A NOVA JERUSALÉM, 21.1—22.21
1. Um Novo Céu e uma Nova Terra (21.1-8)
Uma mudança surpreendente de tópico ocorre nesse momento. Começando com a abertura dos sete selos (cap. 6), vimos quase que exclusivamente apenas desordem e tribulação, julgamento e morte. Agora, um novo e eterno estado é apresentado; o velho passou para sempre.
a) As coisas antigas já passaram (21.1-4). João viu um novo céu e uma nova terra (1). Já lemos que “fugiu a terra e o céu, e não se achou lugar para eles” (20.11). Isso é reiterado aqui: Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram. Céu aqui não significa o lugar eterno de Deus, mas o espaço astronômico que o homem está agora preocupado em explorar com telescópios e naves espaciais.
O conceito de um novo céu e uma nova terra é encontrado no Antigo Testamento.
Isaías profetizou em nome do Senhor: “Porque eis que eu crio céus novos e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão” (Is 65.17). Pedro também faz referência a isso (2 Pe 3.13).
A palavra para novo não é neos, que descreve algo “que veio a existir recentemente”, mas kainos, que ressalta “qualidade, o novo, como contrastando com o que é desfigurado pelo tempo”. Tudo precisava ser completamente novo. Pode parecer estranho o acréscimo da seguinte frase: e o mar já não existe. Mas para os antigos, sem bússolas ou outros instrumentos modernos de navegação, o oceano causava grande terror. Para muitos, o mar era um lugar de morte (cf. 20.13). Especialmente para João ele significava separação de casa e dos seus companheiros cristãos da Asia Menor. Na nova ordem, não haverá nem morte nem separação.
O relato continua: E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como iima esposa ataviada para o seu marido (2). A nova Jerusalém toma o lugar da antiga “Babilônia” (caps. 17—18) como a grande metrópole. Jerusalém já tinha sido mencionada como uma cidade “que desce do céu, do meu Deus” (3.12).
Para o povo antigo do Oriente, não havia nada mais bonito do que uma esposa ataviada para o seu marido. Anteriormente, João tinha escrito que a esposa do Cordeiro havia se aprontado (19.7). Agora, ele vai vê-la em toda a sua glória. A descrição das suas vestes ornamentais já começa em 19.8. Uma das características do livro de Apocalipse é a menção por antecipação daquilo que mais tarde é descrito em detalhes.
João ouviu um anúncio importante: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus (3). Esse é um claro paralelo com Levítico 26. 11,12; Jeremias 31.33; Ezequiel 37.27; Zacarias 8.8. Há, no entanto, uma mudança significativa. Na Septuaginta, em cada uma dessas passagens do Antigo Testamento encontramos a palavra laos, “povo”. Mas aqui em Apocalipse, o povo é chamado de laoi (plural). O povo de Deus não era formado apenas por Israel, mas pelos povos redimidos de todas as nações.
Tabernáculo é skene. Habitará é skenosei — literalmente, “habitará no tabernáculo”. No deserto, o Tabernáculo sempre era montado no centro do acampamento de Israel. A Shekinah no Santo dos Santos do Tabernáculo era o símbolo da presença de Deus no meio do seu povo. Agora Cristo é o “verdadeiro tabernáculo” (Hb 8.2), ou o “maior e mais perfeito tabernáculo” (Hb 9.11). Ele é Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1.23). A figura que João vê aqui é a obra completa da redenção comprada por Cristo por um preço tão elevado, O propósito final disso tudo era que homens redimidos pudessem viver para sempre na presença do seu Criador.
Ele é “o Deus de toda consolação” (2 Co 1.3). Assim é dito nessa passagem: E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas (4). Muitas vezes tem sido ressaltado que muitas coisas que têm o seu início nos três primeiros capítulos de Gênesis têm o seu fim nos últimos dois capítulos de Apocalipse. Um exercício muito produtivo é fazer uma lista de todas as coisas que não haverá mais, e então ver quantas dessas coisas podem ser encontradas em Gênesis 1—3.
b) Todas as coisas novas (21.5-8). A declaração veio daquele que estava assentado sobre o trono: Eis que faço novas todas as coisas (5). Swete observa: “O Narrador é agora, provavelmente pela primeira vez em Apocalipse, o próprio Deus”.213 Ele já tinha dito por intermédio de Isaías: “Eis que farei uma coisa nova” (Is 43.19). Mas isso se aplicava somente à nação, agora inclui todo o universo.
João recebe a ordem para escrever: porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. Isso é repetido em 22.6. Essa frase é parecida com o que João escreve no seu Evangelho: “Na verdade, na verdade”. Está cumprido (6) é literalmente: “Elas se cumpriram”. A mesma expressão ocorre em 16.17, mas lá o verbo está no singular, “Está cumprido”. Pelo que tudo indica aqui o sujeito é “todas as coisas” feitas novas. Nos dois casos, a ênfase está nas profecias cumpridas.
O Alfa e o Omega é repetição de 1.8 (veja comentários lá). O significado disso é expresso como: o Princípio e o Fim (telos, alvo). Deus é o Criador e o Alvo da vida. Paulo expressou a mesma idéia em Romanos 11.36: “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas”. Uma promessa maravilhosa é oferecida: A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. Swete observa: “A Fonte e o Fim de toda vida é o generoso Doador da vida em sua mais completa perfeição”. Quando Deus dá — e Ele está sempre dando — Ele o faz generosa e gratuitamente.
Quem vencer (7) nos lembra da promessa feita ao vencedor em cada uma das cartas às sete igrejas (2.7, 11, 17, 26; 3.5, 12, 21). Aqui a promessa inclui todas as outras: herdará todas as coisas. O melhor texto grego traz: “essas coisas”; isto é, as coisas da nova criação que João tem considerado. Todas as bênçãos do novo céu e da nova terra pertencem ao que vence. A salvação inicial não é suficiente. Aquele que perseverar até o fim será salvo e desfrutará das bênçãos eternas que a salvação traz (Mt 10.22).
O verbo herdará ocorre somente aqui em Apocalipse. Dalman insiste que uma tradução melhor é “tomará posse de”, e observa que “possuir o próprio eu da era futura” era uma expressão judaica popular.215 Mas a ênfase de Paulo de que o cristão, como filho, é um “herdeiro de Deus” (Rm 8.17; 014.7), favorece a tradução costumeira aqui. Porque a voz continua: e eu serei seu Deus, e ele será meu filho,
Segue então uma lista considerável daqueles que terão a sua parte [...] no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte (8; cf. 20.14). Devemos destacar que a lista é encabeçada pelos tímidos. A palavra grega (deiloi) significa (covardes). Swete diz que eles são “membros da Igreja que, como soldados que voltam as suas costas para o inimigo, fracassam diante da prova [...] os covardes [.. .] no exército de Cristo”. O segundo da lista são os incrédulos, que também podem ser interpretados como os “infiéis”. Esses dois estão arrolados com os mais vis pecadores — uma advertência muito séria.
2. A Nova Jerusalém (21.9—22.5)
A descrição da nova Jerusalém estende-se pelo restante desse capítulo até o início do seguinte. Ela é um quadro pintado com cores vivas e tem despertado a imaginação de muitos.
a) A noiva gloriosa (21.9-14). E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias [...] e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei (9). Tudo isso é repetição textual (no grego) de 17.1. Lá era a grande prostituta que o anjo mostrou a João; aqui é a noiva pura do Cordeiro. A semelhança da fórmula introdutória somente serve para ressaltar o contraste impressionante entre as duas visões.
João foi levado em espírito (cf. 1.10; 4.2; 17.3), — não no corpo — a um grande e alto monte (10); isto é: ele foi elevado em espírito para que pudesse observar em detalhes essa visão maravilhosa. Lá ele viu a grande cidade, a santa Jerusalém, que de
Deus descia do céu (cf. v. 2). O fato de essa Jerusalém ser identificada como a esposa (noiva), a mulher do Cordeiro (9), não nos deixa interpretá-la literalmente. O que segue é uma representação simbólica da beleza e glória da noiva de Cristo refletida na imagem do seu lar — a cidade eterna de Deus.
A esposa (noiva) é descrita como tendo a glória de Deus (11). Isso nos lembra as palavras de Paulo em Efésios 5.27: “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa”. Assim será a noiva de Cristo nas bodas do Cordeiro (cf. 19.7, 9). A glória de Deus é sua presença Shekinah no meio do seu povo. Toda verdadeira glória que temos é derivada dele.
Agora é feita uma tentativa de descrever, em termos materiais, algo da beleza espiritual da noiva. João diz que a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente. A combinação das duas últimas frases tem causado alguma dificuldade aos comentaristas porque a pedra de jaspe moderna não é transparente. Simcox escreve: “Embora a pedra de jaspe seja a mesma palavra no hebraico, grego, latim e outras línguas modernas, parece que ela mudou sua aparência. A mais preciosa pedra de jaspe era uma calcedônia verde escura bastante transparente. Nossa pedra de jaspe fosca, a vermelha pura, a verde e negra pura, eram todas usadas na gravação”. Tudo que podemos dizer é que essa pedra de jaspe era de grande valor e brilhante.
A cidade tinha um grande e alto muro com doze portas (12), guardadas por doze anjos, e nomes escritos sobre elas (i.e., nas portas), que são os nomes das doze tribos de Israel. Havia três portas (13) em cada um dos quatro lados da cidade.
Grande parte dessa descrição é bastante parecida com o que lemos em Ezequiel acerca da nova Jerusalém (Ez 48.31-34). Em relação às doze tribos, Swete diz: “O objetivo do vidente em relação às tribos é simplesmente defender a continuidade entre a Igreja cristã e a Igreja do AT”.
O muro da cidade tinha doze fundamentos e, neles, os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (14). Jesus disse aos seus apóstolos: “também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28). Paulo escreveu que a Igreja é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20). O simbolismo das doze tribos de Israel (12) e dos doze apóstolos do Cordeiro (14) aponta para a nova Jerusalém
b) As dimensões da cidade (21.15-21). O homem que falou com João tinha uma cana (vara) de ouro para medir a cidade, e as suas portas, e o seu muro (15). A cidade estava situada em quadrado; na verdade, o seu comprimento, largura e altura eram iguais (16). Essa cidade estava no formato de um cubo perfeito, como era o Santo dos Santos no antigo Tabernáculo. Isso talvez sugira a perfeição e santidade da Igreja. A medida era de doze mil estádios (stadia), que equivale a aproximadamente 2.260 km. Alguns acreditam que esse número representa a circunferência da cidade. Mas a maneira mais natural seria aplicar esse número a cada medição.
O muro media cento e quarenta e quatro côvados, conforme a medida de homem, que é a de um anjo (17; “segundo a medida humana que o anjo estava usando”, NVI). Um côvado representava meio braço, cerca de 45 centímetros. Assim, essa medida seria de cerca de 65 metros. Uma vez que a altura da cidade já foi apresentada, é possível que essa medida se refira à espessura do muro. De acordo com o historiador grego Heródoto (i. 178), a antiga cidade da Babilônia tinha muros de 90 metros de altura e 23 metros de espessura.
E a fábrica do seu muro era de jaspe (18). O grego para fábrica é uma palavra rara, endomesis, encontrada somente aqui (no NT). Uma vez que o verbo endomeo significa “construir para dentro”, parece que o sentido aqui é que o muro tinha jaspe “embutida” nele. Lenski traduz essa frase da seguinte forma: “A introdução do jaspe tornou o muro mais brilhante como uma pulseira adornada com diamantes”.
Também lemos que a cidade era de ouro puro, semelhante a vidro puro — “i.e., ouro que resplandecia com um brilho semelhante a um vidro altamente polido”. João pode ter pensado na abóbada de ouro do Templo, como a havia visto brilhando à luz do sol. Josefo escreveu: “A parte exterior na fachada do templo [...] era toda coberta com lâminas de ouro de grande valor, e, ao nascer do sol, refletia um brilho impressionante”.
Em seguida, temos uma descrição dos fundamentos do muro da cidade (19). Eles estavam adornados (cosmeo, de onde vem a palavra “cosmético”) de toda pedra preciosa. Segue então uma lista das doze pedras que descreviam os doze fundamentos (v-v. 19-20). Oito dessas pedras constavam entre as doze pedras do peitoral do sumo sacerdote que ministrava no Tabernáculo (Ex 28.17-20).
R. II. Charles ressalta o fato de essas doze pedras no livro de Apocalipse serem exatamente as mesmas que eram encontradas nos monumentos egípcios e árabes e que estão conectadas aos doze sinais do zodíaco — mas em ordem reversa.222 Ele sugere que João entende que “a Cidade Santa que ele descreve não tem nada que ver com as especulações pagãs da sua época e de épocas passadas referentes à cidade dos deuses”. Isto é, a nova Jerusalém é a verdadeira Cidade de Deus.
Um outro aspecto impressionante da cidade era que suas doze portas eram doze pérolas: cada uma das portas era uma pérola (21). Assim, o escritor busca descrever, em linguagem humana, a beleza magnífica da Igreja glorificada. A praça (lit.: caminho largo) da cidade também era de ouro puro, como vidro transparente. João está estendendo a capacidade da linguagem finita para descrever o indescritível. Mas ele não se delonga com esse pensamento; ele então descreve a maravilha da contínua presença de Deus na cidade. Demorar-se demais na idéia de caminhar em ruas de ouro na vida futura é malograr a verdadeira glória de viver na presença de Deus. Essa atitude mostra uma mente materialista, não espiritual.
c) A luz da cidade (21.22-27). João não viu um templo (22) na nova Jerusalém. Ela não precisa, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. O Templo era um lugar de encontro entre Deus e o homem. Mas na nova Jerusalém, Deus sempre está presente para aqueles que estão lá, e assim nenhum templo é necessário. Sua presença eterna torna toda a cidade um santuário.
Além disso, a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada (23). Exceto a última frase, esse versículo é um reflexo de Isaías 60.19: “Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o SENHOR será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória”. No Novo Testamento, não temos apenas a afirmação “Deus é luz” (1 Jo 1.5), mas também as próprias palavras de Jesus: “Eu sou a luz do mundo”.
Essa luz brilhante irradia por toda parte. Lemos: E as nações224 andarão à sua luz (24). Isso se cumpriu parcialmente ao longo da era cristã, tal como a Igreja tem sido uma luz para as nações. Infelizmente, na história da Igreja na terra houve algumas épocas sombrias. O mesmo não se pode dizer da Igreja glorificada, a nova Jerusalém. Lá tudo é luz. E os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. O versículo 26 é praticamente uma repetição do versículo 24b. Essa predição foi parcial- mente cumprida na era da Igreja.
As portas dessa cidade não se fecharão de dia (25; cf. Is 60.11). Uma vez que ali não haverá noite, isso significa que as portas da nova Jerusalém sempre estarão abertas. Da mesma forma, as portas do Reino estão totalmente abertas hoje para aqueles que querem entrar por elas.
Mas, embora as portas estejam sempre abertas, não entrará nela coisa alguma que contamine e cometa abominação e mentira, mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro (27). Na Septuaginta, as palavras gregas para abominação e mentira são usadas para ídolos. Não haverá idolatria, material ou imaterial, no céu. Somente Deus será amado e adorado. Somente aqueles cujos nomes estão no livro da vida podem entrar na nova Jerusalém.
d) O rio da vida (22.1-5). João viu o rio puro225 da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro (1). A figura é tirada de Ezequiel 47.1- 12. Ali as águas corriam do Templo. Aqui elas vêm do trono.
De uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida (2). Na visão de Ezequiel, “à margem do ribeiro havia uma grande abundância de árvores, de uma e de outra banda” (Ez 47.7). Mas aqui é a árvore da vida. Essa frase nos leva de volta ao jardim do Eden (Gn 2.9). Ali o ser humano pecou e foi expulso do paraíso, para que não tivesse mais acesso à árvore da vida (Gn 3.24). Mas na nova Jerusalém, os redimidos a encontram crescendo em abundância.
Essa árvore produzia doze frutos, dando seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Ezequiel escreveu acerca de toda sorte de árvore à beira do rio que “nos seus meses produzirá novos frutos [...] e a sua folha, de remédio” (Ez 47.12).
Na nova Jerusalém nunca mais haverá maldição (3). A palavra grega não é a habitual anathema, encontrada diversas vezes no Novo Testamento, mas katathema, que ocorre somente aqui. Behm diz que essa é “provavelmente uma forma mais severa de anathema”.226 Ela significa uma “coisa amaldiçoada”. Glasson diz: “Esse aspecto talvez lembre Gênesis 3.17-18. Depois da Queda [...] uma maldição foi imposta; espinhos e cardos começaram a crescer [...] Agora a maldição é afastada. Assim, os últimos capítulos da Bíblia equilibram os primeiros, e o Paraíso Perdido dá lugar ao Paraíso Recuperado”.
Nenhuma coisa má pode entrar na nova Jerusalém, porque o trono de Deus e do Cordeiro está ali. E os seus servos o servirão (ou adorarão) sugere que a vida futura não será um tempo de ócio ou inatividade (cf. 7.15). Além do mais, eles verão o seu rosto em perfeita comunhão; e na sua testa estará o seu nome (4). Esse é um sinal de completa consagração a Deus e absoluto domínio da sua parte.
Novamente (cf. 21.25) lemos que ali não haverá mais noite (5). Conseqüentemente, não necessitarão de lâmpada, nem mesmo da luz do sol (cf. 21.23); porque o Senhor Deus os alumia — toda luz que temos vem dele — e reinarão para todo o sempre. Isso não é apenas para os mil anos do Reino do milênio (20.5). Ao passarmos para o capítulo 21, mudamos do tempo finito para a eternidade. Aqui todas as coisas duram para sempre.
3. Epílogo (22.6-21)
Essa seção final nos traz as últimas palavras do anjo (vv. 6-11), de Jesus (v 12-16), do Espírito e da noiva (v. 17) e de João (vv. 18,19); a última promessa e oração (v. 20) e a última bênção (v. 21).
a) As últimas palavras do anjo (22.6-11). Antes de sair de cena, o anjo dá o seu endosso acerca do que tinha mostrado e contado a João: Estas palavras são fiéis e verdadeiras (6). Isso repete o que lemos em 21.5. Estas palavras provavelmente referem-se a todo livro de Apocalipse. Elas são fiéis e verdadeiras porque o Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer. A última parte dessa afirmação é tomada literalmente (no grego) de 1.1. O epílogo rememora o prólogo.
Eis que presto venho é a palavra de Cristo por intermédio do anjo. Uma bênção especial é pronunciada sobre aquele que guarda as palavras da profecia deste livro (cf. 1.3). Swete entende que deste livro “aponta para o rolo quase concluído no joelho do vidente; ao longo do livro de Apocalipse ele se apresentou como aquele que escreve as suas impressões na época (cf. 10.4) [..J e a sua tarefa agora quase chegou ao fim”.
João não só viu, mas ouviu estas coisas (8). Ele estava tão dominado pela visão da nova Jerusalém que novamente caiu aos pés do anjo para o adorar, talvez pensando que fosse Cristo (cf. 19.10). Mas, como antes, ele foi admoestado a não fazê-lo (v. 9).
Então o anjo ordenou-lhe: Não seles (não ocultes ou detenhas) as palavras da profecia deste livro, porque próximo está o tempo (10). Uma ordem exatamente oposta foi dada a Daniel. Foi-lhe dito: “tu, porém, cerra a visão, porque só daqui a muitos dias se cumprirá” (Dn 8.26).
Mas aqui o caso é diferente: porque próximo está o tempo. Uma exegese honesta parece requerer uma interpretação que permita uma aplicação ao período da Igreja Primitiva. E por isso que este comentário entende que a predição em Apocalipse 4—20 teve um cumprimento parcial no tempo do Império Romano, que tem tido um cumprimento contínuo ao longo da era da Igreja e que terá um cumprimento completo no futuro. Esse é o único ponto de vista que parece fazer justiça a todos os fatores envolvidos.
O período da provação acabou. Assim a voz diz: Quem é injusto (lit., aquele que erra) faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda (11). Notamos que essas frases são equilibradas, o justo contra o injusto e o santo e o sujo. Cada um dos quatro verbos que começa com quem está no imperativo aoristo. Isso indica um caráter permanente (estabelecido), em vez de um processo contínuo. Swete apresenta uma boa interpretação desse versículo.
Ele diz: “Não é apenas verdade que as dificuldades nos últimos dias tenderão a estabelecer o caráter de cada indivíduo de acordo com os hábitos que ele já formou, mas haverá um tempo quando será impossível mudar — quando não haverá mais oportunidade para arrependimento por um lado ou para apostasia do outro”.229
b) As últimas palavras de Jesus (22.12-16). E eis que cedo venho (12; cf. v. 7). A essa promessa da sua vinda, Cristo acrescenta: e o meu galardão (misthos, recompensa ou salário) está comigo para dar a cada um segundo a sua obra. Cada pessoa receberá uma recompensa de acordo com o que fez.
O versículo 13 é uma combinação das palavras encontradas em 21.6 e 1.17; também 2.8. A mesma honra que é conferida a Deus é reivindicada por Cristo (veja os comentários em 1.17). Em várias versões bíblicas, os versículos 14 e 15 não estão entre aspas indicando ser palavras de Jesus. Mas elas são incluídas por Phillips. Por conveniência, nós as colocamos dessa maneira em nosso esboço. Essas palavras declaram uma bênção para aqueles que cumprem os seus mandamentos (v. 14, de acordo com a KJV) — o melhor texto grego diz: que lavam as suas vestiduras — porque dessa forma terão direito à árvore da vida e poderão entrar na cidade pelas portas.
Do lado de fora ficarão os cães (15. Esse é um termo usado para pessoas impuras, tanto no Antigo (Sl 22.16) quanto no Novo Testamento (Mt 7.6; Mc 7.27). Swete diz que nesse caso, cães significam “aqueles que foram pervertidos por vícios repugnantes que corrompiam a sociedade pagã”.23° O século XX tem visto uma recorrência alarmante do tipo de viver pagão que caracterizava o primeiro século, de tal forma que essas palavras recebem novo sentido.
Junto com os feiticeiros, e os que se prostituem (gr., fornicadores), e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira — que é melhor traduzido por “pratica a mentira” (NASB, cf. NVI). Isso mostra a seriedade do engano aos olhos de Deus. Obviamente é Cristo que fala agora, ao dizer: Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas (16). Ao longo do livro, desde o capítulo 3, são os anjos que pronunciaram quase todas as falas. Agora Jesus coloca seu endosso pessoal nas palavras que eles pronunciaram. Foi Ele que os enviou com as mensagens e visões para as igrejas — primeiro, para as sete igrejas da Asia, e agora para todas as igrejas em toda parte.
Jesus declara em seguida: Eu sou a Raiz (cf. 5.5) e a Geração de Davi — a Raiz e o Rebento (Renovo) da família de Davi —, a resplandecente Estrela da manhã. Essa é uma figura bonita e um aspecto familiar para aqueles que levantam antes do amanhecer e observam esse anunciador impressionante de um novo dia. Cristo é a Estrela do Alvorecer, o que James Stewart chamou em uma assembléia em Edimburgo de “a Estrela Escatológica”. Para cada cristão, Cristo é a Promessa de um novo dia. Swete escreve: “A Estrela da manhã da Igreja brilha hoje com a mesma intensidade que nos dias de João; Ela não cai ou se põe”.
c)As últimas palavras do Espírito e da esposa (22.17). E o Espírito e a esposa dizem: Vem. A maioria dos comentaristas toma isso como o Espírito profético na Igreja reagindo à promessa (v. 12) com um clamor: Vem. Todos os que ouvem devem se unir a esse chamado para a sua vinda. Fausset escreve: “Vem’ é a oração do Espírito na Igreja e nos crentes, em resposta ao chamado de Cristo: ‘Eis que cedo venho’, clamando: Mesmo assim, ‘Vem’ (vv. 7, 12); o versículo 20 confirma isso”. Por causa da referência no versículo anterior à “estrela da manhã”, provavelmente essa é a interpretação que deveria ser adotada.
Isso requer uma transição abrupta no meio do versículo. Porque o convite: E quem tem sede venha, é claramente uni convite evangelístico para vir a Cristo. Isso fica ainda mais evidente na frase seguinte: e quem quiser tome de graça da água da vida. Somente ao fazermos isso estamos prontos para a vinda de Cristo.
d) As últimas palavras de João (22.18-19). Swete diz o seguinte acerca desses dois versículos: “Certamente é Jesus quem continua falando, e não João, como muitos comentaristas têm presumido”. Mas Plummer escreve: “Aqui está o apêndice solene ou o selo da veracidade do livro, semelhante às palavras introdutórias em 1.1-3. Esse é o cumprimento do dever designado a São João em 1.1, não um anúncio do próprio Senhor (cf. as palavras em 1.3).234 Pelo que tudo indica, a última idéia é a preferível.
De qualquer forma, uma advertência séria é anunciada aqui contra todo aquele que ousar adulterar o ensinamento desse livro. Ninguém deve acrescentar ou tirar quaisquer palavras dele, sob pena de sofrer castigo muito sério. Essas palavras, é claro, se aplicam ao escrito original como divinamente inspirado.
Essa regra de procedimento não limita o trabalho paciente de estudiosos da Bíblia na composição dos manuscritos existentes e no estudo de palavra por palavra, para chegar ao texto mais correto possível. Essa ordem proíbe uma atitude que despreza a autoridade da Palavra de Deus e acrescenta ou tira quaisquer palavras do seu ensinamento.
e) A última promessa e oração (22.20). Aquele que testifica estas coisas é Jesus (cf. v. 16). Ele diz: Certamente, cedo venho — a última promessa da Bíblia. A última oração é: Amém. Vem, Senhor Jesus. Em nossos dias, essa deveria ser cada vez mais a nossa oração.
f) A última bênção (22.21). Ela é breve, mas adequada: A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Isso é suficiente para toda alma confiante.
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Comentário Bíblico Beacon
Nenhum comentário:
Postar um comentário