O
FILHO DO HOMEM, 1.9-20
O
Cenário da Visão (1.9-11)
Antes que João
pudesse receber uma apresentação prévia do que ocorreria no futuro, ele precisa
ver o próprio Cristo. O cenário da visão era o apóstolo na ilha de Patmos
(veja mapa 1) em
espírito, no dia do Senhor (10). O assunto da visão era o Filho do
Homem, parado no
meio da sua Igreja.
O autor
apresenta-se como Eu, João (9). A. R. Fausset chama nossa atenção para os paralelos
em Daniel 7.28; 9.2; 10.2 e comenta: “[Essa é] uma das muitas semelhanças entre
os videntes apocalípticos do Antigo e do Novo Testamento, Nenhum outro autor das
Escrituras usa essa frase”.
João se descreve
como vosso irmão, ou companheiro cristão, e companheiro na aflição, e no Reino,
e na paciência de Jesus Cristo. Isso é mais corretamente traduzido da seguinte
forma: “companheiro participante [synkoinonos] na tribulação e reino e perseverança
que estão em Jesus” (NASB). A palavra paciência é um termo passivo demais para
o grego hypomone, que significa “persistência e constância”.
Acerca da frase na
aflição, Bengel faz a seguinte observação convincente: “Esse livro tem um
grande apreço pelos fiéis na aflição”. O livro de Apocalipse foi escrito em uma
época de grande tribulação para os cristãos, e ele se torna muito significativo
em tempos como esses. João estava na
ilha de Patmos. Essa era uma pequena ilha com cerca de 16 quilômetros de
comprimento de norte a sul e não mais do que 10 quilômetros de largura situada
a cerca de 60 quilômetros a sudoeste de Mileto. Ela é constituída de montes
vulcânicos rochosos.
A apóstolo estava
lá por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo. Isso não
significa que ele tinha ido à ilha para pregar o evangelho. Uma paráfrase
correta seria: “porque eu havia pregado a palavra de Deus e dei meu testemunho
de Jesus” (NEB). As pequenas ilhas do mar Egeu eram usadas pelos romanos como
lugares de reclusão, para os quais eram banidos os prisioneiros políticos. Uma
comparação entre 6.9 e 10.4 mostra que no livro de Apocalipse palavra de Deus e
testemunho são usados em conexão com a perseguição dos cristãos. Falando da
opressão por Domiciano (95 d.C.), Eusébio escreve: “Nessa perseguição, de
acordo com a tradição, o apóstolo e evangelista João, que ainda estava vivo, em
conseqüência do seu testemunho da palavra divina, foi condenado a morar na ilha
de Patmos”.
Ele também diz:
“Mas, depois que Domiciano tinha reinado quinze anos, e Nerva chegou ao
governo, o senado romano decretou que [...J aqueles que tinham sido expulsos
injustamente deveriam retornar aos seus lares e ter seus bens restaurados [...]
Foi então que o apóstolo João retornou do exílio e voltou a morar em Efeso, de
acordo com uma tradição antiga da igreja”.
Parece que tempos
de tribulação freqüentemente preparam o terreno para a revelação de Deus ao
homem. Plummer observa: “Foi no exílio que Jacó viu Deus em Betel; foi no
exílio que Moisés viu Deus na sarça ardente; foi no exílio que Elias ouviu ‘uma
voz mansa e delicada’; foi no exílio que Ezequiel viu a glória do Senhor junto
ao rio Quebar; foi no exílio que Daniel viu o “ancião de dias”.
João declara que
quando recebeu a visão, estava em espírito (10). O que isso significa? Os
tradutores têm interpretado essa frase de diversas formas: “em transe” (NT 2Oth
Century), “inspirado pelo Espírito” (Weymouth), “arrebatado no Espírito”
(Moffatt), “possuído pelo Espírito” (Berk.), “no poder do Espírito” (C. B.
Williams), “alcançado pelo Espírito” (NEB). Os comentaristas diferem muito na
tradução. Lange explica a frase como significando o seguinte: “transportado
para fora da consciência ordinária de cada dia e colocado na condição de êxtase
profético”. Simcox traz: “Foi levado a um estado de arrebatamento espiritual”.
Charles diz que egenomen en pneumati (lit.: “tornei-me no espírito”) “não
significa nada mais do que o vidente cair em transe”.
Lenski escreve: “A
frase significa ‘em espírito’, e não deveríamos escrevê-la com letra maiúscula
como que se referindo ao Espírito Santo. Esse é o pneuma de João”. Ele acredita
tratar-se de um êxtase milagroso, “um estado causado diretamente por Deus”. Nós
preferimos a interpretação de Swete que entende que toda a frase “denota a
exaltação de um profeta debaixo da inspiração” (do Espírito).
Essa experiência
imponente veio a João no dia do Senhor. Alguns entendem que isso significa “o
dia do Senhor”, uma frase profética comum no Antigo e Novo Testamento. Eles
acreditam que o vidente foi transportado em espírito para o tempo da Segunda
Vinda.
Mas o grego aqui
descarta essa interpretação. Do Senhor é um adjetivo, não a expressão comum do
genitivo “do Senhor”. Essa expressão ocorre somente mais uma vez no Novo
Testamento (1 Co 11.20 — “a Ceia do Senhor”). Ela significa “pertencer ao
Senhor” ou “consagrado ao Senhor”.
O adjetivo é
encontrado diversas vezes nas inscrições e nos papiros do Egito e Asia Menor,
em que significa “imperial”.O exemplo mais antigo conhecido do uso dessa palavra
está em uma inscrição de seis de julho de 68 d.C. Aqui são encontradas as ex- pressões
“as finanças imperiais” e “tesouro imperial”. Deissmann também observa que desde
30 a.C. até o tempo de Trajano (98-117 d.C.) um certo dia de cada mês era
observado como hemera Sebaste, em memória do nascimento de Augusto, e sugere
que “o título distinto ‘dia do Senhor’ [kyriake hemera] pode ter estado conectado
com sentimentos conscientes de protesto contra o culto ao imperador, ou seja, o
‘dia de Augusto”. Pode ser que os cristãos tenham adotado o nome dia do Senhor
em comemoração à ressurreição de Jesus no primeiro dia da semana. No grego
moderno, o domingo é chamado de kyriake. Dessa passagem no Apocalipse, Charles
diz: “Aqui ‘dia do Senhor’ tornou-se uma designação técnica do domingo”.
Não é difícil
reconstruir o cenário. No exílio em Patmos, João foi impedido de se reunir com
os santos no domingo. Olhando para o mar aberto, ele indubitavelmente pensava
nos cristãos em Efeso reunidos para adorar. Ele bem pode ter estado meditando na
ressurreição. Moffatt sugere: “Com a sua mente absorvida no pensamento do Jesus
exaltado e abastecida com conceitos de Daniel e Ezequiel, o profeta teve o
seguinte êxtase no qual os pensamentos de Jesus e da igreja, já presentes na
sua mente, são unidos em uma visão”.
T. F. Torrance une
as afirmações dos versículos 9 e 10 — Eu, João [...] estava na ilha chamada
Patmos e fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor. Ele então faz esta
observação:
“Nessas duas
sentenças autobiográficas vemos logo de início a situação dupla da qual esse
livro nasceu. Por um lado, há o destino duro e cruel do tempo, mas, por outro,
há o Espírito do Deus Todo-poderoso”.
Assim, preparado no
coração e na mente para a revelação, João ouviu atrás de si uma grande voz (cf.
Ez 3.12). O som veio tão alto e claro como o soar de uma trombeta.
Que dizia (11)
equivale a aspas. Aquele que falava era evidentemente Jesus (cf. vv. 12-13). As
palavras “Eu sou o Alfa e o Omega, o Princípio e o Fim, e” não estão nos manuscritos
mais antigos. O mesmo é verdade para que estão na Asia (cf. v. 4). João recebe
a ordem de escrever em um livro o que vê. A palavra grega é biblion, origem da nossa
palavra “Bíblia”. Ela se refere ao rolo de papiro, para ser distinguido de
pergaminhos mais caros que eram feitos de peles de animais (cf. 2 Tm 4.13). O
rolo de Apocalipse teria cerca de cinco metros de comprimento.
O rolo escrito
deveria ser enviado para as sete igrejas (cf. v. 4). Essas igrejas são agora
designadas pelo nome. As distâncias entre essas cidades são calculadas por
Charles:
“Esmirna ficava a
cerca de 65 quilômetros ao norte de Efeso, Pérgamo a 65 quilômetros ao norte de
Esmirna, Tiatira a 72 quilômetros a sudeste de Pérgamo, Sardes a 48 quilômetros
ao sul de Tiatira, Filadélfia a 48 quilômetros a sudeste de Sardes e Laodicéia a
65 quilômetros a sudeste da Filadélfia”. Bowman escreve: “Uma olhada no mapa da
província romana da Asia mostra as sete igrejas organizadas na forma de um
castiçal de sete braços do Templo de Herodes — números 1 e 7, 2 e 6, 3 e 5
formando pares de lados opostos com o número 4 no topo”.
Sir William Ramsay,
uma das maiores autoridades da história primitiva da Asia Menor, insiste de
forma acertada que deve ter havido um motivo para a seleção dessas sete igrejas
em particular. O primeiro motivo era o sistema de estradas. Ele nota que “todas
as Sete Cidades ficam na grande estrada circular que unia a parte mais
populosa, rica e influente da província, a região centro-ocidental”. Ele
finalmente chega à seguinte
conclusão: “A hipótese inevitavelmente sugere
que os sete grupos de igrejas, em que a província havia sido dividida antes que
o Apocalipse tinha sido composto, eram sete distritos postais, cada um tendo
como centro ou ponto de origem uma das sete cidades”. Isso é apenas uma teoria,
mas ela parece interessante.
O
Tema da Visão (1.12-20)
João se virou “para
identificar a voz de quem estava falando” (NEB) com ele. E virei-me (12) —
melhor traduzido por “tendo me virado” — vi sete castiçais de ouro
— ou “candelabros”
ou “lustres”. Isso é diferente do que o castiçal de sete braços com sete
lâmpadas de Zacarias 4.2. No meio dos castiçais de ouro havia um semelhante ao
Filho do Homem (13). Visto que o grego não tem o artigo definido antes de
Filho, muitos tradutores modernos trazem literalmente: “um filho do homem”.
Plummer concorda com essa tradução e comenta: “O Messias glorificado ainda
apresenta essa forma humana, da maneira como o discípulo amado o havia conhecido
antes da sua ascensão”. Swete observa: “O Cristo glorificado é humano, mas
transfigurado”.96 Semelhantemente, Lange escreve que semelhante (homoios) “é
também em parte indicativo da visão apostólica de que a personalidade humana de
Cristo, em sua glorificação, é vestida com o esplendor de majestade divina”.
A forma mais
satisfatória de tratar a frase um semelhante ao Filho do Homem parece aquela
que Simcox apresenta. Ele diz: “A ausência do artigo aqui não prova que não se
tenha em mente o nosso Senhor, mas que o título foi tirado diretamente do grego
em Daniel 7.13, em que as duas palavras também estão sem o artigo [...] as
palavras em si não significam mais do que ‘eu vi uma figura humana’, mas as
suas associações deixariam claro a todos os leitores do livro de Daniel que foi
um Ser sobre-humano em forma humana; e para um cristão dos dias de João, como
para os do tempo atual, Quem esse Ser era.
Os sete castiçais
(candelabros) são mais tarde identificados como simbolizando “as sete igrejas”
(v. 20). Assim, aqui a figura é de Cristo parado no meio de sua Igreja.
Esse é um
pensamento tremendamente confortante. Mas, também encontramos um desafio nesse
quadro. Se as igrejas são lâmpadas, elas deveriam iluminar as trevas desse
mundo. Moffatt escreve: “A função das igrejas é personificar e expressar a luz
da presença divina sobre a terra [...] seu dever é manter a luz queimando e
brilhando, se não a razão da sua existência desaparece (2.5)”.
Agora vem a
descrição detalhada do Filho do Homem glorificado. O primeiro item é: vestido
até aos pés de uma veste comprida. Com a exceção de vestido [...] de
(particípio passivo perfeito) toda a cláusula é uma palavra no grego, podere.
Ela é, na verdade, um adjetivo, encontrado somente aqui e significando
“alcançando até os pés”. A palavra é usada em Exodo (LXX) para vestimentas
sacerdotais. Moffatt diz que esse termo, “uma veste que alcança até os pés, era
um símbolo oriental expressando dignidade”.’ 00 A próxima cláusula, e cingido
pelo peito com um cinto de ouro, é mais bem traduzido por: “e com um cinturão
de ouro ao redor do peito” (Weymouth). Esse era “mais um símbolo de uma posição
elevada, geralmente reservada a sacerdotes judeus, embora os persas
freqüentemente se dirigissem aos seus deuses como ‘cingidos com cinturão
elevado’ Ao unir essas duas sentenças,
temos uma figura de dignidade sacerdotal e real. Para nenhum outro essa
combinação é tão apropriada quanto para o nosso Senhor.
O terceiro item é:
sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve (14). Swete
observa: “Exposjtores antigos encontram no cabelo branco como neve um símbolo
da preexistência eterna do Filho”. Plummer escreve: “Esse branco como neve é
parcialmente o
brilho da glória celestial, parcialmente a majestade da cabeça branca”.
Mas vários
comentaristas chamam a atenção ao fato de que cabelo branco é um sinal de
decadência quando
associado com idade. Assim, Lenski conclui: “Achamos que essa passagem com o
símbolo do cabelo que é branco como neve e lã tem a intenção de representar Jesus
como sendo coroado com santidade”. Há um paralelo próximo em Daniel 7.9 (LXX).
O quarto ponto na
descrição do Cristo glorificado é que os olhos eram como chama de fogo (phlox
pyros). Essa é uma alusão evidente a Daniel 10.6 — “e os seus olhos, como
tochas de fogo” — uma metáfora comum na literatura latina e grega. J. B.
Smith sugere que
esse aspecto simboliza “onisciência e escrutínio”.’ Swete acrescenta: “O brilho
penetrante [...] que reluzia com inteligência vivaz, e quando necessário surgia
com ira justa, foi percebido por aqueles que estavam com o nosso Senhor nos dias
da sua carne [...] e encontra sua aposição, como o vidente agora percebe, na
vida após a ressurreição e a ascensão”.
O quinto item é: e
os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse
sido refinado numa
fornalha (15). Novamente encontramos um paralelo em Daniel
10.6 — “e os seus
braços e os seus pés, como cor de bronze polido” (cf. Ez 1.4, 7, 27; 8.2).
A palavra grega
para latão reluzente (“bronze polido”, ARA) é incerta quanto ao seu significado
etimológico. Mas, o sentido parece esse apresentado nas nossas versões em português.
O simbolismo sugerido por Swete é: “Pés de latão representam força e
estabilidade”. Refinado também pode ser traduzido por “incandescente” ou
“ardente”. Nas Escrituras, latão parece tipificar julgamento.
Um sexto aspecto é:
e a sua voz, como a voz de muitas águas. Em Daniel 10.6 lemos: “e a voz das
suas palavras, como a voz de uma multidão”. Mas os ouvidos de João estavam
repletos com o bramido das ondas do mar Egeu batendo contra a ilha rochosa de Patmos.
Assim, ele usa essa imagem para descrever a voz. Ao fazê-lo, no entanto, ele estava
fazendo eco a Ezequiel 43.2 — “a sua voz era como a voz de muitas águas”.
O Filho do Homem
tinha na sua destra sete estrelas (16). O significado disso é dado no versículo
20. E da sua boca saía uma aguda espada de dois fios. Essa era originariamente
“uma espada grande, longa e pesada, quase da altura de um homem, que é manejada
com as duas mãos, uma arma dos trácios”. Mas na Septuagínta ela é aparentemente
usada de forma sinônima à palavra mais conhecida para uma espada comum. Lenski
acrescenta: “Onde lemos ‘dois fios’ o grego traz ‘duas bocas’, os dois gumes
mordendo, devorando como duas bocas. A palavra ‘aguda’ é acrescentada. Ela era afiada
a tal ponto que pudesse cortar profundamente”.
A linguagem dessa
sentença parece refletir Isaías 11.4: “e ferirá a terra com a vara de sua boca”;
e Isaías 49.2: “E fez a minha boca como uma espada aguda”. Charles comenta: “A
espada que procede da boca do Filho de Deus é simplesmente um símbolo da sua
autoridade judicial”.”° Retratos literais disso na arte religiosa e diagramas
proféticos mostram-se ridículos e beiram o sacrilégio. Eles deveriam nos
advertir contra representações visuais de figuras simbólicas no Apocalipse. O
último item da descrição é o seguinte: e o seu rosto era como o sol, quando na sua
força resplandece. Esse é um eco óbvio da transfiguração (Mt 17.2).
Depois de observar
os diversos empréstimos do livro de Daniel, Kiddle faz este comentário: “Embora
uma parte do quadro de João não seja original, ele transmite uma concepção do
Messias que é única, porque Cristo é dotado de um esplendor e autoridade que
até então somente tinham sido atribuídos a Deus”. Essa é uma das ênfases inequívocas do Novo
Testamento.
O efeito da visão
foi esmagador: caí a seus pés como morto (17). Daniel experimentou uma reação
muito parecida em sua visão (Dn 10.8-9). Palavras semelhantes são usadas em
Josué 5.14 e Ezequiel 1.28; 3.23; 43.3. Erdman comenta: “Cada visão da pureza,
majestade e poder divino inspira admiração e reverência”.
No entanto, esse
Cristo severo do julgamento também era o Cristo compassivo. Porque ele pôs
sobre João a ua destra (cf. Dn 10.10; Mt 17.1) e disse: Não temas (cf. Dn
10.12). Eu sou o Primeiro e o Ultimo é usado para referir-se a Deus em Isaías
44.6. Mas aqui essa frase se refere claramente a Cristo, e ressalta a sua divindade,
como é o caso em 2.8 e 22.13.
E o que vive (18)
ou “e Aquele que vive” (kai ho zon) — um título divino, aplicado a Deus tanto
no Antigo como no Novo Testamento. Essa frase deveria ser conectada com o que
precede ou com o que segue, [e] fui morto (kai egenomen necros)? Charles
entende que se refere à segunda opção. Ele une os dois itens em uma linha
poética: “E Aquele que vive e estava morto”. Então diz: “Os comentaristas mais
recentes conectam kai ho zon com as palavras precedentes. Mas em cada exemplo,
quer em Isaías quer no Apocalipse, a frase ‘eu sou o Primeiro e o Ultimo’ é
completa em si mesma, e a frase kai ho zon simplesmente enfraqueceria a
plenitude da afirmação feita nessas palavras. Por outro lado, quando conectadas
a kai egenomen necros, elas são cheias de significado no contraste entre a vida
eterna que Ele possui e a condição da morte física à qual se submeteu por amor
do homem”.
Aquele que estava
morto agora pode dizer: eis aqui estou vivo para todo o sempre. Em outras
palavras, Ele é o Eterno. A palavra Amém não é encontrada nos melhores
manuscritos gregos e deveria ser omitida. Há mais uma afirmação: E tenho as
chaves da morte e do inferno. Talvez fosse melhor transliterar hades, em vez de
traduzir por inferno (cf. NVI — “E tenho as chaves da morte e do Hades”).
Uma vez que tem
havido muita discussão acerca desse termo, seria proveitoso estudar um pouco
melhor o seu significado. No pensamento grego, Hades era primeiramente o nome
do deus do submundo. Mais tarde tornou-se sinônimo do submundo em si, como o
lugar dos espíritos dos mortos. Na Septuaginta, Hades é a tradução da palavra
hebraica Sheol, o reino dos mortos.
Josefo, o
historiador judeu do primeiro século, revela o pensamento confuso do judaísmo
nos dias de Jesus acerca desse assunto. Ele declara que os fariseus entendiam
que as almas dos justos e dos ímpios ficavam no Hades.”4 Mas, embora sendo ele
próprio um fariseu, escreve que a alma do obediente “obtém um lugar santíssimo
no céu E...] enquanto a alma daquele que agiu perversamente é recebida no lugar
mais sombrio no Hades”.
Poderia parecer que
o termo Geena, nos ensinamentos de Jesus (cf. Mt 5.22), devesse ser
identificado com o “lago de fogo” de Apocalipse 19.20; 20.10, 14-15. Mas a
morte e o Hades são lançados no lago de fogo (20.14). Assim, obviamente o lugar
do castigo eterno é Geena, não Hades. J. Jerernias escreve: “Em todo o NT,
Hades serve somente como um propósito interino. O Hades recebe as almas após a
morte e os entrega novamente na ressurreição (Ap 20. 13).1 16 Charles diz o
seguinte acerca desse termo em Apocalipse: “De acordo com nosso autor, Hades é
a habitação intermediária somente dos ímpios ou injustos”.
As chaves
significam autoridade. Jesus possui plena autoridade sobre o domínio da morte e
do Hades. R. H. Charles apresenta uma observação apropriada acerca do versículo
18: “Esse versículo descreve o triplo conceito de Cristo em João: a vida eterna
permanente que Ele tinha independentemente do mundo; sua humilhação a ponto de
morrer fisicamente e sua ressurreição para uma vida não somente eterna em si
mas para uma autoridade universal sobre a vida e a morte”.
Charles Simeon nota
que nos versículos 17-18, Jesus faz uma afirmação tríplice de ser: 1) o Deus
eterno; 2) o Salvador vivo; 3) o Soberano universal.
João já havia
recebido a ordem de escrever em um rolo “o que vês” (v. 11). Agora a ordem é
repetida e feita de forma mais explícita: Escreve as coisas que tens visto, e
as que são, e as que depois destas hão de acontecer (19).
Erdman rejeita
fortemente a “concepção popular” de que esse versículo nos fornece um esboço triplo
do livro de Apocalipse.Mas nós preferimos seguir Charles quando escreve: “Essas
palavras resumem, grosso modo, o conteúdo do livro. Ha eides [as coisas que
tens visto] é a visão do Filho de Deus que tinha acabado de ser mostrada ao
vidente; ha eisin [as que são] refere-se diretamente à condição atual da
Igreja, mostrada nos capítulos 2 e 3, e indiretamente ao mundo em geral; he
meilei ginesthai meta tauta [as que depois destas hão de acontecer] diz
respeito às visões a partir do capítulo 4, que, com a exceção de algumas seções
que se referem ao passado e ao presente, tratam do futuro”. Esse é o esboço
adotado neste comentário.
O primeiro capítulo
termina com uma explanação do mistério das sete estrelas [...] e dos sete
castiçais. Acerca dessa expressão significativa Erdman escreve:”‘Mistério’ é no
uso do Novo Testamento, verdade ou realidade divinamente revelada”. Swete diz
que mistério é “o significado interno de uma visão simbólica”.
João é informado de
que as sete estrelas representam os anjos das sete igrejas. Uma vez que a
palavra grega angelos significa “mensageiro” e é claramente usada para
mensageiros humanos em Lucas 7.24; 9.52 e Tiago 2.25, muitos acreditam que a
referência aqui seja aos mensageiros que seriam enviados com as cartas às sete
igrejas — talvez delegados que vieram daqueles lugares para visitar João — ou
mais simplesmente, os “pastores” das igrejas. Essa idéia é contestada, visto
que nas mais de 60 vezes que a palavra angelos é usada nesse livro dissociada
da conexão com as igrejas, ela sempre se refere a seres sobre-humanos.
Swete conclui: “Há,
portanto, uma forte conjectura de que os angeloi ton ecciesion são ‘anjos’ no
sentido que a palavra tem em outras partes do livro”. Charles concorda
plenamente. Swete também não concorda em identificá-los como “anjos guardiões”
das igrejas. Ele finalmente chega a uma conclusão: “Conseqüentemente, a única interpretação
que sobra é a que entende que esses anjos são duplicatas ou contrapartes
celestiais das sete Igrejas, que, assim, vêm a ser identificadas com as
próprias Igrejas”. Provavelmente, mais aceitável é o ponto de vista de Erdman
de que “anjo” é “o espírito predominante” na igreja, “uma personificação do
caráter, temperamento e conduta da igreja”.
Parece que um ponto
de vista melhor formulado é o de Alfred Plummer. Ele escreve:
“A identificação do
anjo de cada igreja com a própria Igreja é mostrada de uma maneira marcante
pelo fato de, embora cada epístola ser dirigida ao anjo, ainda assim, a estrofe
recorrente seja: “ouça o que o Espírito diz às igrejas”, não “aos anjos das
igrejas”. O anjo e a Igreja são os mesmos sob diferentes aspectos: um no seu
caráter espiritual personificado; o outro, na congregação dos crentes que
coletivamente possuem esse caráter.
Mas nos perguntamos
se essa interpretação deixa espaço adequado para a distinção
entre as estrelas e
os castiçais. Este comentarista é relutante em desistir da visão popular de que
os anjos são os pastores das igrejas um pensamento grandemente confortador: eles
são guardados nas próprias mãos de Cristo.
Elaboração pelo:-
Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica
Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Fone:- Comentário
Bíblico Beacon
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