terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A ascensão de Jesus

A ascensão de Jesus (1:6-11).


Embora demos a esta seção o título de “A ascensão”, duvida-se se o ato propriamente dito da ascensão é o aspecto central na história. Lucas se preocupa mais com aquilo que se disse do que com aquilo que aconteceu. A pergunta vital foi aquela que os discípulos fizeram: agora que Jesus foi ressuscitado dentre os mortos, Deus estava para completar Seu propósito mediante o estabelecimento definitivo do Seu domínio? A resposta dada tinha dois aspectos. O primeiro é que o tempo deste evento permaneceu sendo segredo de Deus; o que era mais importante era a tarefa imediata dos discípulos, que era a de agir como testemunhas de Jesus desde Jerusalém até aos confins da terra.


A difusão do domínio de Deus devia ser levada a efeito através dos discípulos, no poder do Espírito Santo. Era este o mandamento final que Jesus deu antes de deixar os discípulos. O segundo era que a partida de Jesus era interpretada como sendo o padrão da Sua volta final à terra para inaugurar o estabelecimento final do domínio de Deus. Estes versículos, portanto, definem o propósito de Deus e o papel da igreja dentro dele - Postulam que o período de testemunho e missão deve anteceder a volta de Jesus. Assim, eram efetivamente uma advertência aos discípulos no sentido de estes no esperarem para dentro em breve o desfecho da história. Para os leitores de Lucas, cerca de quarenta anos mais tarde, estes versículos eram uma lembrança da tarefa que devia prosseguir: o evangelho ainda precisa ser levado até aos confins da terra. Ao mesmo tempo, as palavras contêm uma nota de promessa, pois a partida de Jesus seria compensada pela vinda do Espírito, da parte do próprio Jesus (2:33).


Somente Lucas descreve a ascensão de Jesus como evento visível, embora o fato da ascensão seja solidamente atestado noutros lugares (1 Tm 3:16; 1 Pe 3:21-22), especialmente nas muitas passagens nas quais a ressurreição de Jesus é entendida, no simplesmente como a Sua volta dentre os mortos como também a Sua exaltação à destra de Deus (2:33-55). A historicidade da cena foi fortemente questionada pelos estudiosos que sustentam que Lucas criou uma representação dramática da verdade teológica da glorificação de Jesus. Há, naturalmente, dificuldades se interpretarmos a história de modo demais literal, tirando dela o conceito de um céu “lá em cima”, nalgum lugar no espaço.


A história é mais semelhante àquelas da criação do mundo ou da encarnação de Jesus ou da Sua ressurreição, nas quais os eventos que põem em justa posição a realidade transcendente de Deus e o mundo físico os quais, portanto, no podem ser plenamente descritos em termos e categorias que pertencem a este ultimo — se expressam de modo simbólico e pitoresco. O simbolismo da “ascensão” expressa o modo conforme o qual a presença física de Jesus partiu deste mundo, para depois ser substituída pela Sua presença espiritual. Dizer assim obviamente no é negar a realidade ou historicidade daquilo que aconteceu; é, sim, o reconhecimento de que aquilo que aconteceu fica além da descrição simples e literal.


É desta maneira que melhor se entende a história da ascensão de Jesus.
Lucas retrata uma nova cena, onde os discípulos retomam a referência ao reino de Deus no v. 3. A pergunta deles é se Jesus pretende restaurar o reino a Israel. Trata-se, talvez, de uma reflexão da esperança judaica de que Deus estabelecesse o Seu domínio de tal maneira que o povo de Israel ficasse livre dos seus inimigos (especialmente dos romanos) e fosse estabelecido como nação que subjugaria os demais povos. Se for assim, os discípulos apareceriam aqui como representantes daqueles leitores de Lucas que ainda não reconheceram que Jesus transformara a esperança judaica do reino de Deus, purgando dela os seus elementos políticos nacionalísticos.


Outra possibilidade é que os leitores talvez pensassem que “os tempos dos gentios”, durante os quais Jerusalém ficaria desolada, deveriam logo chegar ao fim, dando lugar à vinda do reino de Deus (Lc 21:24, 31); neste caso, haveria uma interpretação secundária da pergunta dos discípulos, em termos das expectativas dos leitores de Lucas. É menos provável que a pergunta realmente tem o sentido de indagar se a vinda do Espírito deve ser interpretada como sendo a restauração do reino. Pelo contrário, trata-se de uma pergunta acerca da proximidade do fim, que era bem natural no contexto dos aparecimentos do Jesus ressurreto: seria muito natural ficar pensando que estes talvez marcassem o início da ultima etapa no plano de Deus.


Não se dá qualquer resposta direta, porém — pelo menos no que diz respeito ao tempo. Em linguagem que relembra Marcos 13:32, Jesus declara com nitidez que a questão do tempo da atuação de Deus é do exclusivo domínio dEle, e não cabe aos homens participar do Seu conhecimento deste assunto. Visto que se trata de segredo de Deus, não há lugar para a especulação humana lição esta que deveria ficar sempre presente com aqueles que ainda procuram ansiosamente calcular o decurso provável dos eventos nos últimos dias. Os discípulos, ao invés de se entregarem aos pensamentos sonhadores ou à especulação apocalíptica, devem cumprir sua tarefa de serem testemunhas de Jesus.


O escopo da sua tarefa é de âmbito mundial. Começa com Jerusalém, a .Judéia e Samaria, e se estende até aos confins da terra. Embora alguns tenham pensado que esta expressão designa Roma, é muito mais provável que tenha um sentido mais lato; o fim de Atos não marca a completação da tarefa aqui proposta, trata-se apenas da conclusão da primeira fase.


Mesmo assim, no sentido geral, o programa aqui delineado corresponde à estrutura de Atos de modo global. Para esta tarefa, os discípulos recebem a promessa do poder do Espírito (Lc 24:49), promessa esta que primariamente se cumpriu no Pentecoste, e secundariamente se cumpriu em muitas outras ocasiões.



Estas palavras têm ênfase especial como palavras finais de Jesus antes da Sua partida; formam estreito paralelo com as Suas ultimas palavras registradas no Evangelho (Lc 24:4649), pouco antes de deixar Seus discípulos, e talvez devam ser entendidas como versão alternativa das mesmas (comparável com a maneira
de Lucas nos oferecer versões ligeiramente diferentes da conversação associada com a conversão de Paulo, nas três narrativas desta).


Imediatamente depois, Jesus foi elevado e uma nuvem o encobriu dos olhos dos discípulos. A função dos discípulos de testemunhas oculares da ascensão é sublinhada pela tríplice repetição deste pensamento neste versículo e no próximo. A nuvem é, ao mesmo tempo, o veículo que “recebe” (ARC) Jesus e O transporta para longe, e o sinal da glória celeste de Deus (cf. Lc 9:34-35; Ap 11:12). É, portanto, urna nuvem sobrenatural e simbólica.


Aqui temos o retrato dos discípulos que olhavam atentamente ao céu enquanto Jesus desaparece, detalhe este que sugere que anseiam pelo reaparecimento de Jesus ou por qualquer outro acontecimento que indicará que aquilo que viram não é o ato final no drama. A sua oração silenciosa é respondida, mediante o aparecimento de dois varões vestidos de branco.


A descrição é aquela dos anjos (Lc 24:4; At 10:30), que usam vestes brilhantes e reluzentes. A função deles é dar o comentário sobre aquilo que acontecera. Perguntam aos discípulos por que estão olhando para as alturas; a pergunta é urna repreensão implícita dirigida a eles por demorarem ali, ansiando pela continuada presença de Jesus com eles. Os discípulos já receberam a ordem quanto àquilo que devem fazer. Agora recebem a confirmação de que a ascensão de Jesus é uma garantia de que, assim como foi possível para Jesus subir ao céu, assim também será possível para Ele voltar da mesma maneira, i.é, sobre urna nuvem na parusia (Lc 21:27; Mc 14:62 cf. Dn 7:13). Desta forma, a promessa da parusia forma o fundo histórico da esperança, diante do qual os discípulos devem desempenhar seus papéis como testemunhas de Jesus. Em efeito, esta passagem corresponde à declaração de Jesus em Mc 13:10, de que o evangelho deve primeiramente ser pregado a todas as nações antes do fim poder vir.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Atos – I. Howard Marshall

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