sexta-feira, 23 de março de 2012

O FUTURO

O FUTURO

Apocalipse 4.1—22.21

Nesse ponto ocorre no livro de Apocalipse uma mudança drástica de cena e assunto. R. H. Charles escreve: “O contraste dramático não podia ser maior. Até aqui a cena das visões do Vidente tinha sido a terra; agora é o céu [...] Nos capítulos 2 e 3 tivemos uma descrição vivida das igrejas cristãs da Ásia Menor [...] Mas no momento que deixamos a inquietação, as aflições, as imperfeições e apreensões que permeiam os capítulos 2 e 3, passamos no capítulo 4 para uma atmosfera de segurança e paz perfeita [...] Prevalece uma harmonia infinita de justiça e poder”.

A cena muda da terra para o céu. O assunto muda do cuidado de Cristo como Cabeça pelas condições predominantes na igreja para a autoridade soberana sobre seu universo.
Já observamos que 1.19 sugere uma divisão tríplice do livro de Apocalipse: 1) O Passado — “as coisas que tens visto”, cap. 1; 2) O Presente — “as coisas que são”, caps. 2—3; 3) O Futuro — “as coisas que hão de vir”, caps. 4—22.

Quanto à interpretação das duas primeiras divisões há uma pequena diferença de opinião. João teve uma visão de Jesus glorificado parado no meio da sua Igreja (cap. 1). Isto está claro. Nos capítulos 2—3, encontramos as cartas às sete igrejas da Ásia. A maioria dos comentaristas concorda que essas cartas descrevem condições reais em igrejas reais no primeiro século — embora elas também possam dar uma visão geral das condições gerais a serem encontradas na cristandade até os nossos dias. 

Mas quando chegamos à terceira seção de Apocalipse, a situação é bastante diferente. Desconsiderando os “aspectos lunáticos” de incontáveis aberrações, descobrimos três principais escolas de interpretação. A primeira, chamada a preterista, encontra o cumprimento dos capítulos 4—22 nos eventos do período imperial. O grande inimigo da Igreja, a besta, é o Império Romano.

A segunda, chamada historicista, busca o cumprimento nos acontecimentos sucessivos de toda a era da Igreja e nos eventos culminantes que se seguem. Aqui geralmente se afirma que a besta é a igreja católica romana ou, mais especificamente, o papado.

A terceira, chamada futurista, entende que o livro de Apocalipse, a partir de 4.1, ainda precisa ser cumprido no fim dessa era. Ela continua sendo futura do ponto de vista do leitor de hoje. A besta é identificada como o Anticristo. Veremos todas as três interpretações em conexão com passagens-chave.

Essa terceira seção do Apocalipse parece compor-se de sete visões:

1) O Trono e o Cordeiro (4.1—5.14);
2) Os Sete Selos (6.1—8.1);
3) As Sete Trombetas (8.2—11.19);
4) A Sétupla Visão (12.1—14.20);
5) As Sete Taças (15.1—16.21);
6) As Sete Ultimas Cenas (17.1—20.15);
7) A Nova Jerusalém (21.1—22.21).

O TRONO E O CORDEIRO, 4. 1—5.14

1. A Adoração a Deus como Criador (4.1-11)

A primeira visão é dupla. Ela mostra a adoração a Deus como Criador (cap. 4) e a adoração a Cristo como Redentor (cap. 5). Essa adoração, João vê acontecer no céu.

a) O trono de Deus (4.1-6a). João viu uma porta aberta no céu (1). O grego claramente afirma que João viu uma porta que tinha sido aberta e permanecia aberta (particípio passivo perfeito). Como Simcox diz: “Ele viu a porta aberta; ele não a viu sendo aberta”. Era uma porta da revelação que permitiu uma visão do céu. Barclay observa que nesses primeiros capítulos do livro encontramos “Três Portas Importantes na Vida”: 1) A porta da oportunidade (3.8); 2) A porta do coração humano (3.20); 3) A porta da revelação (4.1).

A primeira voz, que [...] ouvira falar comigo é evidentemente a voz de Cristo, mencionada em 1.10. Lá, como aqui, ela é descrita como o som de trombeta, poderosa e penetrante. Essa voz disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer. João teria uma prévia do futuro.

Logo o vidente foi arrebatado em espírito (2). Para o significado dessa frase veja
os comentários em 1.10. Aqui evidentemente significa que João foi levado espiritualmente (não fisicamente) para o céu.

Lá ele viu um trono e Alguém sentado nele. Aquele sentado no trono era na aparência, semelhante à pedra de jaspe e de sardônica, com um arco semelhante à esmeralda (3). Swete faz essa observação útil: “A descrição rigorosamente evita detalhes antropomórficos, O olho do vidente fica detido pelo luzir das cores como de pedras preciosas, mas ele não vê nenhuma forma”

A identificação dessas três pedras é debatida. Não se sabe ao certo se a pedra de jaspe era vermelha ou verde. A pedra sardônica era vermelha. O arco (gr., iris4) era semelhante à esmeralda, que é verde. Phillips traduz essa passagem da seguinte maneira: “Sua aparência resplandecia como diamante e topázio, e ao redor do trono brilhava um arco semelhante a um arco-íris de esmeraldas”

Nos vinte e quatro assentos ao redor do trono havia vinte e quatro anciãos assentados (4). Por que vinte e quatro? Alguns sugerem que eles representavam os vinte e quatro turnos dos sacerdotes (1 Cr 24). Vitorinus, o comentarista latino mais antigo de
Apocalipse, diz que os anciãos representavam os doze patriarcas e os doze apóstolos.
Com base nisso, Swete encontra “na representação dupla a sugestão dos dois elementos que coexistiam no novo Israel, os crentes judeus e os crentes gentios que eram um em
Cristo. Assim, os 24 anciãos formavam a Igreja em sua totalidade”. Melhor ainda, eles podem ser considerados os representantes de todo o povo de Deus, tanto dos santos do
Antigo Testamento quanto dos cristãos.

Esses anciãos estavam vestidos de vestes brancas; e tinham sobre a cabeça coroas de ouro. Eles estavam limpos e coroados. A palavra para coroas significa as coroas dos vencedores (cf. 2.10).

Do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes (5). Esses três elementos são mencionados em conexão com a concessão da lei (Ex 19.16). Barclay comenta: “Aqui João está usando a imagem que é regularmente conectada com a presença de Deus”.
Diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo que eram identificadas como os sete Espíritos de Deus. A referência é evidentemente ao Espírito Santo (veja comentários de 1.4).

Havia diante do trono um como mar de vidro (6). Isto é, ele parecia como um mar de vidro. Para ressaltar sua transparência, é acrescentado: semelhante ao cristal. Quanto ao significado do mar semelhante ao vidro, Swete diz: “Ele sugere a vasta distância que, mesmo no caso de alguém que estava parado na porta do céu, existia entre ele mesmo e o Trono de Deus”.

b) As quatro criaturas viventes (4.6b-8). Elas estão no meio do trono e ao redor do trono (6). Essa estranha combinação é explicada da seguinte maneira por Moffatt: “e
no meio (de cada lado) do trono e (conseqüentemente) ao redor do trono”.
Animais (zoa) deveria ser traduzido por “criaturas viventes”. A tradução aqui é particularmente infeliz visto que “animais” ou “bestas” é a tradução correta de theria nos capítulos 11—13. Trench escreve o seguinte acerca dessas duas palavras gregas:

“Ambas desempenham um importante papel nesse livro; ambas têm um simbolismo muito elevado; mas ambas se movem em esferas tão distantes uma da outra quanto dista o céu do inferno. As zoa ou ‘criaturas viventes’, que estão diante do trono e em quem habitam a plenitude de toda criatura [...] constitui uma parte do simbolismo celestial; as theria, a primeira besta e a segunda [...] essas formam parte do simbolismo diabólico”.
Os quatro animais (“criaturas viventes”) são descritos como cheios de olhos por diante e por detrás. Isso sugere que eles sabiam tudo que estava acontecendo; isto é, eles mantinham uma vigilância ininterrupta.

Tem havido muita discussão em relação ao significado dessas quatro criaturas viventes. Lenski escreve: “As zoa têm sido chamadas de esfinge do Apocalipse. Um autor oferece vinte e uma interpretações”. Mas isso é tornar a situação desnecessariamente difícil. Swete sugere esta simples explicação: “As zoa representam criação e a imanência divina na natureza”. Um pouco mais adequada é a interpretação de Donald Richardson:
“Quatro é o número cósmico: e as quatro criaturas viventes dos versículos 6-8 são o símbolo de toda a criação redimida, transformada, aperfeiçoada e trazida para debaixo da obediência à vontade de Deus e manifestando a sua glória”. Alguns entendem que os vinte e quatro anciãos representam os santos redimidos de todos os tempos e as quatro criaturas viventes representam os seres angelicais.

As quatro criaturas viventes são descritas como: semelhante a um leão [...] semelhante a um bezerro [...] o rosto como de homem [...] semelhante a uma águia voando (7). Essas são as mesmas faces das “quatro criaturas viventes” [animais] de Ezequiel 1.5-10 e similares às faces dos “querubins” de Ezequiel 10.14. Ao entender que as criaturas viventes representam toda criação, Swete escreve: As quatro formas sugerem [ respectivamente ] o que é mais nobre, mais forte, mais sábio e mais veloz na natureza animada”.” Alguns dizem que Mateus tipifica Cristo como um leão (Rei), Marcos como um bezerro, ou boi (Servo), Lucas como um homem (Filho do Homem) e João como uma águia voando (Filho de Deus). Os paralelos, embora interessantes, não devem ser exagerados.

Cada uma das quatro criaturas viventes tem respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro, estavam cheios de olhos (8). Uma tradução melhor seria: “E as quatro criaturas viventes, cada uma delas tendo seis asas, estão cheias de olhos ao redor e por dentro” (NASB). Donald Richardson sugere que as asas “simbolizam a perfeição do seu equipamento para o serviço de Deus”.’4 Quanto ao significado dos olhos veja os comentários do versículo 6.

Acerca das quatro criaturas viventes lemos: e não descansam nem de dia nem de noite. Swete escreve: “Essa atividade ininterrupta, da natureza debaixo da mão de Deus é um tributo ininterrupto de louvor”. Elas clamam: Santo, Santo, Santo. Esse é um eco do clamor dos serafins em Isaías 6.3. Senhor Deus, o Todo-poderoso substitui o “Senhor dos Exércitos” em Isaías. Acerca do significado de que era, e que é, e que há de vir, veja os comentários em 1.8.

No versículo 8, encontramos “Um Cântico de Louvor a Deus”: 1) Pela sua santidade;
2) Pela sua onipotência; 3) Pela sua eternidade (Barclay).

c) O louvor universal (4.9-11). As quatro criaturas viventes dão glória, e honra, e ações de graças a Deus (9). Swete diz: “Enquanto time (honra) e doxa (glória) dizem respeito às perfeições divinas, eucharistia (ações de graça) se refere aos dons na criação e redenção”.’6 Que vive para todo o sempre é encontrado novamente em 4.10; 10.6; 15.7. Deus é supremamente o “Deus vivo”.

Na sua adoração ininterrupta, as quatro criaturas viventes recebem a companhia dos vinte e quatro anciãos, que se prostram diante do que estava assentado sobre o trono (10). Eles estavam assentados na sua presença (v. 4). Mas agora são impelidos a prostrar-se em adoração diante do Eterno, lançando suas coroas de vitória aos seus pés.
Isso era “equivalente a um reconhecimento de que sua vitória e sua glória eram de Deus, e isso somente por meio da graça dele”.

Ao adorá-lo, eles o aclamavam como Digno [...] de receber glória, e honra, e poder (11). Eles o reconheciam como o grande Criador de todas as coisas. Para a sua vontade (thelema) são e foram criadas. O grego diz: “elas eram, e foram criadas”. Novamente Swete apresenta a melhor explicação: “A Vontade divina tinha feito do universo um fato no projeto das coisas antes que o Poder divino desse expressão material ao fato”.

2. A Adoração de Cristo como Redentor (5.1-14)

No capítulo 4, vimos Deus sentado no seu trono eterno, recebendo louvor perpétuo.
No capítulo 5, encontramos Cristo, o Cordeiro, revelado como Redentor divino,

a) O livro selado (5.1-5). O Eterno, sentado no seu trono, tinha em sua mão direita um livro (1). A palavra grega é biblion —. lit.: “feito de papiro” — de onde vem a “Bíblia”.
Ela significa um “rolo” ou “pergaminho” (veja comentários em 1.11). Esse rolo foi escrito por dentro e por fora. Geralmente, a escrita aparecia somente por dentro, onde as tiras de papiro corriam horizontalmente. Mas, ocasionalmente, também se escrevia do lado de fora, onde sería difícil escrever nas tiras perpendiculares. Folhas de papiro (de onde vêm o “papel”) eram elaboradas ao se colarem tiras de papiro horizontais sobre tiras verticais. Esse é o material no qual a maior parte do Novo Testamento, se não todo ele, foi originariamente escrito. 

Nossos manuscritos gregos mais antigos, do terceiro século, são de papiro.
Esse rolo foi selado com sete selos. Selado é o particípio passivo perfeito de um verbo composto, sugerindo que ele foi “completamente selado”, ou “selado firmemente”.
Esse aspecto é reforçado com a menção dos sete selos, o número da perfeição ou inteireza,

Alguns acreditam que os sete selos se referem a um costume legal daquela época.
Charles os descreve como: “Uma resolução, de acordo com o Testamento Pretoriano, na lei romana trazia os sete selos das sete testemunhas nos fios que seguravam as tabuinhas ou o pergaminho [...] Esse Testamento não podia ser executado até que todos os sete selos tivessem sido quebrados”.

Qual livro João tinha visto? Muitas respostas têm sido apresentadas a essa pergunta. Simcox resume algumas delas. Ele escreve: “O ponto de vista tradicional, se de fato existe um, desse livro selado é que ele representa o Antigo Testamento, ou de forma mais geral, as profecias das Escrituras, que só se tornam compreensíveis com O seu cumprimento em Cristo”. Rejeitando isso, ele continua: “Muitos comentaristas pós-Reforma, tanto romanos quanto protestantes, têm considerado o livro como o próprio Apocalipse”. Ele acrescenta: “A maioria dos comentaristas modernos generaliza e entende que este é o Livro dos conselhos de Deus”. Simcox prefere interpretá-lo como o Livro da Vida (20.12; 2 1.27).

O ponto de vista mais comumente aceito relaciona esse livro com as “coisas que depois destas devem acontecer” (4.1); isto é: Apocalipse 4—22. Charles escreve: “O rolo contém os decretos divinos e os destinos do mundo [...] Em outras palavras, o livro é uma profecia das coisas que ocorrem antes do fim”. Ele acrescenta: “Que esse livro é selado com sete selos mostra que os conselhos e julgamentos divinos que ele contêm são um segredo profundo 1...) que somente pode ser revelado pela mediação do Cordeiro”. Swete o chama simplesmente de “Livro do Destino”. Erdman diz: “Ele contém todos os decretos de Deus, um esboço de todos os eventos até o fim dos tempos. Os capítulos seguintes revelarão esses conteúdos”.

E vi (2) torna-se uma frase recorrente (cf. 5.1; 6.1; 7.1; 8.2; 9.1; 10.1), introduzindo novos aspectos. Com grande voz, alcançando todo o universo, um anjo forte (cf. 10; 18.21) proclamou: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? A quebra dos selos necessariamente precederia a abertura do livro, mas a abertura é colocada primeiro porque é o principal objeto procurado.

Num primeiro momento, a proclamação em alta voz não foi respondida: E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele (3). Ninguém (oudeis) claramente inclui seres angélicos e humanos. Essa situação desagradável incomodava João grandemente. Ele diz: E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno (apto) de abrir o livro (4).

Mas o problema agonizante foi logo resolvido. Um dos anciãos disse a João para parar de chorar. Havia boas-novas: o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi [...] venceu para abrir o livro (5). O primeiro desses títulos para Cristo nos leva de volta ao tempo em que Jacó abençoou seus doze filhos. Ele descreveu Judá como um “leãozinho” ou filhote (Gu 49.9). Mas Jesus foi o supremo Leão dessa tribo. Ele também foi a Raiz de Davi (cf. 22.16). 

Essa expressão é um eco de Isaías 11.1,10; também citado em parte em Romanos 15.12. E um termo messiânico. No período intertestamentário parecia que a casa de Davi tinha morrido. Em Cristo reapareceu.

Venceu (enikesen) vem de nike, “vitória” (cf. Phillips — “obteve a vitória”). Charles comenta: “Enikesen deve ser entendido aqui, como sempre na LXX e no NT, de forma absoluta. Esse termo expressa que de uma vez por todas Cristo venceu [...] e o propósito dessa vitória era capacitá-lo a abrir o livro do destino e levar a história do mundo até os seus estágios finais [...] A vitória tinha sido obtida por meio da sua morte e ressurreição”.

b) O Cordeiro morto (5.6-7). Um Leão tinha sido anunciado, mas um Cordeiro (6) apareceu. Esse é um dos paradoxos de Cristo. Os judeus esperavam que seu Messias fosse “o Leão da tribo de Judá”. O que eles não perceberam foi que Ele precisa ser primeiro “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Por causa da menção do Cordeiro [...] morto, alguns interpretam o “livro” desse capítulo como que se referindo à redenção. Straus declara: “O assunto do rolo selado é a redenção”.

A palavra grega para Cordeiro (arnion) é usada para Cristo vinte e sete vezes no
Apocalipse. Literalmente, ela significa “cordeirinho”. No entanto, Jeremias observa que nos tempos do Novo Testamento ela não tem mais a força de um diminuitivo.

Embora um cordeiro geralmente traga consigo a idéia de desamparo e fraqueza, esse Cordeiro tinha sete pontas, significando poder perfeito, e sete olhos, indicando conhecimento perfeito. Ele é onipotente e onisciente. Os sete olhos são então identificados como sendo os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra.3’ Isso significa o Espírito Santo (veja comentários em 1.4).

O versículo 7 é traduzido literalmente da seguinte forma: “E veio e tomou da mão direita do que estava sentado no trono”. Assim João descreve com bastante realismo a ação enquanto ela ocorre. Mas, obviamente o livro precisa ser suprido como objeto e algum copiador posterior o inseriu.

c) A companhia que canta (5.8-14). Quando o Cordeiro pegou o rolo, as quatro criaturas viventes e os vinte e quatro anciãos (veja comentários em 4.4, 6) prostraram-se diante dele (8). Todos eles — talvez apenas os anciãos32 — tinham harpas. O melhor texto grego está no singular: “Cada um tendo uma cítara” (ou lira). Eles também tinham salvas de ouro cheias de incenso. O incenso simboliza as orações dos santos. Swete nota que o uso de incenso em algumas igrejas nos tempos modernos, talvez com base nessa passagem, não tem apoio dos Pais da igreja dos três primeiros séculos.

Eles cantavam um novo cântico (9). Christina Rossetti habilmente disse: “O céu é revelado à terra como a pátria da música”.33 A expressão um novo cântico ocorre uma série de vezes nos Salmos (33.3; 40.3; 96.1; 98.1; 144.9; 149.1). Ela também é encontrada em Isaías 42.10.

O hino que se segue é um hino de adoração a Cristo, o Redentor. Ele era digno (cf. v. 2) de tomar o livro e de abrir os seus selos. Por quê? Porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus. A idéia de que somos comprados da escravidão do pecado com o sangue de Cristo é de grande importância no Novo Testamento. 

Essa é a redenção, o tema central da Bíblia. Somos comprados para Deus; portanto, pertencemos a Ele. Não está escrito de quem fomos comprados; a ênfase estápor quem e para quem. Essa redenção se estende a toda a humanidade, às pessoas de toda tribo, e língua, e povo, e nação — “representantes de cada nacionalidade, sem distinção de raça
ou posição geográfica ou política”.

Pela sua redenção graciosa, Cristo os fez reis e sacerdotes para o nosso Deus
(10). Essa combinação das funções real e sacerdotal do crente é encontrada diversas
vezes no Novo Testamento. Ela já ocorreu em 1.6 e voltará a ocorrer em 20.6. Pedro usa a expressão “o sacerdócio real” (1 Pe 2.9). Que privilégio sublime!

Eles reinarão sobre a terra parece apontar para o reino do milênio. A KJV traz:
“Nós reinaremos sobre a terra”. Mas muitos estudiosos (incluindo Swete e Charles) entendem que a tradução aqui deve ser: Eles reinarão. Mesmo isso poderia ser tomado como um presente profético. Há um sentido no qual os santos reinam com Cristo agora.
Mas o cumprimento mais amplo olha para o futuro.

Swete ressalta o significado dos versículos 9-10: “O ‘novo cântico’ reclama para Je-
sus Cristo o lugar singular que Ele tomou na história do mundo. Por meio de um ato
supremo de abnegação Ele comprou homens de todas as raças e nacionalidades para o serviço de Deus, fundou um vasto império espiritual e transformou a vida humana em um serviço sacerdotal e uma dignidade real”.

Os versículos 9,10 mostram “A Morte de Jesus Cristo” como: 1) Uma morte sacrificial
— com o teu sangue; 2) Uma morte libertadora — nos compraste; 3) Uma morte universalmente expiatória — de toda tribo; 4) Uma morte eficaz — os (nos) fizeste. E olhei (11) é o mesmo no grego que “e vi” nos versículos 1 e 2. Dessa vez o vidente também ouviu a voz de muitos anjos ao redor do trono. O número deles era de milhões de milhões (gr., myriadas myriadon, “dez milhares de dez milhares”) e milhares de milhares (chiliades chiliadon). As mesmas duas expressões, só que na ordem inversa, são encontradas em Daniel 7.10. E uma típica linguagem apocalíptica, ressaltando a grandeza e majestade de Deus.

A grande voz (12) sugere um grito em vez de um cântico. As miríades de anjos clamavam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. Essa expressão é quase duplicada em 7.12. Uma sétupla descrição semelhante de honra é encontrada em 1 Crônicas 29.11-12. A lista de sete itens sugere perfeição de poder e glória. Toda criatura (13) participou nessa adoração a Deus e ao Cordeiro. Quatro habitações são mencionadas — que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e [...] no mar. O último item é acrescentado ao “universo de três andares” costumeiro (cf. v. 3). Toda criação estava engajada em louvar o Pai e o Filho. Charles comenta: “Assim, o universo de coisas criadas, os habitantes do céu, da terra, do mar e do Hades, se unem na parte final do louvor diante do trono de Deus”.

Quatro itens de louvor são mencionados aqui, em comparação com os sete mencionados no versículo 12. Mas no grego, o artigo é repetido com cada um dos quatro itens, dessa forma ressaltando os diversos itens para a ênfase individual. Ações de graça é eulogia. Quando aplicada a Deus, como aqui, essa palavra significa “louvor”.
Honra (time) sugere primazia. Glória (doxa) fala do “esplendor” de Deus, um brilho que irradia da sua presença. Poder não é dynamis, mas kratos, que significa “força” ou “vigor” (“might” em inglês).

As quatro criaturas viventes disseram: Amém (14), confirmando a doxologia anterior. Os vinte e quatro anciãos tomaram parte da adoração ao Eterno no trono. Charles sugere que há quatro maneiras de o Amém ser usado no livro de Apocalipse:

1) “O amém inicial no qual as palavras do falante anterior são referidas e aceitas como se fossem as suas próprias palavras”, como em 5.14; 7.12; 19.4; 22.20;
2) “o amém separado”, como aqui;
3) “o amém final sem mudança de orador”, como em 1.6,7; 4) “o Amém”, como um nome aplicado a Deus em 3.14.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Comentário Bíblico Beacon

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