Chaves para a leitura do Apocalipse
Texto Áureo - “Revelação
de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que
brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou e as notificou a João seu
servo”. Ap 1.1
Verdade
Aplicada - O Apocalipse é um livro aberto, cheio de símbolos,
profecias, juízos e condenações, mas relevante, majestoso e apoteótico.
Objetivos da
Lição
►
Introduzir de modo proveitoso e prazeroso o estudo do Apocalipse.
►
Oferecer informação à identificação correta de personagens e fatos do
Apocalipse.
►
Corrigir possíveis erros de interpretação.
Textos de Referência
Ap 1.3
Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta
profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está
próximo.
Ap
1.12 E virei-me para ver quem falava comigo.
E, virando-me, vi sete castiçais de ouro;
Ap
1.13 E, no meio dos sete castiçais, um
semelhante ao Filho do Homem, vestido até os pés de uma veste comprida e
cingido pelo peito com um cinto de ouro.
Ap
1.14 E a sua cabeça e cabelos eram brancos
como lã branca, como a neve, e os olhos, como chama de fogo;
Ap
1.15 E os seus pés, semelhantes a latão
reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a sua voz, como a voz
de muitas águas.
Ap
1.16 E ele tinha na sua destra sete
estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era
como o sol, quando na sua força resplandece.
Ajuda
Versículos
Prólogo 1:1-8
A Relevância do Apocalipse
“Sobe para aqui”,
diz-lhe a misteriosa voz (Ap 4:1); e João é transportado para dentro de regiões
tão estranhas e remotas que muitos cristãos hesitam em explorá-las com ele. Os
evangelhos e as cartas são territórios mais familiares e mais acessíveis. Será
que este extraordinário livro do fim da Bíblia, pertencente (em mais de um
sentido) a um mundo inteiramente diferente, tem algo a ver com o pragmatismo de
vida do século XXI?
Desde o princípio, no
entanto, o livro do Apocalipse afirma ter sido escrito para o benefício, não de
uma minoria da igreja, mas de todos; e não para a sua própria época somente,
mas para a igreja em todas as épocas. Como todo
o resto da Bíblia, o Apocalipse fala hoje.
A Relevância do Título
Os dois volumes de
história escritos por Lucas (o Evangelho e Atos dos Apóstolos) foram escritos
para uma pessoa chamada Teófilo (Lc 1:3; At 1:1). Apesar disso, não temos nenhuma
dúvida de que o que foi escrito para Teófilo é para leitores de qualquer época.
As cartas de Paulo foram escritas especificamente a grupos de cristãos espalhados
pelo Império Romano. Entendemos que o que o apóstolo escreveu a eles se aplica
igualmente a nós. Todos os escritos do novo Testamento foram destinados
especificamente para os cristãos do primeiro século, mas não hesitamos em
aceitar sua relevância para os cristãos modernos. Ora, se agimos assim a
respeito dos livros que foram escritos especificamente para pessoas ou grupos
de pessoas, quanto mais as partes do Novo Testamento que foram escritas
especificamente para os cristãos em geral!
O título (Ap 1:1-3)
diz que o livro do Apocalipse é desse tipo. É a revelação de Jesus Cristo, dada
por Deus aos seus servos. Se eu sou um dos que servem ao Senhor, então
este livro é para mim, apesar do conteúdo me parecer irrelevante à primeira
vista. É necessário perseverar na leitura para que eu venha a alcançar a bênção
prometida pelo autor (1:3).
A Relevância da Saudação
Apesar de no título
João indicar que a sua mensagem é para os servos de Cristo em geral, na
dedicatória (1:4-8) ele diz estar escrevendo em particular para as sete
igrejas na Ásia. O que João envia àquelas igrejas é algo mais do que as breves
cartas contidas nos capítulos 2 e 3. O livro inteiro é a carta e na frase final
do livro aparecem as palavras de despedida (22:21). Assim, tanto a frase do
título “aos seus servos” como a frase da dedicatória “às sete igrejas que se
encontram na Ásia” referem-se ao livro do Apocalipse como um todo. O que João
escreve em forma de carta a um grupo de igrejas do primeiro século é de
fato uma mensagem a todos os cristãos sem distinção. O princípio e o fim
do Apocalipse colocam-no na mesma categoria das cartas de Pedro e de Paulo, de
Tiago e de Judas, escritas, a princípio, em função de situações enfrentadas
pela igreja primitiva, mas que continham verdades apostólicas que, na intenção
de Deus, deveriam servir à igreja em todas as épocas. O Apocalipse não é um
mero apêndice à coleção de cartas que constituem a parte central do Novo Testamento.
É, na realidade, a última e a mais grandiosa de todas essas cartas. O
Apocalipse é tão abrangedor quanto Romanos, tão glorioso quanto Efésios,
tão prático quanto Tiago e Filemon, e tão relevante para o mundo
moderno quanto qualquer uma delas.
A Relevância da Cena de Abertura
Vamos agora deixar de
lado o título e a dedicatória (1:1-8) e vamos roubar uma prévia da primeira
cena do grande drama onde vemos o Cristo vivo (ressurreto) ditando a João as
cartas para as sete igrejas. A igreja em Pérgamo ele diz: “Tenho, todavia,
contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de
Balaão... ” (2:14).
A igreja em Tiatira
ele diz: “Tenho, porém, contra ti o tolerares que esta mulher, Jezabel.... ”
(2:20). Vejamos o que podemos aprender desses versículos.
Foi no tempo de
Moisés, provavelmente no século XIII a.C., que Balaão iludiu o povo de Deus com
um ensino falso. Em Pérgamo, 1.300 anos mais tarde, encontramos o mesmo falso
ensino iludindo novamente o povo de Deus. Foi no nono século a.C. que Jezabel,
esposa do rei Acabe, causou semelhante confusão no meio do povo de Israel.
Novecentos anos mais tarde encontramos, em Tiatira, não somente os ensinos de
Jezabel, mas a sua própria pessoa uma vez mais em evidência.
É evidente que Cristo
não está falando da reencarnação de Jezabel, mas sim da repetição de um
modelo. A história bíblica está repleta de repetições desse tipo. Assim, por
exemplo, a pregação de Jesus repete as circunstâncias da pregação de Jonas (Mt
12:39ss), e o erguimento do filho do homem sobre a cruz repete o levantamento
da serpente de bronze por Moisés (Jo 3:14). Da mesma forma João Batista não
somente relembra, mas em certo sentido é o profeta Elias que viveu séculos
antes (Mt 11:14).
A carta aos Hebreus,
cuja raiz está no Antigo Testamento, apresenta muitos outros exemplos. A
mensagem de Deus, que veio com urgência através da boca de Davi, dizendo:
“hoje, se ouvirdes a sua voz.... ”, era uma mensagem tão urgente para os
cristãos hebreus que a ouviram mil anos depois de Davi, como havia sido para os
contemporâneos de Moisés que a ouviram trezentos anos antes de Davi (Hb
3:7—4:10). Adentrando mais no passado verificamos que o juramento feito por
Deus a Abraão tem para nós o mesmo valor e força que teve para Abraão (Hb
6:13-18). E voltando ao mais remoto ponto da história humana vemos Abel
expressar sua fé no sacrifício que ofereceu a Deus, e que mesmo hoje “depois
de morto, ainda fala” (Hb 11:4). Assim como em todas as gerações a má
influência de Balaão e Jezabel pode reaparecer, Deus também, em sua
misericórdia, repete constantemente as grandes verdades da salvação; como o
profeta disse, elas “renovam-se a cada manhã” (Lm 3:23).
Precisamos, então,
dar pleno significado ao tempo presente dos verbos a que acabamos de nos
referir. A urgência de Hebreus 3:7, que pode ser traduzida “o Espírito Santo está
dizendo: ‘hoje...se ouvirdes a sua voz’” pode ser comparada à frase sete vezes
repetida em Apocalipse 2 e 3, que poderíamos traduzir de maneira semelhante:
“ouvi o que o Espírito Santo está dizendo às igrejas”. O que temos em
Apocalipse 2 e 3 é uma reafirmação de certas verdades do mundo espiritual, tão
reais nos dias de João como haviam sido nos dias de Jezabel, e não menos
relevantes para nós hoje. A promessa de bênção, no princípio e no fim do
Apocalipse (1:3; 22:7) é para todos aqueles que leem, ouvem e guardam as
palavras desta profecia, sem distinção de tempo.
Uma Consequência Importante
Se é, de fato, assim,
chegamos então a uma conclusão de certa importância.
Antes mesmo de chegar
ao segundo versículo do primeiro capítulo, defrontamo-nos com três questões
importantes que há tempo vêm exercitando a mente dos críticos e comentaristas.
O nome Apocalipse (apokalypsis, no grego) não somente nos diz que é uma revelação
de grandes verdades acerca de Jesus Cristo, mas também vincula o livro a
um tipo particular de literatura judaica chamada “literatura apocalíptica”.
A pergunta que se
segue em função desta relação é: Até que ponto João pretendia que o seu livro
fosse lido como sendo uma literatura apocalíptica? E, por causa disso, quanto
é necessário conhecer sobre a literatura apocalíptica para que se possa
entender o Apocalipse de João? A segunda questão é o próprio João. Será ele,
de fato, João, o apóstolo, o filho de Zebedeu, o mesmo que escreveu o evangelho
e as três cartas, ou será que esta visão tradicional dos fatos é vulnerável, o
que significa que o autor poderia ter sido outra pessoa, mas com o mesmo nome e
com a mesma autoridade. A terceira questão é pertinente aos “servos” a quem o
livro é endereçado. É evidente que poderíamos entender melhor o livro se
pudéssemos saber exatamente quem são os servos e quais as circunstâncias e
necessidades às quais João estava se dirigindo.
O fato de que
questões como essas foram tratadas de forma sumária na introdução não quer
dizer que não sejam importantes; mas faz-se necessária uma advertência. Quando
o leitor se depara com algo que lhe parece obscuro no livro do Apocalipse, ele
pode ser levado a pensar: “se eu tão somente tivesse um conhecimento mais
profundo da literatura judaica, ou da história romana, ou da filosofia grega,
esses mistérios estariam esclarecidos”. Tenho certeza de que isso é ilusório.
Pois o número de servos do Senhor equipados com este tipo de conhecimento será
sempre relativamente pequeno porque “não foram chamados muitos sábios” (1 Co
1:26), e a mensagem do Apocalipse, como já vimos, é endereçada a todos os
servos do Senhor sem distinção. O valor principal do livro deve ser, portanto,
de tal espécie que mesmo os cristãos sem grande cultura possam tirar proveito.
Este fato não
deprecia o valor da pesquisa bíblica e, muito menos, exalta o anti-intelectualismo;
o estudo das Escrituras exige o uso máximo possível da mente do cristão. Mas é
para reafirmar que o requisitado mais importante para o entendimento destes
grandes mistérios é um conhecimento, como o que o próprio João tinha da palavra
de Deus e do testemunho de Jesus Cristo (Ap 1:2 e 9). Para a maioria dos que
resolveram estudar o Apocalipse de João, aquela Palavra e aquele Testemunho
foram a única fonte de iluminação: a Bíblia nas mãos, e o Espírito Santo no
coração. É mantendo este foco de iluminação no centro do caminho a ser
percorrido, em vez de utilizar-se da pequena luz que os estudos críticos lançam
sobre o escuro, é que “quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o
louco” (Is 35:8).
O Título (1:1-3)
Revelação de Jesus
Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve
devem acontecer, e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao
seu servo João, 2o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de
Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.3 Bem-aventurados
aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as
coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.
Esta não é a
revelação de João: ele é apenas o repórter, mas é do Senhor Jesus Cristo; e
mesmo Jesus não é a fonte desta revelação, pois, como podemos ver muitas vezes
no Evangelho de João, o Senhor Jesus recebe-a do Pai. Mesmo passando por cinco
estágios de transmissão: do Pai para o Filho, do Filho para o anjo, do anjo
para o escritor e daí para os leitores, a revelação é apresentada claramente
como a “palavra de Deus e o testemunho de Jesus”. Esta última frase descreve o
que estava para ser mostrado a João na ilha de Patmos.
Já no versículo 9,
onde a frase “a palavra de Deus e o testemunho de Jesus” ocorrem novamente, não
se faz referência ao que João veria, mas ao porquê de ter sido isolado na ilha.
João já ouvira Deus falar e já tinha visto e ouvido Cristo dar testemunho da
veracidade das palavras de Deus. Ele não negaria esta sua experiência cristã,
nem poderia fazê-lo, e por isso foi enviado para o exílio. Agora João receberia
novamente a palavra e o testemunho, uma mensagem genuína da parte de Deus que
no tempo devido deveria ser lida em voz alta nos cultos, como outras porções
das Escrituras (v.3). Esta revelação, em certo sentido, não traria nenhuma
novidade, simplesmente seria uma recapitulação da fé cristã que João já
possuía. Esta seria, porém, a última vez que Deus repetiria os padrões da
verdade e o faria utilizando-se de um poder devastador e um indescritível
esplendor.
Esses versículos
desencorajam as visões “futuristas” do Apocalipse. Com certeza o livro trata
de muitas coisas que ainda jazem no futuro. Mas note-se que a João foram
mostradas “as coisas que em breve devem acontecer”. Esta última frase
é emprestada da literatura apocalíptica pré-cristã e sutilmente modificada por
João. A revelação dada a Daniel consistia no que haveria de acontecer nos
últimos dias (Dn 2:28). A igreja primitiva acreditava que o início da era
cristã e o princípio dos últimos dias, mencionados por Daniel,
aconteceram simultaneamente (At 2:16ss; 3:24). É verdade que a palavra “breve”
pode ser traduzida pela expressão “de repente” e dessa forma poder-se-ia
argumentar que os eventos profetizados por João, quando começassem a acontecer,
se sucederiam rapidamente, mas que poderiam começar a acontecer só muito
depois dos dias de João. De acordo com este ponto de vista, a maior parte do
Apocalipse não estaria cumprida até o dia de hoje. Mas o versículo, como é
apresentado, não se refere a um tempo futuro muito distante. Quando nos
deparamos com a frase de Daniel “o que há de acontecer nos últimos dias “mudada
por João para “as coisas que em breve devem acontecer” logo entendemos
qual é a intenção de João. Sua intenção é mostrar que os eventos preditos para
um futuro distante por Daniel devem agora, nos dias de João, acontecer em
breve. Neste contexto podemos entender melhor a expressão “o tempo está
próximo” (v.3).
Tempo para quê?,
poderíamos perguntar. Tempo para o início do fim e dos eventos a ele
relacionados? Tempo para o início de uma longa série de acontecimentos que
eventualmente anunciarão o fim do mundo? Tempo para alguma tribulação imediata
ou perseguição que será um tipo de presságio do fim? Não é dito a João, de imediato,
a que a expressão se refere.
Mas é digno de nota o
que Daniel tinha em mente quando falou dos eventos que haveriam de ocorrer nos
últimos dias. A profecia de Daniel estava baseada em um sonho de Nabucodonozor
no qual havia sido mostrado ao rei, em forma de uma grande estátua, a sucessão
dos impérios mundiais, começando com o seu. De acordo com a profecia, nos dias
do último daqueles impérios mundiais “o Deus do céu suscitará um reino que não
será jamais destruído” (Dn 2:44).
E João viu a chegada
dos últimos dias. O estabelecimento do reino de Deus foi iniciado com a
vinda de Cristo, e a promessa feita por Daniel de que “este reino não passará
para outro povo: esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo
subsistirá para sempre” (Dn 2:44), começou também a ser cumprida.
O cumprimento de profecias
é um processo e não algo que vem de imediato; é um processo muitas vezes
prolongado, não súbito, como podemos observar apesar dos eventos, que levam ao
clímax, moverem-se bastante rápido. O processo que leva ao clímax ocupa toda
a era da pregação do Evangelho, indo da inauguração do reino (Ap 12:10) até o
seu triunfo final (Ap 11:15). Se o que Daniel previu para os últimos dias
é o que o anjo está trazendo para João, então o tempo está, de fato, próximo.
Ao chegar a carta aos destinatários, nas igrejas da Ásia, eles poderão
afirmar que “estas coisas estão, de fato, acontecendo agora”. É esta
característica imediata dos escritos de João que sempre cativou os leitores
mais dedicados. Portanto, o Apocalipse pode revelar, hoje, no século XXI, a
realidade presente do conflito existente entre o reino deste mundo e o reino
do nosso Senhor.
A Dedicatória (1:4-8)
João, às sete igrejas
que se encontram na Ásia: Graça e paz a vós outros, da parte daquele que é,
que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu
trono, 5e da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunha, o
primogênito dos mortos, e o soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e
pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, 6e nos constituiu
reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos
séculos dos séculos. Amém. 7Eis que vem com as nuvens, e todo olho o
verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão
sobre ele. Certamente. Amém. 8Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor
Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso.
Pelo menos dez
igrejas haviam sido estabelecidas na província da Ásia quando João escreveu o
Apocalipse, portanto deve ter havido alguma razão para que ele escolhesse sete
delas. Por agora queremos simplesmente apontar o fato de que o número de
igrejas às quais João se dirigiu (cujo significado simbólico será considerado
mais adiante ainda em ebdareiabranca.com), bem como a ordem na qual elas são
apresentadas (que, ao que tudo indica, parece ser mais uma questão de simetria
de estilo do que de geografia) parecem indicar que a mensagem é para a igreja
em geral.
João abre a sua
dedicatória com um tipo de saudação que pode ser encontrado na maioria das
cartas no Novo Testamento. Pelo fato de dirigir-se a um público bastante
grande, sua descrição dos remetentes é bastante impressionante. Graça e paz
vêm, neste caso, do Deus triuno e cada uma das pessoas da trindade é mencionada
por sua vez.
A descrição de Deus,
o pai, que relembra o nome divino dado a Moisés em Êxodo 3:14, demonstra a
particularidade de certa porção da linguagem utilizada por João. A gramática do
versículo 4 foi suavizada na versão ERAB. O que João verdadeiramente escreveu
no grego seria o seguinte em português: “Graça e paz da parte de ele
que é... Será que realmente João deveria ter usado “de ele” em vez de “dele” ou
“daquele”? É possível que João estivesse vendo Deus como alguém que é sempre
“ele”, o único sujeito de todas as sentenças, que governa todo o conteúdo do
que está escrito, não sendo “ele” mesmo controlado por nada. Nem mesmo pelas leis gramaticais. Encontramos
no Apocalipse muitas declarações, muito mais explícitas do que esta, do que o
escritor da carta aos Hebreus chamou de “a imutabilidade do seu propósito” (Hb
6:17).
De qualquer forma os
erros gramaticais do Apocalipse estão somente na superfície, e podem ser resultado
da impressionante sequência de visões que o escritor teve. No fundo, os erros
gramaticais são perfeitamente coerentes com a verdade e formam uma peculiar
gramática do espírito.
Aliás, o Espírito que
está diante do trono, o centro da trindade, e que conhece as profundezas de
Deus (1
Co 2: 10ss), é mencionado a seguir. A visão de João o levará para
dentro do santuário celestial, do qual o tabernáculo no deserto era uma cópia e
uma sombra (Hb 8:5). E talvez a ordem de apresentação da trindade de um modo
pouco costumeiro (Pai, Espírito Santo, Filho) corresponda ao plano do santuário
terrestre em que a arca no santo dos santos representa o trono de Deus; o
castiçal de sete hastes no lugar santo representa o Espírito Santo; e no átrio
frontal ficava o altar de bronze com os sacerdotes e sacrifícios, ambos
representantes do trabalho redentor de Cristo.
Se a descrição do Pai
contém um dos primeiros solecismos da parte de João, a descrição do Espírito
Santo contém um dos primeiros mistérios. “Sete espíritos” — seria esta
uma expressão para representar o Espírito na sua natureza essencial, da mesma
forma como as sete igrejas representam a única e verdadeira igreja? Ou será que
eles representam o Espírito igualmente presente em cada uma das igrejas? (Ver
5:6). Ou será que representam os sete dons do Espírito apresentados em Isaías 11:2?
Não sabemos com certeza. Todavia somos avisados de antemão que as chaves que
abrem certas portas do Apocalipse são de difícil acesso.
Deus, o Filho, recebe
uma descrição mais completa. As raízes da descrição encontram-se no Salmo
89:27,37 e a passagem apresenta o triplo ministério de Jesus como profeta,
sacerdote e rei. Com Cristo a trindade chega à terra e a teologia (v.5)
torna-se louvor (vs.5b e 6). Jesus Cristo é o profeta que veio ao mundo para
dar testemunho do evangelho da salvação. Apesar da palavra testemunho
ser a palavra grega martis, o pensamento básico não está relacionado à
morte de Cristo e, sim, ao testemunho que ele dá. A vinda de Cristo é uma
amável deferência da parte dele para conosco.
Ele é o Sacerdote que
se ofereceu a si mesmo e que morreu para depois ressuscitar, não somente para
si, mas para todos os filhos de Deus. Ter sido lavado no seu sangue
(ERC) é uma metáfora bíblica aceitável encontrada, por exemplo, em 7:14; mas a
ERAB diz: “pelo seu sangue nos libertou”, tradução que não somente tem
uma melhor sustentação nos manuscritos originais, como ainda associa o nosso
texto aos acontecimentos descritos no livro de Êxodo, tais como a morte do
cordeiro pascal e a redenção de Israel do jugo egípcio. No Calvário foi
efetuada uma redenção muito mais abrangente.
E seus benefícios são
para nós. Agora o Senhor é exaltado como Rei dos reis, e da mesma forma como Israel
foi libertado da escravidão para se tornar um reino de sacerdotes (Êx 19:6; Ap
5:9-10), é dada a nós a oportunidade de compartilhar do reinado do Senhor. Um
dia o Senhor voltará, como ele mesmo afirmou. Aliás, foi o próprio Senhor, e
não João, que primeiro juntou esta dupla figura profética que envolve as nuvens
e a lamentação das tribos da terra associadas à sua segunda vinda (Dn 7:13; Zc
12:10; Mt 24:30). Aqueles que o traspassaram irão reconhecê-lo e lamentarão a
oportunidade perdida de salvação. Mas seu próprio povo estará a esperá-lo,
sabendo que ele é o “Alfa e o Ômega”, o princípio e o fim de todas as coisas. E
assim o trabalho do Senhor estará terminado.
Este é o Deus
Todo-poderoso que está enviando graça e paz a nós, seus servos, na longa carta
que se segue. Graça e paz em vez de perplexidade e confusão é o que promete o
Senhor a todos que com espírito confiante o procurarem para serem abençoados.
O Apocalipse é um verdadeiro drama. Depois do título e da dedicatória que
formam o prólogo, as cortinas são abertas e o drama começa.
Elaboração pelo:- Evangelista
Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Lições bíblicas BETEL 2012
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