APOCALIPSE CAPÍTULO 21
Até aqui, a profecia desse livro nos apresentou uma combinação muito notável de luz e sombra, prosperidade e adversidade, misericórdia e juízo, na conduta da Providência divina com relação à igreja no mundo. Agora, na conclusão de tudo, o dia rompe, e as sombras fogem; um novo mundo agora aparece, tendo passado o anterior. Alguns estão dispostos a entender tudo o que está dito nesses últimos dois capítulos acerca do estado da igreja mesmo aqui na terra, à luz da glória dos últimos dias. Mas outros, mais provavelmente, entendem isso como uma representação do estado perfeito e triunfante da igreja no céu. Basta que os leais santos e servos de Deus esperem um pouco, e não somente verão, mas desfrutarão da santidade e felicidade perfeitas daquele mundo. Nesse capítulo, você tem: 1. Uma introdução da visão da nova Jerusalém (vv. 1-8). II. A visão propriamente dita (vv. 9-27).
A Nova Jerusalém == vv. 1-8
Temos aqui um relato mais geral da felicidade da igreja de Deus no estado futuro, pelo qual parece totalmente seguro entender o estado celestial.
Um novo mundo se abre agora à nossa vista (v. 1): “E vi um novo céu e uma nova terra”; isto é, um novo universo; pois supomos que o mundo seja constituído de céu e terra. Com a nova terra entendemos um novo estado do corpo dos homens, como também um céu para sua alma. Esse mundo não foi criado nesse período, mas aberto recentemente, e preenchido com todos aqueles que eram os herdeiros dele. O novo céu e a nova terra não serão então distintos; a terra dos santos, seus corpos glorificados, serão agora espirituais e celestiais, e apropriados para aquelas mansões puras e gloriosas. Para abrir caminho para esse novo mundo, o antigo mundo, isto é, “. .. o primeiro céu e a primeira terra”, com todos os seus problemas e comoções, “. . passaram”.
Nesse novo mundo, o apóstolo viu “...a cidade Santa, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu”, não localmente, mas com relação ao seu original. Essa nova Jerusalém é a igreja de Deus em seu estado novo e perfeito, “. .. adere çada como uma esposa ataviada para o seu marido”, embelezada com toda a perfeição de sabedoria e santidade, a fim de encontrar-se para a sua completa realização com o Senhor Jesus Cristo na glória.
A abençoada presença de Deus com o seu povo é aqui anunciada e admirada: “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens” (v. 3). Observe: 1. A presença de Deus com a sua igreja é a glória da igreja. 2. E questão de admiração que um Deus santo jamais habite com qualquer um dos filhos dos homens. 3. A presença de Deus com o seu povo no céu não será interrompida como o é na terra, mas Ele vai habitar com eles continuamente. 4.
A aliança, o interesse e a relação que há agora entre Deus e o seu povo, serão completos e aperfeiçoados no céu. “... eles serão o seu povo”; a alma deles será preenchida de todo o amos honra e prazer em Deus que a relação com Ele exigem, e isso vai constituir a perfeita santidade deles; e Ele será o seu Deus: “... e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus”; sua presença imediata com eles, seu amor totalmente manifesto a eles, e sua glória colocada sobre eles, será a perfeita felicidade deles; então Ele, por parte dele, vai corresponder completamente à sua natureza, como eles farão da sua parte.
Esse novo e bem-aventurado estado estará livre de todas as dificuldades e problemas; pois: 1. Todos os efeitos de problemas anteriores terão sido eliminados. Com freqüência, os efeitos têm sido de lágrimas em virtude do pecado, de aflições, de calamidades da igreja; mas agora “. ..Deus limpará de seus olhos toda lágrima”; não permanecerá nenhum sinal, nenhuma lembrança de sofrimentos anteriores, a não ser para tornar sua presente felicidade ainda maior. O próprio Deus, como seu Pai amoroso, com a sua própria mão carinhosa, limpará toda lágrima dos olhos dos seus filhos; e eles não estarão sem essas lágrimas quando Deus vier para enxugá-las. 2. Todas as causas de sofrimentos futuros serão removidas para sempre: “.. não haverá mais morte, [...] nem dor”, e, por isso, “...nem pranto, nem clamor”; essas são coisas ligadas ao estado em que estavam antes, mas agora “...as primeiras coisas são passadas”.
A verdade e a certeza desse estado bem-aventurado são ratificadas pela palavra e promessa de Deus, e vem a ordem de colocá-las por escrito, como uma questão de registro perpétuo (vv. 5,6). O tópico dessa visão é tão grande, e de tão grande importância para a igreja e o povo de Deus, que eles têm necessidade da mais ampla garantia dela; e por isso Deus repete e ratifica do céu a verdade da visão. Além disso, muitas gerações deverão passar entre o tempo em que essa visão foi dada e o cumprimento dela, e muitas grandes provações devem ocorrer nesse ínterim; e por isso Deus quis que fosse registrada por escrito, para memória perpétua e uso contínuo do seu povo.
Observe: 1. A certeza da promessa declarada: estas palavras são verdadeiras e fiéis”; e segue então que a afirmação “está cumprido” é tão certa como se já tivesse acontecido. Podemos e devemos tomar as promessas de Deus como pagamento presente; se Ele disse que faz novas todas as coisas, “está cumprido”. 2. Ele nos dá os seus títulos de honra como um penhor ou garantia da completa realização, até mesmo aqueles títulos de “.. Alfa e Omega, o Princípio e o Fim”. Como foi glória dele Ele ter dado origem e início à sua igreja, será glória dele concluir a obra começada, e não deixá-la incompleta.
Como o seu poder e vontade foram a primeira causa de todas as coisas, seu prazer e glória são o objetivo final, e Ele não vai perder o seu projeto; pois aí não seria mais o Alfa e o Omega. Os homens começam projetos que eles nunca poderão levar à perfeição; mas o conselho de Deus permanecerá, e Ele vai fazer tudo que lhe agrada. 3. Os desejos do seu povo com vistas a esse estado bem-aventurado fornecem mais uma evidência da verdade e da certeza dela.
Eles têm sede de um estado de perfeição sem pecados e de desfrute não interrompido da comunhão com Deus, e foi Deus quem impregnou neles esses desejos e anseios, que não podem ser satisfeitos com outra coisa qualquer, e por isso são a tormenta da alma quando são desapontados; mas seria incoerente com a bondade de Deus, e o seu amor por seu povo, criar neles desejos santos e celestiais, e depois negar-lhes sua satisfação; e por isso eles podem estar seguros de que, quando tiverem vencido suas dificuldades presentes, Ele lhes dará da fonte da água da vida.
A grandeza dessa futura felicidade é declarada e ilustrada: 1. Pela liberdade dela — é o presente gratuito de Deus: “...de graça lhe darei da fonte da água da vida”; esse fato não vai torná-la menos, mas antes mais agradável ao seu povo. 2. Pela plenitude dela. O povo de Deus então estará na nascente de toda a bem-aventurança: eles herdarão “...todas as coisas” (v. 7); ao usufruírem de Deus, usufruem de todas as coisas.
Ele é tudo em tudo. 3. Pelo direito e título pelos quais eles desfrutam dessa felicidade — por direito de herança, como filhos de Deus, um título que dentre todos é o mais honrável, que resulta de uma relação tão próxima e preciosa com o próprio Deus, e a mais segura e irrevogável, que não pode cessar assim como não pode cessar a relação da qual ela resulta. 4. Pelo estado completamente diferente dos ímpios. A miséria deles ajuda a ilustrar a glória e a felicidade dos santos, e a bondade distintiva de Deus para com eles (v. 8).
Observe aqui: (1) Os pecados daqueles que perecem, entre os quais são citados primeiramente a covardia e a incredulidade. Os “...tímidos” estão na vanguarda nessa lista negra. Eles não ousaram enfrentar as dificuldades da religião, e seu temor subserviente resultou da sua incredulidade; mas os que foram tão covardes a ponto de não ousarem assumir a cruz de Cristo, e cumprir a sua tarefa para com Ele, ficaram, no entanto, tão desesperados a ponto de incorrerem em todo tipo de abominação e maldade — homicídio, adultério, feitiçaria, idolatria e mentira. (2) Seu castigo: “ a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que á ci segunda morte”. [1] Não quiseram queimar no poste pela causa de Cristo, mas precisam queimar no inferno por causa do pecado. [2] Eles precisam morrer mais uma morte depois da sua morte natural; as agonias e horrores da primeira morte vão despachá-los aos horrores e agonias multo maiores da morte eterna, do morrer e estar sempre morrendo. [3] Essa miséria será sua parte e porção, o que eles mereceram com justiça, o que na verdade eles escolheram, e o que eles prepararam para si mesmos por causa dos seus pecados. Assim a miséria dos condenados vai ilustrar a felicidade dos que são salvos, e a felicidade dos salvos vai agravar a miséria dos que estão condenados.
A Nova Jerusalém vv. 9-27
Já consideramos a introdução à visão da nova Jerusalém de acordo com a idéia mais geral do estado celestial; vamos agora tratar da visão propriamente dita, em que observe:
A pessoa que abriu a visão para o apóstolo — “...um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete pragas” (v. 9). Deus tem uma diversidade de tarefas e serviços para os seus santos anjos. As vezes eles precisam tocar a trombeta da Providência divina, e dar aviso claro a um mundo negligente; às vezes eles precisam derramar as taças da ira de Deus sobre peca- dores impenitentes; e às vezes revelar coisas de natureza celestial para “...os que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14).
Eles prontamente executam toda comissão que recebem de Deus; e, quando este mundo acabar, mesmo assim os anjos serão empregados pelo grande Deus em trabalho apropriado e agradável por toda a eternidade.
O lugar do qual o apóstolo teve essa gloriosa visão e perspectiva. Ele foi levado, em êxtase, “...a um grande e alto monte”. Dessa posição os homens geralmente têm as vistas mais distintivas das cidades adjacentes. Aqueles que devem ter visões claras do céu devem chegar o mais perto possível do céu, até o monte da visão, o monte da meditação e da fé, de onde, como do topo do Pisga, eles podem contemplar a bela terra da Canaã celestial.
O assunto da visão — “...a esposa, a mulher do Cordeiro” (v. 9); isto é, a igreja de Deus no seu estado glorioso, perfeito, triunfante, semelhante a Jerusalém, tendo a glória de Deus brilhando no seu esplendor, como uxor splendit radiies mariti — a bela noiva por meio da beleza colocada nela pela seu marido; gloriosa no seu relacionamento com Cristo, na imagem dele agora aperfeiçoada nela, e no favor dele brilhando sobre ela. E agora temos uma grande descrição da igreja triunfante sob o emblema de uma cidade, excedendo em muito as riquezas e o esplendor de todas as cidades deste mundo; e essa nova Jerusalém nos é representada aqui tanto na parte exterior quanto na interior.
1. A parte exterior da cidade — o muro e as portas, o muro para segurança e as portas para entrada. (1) O muro para segurança. O céu é um lugar seguro; os que estão ali estão cercados por um muro, que os separa e os protege de todos os males e inimigos. Agora aqui, no relato do muro, observe: [1] A altura dele, que, assim nos informa o texto, é muito alto, “... quarenta e quatro cóvados” (v. 17), suficiente tanto para ornamento quanto para segurança. [2] A matéria dele: “... como a pedra de jaspe”; um muro todo construído das pedras mais preciosas, para firmeza e brilho (v. 11). Essa cidade tem um muro que é tão inexpugnável quanto precioso. [3] A forma da cidade é bem retangular e uniforme: “E a cidade estava situada em quadrado; e o seu comprimento era tanto como a sua largura”.
Na nova Jerusalém todos devem ser iguais em pureza e perfeição. Deve haver uma uniformidade absoluta na igreja triunfante, uma coisa desejada e almejada na terra, mas que não pode ser esperada antes de chegarmos ao céu. [4] A medida da cidade (vv. 15,16): “doze mil estádios” em cada direção, cada lado, que dá um perímetro de 1.500 milhas germânicas. Aqui há lugar suficiente para todo o povo de Deus — muitas moradas na casa de seu Pai. [5] Os fundamentos do muro, pois o céu é uma cidade que tem os seus fundamentos (v. 19); a promessa e o poder de Deus, e a redenção obtida por Cristo, são os firmes fundamentos da segurança e felicidade da igreja. Os fundamentos são descritos pelo seu número e sua matéria.
Pelo seu número — doze, aludindo aos doze apóstolos (v. 14), cujas doutrinas do evangelho são o fundamento sobre o qual a igreja está edificada, sendo Jesus Cristo “... a principal pedra de esquina” (Ef 2.20). E, em relação à matéria desses fundamentos, era diversa e preciosa, representada por doze tipos de pedras preciosas, denotando a variedade e excelência das doutrinas do evangelho, ou das graças do Espírito Santo, ou das excelências pessoais do Senhor Jesus Cristo. (2) As portas para a entrada. O céu não é inacessível; há um caminho aberto para o Santo dos Santos; há a livre admissão para todos que foram santificados; eles não serão deixados de fora.
Agora, com relação a essas portas, observe: [1] O seu número — “... doze portas”, correspondendo às doze tribos de Israel. Todo o verdadeiro Israel de Deus deve ter acesso para a nova Jerusalém, assim como toda a tribo teve acesso para a Jerusalém terrena. [21 Os guardas que foram colocados nas portas — “... doze anjos”, para receber e permitir a entrada das doze tribos do Israel espiritual e para manter outros fora. [3] A inscrição nas portas — “... os nomes das doze tribos de Israel”, para mostrar que eles têm o direito à árvore da vida, e o direito de entrar na cidade pelas portas. [4] A situação das portas.
Assim como a cidade tinha quatro lados iguais, correspondendo às quatro direções do mundo, leste, oeste, norte e sul, assim em cada lado havia três portas, significando que de todos os cantes da terra deve haver alguns que entrarão com segurança no céu e serão recebidos ali, e que a entrada é tão livre de um lado do mundo quanto do outro; pois em Cristo, “não há grego nem judeu, bárbaro cita, servo ou livre”.
Homens de todas as nações, línguas, que crêem em Cristo, têm por Ele acesso a Deus em graça aqui e em glória na vida futura. [5 ]. A matéria dessas portas — eram todas de pérolas, mas mesmo assim de grande variedade: “.. cada uma das portas era uma pérola”, ou uma única pérola de tamanho enorme, ou um único tipo de pérola. Cristo é a pérola de grande valor, e Ele é o nosso caminho para Deus. Não há nada suficientemente grandioso neste mundo para representar completamente a glória do céu. Se pudéssemos contemplar, pela potente lente da imaginação, tal cidade como é descrita aqui, ate mesmo em relação à parte exterior dela, esse muro, essas portas, como seria maravilhosa, como seria gloriosa a cena! E, contudo, isso é apenas uma representação pálida e embaçada do que o céu é na verdade.
2. A parte interior da nova Jerusalém (vv. 22-27). Vimos o seu forte muro, e as imponentes portas, e os gloriosos guardas. Agora seremos levados através das portas para dentro da cidade; e a primeira coisa que observamos aí é a praça da cidade, “... de ouro puro, como vidro transparente” (v. 21). Os santos no céu pisam em ouro. A nova Jerusalém tem as suas várias praças. O céu tem a ordem mais exata: cada santo tem a sua própria morada. Há conversa no céu. Os santos estão descansando, mas não é um mero descanso passivo; não é um estado de sono e inatividade, mas um estado de movimentos agradáveis: “... as nações andarão à sua luz”. Eles andam com Cristo com vestes brancas. Eles têm comunhão não somente com Deus, mas uns com os outros; e cada passo seu é firme e puro. Eles são puros e transparentes como o “.. . ouro puro, como vidro transparente”. Observe:
(1) O templo da nova Jerusalém, que não era um tempo material, feito com as mãos dos homens, como o de Salomão ou Zorobabel, mas um templo totalmente espiritual e divino; . . porque o seu templo é o Senhor o Deus Todo-poderoso”. Ali os santos estão acima da necessidade de ordenanças, que foram os meios do seu preparo para o céu. Quando os fins são alcançados, os meios deixam de ser úteis. A perfeita e imediata comunhão com Deus vão mais do que suprir o lugar das instituições do evangelho.
(2) A luz dessa cidade. Onde não há luz, não pode haver brilho nem prazer. O céu é a “... herança dos santos na luz” (Cl 1.12). Mas o que é essa luz? Não há sol nem lua brilhando aí (v. 23). A luz é doce, e coisa prazerosa é contemplar o sol. Que mundo sombrio seria este se não fosse pela luz do sol! O que há no céu que supre a ausência dela? Não há aí falta da luz do sol, “...porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada”.
Deus em Cristo será uma fonte eterna de conhecimento e alegria para os santos no céu; e, se isso for assim, não haverá necessidade de sol ou lua assim como aqui não precisamos acender lâmpadas ao meio dia, quando o sol brilha com toda a sua força.
(3) Os habitantes dessa cidade. Eles são descritos aqui de diversas formas. [1] Por seus números — nações inteiras de almas salvas; algumas de todas as nações, e muitos de algumas nações.
Todas aquelas multidões que foram seladas na terra são salvas no céu. [2] Por sua dignidade — alguns dos reis e príncipes na terra: grandes reis. Deus vai ter alguns de todas as fileiras e classes de homem para povoar as moradas celestiais, importantes e humildes. E quando os maiores reis chegarem ao céu, verão toda a sua honra e glória anteriores engolidas por essa glória celestial que tanto excede o que veio antes. [3] O seu acesso e entrada constantes nessa cidade: “E as suas portas não se fecharão”. Não há noite, e por isso não há necessidade para fechar as portas. Um ou outro está entrando a cada hora ou momento, e os que são santificados sempre encontram as portas abertas; eles têm uma entrada ampla no Reino (2 Pe 1.11).
(4) A acomodação na cidade: Toda a “.. glória e honra das nações” serão trazidas para dentro dela. Tudo que é excelente e valioso neste mundo será desfrutado lá de forma mais aperfeiçoada, e em intensidade muito maior — coroas mais brilhantes, riquezas melhores e mais dura- douras, festas mais agradáveis e satisfatórias, uma participação mais gloriosa, um sentido mais real de honra e posições de honra muito mais elevadas, uma disposição mental mais gloriosa, e uma forma e um semblante mais gloriosos do que jamais se viram neste mundo.
(5) A pureza genuína de todos os que pertencem à nova Jerusalém (v. 27). [1] Ali os santos não terão uma única coisa impura que tenha ficado neles. No ato da morte eles serão purificados de tudo que de alguma forma os tenha manchado. Agora eles sentem uma combinação triste de deturpação das suas graças, o que os atrapalha no serviço de Deus, interrompe a sua comunhão com Ele e intercepta a luz do semblante dele. Mas, no momento da sua entrada no Santo dos Santos, eles são lavados na bacia do sangue de Cristo, e apresentados ao Pai sem mancha. [2] Ali entre os santos não será permitida a entrada de nenhuma pessoa impura. Na Jerusalém terrena há uma comunhão mista, mesmo depois de todo o cuidado que se pode tomar. Algumas raízes de amargura surgem para perturbar e manchar sociedades cristãs; mas na nova Jerusalém, há uma sociedade perfeitamente pura.
Em primeiro lugar, livre dos que são abertamente profanos. Ninguém que faz abominações tem permissão para entrar no céu. Nas igrejas na terra, às vezes se fazem coisas abomináveis, ordenanças solenes são profanadas e prostituídas por homens declaradamente depravados, para propósitos mundanos; mas nenhuma abominação dessas pode ter lugar no céu. Em segundo lugar, livre de hipócritas, como os que mentem, dizem que são judeus e não o são, mas de fato mentem. Esses vão se infiltrar nas igrejas de Cristo na terra, e podem ficar escondidos ali por um tempo, talvez toda a sua vida; mas não podem entrar na nova Jerusalém, que está totalmente reservada para os que são chamados, e escolhidos, e fiéis, cujos nomes estão todos escritos não somente nos registros da igreja visível, mas “. . . no livro da vida do Cordeiro”.
CAPÍTULO 22
Nesse capítulo, temos: 1. Mais uma descrição do estado celestial da igreja (vv. 1-5). II. Uma confirmação dessa visão e de todas as outras do livro (vv. 6-19). III. A conclusão (vv. 20,21).
A Nova Jerusalém == vv. 1-5
O estado celestial que antes foi descrito como uma cidade, e chamada de nova Jerusalém, aqui é descrito como um paraíso, aludindo ao paraíso terreno que foi perdido por causa do pecado de Adão; aqui há outro paraíso restaurado pelo segundo Adão. Um paraíso numa cidade, ou uma cidade toda em um paraíso! No primeiro paraíso, só havia duas pessoas para contemplar a beleza e experimentar os prazeres dele; mas nesse segundo paraíso, cidades e nações inteiras encontrarão prazer e satisfação abundantes. E aqui observe:
O rio do paraíso. O paraíso terreno era bem irrigado. Nenhum lugar que não o seja pode ser agradável ou frutífero. Esse rio é descrito: 1. Por sua nascente — o trono de Deus e do Cordeiro”. Todas as nossas fontes de graça, conforto e glória estão em Deus; e todos os nossos rios que vêm dele, vêm pela mediação do Cordeiro. 2. Por sua qualidade — “...puro e claro como cristal”. Todos os rios de conforto terreno são barrentos; mas esses são claros, saudáveis e refrescantes, dando vida, e preservando vida, para os que bebem deles.
A árvore da vida, nesse paraíso. Havia uma árvore dessas no paraíso terreno (Cn 2.9). Esta de Apocalipse excede aquela em muito. E agora, com relação a esta árvore, observe: 1. A situação dela — “no meio de sua praça e de uma e da outra banda do rio”; ou, como poderia ter sido mais bem formulado: no meio entre o caminho da margem e o rio. Essa árvore da vida é nutrida pelas águas puras do rio que vêm do trono de Deus. A presença e as perfeições de Deus fornecem toda a glória e as bem-aventuranças do céu.
2. A fertilidade dessa árvore. (1) Produz muitos tipos de frutos — “. . . doze frutos”, apropriados para o paladar refinado de todos os santos. (2) Produz fruto o ano todo — “...de mês em mês”. Essa árvore nunca está vazia, nunca é infrutífera; sempre há fruto nela. No céu, não há somente uma variedade de prazeres puros e satisfatórios, mas uma continuidade deles, e sempre frescos. (3) O fruto não é somente agradável, mas saudável. A presença de Deus no céu é a saúde e felicidade dos santos; ali eles encontram nele o remédio para todas as suas enfermidades, e são preservados por Ele no estado mais saudável e vigoroso.
A perfeita liberdade nesse paraíso de tudo que é mau (v. 3): “E ali nunca mais haverá maldição contra alguém”; nenhum maldito — katanathema, não há serpente aí, como havia no paraíso terreno. Aqui está a grande excelência desse paraíso. O Diabo não tem o que fazer aí; ele não pode afastar os santos de servir a Deus para se submeterem a ele, como ele fez com os nossos primeiros pais, nem ao menos pode ele perturbá-los no seu serviço a Deus.
A suprema felicidade desse estado paradisíaco. 1. Ali os santos verão a face de Deus; aí irão desfrutar da santa visão. 2. Eles pertencerão a Deus, pois Ele colocará o seu nome e selo na testa deles. 3. “...e reinarão para todo o sempre”; o seu serviço será não somente liberdade mas honra e domínio. 4. Tudo acontecerá com conhecimento e alegria perfeitos. Eles serão cheios da sabedoria e do conforto, continuamente andando na luz do Senhor; e isso não por um tempo, mas “. para todo o sempre”.
A Nova Jerusalém == vv. 6-19
Temos aqui uma ratificação solene do conteúdo desse livro, e particularmente dessa última visão (embora alguns pensem que possa ser referência não somente ao livro todo, mas a todo o Novo Testamento, aliás, à Bíblia toda, completando e confirmando o Cânon das Escrituras). E aqui, isso é confirmado: 1. Pelo nome e pela natureza desse Deus que revelou essas descobertas: Ele é o Senhor Deus, Fiel e Verdadeiro, e assim são todas as suas palavras. 2. Por meio dos mensageiros que Ele escolheu para revelar essas coisas ao mundo; os santos anjos as mostraram a santos homens de Deus; e Deus não empregaria seus santos e anjos para enganar o mundo. 3. Estes logo serão confirmados pela sua realização. São coisas que precisam ser realizadas logo; Cristo vai se apressar: “Eis que presto venho”.
Ele vai tirar as dúvidas de todas as coisas; e aí essas coisas vão comprovar os sábios e bem-aventurados homens que creram nessas palavras e as guardaram. 4. Serão confirmados também pela integridade do anjo que havia sido o guia e intérprete do apóstolo nessas visões; essa integridade foi tal que ele não somente se recusou a aceitar a adoração religiosa de João, mas outra vez o repreendeu por isso. Aquele que era tão cuidadoso com relação à honra dc Deus e tão insatisfeito com o que era um erro para Deus nunca viria no nome dele para conduzir o povo de Deus a meros sonhos e desilusões; e é uma confirmação da sinceridade desse apóstolo que ele confessa seu próprio pecado e tolice, na qual tinha agora recaído novamente, e ele deixa essa sua falta em registro perpétuo. Isso mostra que ele era um autor fiel e imparcial. 5.
Pela ordem dada para deixar aberto o livro da profecia, para que fosse examinado por todos; ele não fala em segredo, mas chama cada um a ser testemunha das declarações feitas aqui (v. 10). 6. Pelo efeito que esse livro, assim aberto, terá sobre os homens; os que são imundos e injustos vão aproveitar a ocasião para serem mais imundos e injustos ainda, mas isso vai confirmar, fortalecer e santificar ainda mais os que são corretos com Deus; isso vai ser um aroma de vida para alguns e de morte para outros, e vai parecer assim para Deus (v. 12). 7. Será a regra do julgamento de Deus naquele grande dia; Ele vai distribuir recompensas e castigos aos homens de acordo com a concordância ou discordância da sua vida com a palavra de Deus; e por isso essa palavra precisa ser fiel e verdadeira. 8. E a palavra daquele que é o autor, consumador e recompensador da fé e da santidade do seu povo (vv. 13,14).
Ele e’”... o Primeiro e o Derradeiro”, e o mesmo do começo ao fim, e assim é também a sua palavra; e por meio dessa palavra Ele vai dar ao seu povo, constituído dos que se conformam à sua Palavra, “... direito à árvore da vida”, e a entrada no céu. E isso vai ser a completa confirmação da verdade e autoridade da sua palavra, visto que contém o título e a evidência daquele estado confirmado de santidade e felicidade que permanece para o seu povo no céu. 9.
E um livro que condena e exclui do céu todas as pessoas ímpias e injustas, e particularmente “qualquer que ama e comete a mentira” (v. 15), e por isso não pode ser ele mesmo uma mentira. 10. E confirmado pelo testemunho de Jesus, que “... é o espírito de profecia” (cap. 19.10). E esse Jesus, como Deus, é a “...Raiz e a Geração de Davi”, embora, como homem, seu descendente — uma pessoa em quem todas as excelências criadas e não-criadas se encontram, boas e grandes demais para enganar suas igrejas e o mundo.
Ele é a fonte de toda a luz, “. . . a resplandecente Estrela da manhã”, e como tal deu às suas igrejas essa luz matutina da profecia, para assegurá-los da luz daquele dia perfeito que está chegando. 11.
E confirmado por um convite aberto e geral a todos para que venham e participem das promessas e privilégios do evangelho, aquelas correntes da água da vida; essas são oferecidas a todos os que sentem na sua alma uma sede que nada neste mundo pode saciar. 12. E confirmado pelo testemunho conjunto do Espírito de Deus, esse Espírito generoso que está em todos os membros da igreja de Deus. O “Espírito e a esposa” se unem em testificar a verdade e excelência do evangelho. 13.
E confirmado pela sanção mais solene, condenando e amaldiçoando todos os que ousarem corromper ou mudar a Palavra de Deus, ou por acrescentarem algo a ela ou por subtraírem algo dela (vv. 18,19) Aquele que acrescentar à Palavra de Deus atrairá sobre si todas “... as pragas que estão escritas neste livro”; e aquele que subtrair qualquer coisa dela estará se excluindo de todas as promessas e privilégios dela. Essa sanção é como uma espada flamejante para guardar o Cânon das Escrituras de mãos profanas. Deus colocou uma cerca como essa em torno da lei (Dt 4.2), e de todo o Antigo Testamento (Ml 4.4), e agora da forma mais solene em torno da Bíblia toda, dando-nos garantias de que é um livro da mais sagrada natureza, de autoridade divina e de importância definitiva, e por isso tem o cuidado peculiar do grande Deus.
Conclusão == vv. 20,21
Chegamos agora à conclusão de tudo, e isso em três coisas:
A despedida de Cristo à sua igreja. Parece que agora, depois de ter revelado essas coisas ao seu povo na terra, Ele está abandonando o seu povo, e voltando ao céu; mas Ele se despede deles com grande ternura, e lhes dá a garantia de que não vai demorar muito para que volte novamente para eles: “Certamente, cedo venho”. Como quando subiu ao céu, depois da sua ressurreição, Ele partiu deixando a promessa da sua bondosa presença, assim aqui Ele parte com a promessa da volta breve. Se alguns dizem: “Onde está a promessa da sua vinda, se tantas gerações passaram desde que isso foi escrito?”, que fiquem sabendo que Ele não é negligente com o seu povo, mas paciente para com os seus inimigos. Sua vinda será mais repentina do que eles imaginam, mais repentina do que o preparo deles, mais repentina do que o seu desejo por ela; e para o seu povo, será no tempo oportuno. A visão é para um tempo designado, e não vai tardar. “Certamente, cedo venho”. Que essas palavras ressoem sempre nos nossos ouvidos, e que sejamos sempre diligentes para sermos encontrados por Ele em paz, “. .. imaculados e irrepreensíveis (2 Pe 3.14).
O eco sincero da igreja à promessa de Cristo: 1. Declarando a sua firme convicção nela: “Amém”, assim é e assim será. 2. Expressando o seu sincero desejo por ela: “Oro, vem, Senhor Jesus!” (v. 20). “Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos corços sobre os montes dos aromas” (Ct 8.14). Assim bate o coração da igreja, assim sopra o generoso Espírito que estimula e instrui o corpo místico de Cristo; e nunca deveríamos estar satisfeitos até que encontremos esse espírito soprando em nós, fazendo-nos aguardar “...a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13).
Essa é a linguagem da igreja do primogênito, e devemos nos unir a eles, lembrando-nos uns aos outros com freqüência da promessa dele. O que vem do céu como uma promessa deve ser enviado de volta ao céu como oração: “Ora, vem, Senhor Jesus!; coloca um fim nesse estado de pecado, de sofrimento e tentação; ajunta o teu povo deste mundo mau, e leva-o ao céu, aquele estado de perfeita pureza, paz e alegria, e assim completa o teu grande propósito, e realiza toda aquela palavra pela qual fizeste o teu povo esperar”.
A bênção apostólica que encerra o todo: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!” Observe aqui: 1. A Bíblia conclui com uma prova clara da divindade de Cristo, visto que o Espírito de Deus ensina o apóstolo a abençoar o seu povo no nome de Cristo, e a pedir de Cristo uma bênção por eles, que é um ato apropriado de adoração. 2. Nada deve ser mais desejado por nós do que o anseio para que a graça de Cristo esteja conosco neste mundo, para nos preparar para a glória de Cristo no outro mundo. E por meio da graça dele que devemos ser guardados numa expectativa jubilante da sua glória, preparados para ela e preservados para ela. E sua gloriosa aparição será bem-vinda e feliz para aqueles que são participantes da sua graça e favor aqui; e por isso, todos deveríamos acrescentar a essa oração tão ampla o nosso Amém sincero, desejando ardentemente as medidas maiores das influências bondosas do abençoado Jesus em nossa alma, e sua presença bondosa conosco, até que a glória tenha aperfeiçoado toda a sua graça para conosco, pois Ele é “...sol e escudo, e dará graça e glória; não negará bem algum aos que andam na retidão”.
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Comentário Bíblico Mathew Henry - Novo Testamento Edição Completa
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