Emoções e
sentimentos A batalha do equilíbrio interior
TEXTO ÁUREO
“E a paz de Deus, que excede todo
o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo
Jesus.” (Fp 4.7).
ENTENDA O TEXTO ÁUREO
O versículo está inserido em Filipenses
4.4-9, um dos trechos mais consoladores da epístola. Paulo escreve da
prisão, e ainda assim, exorta os crentes a se alegrarem no Senhor, a viverem em
mansidão e a não se deixarem dominar pela ansiedade, mas a apresentarem seus
pedidos a Deus com oração e súplica (v.6). O versículo 7 é, portanto, uma
resposta divina à oração confiada: o resultado não é, necessariamente, a
mudança das circunstâncias, mas o domínio interior do Espírito, manifestado
como paz.
Paz (εἰρήνη eirēnē): significa mais
que ausência de conflito. Deriva da ideia hebraica de shalom: plenitude,
harmonia, integridade e reconciliação com Deus. Essa paz é uma dádiva divina,
fruto do Espírito (Gl 5.22), e não
produto da razão humana.
Que excede todo entendimento (ἡ ὑπερέχουσα πάντα νοῦν hē
hypérechousa panta noun): O verbo hypérechō indica algo que se eleva acima,
ultrapassa ou transcende. Paulo declara que essa paz é incompreensível à mente
natural (noús), pois não é fruto de lógica ou controle emocional, mas da
operação sobrenatural do Espírito Santo no interior do crente (cf. 1Co 2.14).
Guardará (φρουρήσει phrourēsei): Termo
militar que descreve vigiar como uma sentinela armada. A ideia é que a paz de
Deus funciona como um exército espiritual que defende os corações e mentes contra
ataques de medo, ansiedade e incredulidade.
Corações (καρδίας kardías) e
"sentimentos" (νοήματα — noēmata): Kardia representa o centro das
decisões e afetos; noēmata são os pensamentos, raciocínios e intenções. Ou
seja, Paulo abrange toda a vida interior do crente, o emocional e o racional,
mostrando que a paz de Deus atua como guarda tanto das emoções quanto da mente.
A paz de Deus é consequência direta da comunhão com Ele. Quando o crente
entrega suas preocupações em oração (v.6), Deus não promete remover o problema,
mas concede uma presença guardiã dentro do coração, Sua própria paz. Essa paz
não é uma sensação mística ou momentânea; é o resultado da reconciliação com
Deus mediante Cristo (Rm 5.1).
O pecador, outrora inimigo, agora vive reconciliado e habita em
segurança interior, mesmo em meio ao caos exterior. Do ponto de vista
reformado, trata-se de uma obra contínua da graça santificadora. O Espírito
Santo aplica ao crente os benefícios da cruz, produzindo serenidade, confiança
e domínio interior.
Essa paz é “de Deus” (genitivo de origem), isto é, pertence a Deus, vem
de Deus e reflete o próprio caráter de Deus.
Paulo encerra o versículo com a expressão “em Cristo Jesus” (ἐν Χριστῷ
Ἰησοῦ). Toda a ação da paz guardiã ocorre dentro da esfera da união com Cristo
(unio mystica). Fora de Cristo, a mente permanece vulnerável à ansiedade; em
Cristo, o crente é envolto por um “muro de paz” que transcende a lógica humana (cf. Is 26.3; Jo 14.27).
A paz não é conquistada, é recebida. Muitos tentam alcançar paz por
disciplina mental ou controle emocional. Paulo ensina o oposto: ela vem como
resultado da rendição, oração e confiança no Senhor. A mente ansiosa precisa de
uma sentinela espiritual. O verbo “guardar” indica vigilância contínua. A paz
de Deus é como um soldado que impede que pensamentos de medo, dúvida e culpa
entrem na alma. A paz não é um lugar, é uma Pessoa. Fora de Cristo, há
confusão; n’Ele, há descanso para a alma (Mt
11.28-29).
A verdadeira serenidade não nasce da ausência de tribulação, mas da
presença constante de Deus. A paz que excede todo entendimento é o eco da
eternidade no coração do crente, um testemunho silencioso de que Cristo reina
sobre todas as tempestades internas. Quando a mente se submete à soberania de
Deus, o coração encontra abrigo no amor do Pai, segurança no Filho e guarda no
Espírito.
VERDADE
PRÁTICA
Acima de todo e qualquer método
humano, devemos confiar em Deus, único que pode nos dar a verdadeira paz e guardar
nossos sentimentos.
ENTENDA A VERDADE PRÁTICA
Nenhum método humano, por mais sábio ou moderno que pareça, é capaz de
aquietar o coração como o próprio Deus. Somente Ele, pela presença viva do
Espírito, pode conceder a paz que ultrapassa toda lógica e guardar nossos
pensamentos e emoções dentro do abrigo seguro que é Cristo Jesus.
LEITURA
BÍBLICA = Filipenses 4.4-7; Mateus 9.36; João 11.35,36.
Filipenses 4:4-7
4. Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos.
Bíblia de Estudo Pentecostal: A alegria cristã não depende das
circunstâncias, mas da comunhão com Cristo. Mesmo preso, Paulo demonstra que a
verdadeira alegria brota do Espírito, não das condições externas.
MacArthur: A ordem é contínua (“sempre”).
A alegria é fruto de uma confiança constante na soberania de Deus, uma escolha
fundamentada na fé, não em sentimentos passageiros.
Plenitude: Alegrar-se “no Senhor” é um ato
de fé. A expressão mostra que o foco da alegria está na pessoa de Cristo, não
nas situações.
Shedd: Paulo repete a exortação para
reforçar que a alegria é uma marca essencial da vida cristã madura, e que só é
possível “no Senhor”, fonte da verdadeira satisfação.
5. Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor.
Pentecostal: “Moderação” traduz a mansidão e
o equilíbrio que o Espírito produz (Gl
5.23). Essa virtude é testemunho vivo diante do mundo.
MacArthur: Indica paciência e bondade
diante da provocação. A consciência da proximidade do retorno de Cristo motiva
o crente à mansidão e à graça nas relações humanas.
Plenitude: A expressão “Perto está o
Senhor” pode referir-se tanto à sua presença constante quanto à sua vinda
iminente, ambas trazem consolo e equilíbrio emocional.
Shedd: O cristão que vive sob o senhorio
de Cristo reage com brandura, não com impulsividade. A consciência da presença
divina regula as emoções.
Moderação. Diz respeito a estar contente
tom os outros e ser generoso para com eles. Pode também se referir à
misericórdia e brandura para com as faltas e transgressões alheias. Pode até
mesmo se referir à paciência de alguém que suporta a injustiça ou maus-tratos sem
revidar. A benevolência com humildade inclui todas essas coisas. Perto. Pode se
referir à proximidade no espaço ou no tempo. O contexto sugere proximidade no
espaço; o Senhor rodeia todos os cristãos com sua presença (SL 119.151).
6. Não
estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo
conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças.
MacArthur: “Por coisa alguma” é uma
proibição absoluta. O apóstolo aponta o caminho da libertação emocional:
entregar tudo a Deus, com súplica e gratidão.
Ansiosos de coisa alguma. Afligir-se ou preocupar-se
indica falta de confiança na sabedoria, na soberania e no poder de Deus.
Deleitar-se no Senhor e meditar em sua Palavra são ótimos remédios para a
ansiedade (S11.2).
Em tudo. Iodas as dificuldades estão
dentro dos propósitos de Deus.
As vossas petições, pela oração
e pela súplica, com ações de graças. A gratidão a Deus acompanha toda oração
verdadeira.
Pentecostal: A ansiedade é substituída pela
confiança. Paulo ensina que toda emoção deve ser levada a Deus em oração, não
reprimida.
Plenitude: A oração sincera e contínua é o
canal pelo qual a alma aflita encontra alívio e transformação. A gratidão
demonstra fé na resposta divina.
Shedd: A inquietação é curada na
presença de Deus. A oração reordena o coração e substitui o temor pela
confiança.
7. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos
corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.
MacArthur: A expressão “guardará” (gr.
phrouresei) sugere vigilância militar. Deus cerca o crente com Sua paz,
impedindo que pensamentos e sentimentos sejam dominados por perturbação.
A paz de Deus. Deus é paz (Rm 16.20; Ef 2.14), produz a paz nos pecadores por meio de Cristo (2 Co 5.18-20) e concede a perfeita paz
durante os problemas. A calma interior ou tranquilidade é prometida para todos
os cristãos que têm uma atitude grata com base na inabalável confiança de que
Deus é capaz de fazer tudo o que for melhor para seus filhos e está disposto a
isso (Rm 8.28).
Excede todo o entendimento. Diz respeito à origem divina da
paz. Ela transcende a inteligência humana, as análises e as introvisões (Is 26.3; Jo 16.33).
Guardará. Um termo militar que significa
"continuar a manter guarda". A paz de Deus guarda os cristãos da
ansiedade da dúvida, do medo e da angústia,
Coração... mente. Paulo não estava fazendo uma
distinção entre os dois, ele estava apresentando uma abrangente afirmação
referente a toda pessoa interior. Devido à união do cristão com Cristo, ele
guarda o ser interior com sua paz.
Pentecostal: A paz divina é sobrenatural:
ela não depende da lógica humana. Atua como um “soldado” que protege o coração
e as emoções.
Plenitude: Essa paz é o resultado da
oração confiante. Ela não remove os problemas, mas garante equilíbrio e
descanso interior em meio a eles.
Shedd: É uma paz ativa, sustentadora,
que nasce da comunhão com Cristo. Ela governa mente e emoções, impedindo que o
medo e a ira reinem.
Mateus 9:36
36. E, vendo a multidão, teve grande compaixão deles, porque andavam
desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor.
MacArthur: A visão de Cristo revela empatia
e discernimento espiritual. Ele percebe a miséria interior da multidão, não
apenas suas carências externas.
Vendo ele as multidões,
compadeceu-se delas. Aqui, a humanidade de Cristo permitiu a expressão de sua atitude para
com os pecadores em termos de paixão humana. Ele foi movido de compaixão.
Conquanto Deus, que é imutável, não esteja sujeito a aumento, diminuição ou
mudança de emoções (Nm 23.19),
Cristo, que era plenamente humano, com todas as faculdades humanas, era às
vezes levado a lágrimas literais ao ver a situação dos peca dores (Lc 13.34; 19.41). O próprio Deus
expressou compaixão semelhante por meio dos profetas (Êx 33.19; SI 86.15; Jr 9.1; 13.17; 14.17).
Porque estavam aflitas e
exaustas. As
necessidades espirituais das pessoas eram ainda mais profundas do que sua
necessidade de cura física. Seriam necessários mais trabalhadores para
satisfazer a essa necessidade (v. 37).
Pentecostal: A compaixão de Cristo é
emocionalmente intensa (splagchnizomai no grego: “ser movido nas entranhas”).
Mostra um amor pastoral que sente a dor alheia.
Plenitude: O coração de Jesus é o modelo
de empatia divina. Sua compaixão o move à ação missionária, sentimento e missão
caminham juntos.
Shedd: Jesus não foi indiferente ao
sofrimento humano. Sua emoção aqui é santa, motivada pelo amor e pelo desejo de
restaurar. A
verdadeira espiritualidade sente o peso das almas perdidas. O coração
semelhante ao de Cristo nunca é frio nem indiferente.
João 11:35-36
35. Jesus chorou.
MacArthur: Jesus chorou. Aqui á palavra grega possui a
conotação de silenciosamente esvair-se em lágrimas, em contraste com o lamento
em voz alta do grupo (veja v. 33).
Suas lágrimas não foram geradas pelo luto, pois ele eslava para
ressuscitar Lázaro, mas pela dor em face do mundo caído, emaranhado pela
tristeza e morte causadas pelo pecado. Ele era “homem de dores e que sabe o que
é padecer" (Is 53.3).
36. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava.
Pentecostal: As lágrimas de Jesus revelam
sua perfeita humanidade. Ele se identificou com a dor humana sem perder sua
divindade.
MacArthur: O choro demonstra a mistura de
tristeza pela incredulidade e compaixão pela perda. Jesus sente profundamente,
mas sem pecado.
Plenitude: As lágrimas de Jesus são o ápice
da empatia divina, Ele chora não só por Lázaro, mas pela humanidade cativa da
morte.
Shedd: O amor de Cristo se expressa em
emoção pura e santa. Suas lágrimas são pregação viva: Deus sente conosco. O Cristo que
chorou também consola. Suas lágrimas nos ensinam que sentir não é fraqueza, é
sinal de amor verdadeiro.
INTRODUÇÃO
O coração humano é um campo de guerra. Nele, razão, emoção e vontade
travam batalhas silenciosas todos os dias. Pensamos, sentimos e escolhemos, e
cada uma dessas dimensões, quando desequilibrada, pode se tornar uma brecha por
onde a paz se esvai. Vivemos tempos em que a inteligência emocional virou
produto e a alma, mercadoria. O mundo fala sobre equilíbrio, mas ignora o único
fundamento capaz de sustentá-lo: a paz que vem de Deus (Fp 4.7).
A Bíblia não trata as emoções como inimigas, mas como expressões da
imagem divina impressa em nós. Jesus chorou (Jo 11.35), indignou-se (Mc
3.5), e teve compaixão (Mt 9.36).
Nele, a afetividade humana foi plenamente redimida e submetida à vontade do
Pai. É nesse ponto que a Escritura confronta nossa geração: uma geração que
aprendeu a sentir, mas desaprendeu a discernir. As emoções, quando não são
guiadas pelo Espírito, tornam-se ídolos internos que dominam pensamentos e
comportamentos (Rm 8.6-8).
O problema é que muitos cristãos confundem equilíbrio emocional com
repressão sentimental. Buscam técnicas de controle, mas não transformação. O
apóstolo Paulo, ao escrever aos filipenses, não prescreve um método
psicológico, mas uma rendição espiritual: “Não estejais inquietos por coisa
alguma [...] e a paz de Deus guardará vossos corações e sentimentos em Cristo
Jesus” (Fp 4.6-7).
O verbo “guardar” (grego phroureō) evoca a imagem de um soldado em
vigília, uma paz ativa, vigilante, que protege a mente e o coração do crente.
Essa guarda não é produzida por esforço humano, mas é fruto da presença divina
que excede (hyperechousa) todo o entendimento racional. Nossa tese nesta lição
é clara: somente uma afetividade submissa ao Espírito Santo pode experimentar a
verdadeira paz interior. Emoções e sentimentos não são pecaminosos em si
mesmos, mas quando desordenados, revelam um coração que perdeu o centro no Deus
da paz.
O desequilíbrio emocional não é apenas um sintoma psicológico, é um
sinal espiritual de distanciamento da comunhão com Cristo. Portanto,
aprenderemos aqui que o equilíbrio interior é impossível sem a graça
regeneradora que reorganiza a alma.
Analisaremos a afetividade humana como obra da criação divina,
entenderemos o papel das emoções e sentimentos na experiência espiritual, e
veremos como a paz de Deus, e não a autodisciplina emocional é o verdadeiro
escudo do coração.
Ao longo desta lição,
caminharemos por três trilhas
(1) compreender a estrutura afetiva do ser humano à luz das Escrituras;
(2) discernir a fronteira entre emoção, vontade e pecado; e
(3) descobrir como a presença de Cristo estabelece o domínio do Espírito
sobre nossos sentimentos. O objetivo não é apenas conhecer, mas ser curado.
Pois o Evangelho não promete anestesiar as emoções, promete santificá-las.
I. O HOMEM, UM SER AFETIVO
1. Propósitos do estudo. Há uma
ferida silenciosa se abrindo na alma da nossa geração. Nunca se falou tanto
sobre saúde mental, e, ainda assim, nunca estivemos tão fragmentados. Ansiedade
e depressão crescem como sombras que sufocam a esperança e, no meio desse
cenário, o cristão é chamado a enxergar o ser humano não pela lente da
psicologia secular, mas à luz da revelação divina.
A Bíblia nos ensina que o homem é uma unidade complexa de corpo, alma e
espírito (1Ts 5.23). Cada dimensão
dessa estrutura se entrelaça no propósito de glorificar a Deus.
Silas Queiroz (CPAD) lembra que “a verdadeira compreensão do homem só é
possível quando o vemos como um ser integral diante do Criador”.
Sem essa visão, o desequilíbrio é inevitável. Emoções, pensamentos e
decisões não são partes isoladas da experiência humana, mas expressões
entrelaçadas daquilo que somos diante de Deus. O termo “cardia” (καρδία), usado
no Novo Testamento, não se limita ao órgão físico, mas descreve o centro do
ser: o lugar onde se unem o pensar (noieo), o sentir (pathos) e o querer (thelō).
Jesus mesmo ordenou: “Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração,
de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças” (Mc 12.30). Aqui, o verbo “agapēseis”
(ἀγαπήσεις) “amarás” é uma convocação à integração total do ser sob o domínio
do amor divino. Quando pensamentos e sentimentos se desconectam da vontade de
Deus, nasce o caos interior. É o que Tiago descreve como a alma “dividida”
(dipsychos), instável em todos os seus caminhos (Tg 1.8). A teologia bíblica não separa mente e emoção, pois ambas
são domínios de adoração.
Gordon Fee observa que “o Espírito não anula as emoções humanas, mas as
redime, alinhando-as à mente de Cristo”.
Assim, entender o que sentimos e como pensamos é mais do que
autoconhecimento, é um ato de santificação. A mente transformada (Rm 12.2) gera emoções purificadas, e
ambas direcionam a vontade para o centro do propósito divino. Em Cristo,
pensar, sentir e agir tornam-se instrumentos de adoração. O salmista nos
convida a esta rendição integral: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo
o que há em mim bendiga o seu santo nome” (Sl 103.1).
Esse “tudo” abrange cada aspecto da existência: o raciocínio, as emoções
e as escolhas. Como afirma Anthony D. Palma, “a espiritualidade autêntica nasce
quando a mente compreende a verdade, o coração a ama e a vontade a pratica”. Em
tempos de colapso emocional, a Igreja é chamada a ensinar o caminho do
equilíbrio espiritual e mental, não através de fórmulas humanas, mas pela
restauração da alma diante de Deus. O ensino bíblico é o antídoto para uma
geração fragmentada. Que este estudo conduza cada discípulo a esse reencontro
com o Criador, em quem pensamento, emoção e vontade encontram perfeita
harmonia.
2.
Afetividade: emoções e sentimentos. Afetividade é o modo como nossa
alma responde ao mundo que a cerca. É a linguagem invisível do coração; aquilo
que nos faz sorrir, chorar, temer, esperar. Não é apenas um fenômeno
psicológico, mas uma expressão profunda da imagem de Deus em nós. O salmista
clamou: “Tem misericórdia de mim, Senhor, porque estou angustiado;
consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu corpo” (Sl 31.9).
Aqui, vemos que o ser humano sente com o corpo, sofre na alma e é tocado
em seu espírito. A Escritura mostra que até o próprio Jesus experimentou o
abalo das emoções humanas. “Turbou-se em espírito” (Jo 13.21) diz o texto grego etarachthē tō pneumati (ἐταράχθη τῷ
πνεύματι), indicando uma perturbação interior profunda. Cristo não foi movido
por desequilíbrio, mas por sensibilidade santa. Ele sentia plenamente, sem
pecar (Hb 4.15).
Suas emoções eram submissas à vontade do Pai e, por isso, revelavam a
perfeita humanidade redimida. Podemos compreender melhor essa dimensão afetiva
distinguindo entre emoções e sentimentos. As emoções (pathē, de onde vem
“paixão”) são respostas imediatas, quase instintivas, que surgem antes mesmo de
processarmos racionalmente o que está acontecendo, como o susto diante do
perigo ou a alegria inesperada de uma boa notícia.
Elas são intensas, mas passageiras. Já os sentimentos brotam das emoções
e permanecem por mais tempo. São mais conscientes, refletem o modo como
interpretamos e armazenamos o que vivemos.
Por isso, a gratidão, a solidão, o amor e a tristeza podem durar dias ou
anos. A Bíblia ilustra bem essa diferença: Jesus disse em Mateus 26.38: “A minha alma está profundamente triste até a
morte”. O termo usado é perilypos (περίλυπος) uma tristeza que envolve,
cerca e permanece.
Essas distinções nos ajudam a entender por que a afetividade humana
precisa ser redimida e guiada. Quando nossas emoções e sentimentos são
entregues ao controle do Espírito Santo, tornam-se instrumentos de crescimento
espiritual e não de destruição interior.
Gordon D. Fee observa que “o Espírito Santo não suprime as emoções, mas
as submete à mente de Cristo”.
Nossas emoções foram criadas por Deus, mas precisam ser educadas pela
sua Palavra. O apóstolo Paulo expressa esse equilíbrio quando fala de sua
própria dor: “Tenho grande tristeza e contínua dor no coração” (Rm 9.2).
Mesmo sentindo profundamente, ele mantinha o coração cativo à missão e à
verdade do Evangelho. Ser emocional não é fraqueza; é humanidade. A fraqueza
está em permitir que as emoções nos dominem em vez de nos servirem. A vida
cristã madura não elimina os sentimentos, ela os redireciona. Quando o Espírito
Santo governa o interior, o crente aprende a sentir com pureza, reagir com
sabedoria e amar com propósito. Como Maria, cuja alma engrandeceu ao Senhor e
cujo espírito se alegrou em Deus (Lc
1.47), somos chamados a viver uma afetividade santificada, onde cada emoção
se torna um cântico de adoração.
3.
Principais afetos. Deus criou o ser humano com a capacidade de
sentir. Alegria, medo, raiva, surpresa, nojo e tristeza formam o alicerce da
vida emocional: seis emoções básicas que nos conectam à experiência de existir.
Cada uma delas, quando despertada, provoca reações físicas imediatas: o coração
acelera, a respiração muda, os músculos se contraem e até o estômago se revira.
O corpo fala aquilo que a alma sente. A primeira emoção registrada nas
Escrituras é a alegria. Quando Adão viu Eva pela primeira vez, seu coração
transbordou: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23). No hebraico, a expressão traz
uma exclamação de surpresa admirada, um júbilo espontâneo, cheio de deleite e
encantamento. Era a alegria do encontro perfeito, da comunhão sem culpa.
O versículo seguinte declara: “E ambos estavam nus, o homem e sua
mulher, e não se envergonhavam” (Gn
2.25).
Havia pureza emocional, inocência e transparência, o reflexo da harmonia
entre alma e espírito sob a presença de Deus. Mas o pecado quebrou essa ordem.
Ao desobedecer, o casal experimentou algo inédito: o medo. “Ouvi a tua voz
no jardim e temi, porque estava nu” (Gn
3.10).
O verbo hebraico yare’ (יָרֵא) traduz um medo que paralisa, uma sensação
de perigo existencial. A emoção, que antes servia para proteger, tornou-se um
sinal da ruptura espiritual. A vergonha e o pavor substituíram a alegria. As
reações físicas foram imediatas: perceberam a nudez, cobriram-se e
esconderam-se de Deus (Gn 3.7).
A partir daí, as emoções humanas passaram a carregar a marca da queda. A
tristeza e a dor tornaram-se companheiras constantes da humanidade. Deus
declarou: “Multiplicarei grandemente a tua dor” (Gn 3.16), e ao homem disse: “Maldita é a terra por tua causa;
com dor comerás dela todos os dias da tua vida” (Gn 3.17).
O termo hebraico itzavon (עִצָּבוֹן), traduzido por “dor” ou “tristeza”,
também pode significar “sofrimento emocional profundo”. Essa palavra descreve
não apenas o peso físico do trabalho, mas o sofrimento interno do coração
humano diante de um mundo agora quebrado. A expulsão do Éden marcou o início da
angústia humana (Gn 3.23).
A separação de Deus não foi apenas geográfica, mas afetiva. O
relacionamento direto com o Criador, que gerava segurança e paz, deu lugar à
insegurança e ao vazio interior. O homem passou a sentir falta de algo que nem
sempre sabe nomear: a presença de Deus.
Contudo, o Evangelho revela que Cristo veio restaurar também nossas
emoções. Ele sentiu o peso da tristeza no Getsêmani, chorou diante da morte e
se alegrou na comunhão com o Pai. Em Jesus vemos a redenção da afetividade:
emoções humanas guiadas pela santidade divina.
French L. Arrington lembra que “o Espírito Santo atua não apenas na
mente, mas também nas emoções, curando o interior e restaurando a imagem de
Deus no homem”.
Viver espiritualmente equilibrado é aprender a sentir como Cristo sente
— reagindo à vida sem negar a dor, mas também sem ser dominado por ela.
O Espírito Santo nos ensina a transformar medo em fé, raiva em zelo
santo, tristeza em arrependimento e alegria em adoração.
4. Inveja,
ira e ódio. As emoções podem ser como faíscas: pequenas,
rápidas, mas capazes de incendiar toda uma vida se não forem controladas. Caim
é um retrato trágico dessa verdade. Quando viu que Deus se agradara da oferta
de Abel e rejeitara a sua, algo em seu interior se rompeu. “Irou-se
sobremaneira Caim, e descaiu-lhe o semblante” (Gn 4.5).
O texto hebraico usa a expressão vayihar leqain me’od (וַיִּחַר לְקַיִן
מְאֹד) literalmente, “a ira de Caim se acendeu intensamente”. A ira, que começou
como uma emoção momentânea, logo se transformou em um sentimento enraizado: o
ódio. O rosto caído de Caim era o espelho de sua alma. A emoção tomou forma
visível. Deus o advertiu com amor: “Por que andas irado, e por que descaiu o
teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito?” (Gn 4.6–7).
O Senhor revela aqui um princípio espiritual profundo: as emoções não
são pecado em si mesmas, mas tornam-se destrutivas quando dominam a vontade. No
hebraico, a palavra chatat (חַטָּאת), traduzida por “pecado”, é descrita como
um animal “deitado à porta”, pronto para atacar. O Senhor mostra que as emoções
desgovernadas podem abrir a porta ao domínio do pecado. A inveja de Caim o
cegou. Ele comparou o valor de sua oferta ao de seu irmão e, em vez de corrigir
o coração, alimentou o ressentimento.
A emoção se transformou em rancor, e o rancor, em homicídio. Assim, o
primeiro assassinato da história começou dentro da alma antes de se concretizar
no campo. O ódio amadurecido pela inveja é o ápice da corrupção emocional. Após
o crime, vieram as consequências: culpa e medo. Deus pergunta: “Onde está
Abel, teu irmão?” (Gn 4.9), e o
silêncio de Caim revela o abismo interior. O sangue de Abel clama da terra (Gn 4.10), e o homem que antes
trabalhava o solo agora o teme. Sua punição é viver errante e inseguro. “Todo
aquele que me encontrar me matará” (Gn
4.14).
O medo substitui a ira, e a alma se torna cativa da própria consciência.
Caim é o exemplo vívido do que acontece quando não deixamos o Espírito Santo governar
nossos afetos.
Como lembra French L. Arrington, “emoções não redimidas se tornam portas
abertas para a ação do maligno”.
A ira não controlada gera destruição; a inveja corrói em silêncio; o
ódio mata primeiro por dentro. O Espírito Santo, porém, oferece o fruto do
domínio próprio (Gl 5.22–23), que
não é repressão, mas transformação. Todo crente é chamado a vencer a Caim dentro
de si — aquela voz que quer justificar ressentimentos, comparações e feridas. A
cruz é o altar onde nossas emoções encontram redenção. Quando o amor de Cristo
é entronizado no coração, até as paixões mais intensas se tornam servas da
graça.
II. EMOÇÕES: EXPERIÊNCIA E CONTROLE
1.
Reação e decisão. As emoções são como o vento: surgem de repente,
movem tudo ao redor e, muitas vezes, desaparecem sem aviso. Elas fazem parte da
estrutura da alma humana e são evidência de que fomos criados à imagem de um
Deus que sente, ama e se ira com justiça. Mas há uma diferença entre sentir e
decidir. Sentir é natural; decidir é espiritual. Nem toda emoção é pecado. Há
reações que escapam ao nosso controle: um susto, uma lágrima, um impulso de
raiva.
Essas respostas fazem parte do corpo e da alma, e não são moralmente
condenáveis em si mesmas. O problema começa quando deixamos a emoção governar a
vontade. É nesse ponto que a reação se transforma em decisão moral. O apóstolo
Paulo, ao escrever aos efésios, foi direto: “Irai-vos e não pequeis; não se
ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef
4.26).
No original grego, o verbo orgízesthe (irai-vos) está no imperativo
presente, uma ordem que admite a emoção, mas coloca sobre ela um limite. Paulo
não diz “não sintam ira”, e sim “não permitam que ela produza pecado”. O
domínio próprio (enkrateia) é fruto do Espírito (Gl 5.22-23), não uma repressão fria das emoções, mas o controle
redimido do coração sob o governo de Cristo. A ira é uma força bruta da alma.
Quando nasce, ela clama por expressão. Mas se não for submetida à cruz, se
transforma em amargura, ressentimento e destruição. Paulo continua: “Nem
deis lugar ao diabo” (Ef 4.27).
A palavra grega topos, traduzida como “lugar”, significa literalmente
espaço, território. Cada vez que alimentamos emoções pecaminosas, abrimos
terreno para o inimigo agir dentro de nós. O diabo não precisa invadir corações
fechados; ele entra por brechas emocionais abertas. É por isso que o mesmo
apóstolo adverte: “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira” (Ef 4.31).
Ele nos ensina que a emoção pode surgir, mas não deve permanecer. O que
começa como impulso não pode se tornar habitação. Permanecer irado é construir
um altar para a carne.
E aquele que insiste em justificar seus arroubos dizendo “eu sou assim
mesmo” está, na verdade, negando o poder transformador da regeneração (Rm 8.13; 2Co 5.17).
Em Cristo, o velho homem foi crucificado, inclusive com suas reações
descontroladas. O Espírito Santo não anula nossa afetividade, Ele a purifica.
Quando o crente se submete ao Espírito, aprende a sentir sem pecar, a reagir
sem ferir, a se indignar sem destruir. Emoções redimidas não produzem culpa;
produzem maturidade.
Como ensinou Silas Queiroz, o ser humano é um todo integrado (corpo,
alma e espírito) e é neste entrelaçamento que as emoções acontecem.
O corpo reage, a alma sente, e o espírito discerne. Quando a Palavra de
Deus governa esse processo, a emoção deixa de ser ameaça e se torna ferramenta
de crescimento.
O Espírito Santo não quer eliminar nossas emoções, mas conduzi-las à
santidade. Por isso, aprender a dominar as reações é parte da vida cristã
prática. Jesus sentiu tristeza, indignação e compaixão, mas jamais pecou. Ele
chorou, mas não murmurou. Se indignou, mas sempre com justiça. O cristão que o
segue deve aprender o mesmo caminho: reconhecer o que sente, submeter o coração
à Palavra e deixar que o Espírito transforme o impulso em sabedoria.
Como você reage quando é ferido, frustrado ou contrariado?
Suas reações revelam domínio próprio ou ressentimento velado?
Que o Espírito Santo nos ensine a transformar cada emoção em oração, e
cada reação em oportunidade de crescer à semelhança de Cristo.
2. Emoção
e pecado. Nem toda emoção nasce do pecado, mas toda emoção pode se tornar porta de
entrada para ele. As reações que brotam do coração humano são como faíscas,
pequenas, rápidas, às vezes inevitáveis. Mas se alimentadas, transformam-se em
incêndios. A Bíblia não ignora o poder das emoções. Pelo contrário, revela como
elas podem tanto expressar a santidade quanto expor as feridas da alma. Raiva,
inveja e tristeza não são neutras quando enraizadas num coração corrompido.
Jesus afirmou que “do coração procedem os maus pensamentos, homicídios,
adultérios...” (Mt 15.19).
O termo grego usado para coração, kardía, não se refere apenas ao órgão
físico, mas ao centro da vontade e das emoções humanas. Assim, uma emoção
persistente pode ser a sombra de um pecado não tratado, um reflexo do coração
que ainda não foi plenamente rendido ao Espírito Santo. O orgulho, por exemplo,
é o solo fértil onde brotam emoções destrutivas. Nabal é o retrato vivo desse
tipo de coração. Era insensato, ingrato e arrogante. Sua resposta áspera a Davi
(1Sm 25.10,11) não foi apenas uma má
atitude, mas a expressão emocional de um coração endurecido pela soberba.
O texto hebraico descreve Nabal como um homem de “mau caráter”
(beliyyaʿal), termo usado para pessoas moralmente corrompidas e espiritualmente
cegas. A reação emocional foi apenas o sintoma de uma enfermidade espiritual
mais profunda. Davi, por outro lado, representa o oposto. Mesmo ferido e
injustiçado, submeteu suas emoções ao controle divino. Ele orava: “Livra o teu
servo das transgressões intencionais, para que elas não me dominem” (Sl 19.13).
No hebraico, a palavra “dominar” (māshal) transmite a ideia de governar,
exercer autoridade.
Davi compreendia que emoções desgovernadas têm o poder de se tornar
senhores do coração, usurpando o trono que pertence a Deus. É por isso que a
Escritura insiste na vigilância interior. O apóstolo Paulo ensina que “as obras
da carne” (érga tês sarkós) incluem “inimizades, ciúmes, iras e discórdias” (Gl 5.20).
A carne, isto é, a natureza humana sem o governo do Espírito, sempre
reagirá de forma emocionalmente desequilibrada. Mas o crente cheio do Espírito
Santo experimenta o fruto do domínio próprio (enkráteia), que significa
literalmente “força interior”. Esse domínio não é repressão emocional, mas
transformação interior pela graça. As emoções são dons divinos, mas precisam
ser redimidas.
Quando guiadas pelo Espírito, tornam-se instrumentos de virtude: a ira
se transforma em zelo santo, a tristeza em arrependimento, o medo em
reverência. O problema não é sentir, e sim permitir que o sentir governe o ser.
O cristão maduro não nega suas emoções; ele as entrega a Deus para serem
santificadas. Hoje, o Espírito Santo te convida a examinar o coração. Que
emoções têm moldado suas reações? O orgulho, a inveja, a raiva? Ou o amor, a
mansidão e a fé? Não basta conter as explosões; é preciso curar a fonte. E a
cura começa quando o coração se rende completamente ao governo de Cristo. Que a
nossa oração seja a de Davi: “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova
em mim um espírito estável” (Sl
51.10).
3. O
aspecto positivo das emoções. Nem todas as emoções devem ser
combatidas; muitas precisam apenas ser compreendidas e redimidas. Deus nos
criou com a capacidade de sentir, e isso não foi um erro do Criador. O mesmo
coração que treme de medo é capaz de se encher de compaixão; o mesmo que chora
também é o que adora. Emoções não são inimigas da fé, mas parte essencial da
nossa humanidade redimida em Cristo. O medo, por exemplo, é uma das emoções
mais instintivas e, ao mesmo tempo, mais úteis que possuímos. Quando surge, ele
desencadeia no corpo uma descarga de adrenalina, preparando o organismo para
reagir, lutar ou fugir. É o mecanismo que protege a vida, preserva a
integridade e desperta a vigilância. A ausência total do medo não é sinal de
coragem, mas de imprudência. Deus colocou essa emoção em nós como um sinal de
alerta que, quando santificado, se transforma em sabedoria.
O salmista entendeu isso ao dizer: “O
temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111.10). Note que há
diferença entre o medo natural e o temor santo.
No grego, a palavra usada em várias passagens é phobos, que pode
significar tanto pavor quanto reverência. O Espírito Santo transforma o medo
destrutivo em phobos theou temor de Deus, que não paralisa, mas conduz à
adoração e à obediência. Assim, o medo é redimido e realinhado ao propósito
divino. Jesus, nosso perfeito modelo de humanidade, também viveu intensamente
as emoções. Ele não as negou, mas as expressou de modo santo e equilibrado.
Sentiu compaixão das multidões aflitas (Mt 9.36), chorou diante do túmulo de Lázaro (Jo 11.35-36), e até se irou com justa indignação ao ver a casa do
Pai transformada em comércio (Mt 21.12;
Mc 3.5).
O verbo grego usado para “indignou-se” é orgizō, que denota uma ira
moralmente correta, uma reação de zelo diante da profanação do sagrado. Cristo
demonstrou que sentir não é pecado; o pecado é permitir que as emoções nos
afastem do caráter de Deus. Nossos afetos, portanto, são como rios: podem
fertilizar ou devastar, dependendo de quem os governa. Nas mãos do Espírito
Santo, emoções tornam-se instrumentos de virtude. A tristeza pode gerar
arrependimento (2Co 7.10); a ira
pode se tornar zelo pela justiça (Ef
4.26); o medo pode se converter em sabedoria espiritual. Mas sem o controle
divino, essas mesmas emoções se distorcem, tornando-se portas abertas para a
carne e o pecado.
Por isso, a maturidade espiritual não é ausência de emoção, mas domínio
delas. O fruto do Espírito inclui o “domínio próprio” (enkráteia), que é força
interior para canalizar as emoções ao serviço de Deus (Gl 5.23).
Quem é guiado pelo Espírito não é alguém insensível, mas alguém
profundamente humano, cuja alma foi disciplinada pela graça. Hoje, permita que
o Espírito Santo te ensine a sentir com santidade. Não sufoque suas emoções,
mas consagre-as. O mesmo Deus que te fez chorar te capacita a sorrir novamente.
Ele não apaga tuas emoções, mas as purifica, para que cada sentimento se torne
uma expressão do amor d’Aquele que te criou para viver plenamente, em corpo,
alma e espírito.
III. SENTIMENTOS GUARDADOS POR DEUS
1. A falsa autonomia humana. Inteligência
emocional é a capacidade de reconhecer, entender e gerenciar emoções, tanto as
próprias quanto as dos outros, enquanto a gestão emocional é o conjunto de
práticas e ferramentas usadas para controlar e regular as próprias emoções.
Em suma, a inteligência emocional é a habilidade que possibilita a
gestão emocional, ou seja, a inteligência emocional é a capacidade, e a gestão
emocional é a aplicação dessa capacidade. Sua melhor definição seria: A
habilidade de perceber, compreender, usar e gerenciar emoções para orientar
pensamentos e ações de forma eficaz. Envolve a consciência sobre as próprias
emoções e a habilidade de interagir com os sentimentos de outras pessoas de
forma empática e construtiva.
Pode ser dividida em quatro pilares
1. Autoconsciência
2. Autogerenciamento (gestão das emoções)
3. Consciência social (empatia)
4. Gestão de relacionamento (sociabilidade)
Já sobre Gestão emocional, a melhor definição seria: A prática de
controlar e regular os próprios sentimentos e reações emocionais. Como um
indivíduo age e responde às situações com base em sua inteligência emocional.
Exemplos de ações:
- Controlar a impulsividade e a raiva.
- Lidar com a pressão e o estresse.
- Mudar de posição física para aliviar a tensão.
- Usar a empatia para resolver conflitos de forma construtiva, em vez de
reativa.
Feitas estas considerações, precisamos entender que, vivemos em uma
geração que acredita poder dominar até mesmo aquilo que é invisível dentro de
si: as emoções. Multiplicam-se cursos, palestras e livros sobre “inteligência
emocional” e “autogestão dos sentimentos”. E, de fato, algumas dessas
abordagens podem oferecer certa ajuda prática, pois reconhecem que o ser humano
é um ser complexo, sujeito a pressões e crises. No entanto, há um limite que
nenhuma técnica pode ultrapassar: o coração humano é, por natureza, enganoso e
corrupto. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9).
A verdadeira tragédia não está apenas nas emoções descontroladas, mas na
ilusão de que o homem pode controlá-las sozinho. Essa é a raiz da falsa
autonomia, a crença de que podemos ser senhores de nós mesmos, ignorando o
Criador.
O texto de Jeremias 17.5 ecoa
como um alerta solene: “Maldito é o homem que confia no homem, que faz da
carne mortal o seu braço e cujo coração se afasta do Senhor.”
Toda confiança deslocada de Deus para o próprio “eu” é idolatria
emocional disfarçada de autoconfiança. O que o mundo chama de “inteligência
emocional” muitas vezes é apenas uma tentativa sofisticada de mascarar o
pecado. Em vez de buscar arrependimento, busca-se controle; em vez de rendição,
autocontenção. O problema, porém, não está na emoção em si, mas na fonte de onde
ela brota. Jesus ensinou que “do coração procedem maus pensamentos, homicídios,
adultérios, imoralidades sexuais, furtos, falsos testemunhos e calúnias” (Mt 15.19).
As emoções não são inimigas, são espelhos. Revelam o que domina o
coração. Por isso, a verdadeira inteligência espiritual não está em reprimir
sentimentos, mas em submeter o coração à graça redentora de Cristo. É o
Espírito Santo quem nos transforma “de glória em glória” (2Co 3.18), produzindo domínio próprio, mansidão, paz e amor,
frutos que não vêm de técnicas, mas de comunhão.
O homem que tenta ser autossuficiente emocionalmente constrói castelos
de areia. Mais cedo ou mais tarde, as ondas da dor, do fracasso ou da culpa
virão, e tudo desmoronará. Mas aquele que confia no Senhor, e não em si mesmo,
permanece firme como o monte de Sião (Sl
125.1).
O controle que o Evangelho oferece não é o da razão sobre a emoção, mas
o do Espírito sobre o coração. Somente sob o senhorio de Cristo nossas emoções
encontram lugar, propósito e equilíbrio. Porque onde o Espírito do Senhor está,
aí há liberdade, inclusive a liberdade de não precisar mais fingir que somos
invencíveis.
2.
Obediência, humildade e oração. Obediência, Humildade e Oração:
O Caminho para a Paz que Guarda o Coração (Fp
4.7). A paz de Deus não é uma ideia abstrata. Paulo a descreve como uma
força viva que “guarda” (phroureó), verbo militar no grego que significa
vigiar, proteger com sentinelas armadas. Assim, a paz de Deus é um sentinela
espiritual, postado à porta da mente e do coração, impedindo que as emoções se
tornem reféns das circunstâncias. Essa paz não nasce da ausência de problemas,
mas da presença constante de Cristo no interior do crente (Jo 14.27).
O apóstolo não fala de uma serenidade produzida por técnicas de controle
emocional, mas de uma ação sobrenatural do Espírito. Essa paz excede
(“hyperechousa”) o entendimento humano, ou seja, transcende o raciocínio
natural, pois sua origem está no próprio Deus. Ela atua em uma dimensão onde a
lógica falha e a fé assume o governo da alma (Is 26.3). Contudo, essa experiência não é automática. Paulo revela
o caminho para essa guarda espiritual: obediência, humildade e oração.
No capítulo 2, ele apresenta o exemplo de Cristo, que, sendo em forma de
Deus, “esvaziou-se” (ekenōsen) de sua glória, tornando-se servo. Essa kenosis
não foi perda de divindade, mas renúncia voluntária de privilégios, mostrando
que a verdadeira humildade não é fraqueza, mas poder sob controle (Fp 2.3-8).
O discípulo que aprende com Cristo o caminho da obediência, aprende
também a viver em paz. Na prática, essa obediência se traduz em submissão
interior à vontade divina. Quando Paulo exorta os filipenses a terem “o mesmo
sentimento” (to auto phronein), ele fala de unidade afetiva e espiritual, onde
o ego é crucificado e os interesses pessoais cedem lugar ao bem comum (Fp 2.2-4).
A mente que se humilha diante de Deus é também a mente que experimenta
descanso, pois não precisa mais lutar pelo controle da própria vida. A oração,
então, é o respiro da alma que confia.
Em Fp 4.6, Paulo orienta: “Não
andeis ansiosos por coisa alguma, antes as vossas petições sejam em tudo
conhecidas diante de Deus”.
O verbo “merimnate” (andar ansioso) significa dividir a mente. É a
imagem de uma alma partida entre fé e medo. A oração cura essa cisão interior,
reunindo a mente dispersa e alinhando o coração à vontade divina. Quando a
oração se une à ação de graças, algo extraordinário acontece: a paz se instala
como resultado, não como objetivo. Não é a oração que compra a paz, mas a
entrega que a libera. Paulo não diz “para que a paz venha”, mas “e a
paz de Deus guardará”. A conjunção kai conecta a oração e a gratidão como
causa direta dessa operação sobrenatural (Fp
4.7).
O verdadeiro cristão, portanto, não vive refém das emoções, mas
governado pela paz. Ele aprende, como disse Antônio Gilberto, que “a emoção
deve ser servo do Espírito e nunca seu senhor”.
Assim, obediência, humildade e oração não são
disciplinas isoladas, mas três trilhas convergentes que conduzem à fortaleza
interior onde Cristo reina e onde o coração finalmente descansa. Se há
turbulência em sua alma, volte-se à cruz. Submeta-se à vontade do Pai, ore com
gratidão e permita que a paz de Deus, como um exército celestial, guarde sua
mente e seus sentimentos em Cristo Jesus.
CONCLUSÃO
Nenhum ser humano é capaz de dominar plenamente suas emoções apenas pela
força da vontade. A Bíblia revela que o coração é “enganoso e desesperadamente
corrupto” (Jr 17.9), e por isso, o
autocontrole genuíno não nasce do esforço humano, mas da ação transformadora do
Espírito Santo.
Paulo ensina que o fruto do Espírito inclui “temperança” (enkráteia),
termo grego que significa autodomínio sob governo divino (Gl 5.22-23).
Em outras palavras, só o Espírito pode ordenar o caos interior. Enquanto
o mundo tenta controlar as emoções pela mente, o cristão aprende a submeter as
emoções ao senhorio de Cristo. O segredo não está em reprimir sentimentos, mas
em redimi-los sob a influência do Espírito. É Ele quem disciplina o coração,
suaviza a ira, purifica a tristeza e converte o medo em reverência.
Quando o crente anda “no Espírito” (Gl
5.16), cada emoção encontra seu lugar e propósito, e o que antes dominava
passa a ser dominado. A vida cheia do Espírito não é uma existência sem emoção,
mas uma emoção santificada. É o equilíbrio entre o sentir e o crer, entre a
alma e o Espírito, onde o coração não dita o rumo, mas segue o compasso da
vontade divina.
Assim, humildade e fé tornam-se o solo fértil onde o Espírito Santo
produz paz, mansidão e domínio próprio. Portanto, a verdadeira maturidade
espiritual não consiste em eliminar as emoções, mas em permitir que o Espírito
Santo seja o Maestro da alma. Quando Ele governa, a tristeza se transforma em
consolo, a raiva em zelo santo, e a ansiedade em confiança. É nesse domínio
gracioso que experimentamos o que Paulo chama de “a paz de Deus que guarda o
coração” (Fp 4.7).
Se desejamos equilíbrio emocional, precisamos primeiro nos render. Não é
controle que precisamos, é rendição. Não é resistência, é dependência. Só o
Espírito pode produzir em nós o que a carne jamais conseguirá: um coração
governado por Deus. Concluímos, então, extraindo desta preciosa lição, três
aplicações práticas para a vida do aluno:
1. Submeta suas emoções ao
senhorio de Cristo. Antes de tentar controlar o que sente, entregue o coração Àquele que o
criou. As emoções humanas não foram feitas para governar, mas para servir. O
Espírito Santo não apenas consola, Ele disciplina o interior. Quando nos
rendemos à Sua direção, a ira perde força, o medo se converte em fé e a
ansiedade dá lugar à paz. A verdadeira vitória emocional não está em dominar,
mas em ser dominado por Deus (Fp 4.7).
2. Cultive hábitos espirituais
que alimentem a paz. A paz de Deus não surge no vazio. Ela floresce em corações nutridos pela
oração, pela Palavra e pela comunhão. Cada oração é uma entrega, cada leitura
bíblica, um realinhamento da alma ao propósito divino. Faça da sua rotina
emocional um altar, onde você aprende a substituir reações impulsivas por
respostas espirituais (Fp 4.6; Cl 3.15).
3. Exercite o domínio próprio
como fruto do Espírito, não como esforço pessoal. O domínio próprio (enkráteia) é
resultado da habitação do Espírito, não da rigidez da carne. Quando tentamos
controlar tudo, caímos na exaustão; mas quando confiamos no Espírito, vivemos o
equilíbrio. Antes de reagir a qualquer emoção intensa, ore: “Senhor, governa
meu coração agora”. Essa oração simples abre espaço para que o Espírito molde seu
caráter e manifeste Cristo em suas reações (Gl
5.22-23).
UMA ABENÇOADA AULA
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