ADMINISTRAR CONFLITOS, UMA QUESTÃO DE MATURIDADE
Ninguém pode negar a existência dos conflitos. Eles são reais em todos os segmentos da vida. Todavia, esta nunca foi a vontade do Deus Eterno, o nosso Criador. Ao criar o ser humano, Deus o fez com propósito de que o homem, a mulher e seus descendentes vivessem em harmonia e equilíbrio espiritual, emocional, físico e material, e desfrutassem do amor, alegria, paz, saúde, prosperidade e segurança. Porém, o primeiro casal – Adão e Eva -, desobedeceu às orientações que Deus lhe havia transmitido: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gêneses 2:16,17). Com a desobediência, o pecado foi gerado e as suas consequências nefastas contaminaram todo ser vivente, inclusive a fauna e a flora (Gênesis 3:17).
A partir da entrada do pecado no mundo, o ser humano desenvolveu emoções como o medo, a vergonha, a culpa, a raiva, o ódio e a rejeição. Ao serem questionados por sua postura equivocada, Adão e Eva não assumiram os seus erros. O homem acusou a mulher, esta, por sua vez acusou a serpente. Surgiu entre o primeiro casal o espírito de acusação, que originou os conflitos.
Enquanto a natureza pecaminosa estiver em evidência, jamais deixará de existir conflitos entre as pessoas. Temos necessidade de sermos aceitos pelos outros, mas, inevitavelmente, surgem desacordos, pois somos todos diferentes uns dos outros. Cada um tem suas histórias, valores, crenças e hábitos peculiares. Com determinadas pessoas nossa relação é o próprio “paraíso” na terra. Com outras, é o verdadeiro “inferno”, em termos de agonia e desentendimento.
Assim, ao longo de toda a vida, colidiremos com aqueles aos quais estamos ligados de maneira intima na família, no trabalho, no circulo de amizades ou na igreja. O conflito, normal e inevitável, manifesta-se no tempo e no espaço. Sempre houve e haverá motivos para conflitos em todas as áreas de nossa vida.
Nunca se falou tanto em conflitos como nos dias pós-modernos em que vivemos!
O ser humano está mais egoísta e ególatra; é amante de si mesmo, soberbo e orgulhoso (2Tm 3:1-3); quer “ser igual a Deus”, demonstrando, assim, toda a sua rebeldia contra a soberania do Senhor. Uma das principais conseqüências deste comportamento é o da recusa em aceitar valores morais absolutos, valores estes indicados pelo próprio Deus quando da criação do homem. Uma sociedade, como a do mundo de hoje, que se recusa a aceitar a Deus, é uma sociedade onde não haverá como se estabelecer uma noção do que é certo e do que é errado e, por isso, é uma sociedade que caminha, cada vez mais, para o relativismo moral, onde a única máxima existente é a de que “tudo é relativo”.
Sob um discurso de tolerância e de liberdade, o mundo hodierno defende a idéia do "relativismo moral”, ou seja, nega que haja padrões de comportamento válidos para todos os homens, independentemente da época, da cultura ou da vontade de cada ser humano. Dentro deste pensamento, não é considerado exigível dos homens qualquer conduta estabelecida "a priori" por quem quer que seja. Deste modo, entende-se que não possa ser imposto qualquer comportamento a qualquer homem, sendo "fanáticos" e "intolerantes" aqueles que assim não entendem.
Entretanto, este tipo de pensamento é antibíblico, porquanto é mera conseqüência do pecado do homem, da sua recusa em obedecer a Deus e à ética estabelecida pelo Criador dos céus e da terra. Não se pode negar a liberdade de cada indivíduo de viver conforme a sua vontade, pois o livre-arbítrio foi dado ao homem pelo próprio Deus, mas não resta dúvida de que existe uma ordem universal instituída por Deus e que esta ordem deve ser observada pelo homem. Portanto, existe, sim, uma conduta que deve ser perseguida pelo ser humano, que é a conduta determinada por Deus, por Ele revelada em sua Palavra, que deve ser a nossa única regra de fé e prática. Ao contrário do que se diz no mundo, existe, sim, um padrão universal de conduta, que independe de cultura, de época ou da vontade de cada ser humano: o padrão bíblico, o padrão estabelecido por Deus e revelado ao homem por sua Palavra.
Vivemos dias de intolerância absoluta. Os fóruns e tribunais estão abarrotados dos mais variados processos, aumentando, ainda mais, a lentidão da justiça, em grande parte porque as pessoas não têm mais tolerância umas com as outras e, nesta intolerância, nesta incapacidade de diálogo e de concessões, acabam por bater à porta do Poder Judiciário, para resolver os seus conflitos. Na própria igreja, vemos os irmãos não se tratando como tal, mas competindo e concorrendo entre si e, não raro, levando litígios e conflitos internos da comunidade, da igreja local, para as barras dos tribunais, num triste espetáculo e escândalo diante dos infiéis.
Lares desfazem-se a cada dia porque marido e mulher não se toleram, nem têm qualquer tolerância com o outro. Logo alegam, por questões de somenos importância, uma “incompatibilidade de gênios”, arrumam suas malas e vão cada um para um lado, dando mais pontos para a intolerância.
Nações não se entendem e, apesar de estarem na “nova ordem mundial”, não aceitam negociar, nem incentivam as negociações, logo entrando em conflitos armados ou apelando para os tribunais internacionais.
O cristão, porém, não pode se envolver neste “mar de intolerância”, se é que está ligado à videira verdadeira. Alguém poderá dizer: Não existe aqui na terra igreja perfeita, pois ela é constituída de pessoas com personalidades, temperamentos e formação cultural diferentes. Isso é verdade! Somos pessoas diferentes e muitas vezes teremos pontos de vista distintos e preferências divergentes.
Assim sendo, o conflito é inevitável numa comunidade. Mas, quando o conflito surgir é preciso ser administrado, controlado, afim de que não se desenvolva numa sequência mortal como esta: discordância, discussão, contenda, divisão, guerra, demandas judiciais. O conflito é como o fogo! Se perdermos o controle sobre ele, então tudo pode ser destruído repentinamente. É neste momento que a maturidade cristã entra em ação.
A bíblia diz que "ao servo do Senhor não convém contender, mas ser manso para com todos” (2Tm 2:24). Caso cheguemos ao nosso limite, tenhamos cuidado para que o fogo não se alastre. Analise a causa do conflito antes de começá-lo. Quanto vale a nossa paz e a tranquilidade da nossa consciência? Algumas pessoas acham que sempre devem brigar por seu direito. É o que ocorria com os cristãos da igreja de Corinto.
Os conflitos interpessoais são como o atrito entre as peças de um motor em funcionamento. O que podemos fazer para reduzir esse atrito e minimizar seus efeitos negativos? Lubrificar o motor. O óleo é um símbolo bíblico do Espírito Santo. Precisamos dessa unção em nossas vidas. Assim, quando formos atacados por alguém, teremos uma palavra mansa para aplacar-lhe o furor. Teremos o amor do Senhor em nossos corações, o qual produzirá sempre uma pré-disposição de aceitar os irmãos. Então, não haverá entre nós barreiras, muitas das quais se formam sem a menor razão.
A operação do Espírito Santo será o antídoto contra as antipatias gratuitas e desmotivadas, e também o remédio para as mágoas e as inimizades. Esta unção nos torna capazes de renunciar, de negar a nós mesmos, considerando que o nosso irmão é superior (Fp 2:3), é digno de todo o nosso respeito e de todo o nosso apreço. Parece até que estamos falando de uma utopia, contudo, esse estilo de vida é a proposta de Deus para nós, afim de que não sejamos um reino dividido, mas um corpo que, unido por juntas e medulas possa crescer na presença do Senhor (Ef 4 16).
O apóstolo Paulo nos orienta que, algumas vezes, em determinados casos, é melhor o cristão sofrer algum dano do que criar uma disputa (1Co 6:7). Afinal, não foi isso que Cristo ensinou, quando falou em "dar a outra face", "entregar a capa" e "caminhar a segunda milha"? Dê a Deus a oportunidade de resolver o problema. Ore ao Senhor antes de agir ou falar.
Em algum momento, poderá ser necessário admitir que o outro está certo. E, se não estiver, talvez possamos desistir do conflito a favor da outra parte. Logicamente, não devemos aceitar o pecado nem o erro, mas muitas vezes não é isso que está em jogo, e podemos muito bem abrir mão da nossa proposta em benefício do nosso próximo. Isso pode ser um sinal de maturidade. Veja o exemplo de Abraão que, podendo escolher a terra diante de si, deixou que Ló escolhesse primeiro.
Um conflito mal administrado resultará em ofensas e deixará marcas. Se a diversidade de temperamentos, de personalidades, de formação e de mentalidade for ignorada, e se também não for controlada, pode motivar conflitos os mais diversos por toda parte.
Se vamos discutir sobre alguma coisa, precisamos deixar o orgulho de fora da conversa. Será que as minhas idéias devem prevalecer sempre? A opinião dos outros está sempre errada? Quem pensa ou age desse modo está carente de humildade e tem a grande habilidade de criar confusões por onde anda. Se a discussão parece não produzir acordo, então é bom que a mesma seja interrompida. Se uma das partes é autoridade sobre a outra, então caberá a essa pessoa decidir sobre o assunto, ou voltar à questão em outra ocasião.
Todavia, se o conflito aconteceu será necessário um conserto. É natural que muitos ímpios sejam irreconciliáveis, incapazes de perdoar. Porém, não faz sentido um cristão guardar mágoa contra ninguém e, principalmente, contra outro irmão em Cristo. Não é um procedimento cristão um irmão ficar com raiva do outro, deixar de conversar, ficar "de mal". O Senhor nos mandou amar os nossos inimigos. Se não começarmos amando os nossos irmãos, como seremos capazes de amar os inimigos? Se você foi ofendido, perdoe! Não espere que o agressor venha pedir perdão. Perdoe. Seja qual for a ofensa, perdoe! Mais do que isso Jesus sofreu, e mesmo assim perdoou. Se você ofendeu, peça perdão! O perdão é o remédio divino para os conflitos mal conduzidos e mal resolvidos. Amém!
Por:- Luciano de Paula Lourenço
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