quarta-feira, 21 de março de 2012

Introdução Apocalipse

                                                          Introdução Apocalipse

Alguém disse acerca do livro de Apocalipse: “Ele é ao mesmo tempo o livro mais respeitado, o mais incompreendido e o mais negligenciado dos escritos do Novo Testamento”.’ Ele tem sido chamado de “o livro mais abusado da Literatura Cristã”. Barclay observa: “O Apocalipse é notoriamente o livro mais difícil do Novo Testamento”.

A veracidade dessa declaração é ressaltada pelo fato de Calvino se abster de escrever um comentário desse livro. Adam Clarke, quando chegou até o livro de Apocalipse, quase decidiu não escrever acerca do mesmo. Ele finalmente concordou com essa complexa tarefa, mas se expôs à difícil situação de citar longos textos de outro autor. Os sentimentos de Clarke são expressos nestas palavras: Estou satisfeito em saber que ainda não foi descoberto um modo certo de interpretar as profecias desse livro, e não vou acrescentar um outro monumento à insignificância ou insensatez da mente humana ao empenhar-me em iniciar um novo estudo.

Vou repetir o que já disse, não entendo esse livro; e estou satisfeito em saber que ninguém que escreveu a respeito desse assunto sabe mais do que eu E...] Eu havia resolvido, por um tempo considerável, não ocupar-me com esse livro, porque previ que não poderia produzir nada satisfatório acerca do mesmo [...] Mudei minha decisão e acrescentei breves notas, principalmente filológicas, nos trechos em que achei que entendi o significado.

John Wesley chama atenção ao grande valor dos capítulos de abertura e conclusão de Apocalipse, e acrescenta: “Mas deixei de estudar as partes intermediárias por muito anos, sem esperança de entendê-las, após as tentativas infrutíferas de tantos homens sábios e bons; e talvez deveria ter vivido e morrido com esse sentimento, se não tivesse conhecido as obras do grande Bengelius”.’ Wesley então decidiu prover um resumo das notas de Bengel. Mas esse grande comentarista alemão caiu na armadilha de definir datas (e.g., 18 de junho de 1836, para a destruição da besta). Spurgeon adverte: “Se um expositor tão magnífico vagueia dessa forma, isso deveria servir de advertência para homens menos instruídos”.

Autoria

No início e no fim o livro afirma ter sido escrito por um homem chamado João (1.1, 4,
9; 22.8). Mas quem era esse João? Essa pergunta tem causado muita discussão.

Evidências Externas

Em sua monumental obra de três volumes, New Testament Introduction (Introdução ao Novo Testamento), Guthrie mostra que o livro de Apocalipse foi citado amplamente pelos Pais da igreja como tendo sido escrito pelo apóstolo João. Ele diz: “No segundo e terceiro séculos, os seguintes autores claramente acreditavam na autoria apostólica: Justino, Irineu, Clemente, Orígenes, Tertuliano e Hipólito”.  Guthrie afirma que “existem poucos livros no Novo Testamento com uma atestação primitiva mais forte do que o Apocalipse”.’


O testemunho mais antigo é de Justino, o Mártir (e. 150 d.C.). Em seu Dialogue with Trypho the Jew (Diálogo com Trifo, o judeu, LXXXI), ele diz: “Além do mais, um homem entre nós chamado João, um dos apóstolos de Cristo, recebeu uma revelação e predisse que os seguidores de Cristo habitariam em Jerusalém por mil anos”.9

Evidência Interna

A situação torna-se um tanto mais complicada quando nos voltamos para o próprio testemunho do livro. O problema está na diferença de linguagem e estilo entre o Evangelho e as epístolas de João de um lado e o Apocalipse do outro. Isso foi percebido por Dionísio, um famoso bispo de Alexandria (morreu em 264 d.C.). Ele escreveu:

Também podemos notar como a fraseologia do Evangelho e das epístolas difere do livro de Apocalipse. O Evangelho e as epístolas são escritos não só de maneira irrepreensível, no que tange à linguagem, mas são também elegantes na fluência, nos argumentos e em toda a estrutura de estilo [.1 Não nego que o autor do Apocalipse teve uma revelação e recebeu conhecimento e profecia. Mas percebo que tanto o seu dialeto quanto a sua linguagem não podem ser considerados um grego muito requintado; o autor, na verdade, usa expressões bastante impuras.”

Por essa e outras razões, Dionísio entendeu que o Apocalipse não foi escrito pelo mesmo João que escreveu o quarto Evangelho e 1 João. Mas ele foi cuidadoso ao expressar a sua convicção e disse que o Apocalipse foi obra “de um homem santo e inspirado”.

O estilo de Apocalipse é descrito por Wikenhauser nestes termos: “O autor escreve em grego, mas pensa em hebraico; ele freqüentemente traduz expressões hebraicas literalmente para o grego. Irregularidade gramatical e estilística é a regra nesse livro”.
Guthrie tem o seguinte comentário acerca do autor de Apocalipse: “Ele coloca nominativos em oposição [aposição?1 com outros casos, usa particípios de maneira irregular, constrói frases quebradas, acrescenta pronomes desnecessários, mistura gêneros, números e casos e introduz diversas construções incomuns”.

De que maneira podemos explicar essa diferença de linguagem? Westcott acredita que o livro de Apocalipse foi escrito bem cedo e acha que o contato próximo posterior com pessoas de fala grega tornou possível para João usar o grego refinado encontrado no Evangelho.’4 Mas, como vamos ver mais tarde, é preferível datar os dois livros mais ou menos no mesmo período.

Zahn sugere uma explanação mais válida. Ele diz que o fenômeno lingüístico de Apocalipse é devido, em parte, “à dependência das próprias visões e de sua forma literária baseada no modelo dos escritos proféticos do Antigo Testamento”. Esse argumento parece válido pelo fato de nenhum outro livro do Novo Testamento fazer um uso tão abundante do Antigo Testamento. Em sua tradução do Novo Testamento, Beck fornece no final de cada livro uma lista de referências do Antigo Testamento que são citadas ou aludidas de forma clara no livro em análise. No final de Apocalipse, ele apresenta quase 300 referências dos livros proféticos do Antigo Testamento — incluindo aproximadamente 70 referências de Daniel, que não é classificado como “Profeta” pelos judeus. Isso mostra que o autor de Apocalipse estava saturado com o espírito e ensinamentos dos profetas hebreus.

O uso repetitivo de Daniel pelo autor de Apocalipse — mais do que de qualquer outro livro do Antigo Testamento — acrescenta mais um fator. A linguagem de Apocalipse é definitivamente apocalíptica. Ao manter a ênfase em cataclismos e catástrofes — duas palavras gregas apropriadas — é mais do que natural que a linguagem apocalíptica fosse abrupta e quebrada em estilo.

Daniel é o grande apocalipse do Antigo Testamento — junto com Ezequiel, que também é mencionado com freqüência em Apocalipse. No período intertestamentário, apareceram muitos apocalipses judaicos. Muito tem sido dito nos anos recentes acerca da relação entre o livro de Apocalipse e esses apocalipses judaicos, bem como em relação aos apocalipses cristãos dos primeiros séculos da Igreja. Inúmeros livros foram escritos nessa área.” Mas sempre deve ser lembrado que o livro de Apocalipse é mais do que um apocalipse; ele também é uma profecia. Bowman escreveu com propriedade:

Se devemos encontrar um protótipo para o Apocalipse, seria mais próximo da verdade [...1 relacioná-lo tanto em forma quanto em conteúdo ao escrito profético do Antigo Testamento do que a qualquer literatura apocalíptica quer judaica ou cristã que apareceu entre 175 a.C. e 100 d.C. Diferentemente dessa literatura, João fala do seu livro como “profecia” em seis passagens e apenas uma única vez como “apocalipse” no seu título.

Há ainda uma outra possibilidade que deveria ser considerada. João provavelmente escreveu seu Evangelho e epístolas em Efeso, onde teria os serviços de excelentes copistas (secretários) gregos. Mas se ele escreveu o livro de Apocalipse na ilha de Patmos, como parece ter sido o caso, ele próprio teria de escrever o livro. O estilo grego rústico seria então o seu próprio.

Na verdade, as diferenças na linguagem entre o Apocalipse e o Evangelho e as epístolas de João têm sido grandemente exageradas. Guthrie observa que “apesar das diferenças lingüísticas e gramaticais, o Apocalipse apresenta uma afinidade maior com o grego dos outros livros de João do que com qualquer outro livro do Novo Testamento”.’

O que com freqüência tem passado despercebido é o fato de haver uma série de afinidades marcantes entre o Apocalipse e o Evangelho de João. Guthrie chama a nossa atenção para um ponto importante: “Os dois livros usam a palavra ‘Logos’ para referir-se a Cristo, uma expressão que não é usada em nenhuma outra parte do Novo Testamento além da literatura joanina (Jo 1.1; Ap 19.13)”.” Mais uma comparação é:

“Existe um gosto perceptível por antíteses nos dois livros”. Westcott já tinha chamado a atenção para esse detalhe em seu comentário acerca do Evangelho de João, em que escreveu: “Ambos apresentam uma visão de um conflito supremo entre os poderes do bem e do mal”. Ele acrescenta: “No Evangelho, as forças opositoras são apresentadas debaixo de formas abstratas e absolutas, como luz e trevas, amor e ódio; no Apocalipse, debaixo de formas concretas e definidas, Deus, Cristo e a Igreja guerreando com o diabo, o falso profeta e a besta”. Essas e outras afinidades tendem a apoiar uma autoria comum.


As vezes se toma como certo que todos os estudiosos do Novo Testamento hoje em dia rejeitam completamente a idéia de que o Apocalipse foi escrito por João, filho de Zebedeu. Mas, isso não é verdade. Stauffer escreve: “Em vista de tudo isso, temos base suficiente para atribuir esses cinco escritos a um autor comum, de uma individualidade marcante e grande significância, e identificá-lo como o apóstolo João”. Alan Richardson diz concernente ao Evangelho: “A evidência, tal como a encontramos, não exclui a possibilidade de que a tradição que conecta o quarto Evangelho ao nome de João, filho de Zebedeu, esteja certa, afinal”.24 E, em relação ao Apocalipse? Ele diz: “Hoje pode ser seriamente sustentado que o autor de Apocalipse não é ninguém mais do que o próprio autor do quarto Evangelho, adotatdoo. estilo e imagem convencional da literatura apocalíptica judaica da época como o instrumento de comunicação da sua ‘profecia’ a uma igreja perseguida”

DATA

Duas datas principais para a composição de Apocalipse têm sido sugeridas. Uma é
em torno de 65 d.C., quando os cristãos estavam sendo perseguidos por Nero. A outra é em torno de 95 d.C., durante as perseguições realizadas por Domiciano. O grande triunvirato de Cambridge — Lightfoot, Westcott e Hort — acreditava que o Apocalipse foi escrito durante o tempo de Nero. Mas, como Swete observa: “A primitiva tradição cristã é quase unânime em atribuir o Apocalipse aos últimos anos de Domiciano”.

Iríneu é a testemunha antiga mais importante. Conforme é citado por Eusébio, ele diz no quinto livro de Against Heresies (Contra Heresias): “Se, no entanto, fosse necessário proclamar o seu nome [i.e., Anticristo] abertamente no tempo presente, seria declarado por ele que teve a revelação, porque não faz muito tempo que foi visto, quase em nossa própria geração, no fim do reinado de Domiciano”. A maioria dos Pais da igreja posteriores segue a interpretação de Irineu.

Há uma série de argumentos que apóiam essa data posterior. Um argumento diz que o livro de Apocalipse parece claramente refletir a presença da adoração ao imperador na província da Asia. Embora haja evidência da divinização extra-oficial e adoração de imperadores mais antigos, “não houve nenhuma tentativa oficial de reforçar o culto até a última parte do reinado de Domiciano”.

Mais um argumento é a severidade da perseguição refletida no livro de Apocalipse (1.9; 2.12; 3.10; 6.9). Com relação a Domiciano, Guthrie escreve: “Esse imperador mandou matar seu parente Flávio Clemente e baniu a esposa dele com a acusação de sacrilégio (atheotes), o que fortemente sugere que isso ocorreu por causa do cristianismo, visto que a esposa, Domitilia, é conhecida, de inscrições, como tendo sido cristã”. O quadro apresentado no Apocalipse parece encaixar-se melhor no reinado de Domiciano.

Um terceiro argumento citado com certa freqüência é o mito da ressurreição de Nero. Após a morte desse imperador maníaco em 68 d.C., surgiu uma lenda de que ele continuava vivo e que voltaria como líder à frente de um exército de partos para invadir o Império Romano. Swete comenta: “A lenda, na verdade, não surgiu sem um correlativo histórico. Quando o Apocalipse foi escrito achavam que Nero tinha, na verdade, voltado na pessoa de Domiciano”.


Alguns acreditam que Apocalipse 13.3 e 17.8 se referem à lenda a respeito de Nero.
McDowell afirma: “E claro que o autor de Apocalipse não acreditava nesse mito, mas parece bastante provável que ele o empregou em conexão com o seu simbolismo”.3’
Uma data no reinado de Nero (e. 65 d.C.) não pode ser descartada. Mas, de acordo com
os argumentos acima e especialmente à luz da forte tradição da Igreja Primitiva, parece- nos mais sensato ficar com uma data na última parte do reinado de Domiciano (e. 95 d.C.).

Destinatários

O livro foi dirigido às “sete igrejas que estão na Ásia” (1.4); isto é, a província da Asia, no lado ocidental da Asia Menor (veja mapa 1). As sete igrejas são mencionadas em 1.11.

Propósito

O propósito principal era confortar e encorajar os cristãos nas suas perseguições presentes e nas futuras ao assegurar-lhes o triunfo final de Cristo e seus seguidores. Também era necessário advertir as igrejas contra falhas na doutrina ou na prática cristã.

Estrutura

Que o livro de Apocalipse é altamente dramático dificilmente pode ser questionado por qualquer leitor atento. Até que ponto esse fenômeno afeta a estrutura do livro?
Bowman tornou esse o fator dominante. Depois de notar que a forma de carta ou epístola se aplica particularmente à saudação de abertura em 1.4-6 (1.1-3 sendo o título do livro) e à bênção final (22.21), ele trata do restante do livro como um drama literário. Entre o Prólogo (1.7-8) e o Epílogo (22.6-10) ele encontra sete atos, cada um com sete cenas.32 Todo o esquema é realizado com grande engenhosidade — demais para alguns críticos! Mas o quadro como um todo causa grande impacto e torna o livro de Bowman uma leitura muito interessante.

McDowell começa o drama com o capítulo 4 e sugere dois atos, com sete cenas cada. Kepler encontra “sete atos e dez cenas”. Embora esses esboços difiram um pouco em detalhes, todos eles salientam o fato de que sete é o número predominante em Apocalipse. Há sete cartas, sete selos, sete trombetas e sete taças. Poderia parecer que os selos, as trombetas e as taças não representam séries sucessivas de julgamentos, mas deveriam ser interpretados em termos de repetição e revisão. Erdman resume a estrutura do livro desta forma:

Na verdade, contraste e repetição e clímax são traços evidentes na estrutura literária do livro. No entanto, o aspecto mais distinto é o da simetria. Cada uma das cartas às sete igrejas segue o mesmo esquema literário exato. Todas as sete igrejas formam uma seção descritiva da Igreja em sua imperfeição e perigo atual. Com esses capítulos o livro abre, e, com equilíbrio poético, fecha com a figura da Nova Jerusalém, nos dois capítulos contendo a visão da Igreja, perfeita e gloriosa.



Nas cinco seções centrais há a mesma ordem harmoniosa e artística. Duas seções, dos selos e das trombetas, descrevem revolução e catástrofe, das quais naturalmente emergem os grandes antagonistas cujo conflito forma o ponto central da ação dramática, enquanto as duas seções das taças e julgamentos retratam vivida- mente a destruição dos inimigos de Cristo e preparam para a imagem final da sua Igreja aperfeiçoada no esplendor da “nova terra”.



Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Fonte:- Comentário Bíblico Beacon

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