A Natureza Imaterial do ser Humano
TEXTO ÁUREO
“E não temais os que matam o corpo e
não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno
a alma e o corpo.” (Mt 10.28).
ENTENDA O TEXTO ÁUREO
O versículo
28 está inserido no Discurso de Missão (Mateus
10), no qual Jesus instrui e comissiona os Doze Apóstolos para a sua
primeira missão. O capítulo trata da autoridade, das instruções, mas também das
perseguições e dos custos do discipulado.
Nos versículos anteriores (Mt 10.16-27): Jesus alerta severamente
sobre a hostilidade que enfrentarão: serão enviados como ovelhas entre lobos,
serão levados a tribunais, a família se voltará contra eles, e serão odiados
por todos por causa do nome de Jesus.
Ele os encoraja a não se calarem e a
proclamarem publicamente a mensagem que lhes foi dada em particular. Diante de
tais ameaças, o tema dominante é a coragem e o temor correto (Mt 10.26, 28, 31).
O temor dos discípulos deve ser
redirecionado: do medo dos perseguidores para o temor de Deus. O versículo
serve como um poderoso encorajamento para que os discípulos priorizem a
fidelidade a Cristo acima da preservação da vida física, assegurando-lhes que a
pior coisa que um inimigo pode fazer é de importância limitada em comparação
com o poder de Deus sobre o destino eterno. Corpo: Refere-se à parte física do
ser humano, a vida terrena e mortal.
O poder dos perseguidores se limita a
esta dimensão. "Matar o corpo" significa a morte física. Alma (ψυχή -
psychē): O termo grego psychē é complexo. Neste contexto, e frequentemente nas
Escrituras, pode significar: A vida terrena/biológica (como em "perder a
sua vida" Mt 16.25).
O crente é chamado a arriscar o corpo
físico em obediência, pois sua vida verdadeira e eterna está segura nas mãos de
Deus, que é o único Juiz final.
VERDADE PRÁTICA
Cuidar da alma é uma atitude
fundamental para uma vida cristã estável e uma eternidade de alegria e paz.
ENTENDA A VERDADE PRÁTICA
O que é, de fato, a prioridade máxima
em nossa jornada de fé? Não se engane, a estabilidade de toda a sua vida cristã
e a promessa de uma eternidade plena dependem de uma única atitude: o cuidado
intencional com a sua alma. Estamos falando da sua essência mais profunda, o
seu “eu” inegociável, que engloba a mente, a vontade e as emoções.
A negligência desta porção interior
transforma qualquer vida de fé em uma casa construída sobre a areia. O apóstolo
Paulo, em sua admoestação em Filipenses
2.12, nos convida a "desenvolver a vossa salvação com temor e
tremor". Essa obra de "desenvolvimento" é o manejo diário e
atento da psychē. Como exegetas, reconhecemos que a salvação é instantânea no
espírito, mas o processo de santificação ocorre na alma, a arena onde a Palavra
de Deus deve forjar uma nova mentalidade. É na alma que resistimos às
inclinações da carne e nos alinhamos à mente de Cristo.
Negligenciar a alma é paralisar o
processo santificador de Deus em você. Jesus nos alertou: "Pois que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mateus 16.26). A palavra traduzida
como "perder" é zēmioō, que significa "sofrer perda",
"danificar" ou "ser penalizado". Jesus não estava apenas
falando sobre o juízo final, mas sobre a perda de valor e significado que
ocorre aqui e agora. Por isso, revigore-se na Palavra, purifique a sua mente e
não negligencie o tesouro que é a sua alma. É um ato de amor e de sabedoria
teológica que reverte em uma vida abundante aqui e uma eternidade de paz com
Cristo.
LEITURA BÍBLICA = Gênesis 1.27,28;
2.15-17; Mateus 10.28.
Gênesis 1.27,28
27. E criou Deus o homem à sua imagem;
à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
Bíblia de Estudo MacArthur: Enfatiza a
unicidade do homem como portador da imagem de Deus. Essa imagem não é física,
mas sim intelectual, moral e espiritual, distinguindo-o de toda a criação. A
criação do homem e da mulher é uma demonstração da pluralidade de Deus
(implícita no "façamos" do v. 26). O homem (no sentido de humanidade)
é o coroamento da criação.
Bíblia de Estudo Pentecostal: Destaca
que a criação do ser humano é um ato singular de Deus.
A "imagem de Deus" (tselem)
e a "semelhança" (demuth) conferem ao homem a capacidade de ter
comunhão com o Criador e de exercer domínio. A diferença de sexo (macho e
fêmea) é essencial, pois ambos são necessários para a plena manifestação da
imagem de Deus e para o cumprimento da ordem de procriação.
Bíblia de Estudo Plenitude: Ressalta
que o homem é um agente moral, feito para refletir a glória do Criador. A imago
Dei (imagem de Deus) é a razão pela qual o homem tem valor intrínseco. Frisa a
igualdade fundamental entre homem e mulher perante Deus, pois ambos,
igualmente, foram criados à sua imagem.
28. E Deus os abençoou e Deus lhes
disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai
sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se
move sobre a terra.
Bíblia de Estudo MacArthur: Define
este versículo como o "Mandato Cultural" ou a "Grande Comissão
da Criação". O homem recebeu um propósito duplo: procriação (frutificar,
multiplicar, encher a terra) e domínio (sujeitar e dominar). O domínio (radah e
kabash no hebraico) significa realeza e responsabilidade, o homem agindo como
vice-regente de Deus sobre a Terra.
Bíblia de Estudo Pentecostal: Sublinha
que o versículo é uma bênção de Deus com um comando. O verbo
"sujeitai-a" implica que o domínio não seria exercido sem esforço,
exigindo trabalho e gerenciamento responsável da criação. A capacidade de
procriação é uma bênção que assegura a continuidade da raça humana e o
cumprimento do mandato de povoar a terra.
Bíblia de Estudo Plenitude: Enfatiza
que o domínio concedido não é tirania, mas sim uma mordomia sábia e cuidadosa.
A ordem de "encher a terra" indica que a reprodução é parte do plano
divino. O mandato de domínio estende a imagem de Deus à esfera da autoridade,
fazendo do homem o responsável por administrar a Terra para a glória de Deus.
Genesis 2.15-17
15. E tomou o Senhor Deus o homem e o
pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.
Bíblia de Estudo MacArthur: Destaca
que o homem foi criado para o trabalho. Os verbos "lavrar" (servir,
trabalhar) e "guardar" (vigiar, proteger) estabelecem que o Éden,
embora perfeito, exigia esforço e responsabilidade.
O trabalho não é uma maldição, mas uma
vocação dada antes da Queda, sendo uma fonte de dignidade e propósito.
Bíblia de Estudo Pentecostal: Vê o
homem como um administrador do jardim, reafirmando o domínio concedido em 1.28, mas detalhando seu modo de
execução. O trabalho de "lavrar e guardar" era prazeroso e aponta
para a santidade do trabalho como parte do serviço a Deus.
Bíblia de Estudo Plenitude: Enfatiza o
propósito de Deus para o homem e o jardim. "Guardar" o jardim sugere
que ele precisava de proteção, talvez contra a invasão de forças externas (como
Satanás).
O versículo mostra que o prazer e a
responsabilidade caminhavam juntos na condição original da humanidade.
16. E ordenou o Senhor Deus ao homem,
dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente,
Bíblia de Estudo MacArthur: Destaca a
generosidade de Deus e a vasta liberdade dada ao homem. O termo
"livremente" sublinha que a provisão de Deus era mais do que
suficiente. A ordem de Deus estabelece a sua autoridade e, implicitamente, a
responsabilidade de Adão de responder a ela.
Bíblia de Estudo Pentecostal: Enfatiza
a infinita provisão de Deus. Antes de dar a restrição, Deus estabeleceu a
liberdade e a abundância. A única restrição serviria para testar a obediência
humana e sua disposição de se submeter à vontade do Criador.
Bíblia de Estudo Plenitude: Ressalta
que o homem vivia sob uma aliança de obras (ou Adâmica) que exigia obediência
perfeita. A abundância permitida serve de contraste para a única restrição,
realçando a justiça de Deus em sua exigência.
17. mas da árvore da ciência do bem e
do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás.
Bíblia de Estudo MacArthur: Interpreta
a "morte" como sendo, primeiramente, morte espiritual (separação de
Deus), seguida pela perda da imortalidade física, culminando na morte eterna. O
propósito da árvore era ser o marco da soberania de Deus: somente Ele define o
que é bem e mal. Comer dela seria um ato de usurpação, de buscar autonomia
moral de Deus.
Bíblia de Estudo Pentecostal: Explica
que a árvore era um teste de obediência. A "ciência do bem e do mal"
não significava ignorância moral antes do ato, mas sim a capacidade de decidir
o padrão moral de forma autônoma (independentemente de Deus). O ato resultaria
em morte tripla: espiritual, física e eterna (a separação final).
Bíblia de Estudo Plenitude: Destaca
que esta é a primeira proibição na Bíblia, e a punição por desobedecê-la é a
morte. "Certamente morrerás" é uma ênfase hebraica, significando
"morrendo, morrerás" (morte imediata da imortalidade e da comunhão
com Deus). A punição divina é sempre justa e inevitável.
Mateus 10:28
28. E não temais os que matam o corpo
e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no
inferno a alma e o corpo.
Bíblia de Estudo MacArthur: É o
versículo-chave sobre o Temor a Deus. Jesus contrasta o poder limitado do homem
(que só pode matar o corpo físico) com o poder ilimitado de Deus (que controla
o destino eterno da alma, - psychē). O "inferno" é o Geenna, o local
do julgamento eterno. A alma e o corpo serão ressuscitados para serem lançados
no Geenna, um tormento consciente e eterno.
Bíblia de Estudo Pentecostal: Enfatiza
a imortalidade da alma e a sua capacidade de sobreviver à morte física. O
propósito de Jesus é encorajar os discípulos a serem ousados na evangelização,
pois a perseguição humana é temporária. O medo correto é o temor de Deus, que
tem poder sobre o destino eterno. O versículo é um alerta contra o
antropocentrismo (o temor ao homem) em favor da teocentrismo (o temor a Deus).
Bíblia de Estudo Plenitude: Aponta
para a supremacia do poder de Deus. O medo dos homens deve ser substituído pelo
temor reverente de Deus, pois somente Ele pode infligir o castigo mais
terrível: a destruição no inferno. Isso sublinha a grande responsabilidade que
o ser humano tem diante de seu Criador.
INTRODUÇÃO
Na lição anterior, fizemos uma parada
crucial. Olhamos para a complexa estrutura da criação de Deus e definimos a
alma, a psychē, em sua posição vital na constituição tríplice do ser humano:
corpo, alma e espírito. Vimos que a alma não é meramente um apêndice.
Ela é, conforme o Pr. Silas Queiroz, a
porção imaterial que, juntamente com o espírito, nos torna uma pessoa completa,
carregando a sublime imagem de Deus (imago Dei)
Esta descoberta, por si só, já é
fascinante, mas ela é apenas o ponto de partida para o nosso mergulho. Agora,
chegou a hora de sermos como os bereanos (Atos
17.11): cavar mais fundo na Palavra.
Deixaremos o conceito preliminar para
trás e buscaremos o cerne da questão: qual é a natureza e a distinção funcional
da alma? O que a torna diferente do espírito, o pneuma, se ambas são
imateriais? É aqui que a exegese bíblica nos presenteia com tesouros que
transformam a maneira como vivemos a fé.
A Bíblia de Estudo Pentecostal nos
lembra que a alma é o assento da vida e do eu consciente do homem.
Se o espírito é a nossa capacidade de
ter comunhão com o Criador, a alma é a sede de nossos atributos da
personalidade: o intelecto, a emoção e a vontade (ou volição). Pense nela como
o processador central de sua identidade. É a sua mente (noos), o seu coração
(no sentido bíblico de centro da vida moral e emocional, kardia), e a sua
capacidade de escolher.
O Comentário Bíblico Champlin descreve
a alma como o centro dos afetos e do pensamento racional.
Para o seu aprofundamento teológico, a
distinção é funcional e não ontológica (de essência).
O autor pentecostal Robert P. Menzies
explica que o Espírito Santo atua no espírito humano para nos dar vida com
Deus, mas o processo de santificação, de transformação do caráter, ocorre
primordialmente na alma.
É por isso que Paulo nos exorta a
renovar a nossa mente (Romanos 12.2),
pois o pecado se manifesta através dos pensamentos e desejos da alma não
controlada.
A Bíblia de Estudo MacArthur é
enfática: o conflito espiritual é uma guerra pela mente. Isso nos leva ao ponto
de aplicação prática.
A sua alma é o local do seu
relacionamento horizontal (com o próximo) e o reflexo do seu relacionamento
vertical (com Deus). Se a nossa alma está enferma, nossos relacionamentos são
tóxicos; se está em paz com Deus, refletimos a imagem de Cristo em serviço e
amor.
Os atributos da alma nos capacitam a
amar a Deus com todo o nosso entendimento, a sentir compaixão e a tomar a
decisão diária de segui-Lo.
Anthony D. Palma e outros teólogos
continuístas ressaltam que os dons espirituais fluem do espírito, mas a forma
como os utilizamos, em amor, sabedoria e ordem, é filtrada pelo domínio da alma.
Portanto, o desafio desta lição é
imediato: não basta saber que você tem uma alma; é preciso conhecer os
atributos da sua alma para governá-la. Entender a alma é entender o campo de
batalha da sua vontade e a fonte das suas motivações.
Ao nos aprofundarmos na distinção e
nos atributos da alma, como faremos nesta lição, descobriremos a chave para a
verdadeira estabilidade, alegria e eficácia em nosso chamado para sermos
luzeiros do evangelho. Vamos aprofundar o conteúdo desta aula? Venha comigo!
I. ATRIBUTOS DA ALMA
1. De volta ao Gênesis. Precisamos entender o que torna o ser humano
a obra-prima da criação. A resposta está no sopro divino de Gênesis 2.7, que transformou o pó da
terra em uma "alma vivente". Essa "alma vivente" é o que
nos diferencia radicalmente dos animais. Enquanto a criação animal possui uma
nephesh que lhe confere vida física e instinto, a nossa psychē é única: ela
carrega o DNA da divindade, a imago Dei, manifesta em atributos que nos
qualificam para a comunhão com Deus e para o governo sobre a Terra.
O principal atributo da alma é a
Autoconsciência e a Autodeterminação, elementos essenciais para que o homem
pudesse ser o vice-regente de Deus. O Criador nos fez seus representantes,
conferindo-nos um poder de governo que o Salmo
8.3-6 celebra.
Em Gênesis 1.28, o mandato é claro: "sujeitai-a e dominai"
(kabash e radah no hebraico), verbos que implicam responsabilidade régia.
A Bíblia de Estudo MacArthur destaca
que essa capacidade de domínio nasce da parte imaterial do homem: a alma é a sede
da razão (noos) e da vontade (boulē), tornando-nos seres pessoais e morais. Mas
como a alma manifestou sua capacidade antes da Queda? De forma prática e
límpida, em três áreas no Jardim: Administração e Cuidado (Trabalho): A ordem
de "lavrar e guardar" (Gênesis
2.15) o Éden demonstra a aptidão intelectual e volitiva da alma para o
trabalho.
O trabalho, antes de ser uma labuta,
era uma expressão da razão e do cuidado da alma em resposta à soberania de
Deus. Discernimento e Escolha Moral (Volição): A árvore da ciência do bem e do
mal (Gênesis 2.16,17) não era um
teste para o corpo, mas para a vontade da alma.
A capacidade de discernir o certo do
errado e de fazer escolhas autônomas, mesmo com uma restrição única, é o
testemunho mais forte do caráter consciente da alma.
A Bíblia de Estudo Plenitude chama
essa capacidade de autonomia moral, essencial para o conceito de
responsabilidade.
Compreensão e Classificação
(Intelecto): Adão ter nomeado os animais (Gênesis
2.19) é mais que um registro histórico; é a demonstração clara de uma mente
superior. A nomeação exige observação, classificação e abstração, evidenciando
o poder cognitivo e racional da alma. Não foi um ato instintivo, mas um
exercício da inteligência dada por Deus. Além da Razão e da Vontade, a alma é a
sede das Emoções e dos Afetos. O próprio Deus, ao observar o isolamento de
Adão, demonstra afeto: "Não é bom que o homem esteja só" (Gênesis 2.18).
Quando Eva é apresentada, Adão irrompe
em uma explosão de satisfação: "Esta é agora osso dos meus ossos e carne
da minha carne" (Gênesis 2.23).
Este é o registro da primeira manifestação de alegria e apego emocional da alma
humana, que o pastor Antônio Gilberto classifica como a expressão mais pura do
afeto conjugal.
O amor, a alegria, a satisfação e a
profunda conexão são, portanto, atributos divinamente implantados na alma.
Portanto, o desafio deste primeiro tópico e subtópico é este: se a sua alma
possui estes atributos sublimes, criados para a glória de Deus, você está
governando sua mente, suas emoções e sua vontade para cumprir o Mandato
Cultural?
A batalha pela santificação, como
enfatizam os autores pentecostais como Gordon D. Fee, é a batalha pela
renovação da alma, para que seus atributos reflitam o caráter de Cristo.
2. Entre o espírito e o corpo. Entre o espírito e o corpo: Na seção
anterior, estabelecemos que a alma é o tesouro da nossa identidade, o nosso
distintivo pessoal. Mas onde exatamente essa alma reside e como ela opera no
complexo sistema do ser humano tricótomo (corpo, alma e espírito)?
A alma assume uma posição estratégica: ela é o
ponto de articulação entre a parte mais elevada e a parte mais terrena da nossa
constituição. A alma é a sede da personalidade porque nela residem seus três
atributos fundamentais: a Emoção (os afetos, sentimentos e impulsos), a Razão
(o intelecto, o raciocínio, o noos em grego e a Volição (a vontade, a capacidade
de decisão). Estes são os elementos que definem o seu "eu".
O Pr. Silas Queiroz reforça: os
impulsos e desejos que movem o ser humano em direção a Deus ou ao mundo nascem
neste centro da alma. A alma funciona como o tradutor e mediador do nosso ser,
estabelecendo dois fluxos vitais de comunicação.
Comunicação Vertical (Deus): Para ter comunhão com o Ser Divino e
receber as verdades do Espírito de Deus, a alma serve-se do nosso espírito
humano. O nosso espírito, sendo a parte mais elevada e imortal, é o órgão da
intuição e da consciência divina, mas é a alma (através do raciocínio e da
vontade) que processa, compreende e decide obedecer à revelação espiritual.
Como ensina o Comentário Bíblico
Pentecostal, é o espírito que se une ao Espírito de Deus, mas é a alma que vive
a santificação prática.
Comunicação Horizontal (Mundo):
Para se comunicar e interagir com o mundo físico e com o próximo, a alma
utiliza o corpo (soma) e seus órgãos sensoriais (visão, audição, tato, etc.).
Se você decide amar (volição da alma), seu corpo age (abraça, ajuda); se você
sente alegria (emoção da alma), seu corpo manifesta (sorri, gesticula). O corpo
é o veículo de expressão da personalidade.
A Bíblia nos oferece um exemplo vívido
dessa tríplice interação no cântico de Maria na casa de Isabel (Lucas 1.46,47). Maria proclama: "A
minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu
Salvador." A alegria e o louvor começam na esfera profunda, intuitiva
e conectada a Deus, mas são externalizados, processados e verbalizados pela
alma e, finalmente, expressos pelo corpo através do cântico e da voz.
O Comentário Bíblico Beacon interpreta
esta passagem como a prova bíblica de que, embora intimamente ligadas, alma e
espírito possuem funções distintas na adoração e na experiência com o Salvador.
Este subtópico traz uma lição prática
poderosa: a saúde da sua alma é a chave para a clareza da sua comunicação. Você
está permitindo que seu espírito, renovado em Cristo, guie sua alma (razão,
emoção e vontade)?
O Espírito Santo trabalha através do
seu espírito para purificar a sua alma, garantindo que sua interação com o
mundo (soma) seja um testemunho fiel de Cristo.
3. A alma abatida. Se a alma é o centro da nossa emoção e razão,
nada revela sua importância quanto a experiência do abatimento. O salmista nos
permite entrar em seu diálogo íntimo, um testemunho cru da nossa fragilidade
interior, ao perguntar: "Por que estás abatida, ó minha alma, e por que
te perturbas em mim? Espera em Deus..." (Salmo 42.5).
Aqui está o deleite da exegese: a
palavra hebraica para "alma" é nephesh, e para "abatida" é
shachach, que significa literalmente "curvar-se, inclinar-se,
prostrar-se".
O salmista está experimentando um peso
tão grande na nephesh que sua personalidade inteira se dobra, se abate1. Esta
não é uma tristeza superficial; é uma crise de comunhão (v. 4, 9) que afeta o centro de sua alegria e esperança. O contexto
é de profunda aflição espiritual e "sede de Deus". Ele clama: "A
minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo..." (Salmo 42.2). A sede da nephesh é o anseio primordial de toda a
personalidade humana pela Fonte da Vida.
O Comentário Bíblico Pentecostal (Novo
Testamento) aponta que essa sede desesperadora ilustra como a alma, mesmo em
crise, busca desesperadamente a presença divina para ser saciada, pois foi
criada para Ele.
A ausência de Deus desorganiza a
estrutura emocional e racional da alma.
O Salmo
84.2 ecoa este mesmo anseio: a alma suspira pelo tabernáculo do Senhor.
Isso nos ensina que a função primária da alma é a adoração e a busca pela
presença divina. Quando o acesso à comunhão parece interrompido, a alma (emoção
e razão) entra em colapso.
O pastor Antônio Gilberto ressalta que
o desalento da alma é, frequentemente, o resultado de um desajuste entre o que
a alma experimenta no mundo e o que o espírito anseia em Deus.
O aprofundamento continua no
arrependimento de Davi (Salmo 51),
onde ele ora pela restauração integral do seu ser após o pecado. Ele não apenas
pede perdão, mas clama: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova
em mim um espírito reto" (Salmo
51.10).
A tristeza de Davi (uma aflição da nephesh) é
tão intensa que ele precisa de um novo espírito reto e da restituição da
alegria da salvação (v. 12) para que
sua alma se levante do abatimento.
A teologia de Douglas Oss e outros
afirma que a alma só encontra estabilidade e alegria quando a obra do Espírito
Santo no ruach humano é refletida em uma nephesh submissa e restaurada.
Portanto, o desafio deste subtópico é
claro: se sua alma se sente "curvada" (shachach), o remédio não está
no entretenimento ou nas coisas superficiais, mas na espera ativa em Deus e na
busca pela renovação do seu espírito. Leve sua alma inquieta ao encontro do
Deus Vivo. A alma só encontra sua verdadeira estabilidade quando se submete à
direção do espírito regenerado.
II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE
E IMORTALIDADE
1. Distinção de substância. As
palavras de Jesus em Mateus 10.28 nos conduzem ao coração da antropologia
bíblica: “Não temam os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; antes,
temam aquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (NVI).
Em uma única frase, o Senhor revela a
estrutura profunda do ser humano e define a linha divisória entre o visível e o
invisível, o temporal e o eterno. É aqui que encontramos um fundamento sólido
para compreender a alma como parte imaterial do ser humano, distinta, porém
inseparável do corpo.
O texto grego usa o termo psychē
(ψυχή) para “alma”, palavra que descreve a essência interior do homem, o centro
da vida, dos afetos e da consciência. Já “corpo” é sōma (σῶμα), o organismo
físico e perecível. Jesus, ao usar ambos, não apenas faz uma distinção
conceitual, mas estabelece uma hierarquia ontológica: o corpo pode ser ferido
ou morto por agentes humanos, mas a alma pertence exclusivamente ao domínio
divino. A “psychē” transcende o poder humano; ela não pode ser aniquilada por
nenhum processo natural, pois é sustentada pelo sopro de Deus (Gn 2.7).
O Pr Silas Queiroz observa que “a alma
não é uma substância material ou resultado de funções biológicas, mas uma
realidade espiritual que confere vida e identidade ao homem” (QUEIROZ, Corpo,
Alma e Espírito, CPAD, 2014).
A alma é o “eu” consciente que pensa,
sente e escolhe — aquilo que sobrevive à morte física e permanece diante do
Criador.
A Bíblia usa os termos alma e espírito
de modo intercambiável em alguns contextos, o que tem gerado debates teológicos
ao longo da história. Em Eclesiastes 12.7 lemos: “O pó volte à terra, de onde veio, e o
espírito volte a Deus, que o deu”.
Tiago 2.26
reforça que “o corpo sem espírito está morto”.
E em Apocalipse 6.9, João vê “as almas dos que foram mortos por causa
da Palavra de Deus”.
Esses textos apontam para a mesma
realidade: a dimensão imaterial do homem, seja designada “alma” (psychē) ou
“espírito” (pneuma), é o centro vital e consciente do ser, o elemento que
subsiste mesmo após a morte.
A Bíblia de Estudo Pentecostal explica
que “alma e espírito são distintas, mas inseparáveis no ser humano; a primeira
é o assento da personalidade, o segundo é o elemento pelo qual o homem se
relaciona com Deus” 1Ts 5.23.
Essa interação entre alma e espírito
revela o cuidado de Deus em criar o homem como uma unidade complexa, dotada de
materialidade e espiritualidade que se completam. A compreensão de que a alma é
imortal deve gerar temor santo e profunda responsabilidade espiritual. Se o
corpo é temporário e pode ser destruído, a alma permanece.
O que fazemos com ela hoje terá
consequências eternas. Jesus não falou em teoria, Ele advertiu seus discípulos
a temerem a Deus, não aos homens. O temor do Senhor nasce da consciência de que
a alma pertence a Ele e voltará para prestar contas. Essa verdade também
consola o crente fiel. A morte não é o fim, mas o começo da eternidade com
Cristo.
Como afirma Gordon Fee, “a esperança
cristã não se apoia na negação da morte, mas na certeza da ressurreição e da
comunhão eterna com o Senhor”.
Assim, viver com essa consciência nos
liberta do medo e nos chama à santidade. A alma é o santuário interior onde o
Espírito Santo habita. Cuidar dela é dever sagrado. Uma vida negligente, presa
às coisas visíveis, enfraquece o interior e adoece o espírito.
Mas quando a alma é alimentada pela
Palavra e guiada pelo Espírito, o cristão experimenta plenitude, mesmo em meio
à dor.
Craig Keener acrescenta que “a
distinção entre corpo e alma, longe de promover dualismo, reforça a esperança
de uma redenção completa: Deus salvará o homem inteiro”.
O corpo será transformado, e a alma,
já redimida, encontrará plena comunhão com o Criador. Por isso, não invista
apenas no que perece. Cuide da sua alma. Alimente-a com a verdade. Purifique-a
com arrependimento e oração. Um dia, o corpo voltará ao pó, mas a alma seguirá
viva — e será acolhida ou rejeitada diante do trono de Deus.
2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal. Quando Jesus declarou em Mateus 10.28 que Deus pode destruir tanto o corpo quanto a alma no
inferno, Ele estava corrigindo não apenas uma visão religiosa equivocada, mas
também toda forma de pensamento que reduz o ser humano à mera matéria. Suas
palavras revelam que há uma dimensão espiritual e eterna na existência humana,
uma realidade que o mundo materialista prefere ignorar.
A palavra usada por Jesus para “alma”
é psychē (ψυχή), termo que descreve o centro da personalidade, da vontade e da
consciência moral. Essa dimensão não é produto do corpo, mas procede do sopro
de vida que Deus insuflou no homem (Gn
2.7). A alma é imaterial, invisível e, sobretudo, responsável diante do
Criador. Ao tratar da destruição da alma no inferno, Cristo não fala de
aniquilação, mas de condenação eterna, de separação consciente e definitiva de
Deus.
A Bíblia de Estudo MacArthur destaca
que “a alma é indestrutível e sobreviverá para desfrutar da presença de Deus ou
sofrer separação eterna” Mt 10.28.
Essa verdade confronta ideologias
antigas e modernas que negam o espiritual. Desde os filósofos materialistas da
Antiguidade até o marxismo contemporâneo, há uma insistência em definir o homem
como um ser puramente biológico, condicionado pelas forças econômicas ou
sociais.
O marxismo, por exemplo, rejeita a ideia de uma
alma consciente e imortal, reduzindo o ser humano ao resultado das estruturas
de produção. Nesse pensamento, o mal não está no coração humano, mas nas
condições externas; a culpa é da sociedade, não do indivíduo. Assim, o homem
deixa de ser pecador e passa a ser apenas vítima. Essa distorção atinge o âmago
da fé cristã. Quando o pecado é deslocado da esfera pessoal para a estrutural,
a necessidade de arrependimento e conversão desaparece.
No entanto, a Palavra de Deus é clara:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos
pecados” (At 3.19).
O termo grego para “arrependei-vos” é
metanoeō (μετανοέω), que significa literalmente “mudar a mente”. O
arrependimento não é social, mas pessoal; não é coletivo, mas individual. Cada
alma precisará responder diante de Deus pelo que fez com o Evangelho de Cristo.
O Pr Silas Queiroz lembra que “a
imaterialidade da alma implica responsabilidade moral e consciência eterna
diante do Criador”.
Essa consciência é o que distingue o
homem de todos os outros seres criados. Somos seres espirituais que existirão
eternamente, e o destino dessa eternidade depende das decisões tomadas aqui e
agora.
O Comentário Bíblico Pentecostal do
Novo Testamento ressalta que Jesus, ao ensinar sobre a alma e o corpo, “não
apenas refuta o materialismo, mas reafirma a santidade da vida humana e a
necessidade de salvação pessoal em Cristo”.
O homem não pode ser reduzido a um
conjunto de reações químicas ou condicionamentos sociais. Ele é portador da
imagem divina (imago Dei), e sua alma carrega a marca da eternidade. Toda
ideologia que promete resolver os dilemas humanos por meio de sistemas
políticos, econômicos ou sociais repete o mesmo erro. Nenhuma estrutura pode
redimir o coração do homem. Somente Cristo é o Mediador capaz de reconciliar o
ser humano com Deus (At 4.12).
O problema do mundo não é a economia,
mas o pecado; não é o sistema, mas a alma não regenerada. Essa verdade precisa
ecoar nas igrejas locais. Muitos crentes têm sido seduzidos por discursos
sociológicos que soam compassivos, mas esvaziam o Evangelho de sua urgência
espiritual.
É preciso lembrar: a salvação é
pessoal. A alma que pecar, essa morrerá (Ez
18.4).
E a alma que crer em Cristo, viverá
para sempre (Jo 17.3).
Por isso, cada um deve examinar sua
própria vida. Você tem cuidado da sua alma? Ou tem se deixado moldar pelas
filosofias que negam a eternidade? A vida passa, mas a alma permanece. Ela é o
que você realmente é, e um dia estará diante de Deus. Cuide dela com temor e
fé, porque dela depende seu destino eterno.
3. Materialismo e teologia. O materialismo não se limita ao campo político
ou filosófico; ele invade também a teologia, distorcendo a missão da Igreja e a
compreensão da própria fé cristã. Quando o homem começa a enxergar o mundo apenas
por lentes econômicas ou ideológicas, acaba moldando sua visão de Deus de
acordo com o sistema que o cerca. O resultado é uma espiritualidade sem
transcendência, um evangelho sem cruz e uma igreja sem arrependimento. A
Escritura afirma que “o homem vive não só de pão, mas de toda palavra que
procede da boca de Deus” (Mt 4.4).
O verbo usado por Jesus, “viverá”,
indica uma vida plena que não se reduz à existência física. O materialismo,
contudo, reduz a fé à sobrevivência e transforma o Evangelho em mero
instrumento de mudança social.
A consequência é grave: o homem deixa
de ser visto como pecador carente de salvação e passa a ser tratado apenas como
vítima das estruturas humanas. Historicamente, essa visão contaminou a teologia
cristã em diferentes frentes.
No catolicismo, deu origem à Teologia
da Libertação; no protestantismo, inspirou a Teologia da Missão Integral.
Ambas, embora partam de preocupações legítimas com a justiça e o sofrimento
humano, acabaram absorvendo princípios marxistas que colocam a luta de classes
acima da redenção individual.
O marxismo, com seu fundamento no
materialismo histórico, rejeita a transcendência e busca eliminar Deus do
centro da história humana. Assim, o pecado deixa de ser rebelião contra Deus e
passa a ser interpretado como desigualdade social.
Silas Queiroz observa com precisão que
“toda teologia que desloca o foco da redenção do indivíduo para as estruturas
sociais, inevitavelmente, enfraquece a consciência moral e apaga o sentido da
eternidade”.
O Evangelho, porém, não começa no
sistema, mas no coração. Jesus veio transformar o homem de dentro para fora.
Ele não prometeu uma revolução de classes, mas a regeneração da alma.
O apóstolo Paulo advertiu Timóteo a
conservar “a sã doutrina”, expressão que significa literalmente “ensino
saudável” (1Tm 4.6; 2Tm 4.3).
A doutrina sadia não é apenas correta
intelectualmente; ela produz vida espiritual, discernimento e santidade.
Por isso, toda teologia que nega o
pecado pessoal e a necessidade de arrependimento é, nas palavras de Antônio
Gilberto, “um ateísmo prático travestido de religiosidade”.
É preciso discernir os tempos. Algumas
correntes teológicas modernas reinterpretam a Bíblia à luz de filosofias
humanistas e relativistas, criando um evangelho que agrada às massas, mas
desagrada ao Espírito Santo.
Craig Keener alerta que “quando o
texto bíblico é subjugado à ideologia, a revelação deixa de transformar e passa
a ser manipulada”.
O resultado é confusão espiritual e
enfraquecimento da fé, exatamente o que Jesus denunciou em Lucas 11.17: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído”.
Nas igrejas locais, esse engano se
manifesta de forma sutil. Quando o crente passa a buscar apenas soluções
sociais, políticas ou psicológicas, esquece que o maior problema do homem é o
pecado. A igreja não foi chamada para substituir o Estado, mas para proclamar o
Reino. A missão da Igreja é integral, sim, mas parte da reconciliação com Deus,
e não de ideologias humanas.
Como lembra o Comentário Bíblico Beacon, “a
salvação que não começa com arrependimento e fé em Cristo é mera reforma moral,
incapaz de transformar o coração”.
Essa é a hora de a Igreja examinar a
si mesma! Temos pregado um Cristo que salva da ira vindoura ou um Cristo que
apenas melhora a sociedade? O Evangelho de Jesus continua sendo o poder de Deus
para a salvação de todo aquele que crê (Rm
1.16). E esse poder começa na alma, imaterial, eterna e responsável, que
precisa nascer de novo para ver o Reino de Deus.
III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS
1. Edificação e saúde. A alma
humana é o campo onde se trava uma das batalhas mais intensas da vida cristã. É
nela que repousam nossos afetos, pensamentos e decisões morais. Por isso, a
saúde espiritual não é apenas uma questão de emoção ou de vontade, mas de
comunhão constante com Deus. Jesus nos advertiu sobre o perigo de uma alma que
acumula tesouros terrenos, mas ignora o valor do eterno (Lc 12.13–21). O cuidado da alma, portanto, não é opcional, é
vital. A alma (ψυχή, psychē) representa o centro da vida interior, o “eu”
consciente que pensa, sente e escolhe.
Quando negligenciada, essa dimensão se
torna vulnerável às pressões e ansiedades do mundo moderno. Paulo sabia disso ao
escrever aos filipenses: “Não andem ansiosos por coisa alguma” (Fp 4.6).
O verbo grego usado, merimnáō,
significa “dividir a mente”, retratando um coração fragmentado entre fé e
preocupação. A oração, portanto, não é apenas um pedido; é o realinhamento da
alma com a soberania de Deus.
A verdadeira paz, chamada por Paulo de
eirēnē (Fp 4.7), não é ausência de
problemas, mas a presença ativa de Cristo guardando mente e coração.
Essa paz, que “excede todo
entendimento”, é uma fortaleza espiritual invisível, cercando a alma como
muralhas divinas. Pedro complementa essa verdade ao nos exortar: “Lancem
sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1Pe 5.7).
O verbo epirríptō (lançar) descreve um
ato intencional: entregar de uma vez por todas o fardo da alma Àquele que nunca
se cansa. Contudo, a renovação da alma não ocorre automaticamente. É um
processo cooperativo entre a graça divina e a disciplina espiritual. Paulo
afirma que “a paz de Cristo deve governar em nossos corações” (Cl 3.15).
A palavra “governar”, do grego
brabeuō, descreve um árbitro que decide quem tem razão em uma disputa. Ou seja,
a paz de Cristo precisa decidir nossas reações, regular nossas emoções e
corrigir nossos impulsos. Quando ela perde esse lugar de autoridade, as emoções
dominam e a alma adoece.
A edificação interior depende daquilo
que alimentamos diariamente. Paulo orienta: “Tudo o que é verdadeiro,
respeitável, justo, puro, amável, de boa fama, se alguma virtude há e se algum
louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8).
A mente é o portão da alma. O que
entra por ela molda o que sentimos, falamos e fazemos. O salmista, por isso,
adverte que a bem-aventurança começa evitando “o conselho dos ímpios” (Sl 1.1).
Como cristãos, somos chamados a
discernir o que consumimos, palavras, músicas, imagens e conversas. Cada
escolha é uma semente lançada na terra da alma. Se semeamos ruído e
superficialidade, colhemos confusão e cansaço espiritual; mas se semeamos
Palavra e oração, colheremos estabilidade e paz.
Hoje, o Senhor nos chama a cuidar da
alma como quem protege um tesouro. Que cada pensamento, palavra e hábito sejam
guiados pela presença do Espírito Santo. A alma sadia é aquela que se rende,
diariamente, ao governo de Deus. E só há descanso verdadeiro quando o coração
aprende a repousar nEle.
2. Purificação e renovação. A alma humana é um campo fértil, e o que nela
germina depende do que permitimos que entre. Jesus afirmou que “do coração
procedem maus pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidades sexuais,
furtos, falsos testemunhos e calúnias” (Mt 15.19).
O termo “coração”, no texto grego, é
kardía, e refere-se ao centro da vida interior, a sede dos pensamentos e
desejos.
Quando a alma não é purificada, ela se
torna terreno para o pecado, e o pecado amadurecido gera morte (Tg 1.14–15). Purificar a alma não é
apenas afastar-se do mal exterior, mas permitir que a Palavra penetre o
interior, onde nascem os desejos e motivações. Pedro exorta: “Tendo
purificado as vossas almas pela obediência à verdade” (1Pe 1.22).
O verbo hēgnikotes (de hagnízō,
“tornar puro”) indica um processo contínuo de santificação — não um ato
isolado. A alma é purificada à medida que se submete à verdade de Deus, e a
obediência torna-se o instrumento dessa limpeza.
Essa purificação não é fruto de
disciplina humana, mas resultado da operação do Espírito Santo. Paulo descreve
esse processo em Efésios 4.23–24, ao
dizer: “Renovem-se no espírito da mente, e revistam-se do novo homem”.
O verbo ananeousthai (renovar) sugere
uma transformação progressiva, um renovar constante da consciência e das
afeições.
Silas Queiroz observa que “a alma,
quando iluminada pelo Espírito, passa a refletir a imagem moral de Cristo,
sendo progressivamente moldada por sua vontade”.
A renovação da mente é o caminho para
discernirmos a vontade de Deus. Paulo, em Romanos
12.2, nos adverte a não nos conformarmos (syschēmatízesthe) com este
século. O termo descreve a ideia de tomar a forma de algo, como o metal que se
molda a um molde externo. O mundo tenta constantemente imprimir seus padrões
sobre a alma; mas o Espírito de Deus trabalha no interior, transformando-nos
(metamorphoústhe), isto é, operando uma metamorfose espiritual que começa no
pensamento e se manifesta na conduta.
Essa transformação é o que nos leva a
experimentar a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Não se trata de
mera conformidade moral, mas de uma sintonia espiritual, em que a alma,
purificada e renovada, passa a desejar o que Deus deseja e a rejeitar o que Ele
rejeita.
Antônio Gilberto afirma que “a
santificação verdadeira não é um verniz religioso, mas uma renovação interior
que faz o crente reagir espiritualmente ao mal”.
A vida em santidade é, portanto, um
reflexo da saúde da alma. Quando a mente é constantemente exposta à Palavra, os
pensamentos são filtrados; quando a vontade é submissa a Cristo, as emoções são
pacificadas; e quando o coração é limpo, o Espírito Santo encontra espaço para
guiar e transformar. O salmista nos lembra: “Quem subirá ao monte do Senhor? O
que é limpo de mãos e puro de coração” (Sl
24.3–4).
Purificar e renovar a alma é um
chamado diário. Exige vigilância sobre o que pensamos, sentimos e desejamos. O
Espírito Santo não age em terreno negligenciado. Ele trabalha onde há entrega.
Que cada um de nós, com temor e amor, cuide da própria alma como quem cuida de
um santuário, porque de fato ela o é (1Co
6.19).
CONCLUSÃO
O cristão precisa viver em plena
santificação, o que inclui a contínua rejeição de pensamentos, sentimentos e
desejos pecaminosos, mantendo pura a sua alma (1Pe 1.22; 1Jo 1.7).
Atribui-se a Lutero a frase que diz: “Não podemos impedir que os
pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que eles façam
ninhos sobre elas”.
A vida cristã é um chamado à
santificação progressiva, não apenas um evento pontual, mas um processo
contínuo de transformação interior, em que a alma é purificada pela obediência
à verdade e pela ação constante do Espírito Santo (1Pe 1.22; 1Jo 1.7).
Santificar-se é permitir que a Palavra
de Deus molde nossos pensamentos, sentimentos e desejos, separando-nos do
pecado e conformando-nos à imagem de Cristo (Rm 12.2).
Martinho Lutero expressou essa
realidade espiritual com sabedoria prática: “Não podemos impedir que os
pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que façam ninhos
sobre elas.” Essa metáfora descreve a luta interior de todo crente: os maus
pensamentos podem surgir, mas não precisam encontrar abrigo em nossa mente. O
cristão maduro reconhece a tentação, mas a confronta com a verdade da Palavra,
não permitindo que ela se transforme em pecado consumado (Tg 1.14-15).
A santificação, portanto, exige
vigilância e entrega diária. É um chamado à mente renovada, à alma disciplinada
e ao coração rendido. O Espírito Santo atua como o grande Purificador da alma,
ensinando-nos a discernir o que vem de Deus e o que provém da carne.
Quando o crente se submete a essa obra
interior, sua vida se torna um reflexo da pureza de Cristo, não uma perfeição
humana, mas uma santidade cultivada pela graça. Ser santo é viver sensível à
voz de Deus, pronto a rejeitar o mal, a confessar o pecado e a buscar a
comunhão contínua com o Pai.
O caminho da santificação é estreito,
mas conduz à verdadeira liberdade da alma: uma liberdade que não consiste em
fazer o que se quer, e sim em querer o que agrada a Deus. Podemos, então, ao
concluir esta preciosa lição, extrair três aplicações práticas para a nossa
vida:
1. Vigie os pensamentos. A santidade começa na mente. Rejeite
rapidamente todo pensamento impuro, invejoso ou orgulhoso, substituindo-o por
aquilo que é verdadeiro, justo e digno de louvor (Fp 4.8).
2. Cultive a pureza interior. Ore diariamente pedindo que o Espírito Santo
renove suas emoções e desejos, lembrando que a alma purificada é o campo onde
Deus planta frutos espirituais (Gl 5.22-23).
3. Confesse e recomece. Quando cair, não permaneça na culpa. Confesse
o pecado, receba o perdão de Cristo e prossiga em santificação, sabendo que “o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7).
Viva para a máxima glória do Nome do
Senhor Jesus!
Viva conectado a Cristo, adore com
sinceridade, sirva com amor e aja com justiça, para que cada atitude reflita a
glória de Deus no mundo.
OTIMA
AULA
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