infelizmente, todos sabiam disso. No entanto, a igreja demorou a tomar uma
atitude. Nenhuma igreja é perfeita, mas a imperfeição humana jamais deve servir
de pretexto para o pecado. Os cristãos são "chamados para ser santos"
(1Co 1.2), e isso significa uma vida de santidade para a glória de Deus.
“Mas tenho contra ti que “toleras” Jezabel, mulher que se diz profetisa,
ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos
sacrifícios da idolatria” (Ap 2.20).
Tolerar significa aceitar com indulgência, ou seja,
ser indulgente, admitir, deixar passar algo, permitir ou consentir tacitamente
ou suportar. Um dos grandes perigos para aqueles que vivem um cristianismo
autêntico e bíblico é se conformar e tolerar erros e pecados de membros e
ministros. Creio também que tolerância a
erros doutrinários e ministeriais são tão nocivos a Igreja do Senhor que
igualmente merecem repreensão e uma severa atitude por parte da liderança.
III. AS
FORMAS DE DISCIPLINA BÍBLICA
1. A disciplina como modo de correção. É
necessário dizer que não ficará impune pelo Senhor todo aquele que for
conivente e tolerante a tais práticas. E
tudo isso acaba sendo motivo de escândalo e descrédito da Igreja perante o
mundo. A palavra de Deus mesmo nos adverte como agir em casos desse tipo. Foi
Jesus mesmo que nos advertiu claramente quanto aos escândalos e atitude da
Igreja do Senhor em tais casos:
E disse aos discípulos: É impossível que não venham
escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao
pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um
destes pequenos. Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti,
repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe (Lc 17.1-3);
E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua
fornicação; e não se arrependeu. Eis que a porei numa cama, e sobre os que
adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas
obras. (Ap 2.21-22).
“Se a disciplina eclesiástica é uma marca de uma
igreja legítima, e se isso é uma extensão da disciplina amorosa de Deus para
com seus filhos, por que ela não é praticada em mais igrejas? Por que ela é tão
subestimada? A resposta para tais perguntas é frequentemente encontrada na
maneira como a disciplina eclesiástica é (mal) praticada. Assim como os pais
devem cuidar de aplicar fielmente e biblicamente disciplina a seus filhos, os líderes da
igreja devem usar a sua autoridade com coerência e amor.
O Antigo Testamento está cheio de advertências sobre
os perigos do favoritismo (como Jacó com José e seus irmãos), e a falha em
aplicar a disciplina (como Eli e seus filhos). O Senhor de fato disciplina
aqueles a quem ele ama (Hb 12.6), e a igreja também deve fazê-lo. Mas
nunca podemos nos esquecer que a disciplina eclesiástica é um exercício de
amor. Isso significa que a disciplina na igreja não é algo que deve ser buscado
apenas após uma situação não parecer mais ter jeito. Disciplina não é a “gota
d’água”, onde o julgamento é pronunciado. Disciplina eclesiástica bíblica é uma
cultura de responsabilidade, crescimento, perdão e graça que deve permear as
nossas igrejas. Cada membro de igreja tem a responsabilidade de ajudar os
outros em suas lutas contra o pecado — não através de julgamento e críticas,
mas, ao invés disso, com gentileza e visando à restauração, sabendo que ele
mesmo também está sujeito à tentação (Gl 6.1).
Mateus 18 não descreve uma espécie de litígio
alternativo; é uma cartilha sobre como abordamos amorosamente uns aos outros,
pacientemente esgotando os passos menores (por exemplo, ir até a pessoa) antes
de passar para os passos maiores (por exemplo, levar à igreja). Os líderes da
igreja devem sempre se lembrar que a autoridade que eles possuem quanto à
disciplina não vem deles mesmos, mas é a autoridade de pastoreio de Cristo.
Esta é a igreja de Cristo (Ef 1.22-23; Cl 1.18), e é ele quem a está
edificando para torná-la sem mácula (Ef 5.27).
Os líderes, portanto, devem fazer todo esforço para
evitar agir de maneira dominadora e tirânica simplesmente para resolver
rapidamente os problemas (1Pe 5.3), ou demonstrando parcialidade em
disciplinar alguns enquanto ignora outros (Tg 2.1). Os membros devem
saber que o processo de disciplina não é um método secreto de punição, mas é a
maneira de Deus restaurar pecadores, curar relacionamentos e honrar a sua
Palavra.
Os líderes não devem temer que a disciplina na
igreja seja vista à luz do dia, ao passo que, ao mesmo tempo, devem empregar
todo esforço para proteger a reputação dos membros de desnecessária notoriedade
e potenciais fofocas. O fim almejado não é simplesmente resolução, mas o
fortalecimento de crentes individuais e de todo o corpo de Cristo.”
2. A disciplina como forma de restauração. “a disciplina eclesiástica é algo que requer oração,
reflexão e coerência, porque possui propósitos importantes na vida da igreja.
Há três propósitos principais para a disciplina na igreja. Primeiro, a
disciplina na igreja existe para recuperar o pecador de volta à igreja, e em
última análise, ao Senhor. A disciplina eclesiástica que é praticada em amor é
uma poderosa maneira de confrontar um pecador com seu pecado e mostrar que a
igreja o ama, não desistirá dele e deseja vê-lo restaurado à plena comunhão. Em
um sentido muito real, a disciplina pode ser a atuação do evangelho diante dos
nossos olhos. Devemos reconhecer o nosso pecado, nos arrepender e pedir perdão,
o qual é livre e plenamente concedido.
Segundo, a disciplina é necessária para manter a
pureza da igreja e seu testemunho diante de um mundo vigilante. Isso não
significa que colocamos uma máscara hipócrita de perfeccionismo, mas admitimos
diante do mundo que a Palavra de Deus é o padrão para as nossas vidas e que
somos verdadeiros cristãos — não perfeitos, mas perdoados.
Por último e mais importante, a disciplina na igreja
é feita para a glória de Deus. Cristãos são exposições vivas da glória de Deus,
e nós mostramos muito mais a sua glória quando lutamos para refletir seu amor e
seu santo caráter (Ef 3.10). Que maneira melhor de mostrar que um Deus
santo é um Deus amoroso do que através da disciplina? Conforme buscamos a
restauração daqueles que tropeçam, em espírito de amorosa humildade, colocamos
em exposição uma honorável conduta que apontará para aquele que é a fonte de
toda a restauração no universo (1Pe 2.12).”
3. A disciplina como modo de exclusão.
O último recurso da disciplina é o da exclusão, na
qual o ofensor é privado de todos os benefícios da comunhão. Nesse caso, o
ofensor é tido como gentio (a quem não era permitido entrar nos átrios sagrados
do templo do Senhor) e publicano (que eram considerados traidores e apóstatas: Lc
19.2-10). Com estes não há mais comunhão cristã, pois deliberadamente
recusam os princípios da vida cristã (1 Co 5.11). Se o seu pecado é
heresia, ou seja, o desvio doutrinário das verdades fundamentais ensinadas nas
Escrituras, eles não devem nem mesmo ser recebidos em casa (2 Jo 10-11).
É claro que cada um desses passos envolve dor, tempo, amor e transparência.
Nenhum deles é agradável e eles só prosseguem diante de dureza de coração do
ofensor, ou seja, a recusa ao arrependimento. Há porém o conforto de saber que
a presença e o poder de Jesus são reais mesmo no contexto desse processo (Mt
18.19-20).
Assim, a disciplina eclesiástica "não é uma
atividade a ser realizada facilmente, mas algo a ser conduzido na presença do
Senhor..
CONCLUSÃO
Laney adverte para o fato de que "a disciplina
é como um medicamento muito forte: pode trazer a cura ou causar maior
dano."
Nenhum profissional médico, porém, se recusa a
aplicar um medicamento que pode curar o seu paciente apenas porque o mesmo é
forte. Também, nenhum doente faz opção pela morte ou pela continuidade da
doença se a vida e a cura podem estar tão próximas. Uma séria reflexão bíblica
sobre a disciplina eclesiástica evidencia dois princípios básicos. Primeiro,
que a disciplina na igreja não é uma opção, mas sim uma ordenança e,
consequentemente, uma bênção divina (Hb 12.5-7). Segundo, que a
disciplina requer profundo amor por parte da igreja que a aplica e semelhante
humildade e quebrantamento por parte daquele que é disciplinado (2 Co
2.5-11).
Amem