OS
MILAGRES DE ELISEU
TEXTO
ÁUREO = “Ora, o rei falava a Geazi, moço do homem de Deus,
dizendo: Conta-me, peço-te, todas as grandes obras que Eliseu tem feito” (2 Rs 8.4).
VERDADE
PRÁTICA = Os milagres realizados por Eliseu não visaram à glorificação
pessoal do profeta, mas demonstraram o amor e a graça de Deus.
LEITURA
BIBLICA = 2 Reis 2: 9-14
Eliseu era um lavrador pertencente a uma
família abastada de Israel quando foi chamado para uma missão profética (1 Rs
19.19-21). Sem dúvida, ele era um dos sete mil que não havia se dobrado diante
da adoração idólatra a Baal e foi escolhido pelos critérios da soberania
divina. As estatísticas mostrando as intervenções sobrenaturais, através de
curas e outros milagres são impressionantes na vida desse profeta de Abel-Meolá
(1 Rs 19.16).
O escritor Larry Richards (2006,
pp.145,146) destaca o fato de que “Eliseu fora auxiliar e aprendiz de Elias
durante os últimos anos do ministério deste. A transição que as Escrituras
fazem do ministério de Elias para o ministério de Eliseu é relatada em 2 Reis
2. Enquanto os dois homens andavam juntos no vale do Jordão no último dia de
Elias na terra, Elias disse a seu amigo Eliseu: ‘Pede-me o que queres que eu te
faça, antes que seja tomado de ti.’
O pedido de Eliseu foi: “Peço-te que me
toque por herança porção dobrada do teu espírito”. Em Israel, o filho mais
velho da família recebia uma porção dobrada da riqueza da família como herança
(Dt 21.17). Eliseu pediu para ser o sucessor dele e herdar seu ofício como
profeta principal de Deus em Israel.
O pedido não seria atendido por Elias. O
próprio Deus chama seus porta-vozes. Mas Elias prometeu que, se Eliseu testemunhasse
a partida de Elias, Deus lhe daria o que desejava. Eliseu viu os anjos que
levaram Elias para a glória (para comentários sobre essa aparição angelical,
veja o outro volume da série, Todos os Anjos Bons e Malignos na Bíblia). Eliseu
realmente sucedeu Elias. Na verdade, os milagres registrados de Eliseu
realmente são, em número, o dobro dos milagres operados por Elias. Deus deu
ainda mais a Eliseu do que ele pediu.
Neste capítulo, dividi as narrativas
desses milagres em quatro grupos apenas por questões didáticas. Nem todos os
milagres operados por Eliseu são estudados aqui, mas aqueles que foram
analisados servem para ilustrar como os eles atenderam a um propósito divino.
Os
milagres de provisão
1. A
multiplicação dos pães = Esse é um milagre de provisão.
Eram cem homens do grupo dos discípulos dos profetas e
apenas vinte pães foram ofertados por um homem de Baal-Salisa (2 Rs 4.42-44). A lei da procura era maior
do que a da oferta! O que
fazer diante dessa situação? O profeta Eliseu não olha as evidências naturais, mas seguindo a direção de Deus
profetiza que todos comeriam
e ainda sobrariam pães! Como? Não havia lógica nenhuma nessa predição do profeta. Todavia, milagres não se
explicam, são aceitos pela
fé! Muito tempo depois encontramos o Novo Testamento detalhando como Jesus Cristo operou um
milagre com a mesma dinâmica, todavia
com maior proporção (Jo 6.9). Nas duas histórias a graça de Deus em prover o imprescindível para os
necessitados fica em evidência.
“Quando compartilhamos o que temos”,
observa William MacDonald, “e deixamos as consequências nas mãos de Deus, ele
provê as nossas necessidades, bem como às dos outros, e pode até haver sobra”
(Pv 11.24,25).
2.
Abundância de víveres = Jorão, filho se Acabe, estava assentado no trono
do Reino do Norte e a exemplo
do pai envolvido em idolatria e apostasia (2 Rs 6.24 — 7.1- 20). A consequência de suas ações pecaminosas foi o cerco à
cidade de Samaria promovida
por Ben-Adade II. Com a cidade sitiada, o resultado natural foi a escassez de alimentos. Vendia-se desde cabeça
de jumento até mesmo esterco
de pombo na tentativa de amenizar a fome. Pressionado pela crise, o rei procurou o profeta Eliseu e o
responsabilizou pela tragédia.
Sempre o Diabo querendo culpar Deus pelas mazelas que ele induziu os homens a praticarem! Mais uma vez Deus comprova
a sua graça e orienta Eliseu
a profetizar o fim da fome! Como nos outros milagres, esse tem seu cumprimento de forma inteiramente
sobrenatural.
Os
milagres de restituição
1. A
ressurreição do filho da sunamita = Mesmo tendo deixado o filho morto em casa, essa
rica mulher de Suném demonstra uma fé inabalável (2 Rs 4.8-37). Quando a
caminho e interrogada por Geazi, moço de Eliseu, sobre como iam as
coisas, ela respondeu: “Tudo bem!” Nada está fora de controle quando
Deus está no comando.
Para o Comentário Bíblico Vida Nova, “a
ação da mulher em colocar a criança morta na cama de Eliseu e ir
rapidamente buscá-lo sugere que ela possuía fé suficiente de que ele
seria capaz de ressuscitar a criança.
A volta da criança à vida e o reencontro
dela com a sua mãe são contados de modo simples e comovente. Por
intermédio do homem de Deus, mais uma vez o Senhor tinha manifestado o
seu poder sobre a vida e a morte. A sequência da história mostra o
profeta Eliseu orando ao Senhor sobre o corpo inerte do garoto (2 Rs
4.33). O relato é dramático e desafia a lógica humana. Os gestos do
profeta parecem não ter sentido, mas sem dúvida são de orientação divina
(2 Rs 4.34,35). Deus não deve explicações a ninguém sobre a forma como
Ele quer operar milagres! O Senhor responde à oração do profeta e a vida
volta novamente ao filho da sunamita (2 Rs 4.35-37).
2. O
machado que flutuou = Um dos discípulos dos profetas perdera a ferramenta que
havia tomado emprestado (2 Rs
6.1-7). Naqueles dias os instrumentos feitos de ferro eram escassos e valiosos. Daí seu desespero quando
perdeu aquele objeto. Duas
coisas observamos nesse texto: primeiramente a motivação do milagre que está expressa no lamento daquele que perdera
o machado.
O que nos faz lamentar? A nossa motivação
está correta? Em segundo lugar, vemos o profeta procurando identificar o local
onde a ferramenta havia caído ou se perdido. O Senhor está pronto a restituir
ou restaurar quem perdeu alguma coisa desde que se tome consciência disso. E
também o porquê dela ter sido perdida! As vezes a falta de reconhecimento por
parte de alguns que perderam alguma coisa, como por exemplo, a comunhão com
Deus pesa mais do que o machado que Eliseu fez flutuar.
Os
milagres de restauração
1. A
cura de Naamã = Aqui
algumas coisas nos chamam a atenção no relato desse milagre (2 Rs 5.1-19). Em primeiro lugar, observamos que o general
sírio fica indignado quando o
profeta não age da forma que ele imaginou (2 Rs 5.11). Deus não faz shows, nem tampouco opera para satisfazer
nossa curiosidade.
Em segundo lugar, observamos que Deus não
estava interessado na análise lógica de Naamã (2 Rs 5.11,12), mas apenas em sua
obediência.
Em terceiro lugar, Naamã recebe a cura
quando desce do cavalo (2 Rs 5.14). Não há quem goste de descer, todos
gostam de subir. Todavia Abigail para salvar seu casamento, teve que descer do
jumento (1 Sm 25.23)! Ninguém será restaurado se não descer! Naamã desceu e foi
curado. Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4.6).
Em quarto lugar, Naamã tentou recompensar
o profeta pelo milagre recebido (2 Rs 5.15,16). Eliseu recusou! A graça não
aceita pagamento por aquilo que faz.
2. As
águas de Jericó = O texto de 2 Reis 2.19-22, narra a história das águas
amargas de Jericó que se
tornaram saudáveis através da ação do profeta Eliseu. Aqui Eliseu pede um prato novo, termos traduzidos do
hebraico, jarra, tigela e chadash,
significando: novo, recente, fresco; também pede que se ponha nesse recipiente sal.
Feito isso ele profetiza que aquelas
águas se tornariam saudáveis
segundo a palavra do Senhor. Essas exigências do profeta possuíam um valor simbólico, visto que o sal representa um
elemento purificador (Lv
2.13; Mt 5.13) enquanto o prato novo seria um instrumento de dedicação especial ou exclusiva para aquele momento. Em todo caso, foi o poder de Deus
quem purificou as águas e não o poder
em si desses objetos e ingredientes.
Os
milagres de julgamento
1.
Maldição dos rapazinhos = No relato desse milagre Eliseu invoca um
julgamento sobre alguns jovens
zombadores (2 Rs 2.23-25). O efeito desse julgamento foi o aparecimento de dois animais selvagens que atacaram aqueles
jovens. A lição que fica é
que não se pode brincar com as coisas sagradas e muito menos ficar impune quem escarnece de um fiel servo de Deus.
2. A
doença de Geazi = Nesse relato de 2 Reis 5.19-27, observamos as razões pelas
quais Geazi foi julgado. O
moço Geazi viu apenas uma ação humana quando deveria ver uma ação divina (2 Rs 5.20). Ele achava que a recusa de
Eliseu era apenas uma questão
pessoal do profeta, quando na verdade não era. Geazi também trocou a verdade pela mentira (2 Rs
5.22).
Usou o nome do profeta de Deus para validar sua cobiça. Ele
procurou tornar aceitável o que Deus havia recusado (2 Rs 5.22). Deus não vende suas bênçãos, Ele as oferece
gratuitamente. Geazi trocou o arrependimento pelo fingimento (2 Rs 5.25). Fez
de conta que não havia
acontecido nada. Ele trocou a bênção pela maldição (2 Rs 5.27). Como consequência, passou a conviver
com a lepra pelo resto da sua vida!
O julgamento de Geazi nos mostra que Ministros
ficam doentes, Ministérios também!
Aprendemos com ele que:
a) Não
devemos edificar sobre aquilo que Deus já refiugou — “Voltou ao homem de
Deus, ele e toda a sua comitiva; veio, pôs-se diante dele e disse:
Eis que, agora, reconheço que em toda a terra
não há Deus, senão em Israel; agora, pois, te peço aceites um presente do teu
servo. Porém, ele disse: Tão certo como vive o Senhor, em cuja presença estou,
não o aceitarei. Instou com ele para que o aceitasse, mas ele recusou” (2 Rs
5.15,16).
Geazi, moço de Eliseu, tenta obter ganho
pessoal naquilo que o profeta já havia rejeitado. A recusa de Eliseu era a
recusa de Deus! Ele queria obter ganho naquilo que o Senhor já havia considerado
como perda. Onde Deus havia proibido que houvesse vantagem pessoal, Geazi tenta
obtê-la.
Não tenho dúvidas de que muitos
ministérios estão ficando doentes porque estão sendo edificados sobre refugos
divinos. Na maioria são teologias recicladas. Não são fundamentadas na
autêntica Palavra de Deus. Isso pode ser visto no próprio campo da teologia
bíblica.
Foi assim com a Teologia da Prosperidade;
com a Teologia do Domínio; com a Teologia Ariana; com a Teologia Unicista; com
a Teologia Relacional etc. Esses modelos teológicos em sua maioria são
reciclagens de antigas heresias ou crenças heterodoxas. O certo é que não
podemos edificar sobre aquilo que a própria Palavra de Deus e a história da
igreja já mostraram que são refugos teológicos.
b) Não
podemos sacralizar aquilo que é profano — ‘Geazi, o moço de
Eliseu, homem de Deus, disse consigo: Eis que meu senhor impediu a este siro
Naamã que da sua mão se lhe desse alguma coisa do que trazia; porém, tão
certo como vive o Senhor; hei de correr atrás dele e receberei dele alguma
coisa (2 Rs 5.20).
Geazi invocou o nome santo do Senhor (tão
certo como vive o Senhor) para validar uma ação errada! Ele procurou
santificar o pecado, quando diz que essa sua ação desastrosa será feita
em nome do Senhor!
Não podemos invocar o nome do Senhor
sobre coisa alguma que não esteja de acordo com a sua Palavra. O pecado jamais
pode ser santificado nem tampouco aquilo que é pagão pode ser cristianizado.
Na história da igreja vimos isso
acontecer. Primeiramente quando Constantino, imperador convertido à fé cristã,
cristianiza muitas práticas pagãs. O mesmo ocorre quando Tomás de Aquino
cristianizou os ensinos do filósofo grego Aristóteles.
Mais recentemente temos os teólogos da
prosperidade tentando, a todo custo, cristianizar os ensinos da Ciência Cristã.
Aquilo que é pecado não pode ser santificado, mesmo que se invoque sobre ele
alguma doutrina bíblica.
c) Não
podemos relativizar absolutos — “Ele respondeu: Tudo vai bem; meu Senhor me
mandou dizer: Eis que, agora mesmo, vieram a mim dois jovens, dentre os
discípulos dos profetas da região montanhosa de Efraim; dá-lhes, pois, um
talento de prata e duas vestes festivais” (2 Rs 5.22).
O profeta Eliseu jamais havia mandado
dizer tal coisa. Geazi mentiu! Quando tentou aproveitar o que Deus havia
refugado, Geazi agora deu um outro passo — tornou relativo aquilo que era
absoluto. Criou uma mentira e passou a acreditar nela. Quando se faz concessão
onde não pode haver nenhuma, passa-se a adotar comportamentos relativistas.
d) Não
podemos substituir organismo por organização — “Perguntou-lhe Eliseu:
Donde vens, Geazi? Respondeu ele: Teu servo não foi a parte alguma. Porém ele
lhe disse: Porventura, não fui contigo em espírito quando aquele homem voltou
do seu carro, a encontrar-te?” (2 Rs 5.25,26).
O que se percebe é que Geazi se comportou
diante desse incidente como quem vivia apenas para uma organização — a Escola
dos
Profetas, e não para o Deus vivo. Geazi
esquecera do lado espiritual do seu ministério, isto é, a instituição profética
como um organismo divino, para servir apenas a Escola de Profetas, enquanto
instituição humana. Esquecer que não há organização sem organismo; forma sem
função e muito menos preceitos sem princípios.
e) Não
devemos trocar o "ser"pelo ter”, a vocação pela carreira —
“Era isto ocasião para tomares prata e
para tomares vestes, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e servas?
Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre.
Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve” (2 Rs 5.26,27).
Geazi foi à procura de Naamã em busca de
“alguma coisa” e terminou sem “coisa alguma”. Foi em busca de valores
materiais, mas perdeu os espirituais. É um perigo quando alguém troca o “ser”
pelo “ter”. Quando transforma a vocação em carreira.
Quando o ministério deixa de ser um
projeto divino para se transformar em algo meramente humano. Os milagres
operados pelo profeta Eliseu são uma clara demonstração do poder de Deus. Todos
tiveram um propósito específico de demonstrar a graça de Deus e sua glória nas
mais diferentes situações. Em nenhum momento essas intervenções sobrenaturais
exaltam as virtudes pessoais de um homem nem tampouco deixam transparecer que
se tratava de algo que o profeta conseguia manipular através do domínio de alguma
técnica. Eram ações inteiramente imprevisíveis e não repetitivas, o que deixa
claro que em todas elas estava a unção de Deus.
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
BIBLIOGRAFIA
1 - RICHARDS, Larry. Todos os Milagres
da Bíblia. Editora United Press,São Paulo, 2006.
2 - MCDONALD, William. Comentário
Bíblico Popular - versículo por
versículo. Antigo Testamento.
Editora Mundo Cristão.
3 - CARSON, Donald. Comentário Bíblico
Vida Nova. Editora Vida Nova, São Paulo.
4 - “o contexto precisa ser levado em
consideração, e aqui sugere um bando de moleques à espera numa emboscada , que
sai após o profeta para zombar dele” (BRUCE, F.F. Comentário Bíblico NVI —
Antigo e Novo Testamento. Editora Vida.
5 - Para uma discussão mais aprofundada sobre
esse assunto, veja os livros: O Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade
(Ed. Martins Fontes) e O Sagrado, de Rudolf Otto, Editora Sinodal/Vozes.
6 -
Livro Porção Dobrada - Casa Publicadora das Assembleias de Deus - José
Gonçalves – 2012
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