TERROR SANTO
Apocalipse
1.17-20
As pessoas movimentam-se por
todos os lugares. O prelúdio já começou. Adoradores dormem em seus bancos
favoritos. Como se fora uma reunião meramente social, o coral entra no
santuário, começa sua marcha rotineira e ocupa as galerias. Diáconos bem
vestidos mantém as portas abertas, e distribuem periódicos. O santuário está
incandescente com a luz do sol que lhe entra pelos vitrais. Porteiros acomodam
os visitantes. Flores decoram o altar. Quando o prelúdio começa a crescer, cessa
o sussurro. É hora de adorar o Cristo ressurreto. O órgão e o piano comovem os
corações. Tudo isto mexe com os seus sentimentos.
O maestro faz sinais discretos, e
o coro cresce em uníssono. Com sorrisos exultantes e corações incandescentes,
cantam, do fundo da alma, a chamada para a adoração. O hino convida a
congregação, já preparada espiritualmente a alegrar-se e a oferecer louvor ao
grande Deus e Salvador.
É um momento santo!
Como se estivesse caminhando por
um jardim sagrado, o pastor dirige-se ao púlpito. Com as mãos voltadas para o
céu, ora para que Deus se faça presente: “Deus, visita o teu povo hoje. Senhor,
és bem-vindo neste culto. Vem agora e revela-te a nós. Enche este culto com a
tua presença. Em nome de Jesus, para tua glória, amém!” Agora, suponha que Deus
respondesse a oração. O que aconteceria se Jesus atendesse ao requerimento do
pastor? E se o próprio Jesus, física e gloriosamente, viesse à igreja?
Pense! As portas de trás do
santuário repentinamente abertas. Luzes ofuscantes inundando o corredor
central. As bases do tem- pio começam a tremer. Bancos tremulam, o incenso
entra na igreja.
Misteriosamente, Jesus move-se
pelo corredor central. O calor intenso de sua presença é sentido por todos.
Para onde quer que Ele olhe, raios de luz despendem de seus olhos e penetram as
paredes do santuário. Ele fala; o som é ensurdecedor.
Não há dúvida sobre sua presença.
O Senhor soberano da igreja - Jesus Cristo - está presente. O Santuário foi
invadido pelo Santo, não pelo carpinteiro de Nazaré, tampouco pelo humilde
rabino da Galiléia. Mas pelo glorioso Senhor. Vestido de trajes reais. Sua
cabeça, de um branco brilhante. Seus pés, resplandecentes como latão reluzente.
Sua voz, ensurdecedora. Ele segura sete estrelas. Uma espada aguda procede de sua
boca. Sua face brilha como sol, ninguém pode contemplá-la.
Agora, deixe-me perguntar: Qual
seria a reação da igreja? Como o coro reagiria a tal visita? E o pastor? O que
os porteiros fariam? Qual seria sua reação? Continuaria cantando? Iria até Ele
apresentar-se? Convidaria- o a sentar-se perto de você, e, com Ele, dividiria o
hinário? Pediria-lhe que explicasse alguns mistérios que o deixam perplexo?
Correria a abraçá-lo? Pediria-lhe um autógrafo em sua Bíblia?
Duvido! A única e imediata reação
seria cair de joelhos com o rosto em terra perante Ele. Ficaríamos ofuscados
pela sua glória. Cobrindo nossos rostos, cairíamos de joelhos em adoração.
Ninguém permaneceria de pé, nem iniciaria uma conversa. Com temor e tremor,
reconheceríamos sua divina presença.
Foi precisamente assim que João
reagiu à tremenda visão de Cristo. Certo domingo, o próprio Jesus entra,
repentinamente na adoração de João. A voz como de trombeta dominou a atenção do
apóstolo. Ao voltar-se para ela, contemplou a impressionante glória. Sem véu.
Imaculada.
Ele caiu como madeira cortada.
Eis a questão: Jesus anda no meio
dos candelabros, e ainda revela-se a si mesmo a seu povo. Ele vem à igreja.
Precisamos reagir apropriadamente. Não vamos nos aproximar de Cristo para
apertar-lhe a mão. Tampouco o convidaremos a sentar-se ao nosso lado para
compartilhar-lhe o hinário. Não iríamos nem mesmo apreentar4he as questões que
mais nos inquietam. Nossa reação seria a mesma de João.
Terror santo encheria nossos
corações. Seríamos inundados imediatamente pela submissão, certeza, confissão,
reverência, reavivamento e conforto.
Assim reagiu João àquela visão
impressionante.
Possa nossa reação ser como ele.
E
eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra,
dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto,
mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e
do inferno. Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois
destas hão de acontecer: O mistério das sete estrelas, que viste na minha
destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete
igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas (Ap 1.17-20).
Qual a reação apropriada à
impressionante visão de Cristo? Ela acha-se, aqui, na experiência de João.
Um Coração
Contrito
Em primeiro lugar, a visão
glorificada daquele que é Santo desperta a percepção de nossos pecados. Olhando
para quem é Cristo, vemos quem somos. Eis porque a primeira reação de João foi
de arrependimento e total submissão.
E
eu, quando o vi, caía seus pés... (Ap l.17a).
Imediatamente, João fica
prostrado. Cada nervo, trêmulo. Ele procura um lugar para se esconder da
presença santa de Cristo. Mas não há onde se esconder. João está diante do
Cristo em toda a sua glória. O apóstolo está na presença daquEle que é Santo,
daquele infinitamente maior que todo o Universo. Por isto, cai de joelhos.
Aterrorizado, prostra-se aos pés de Jesus. A alma, dominada. O espírito,
vencido. O coração, partido em pedaços. Ele coloca o rosto em terra diante de
Cristo.
Por que João estava tão submisso?
O velho apóstolo olha à própria
Deidade. Mas nenhum mortal pode olhai para Deus e viver; seria consumido pelo
calor de sua presença! Deus já advertira a Moisés: “Não poderás ver a minha
face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Ex 33.20). Ninguém
pode ver a Deus e viver. Ninguém. Seria mais fácil caminhar pela superfície do
sol que entrar na presença de Deus em toda a sua glória.
“Certamente morreremos; porquanto
temos visto a Deus” (Jz 13.22), constrange-se Manoá. O pai de Sansão sabia que
merecia a morte, porquanto houvera visto a Deus.
A experiência de Ezequiel não foi
diferente. O profeta viu o trono acima do firmamento - exaltado. E, sobre o
trono, a figura de um homem - o Cristo glorificado e majestoso! As pernas e os
pés, como latão reluzente. Ao vê-lo, Ezequiel prostra-se com o rosto no pó,
como se um edifício fora implodido (Ez 1.22-28). Quem pode permanecer em pé na
presença do Deus Santo? Novamente Ezequiel vê a glória de Cristo, e cai sobre o
seu rosto (Ez 3.22,23). E trazido à instantânea submissão. Vê a face de Cristo
brilhando mais que o sol. Ouve-lhe a voz como o som de muitas águas; novamente
cai sobre seu rosto (Ez 43.2,3).
Finalmente, Deus revela a glória
de Cristo a Ezequiel. E mais uma vez, o profeta cai sobre o seu rosto (Ez
44.4). Todas as vezes que vê a Cristo - deidade resplandecente prostra-Se
diante dEle.
Saulo de Tarso age de igual modo.
Ao viajar para Damasco, uma luz resplendente, vinda do céu, cerca-o. Era a
visão ofuscante da glória de Cristo. Instantaneamente, Saulo cai, fica
prostrado: “Quem és Senhor?” Cristo responde: “Eu sou Jesus, a quem tu
persegues” (At 9.3-5). Submissão instantânea, humildade genuína.
Esta é a experiência do apóstolo
João. Vendo a glória de Cristo, o ancião agiu como os que lhe antecederam.
Prostra-Se diante de Cristo.
A visão do Cristo glorificado
sempre nos levará a dobrar os joelhos diante dEle. Submissão e humildade
resultarão disto. Como João, estejamos a seus pés. Humilhemo-nos mais e mais. O
reavivamento começa quando vemos a Cristo. E, instantaneamente, não somos mais
nós mesmos. Se ficarmos em total submissão diante de Cristo, Deus trabalhará em
e através de nós.
Voltemos a João. Ele cai sobre
sua face ao ver a deidade de Jesus. Nesse mesmo segundo, vê o apóstolo a
própria corrupção. João tem real consciência de si. A santidade de Cristo
mostra-lhe todas as imperfeições. No olhar daquele que é Santo, o apóstolo vê a
auto-estima quebrada. Ele entende quem Cristo é. Conscientiza-Se da
pecaminosidade de seu coração.
Quando vemos o Cristo Santo,
imediatamente vemo-nos como ímpios. Entre sua santidade e nossa impiedade, há
um infinito abismo. Se entendermos sua santidade, nunca saberemos quão
profundos são nossos pecados. Comparando-nos aos outros, parecemos
respeitáveis. Mas a Ele, somos as mais indignas das criaturas. Quanto mais nos
aproximamos da luz, mais exposta fica a sujeira de nosso coração.
Isaías reagiu à santa presença de
Deus devido à convicção do pecado. “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao
Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o
templo. Os serafins estavam acima dele; cada um tinha seis asas:
com duas cobriam os seus rostos,
e com duas cobriam os seus pés e com duas voavam. E clamavam uns para os
outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos: toda a terra
está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que
clamava, e a casa se encheu de fumo. Então disse eu:
Ai de mim, que vou perecendo! “Porque
eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros
lábios: e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.1-5).
O profeta dizia: “Sou um mísero
pecador! Maldito e sentenciado a morrer!” Esta também foi a experiência de
Pedro. Depois de um longo dia tentando pescar, Jesus mandou que Simão voltasse
para o alto mar, e lançasse as redes. Simão respondeu: “Sobre tua palavra
lançarei a rede”.
Mesmo a contragosto, Pedro
obedeceu. E para sua surpresa, a pesca foi tão extraordinária que as redes
rompiam-se. Simão fez sinal aos companheiros que estavam no outro barco para
que o ajudassem. Foram, e logo ambos os barcos estavam cheios de peixes. Tanto,
que os barcos começaram a afundar. Ao ver isto, Pedro entendeu que estava na
presença do Deus Santo! Sua soberba foi dolorosamente exposta, e seu mísero
coração, cortado ao meio. Na mesma hora caiu aos pés de Jesus, confessando:
“Senhor, ausenta-te de mim que sou um homem pecador” (Lc 5.8).
Ele desmanchou-se como um pano já
roto. Nunca imaginaríamos que Pedro, mais tarde, nos admoestasse dessa maneira:
“Sede sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste
ao soberbo, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois debaixo da potente
mão de Deus” (1 Pe 5.5,6). O orgulhoso Pedro muito aprendeu sobre a humilhação
aos pés de Jesus.
Esta é a postura de todos os que
vêem a glória de Cristo. Mesmo hoje, os crentes que vêem ao Cristo glorificado
nas páginas das Escrituras são impulsionados a cair de joelhos aos seus pés. Corrie
Teu Boom foi uma vez indagada se lhe era difícil permanecer humilde. Sua
resposta foi simples: “Quando Jesus entrou em Jerusalém, montado num
jumentinho, e todos começaram a acenar-lhe com palmas, atirando-lhas na estrada
e dando- lhe louvores, você acha que, por um momento sequer, aquele jumentinho pensou
ser para ele alguma daquelas palmas?” E continuou: “Se eu puder ser o
jumentinho no qual Jesus Cristo monte em sua glória, dar-lhe-ei toda a honra e
o louvor”.
É o que somos. Pequenas criaturas
onde o Senhor cavalga sua glória. Nunca podemos esquecer-nos disto. E você? Já
viu a ruína e pecado de seu próprio coração? Tem sido humilde diante da
santidade de Cristo? Você já caiu com o rosto em terra diante do Senhor? A
igreja só avança com os joelhos dobrados.
A Reverente
Admiração
Em segundo lugar, a visão do
Cristo glorificado implica num santo e saudável temor a Deus. João não se
limitou a cair com o rosto em terra; ele o fez de maneira dramática. Caiu aos
pés de Jesus como morto! O apóstolo foi assolado por tamanho temor que
desmaiou! Estava sem fala, aterrorizado, trêmulo, traumatizado, chocado,
imóvel, atordoado. Anos antes, João inclinava confortavelmente a cabeça sobre o
peito de Jesus (Jo 13.25). Agora, desintegra-se como um pecador na presença do
Deus santo.
Um pequeno garoto teria de atuar
numa peça da escola. Suas únicas palavras eram: “Sou eu, não temas!” Mas ficou
com tanto medo do palco que, quando subiu ao tablado, tudo que pôde dizer foi:
“Sou eu e estou morrendo de medo!” Foi assim que João se sentiu. Estava sem
fala, sem saliva; em choque.
Toda visão da glória de Cristo é
sempre acompanhada de temor a Deus. Quando os discípulos viram a glória de
Cristo no Monte da Transfiguração, ficaram mui chocados. Ao ser transfigurado
diante deles, a face de Jesus brilhava como o sol, e suas vestes tornaram-se
tão brancas como a luz. Como os discípulos reagiram? “Caíram sobre seus rostos,
e tiveram grande medo” (Mt 17.6).
O temor de Deus é a legítima
resposta espiritual? No centro de toda fé verdadeira, há um saudável e santo
temor a Deus que nos faz tremer. Não é o medo que um jovem sente ao ver o
vizinho valentão aproximar-se de si. E o respeito que o jovem sentiria se
estivesse diante do presidente do Brasil, no Palácio do Planalto. Temor a Deus
é reverência e respeito. Temer a Deus é ver a santidade e o poder de Cristo. É
o senso de reverência ao se perceber sua majestade.
A presença de Jesus sempre causa
medo. Treme-se ao entender-lhe a deidade. Depois que Jesus acalmou a
tempestade, os discípulos ficaram aterrorizados ao darem-se conta de que o Deus
Santo estava no barco (Mc 4.4 1). A mulher que lhe tocou a orla dos vestidos,
ficou mui perturbada ao tocar-lhe a glória (Mc 5.33).
O temor a Deus é o princípio do
verdadeiro conhecimento sobre Ele. “O temor do Senhor é o princípio da ciência”
(Pv 1.7). E a essência de seu conhecimento.
Salomão, o homem mais sábio dos
homens, escreveu: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e a ciência do
Santo, a prudência” (Pv 9.10). Este é o paralelismo hebreu. O temor do Senhor é
o conhecimento daquele que é santo. Conhecê-lo é temê-lo.
A primeira regra da vida cristã é
temer a Deus. Novamente Salomão escreve: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é:
Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque este é o dever de todo o
homem” (Ec 12.13). Quando reduzimos a vida ao seu menor denominador comum, a
essência de seu significado é temer a Deus.
Primeira Regra:
Temer a Deus
Pense em Jó. Foi o homem mais
poderoso de seus dias. O Senhor mesmo o disse: “Observaste tu a meu servo Jó?
Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a
Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1.8).
O temor do Senhor era a
referência da maturidade espiritual. Não entenderemos de maneira correta esta
visão de Cristo até que ela nos inspire temor no coração. Sua presença
maravilhosa precisa impulsionar-nos a dobrar os joelhos. Melhor estar morto aos
pés de Jesus que vivo em qualquer outro lugar.
Certa vez, Charles Lamb observou
a Robert Browning: “Se Shakespeare entrasse neste aposento, deveríamos todos
nos levantar para recepcioná-lo, mas se Cristo aqui aparecesse todos deveríamos
prostrar-nos e tentar beijar-lhe a orla dos vestidos”. Esta é a diferença entre
o respeito comum e a reverente admiração.
Enfrentemos o fato. Não há o
menor temor de Deus, hoje, em nossas igrejas.
Todas as coisas, hoje, acontecem
com o propósito de afastar tal temor. Ninguém quer ser abalado. Mas a visão de
Cristo faz exatamente isto. Abala-nos por dentro e por fora.
A Paz
Tranqüilizadora
O Soberano Senhor, agora, estende
o braço, e coloca a mão sobre o apóstolo. Ela está estendida a João. E o fim da
vida dele? Este é o Cristo da santidade e também da graça. Jesus recusou
permitir que João ficasse prostrado sobre sua face sem olhá-lo. Enquanto
tremia, algo notável aconteceu.
...ele
pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me Não temas; Eu sou o primeiro e o último;
e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E
tenho as chaves da morte e do inferno (Ap l.l7b,18).
Já que João achava-se
claudicante, a onipotente mão o alcançou para restaurar-lhe a alma
desintegrada. E um toque de graça sutil; traz conforto e paz. Neste momento,
João lembra da misericórdia saradora de Cristo e de sua graça fortalecedora.
Jesus sempre tocou os
necessitados. Se um cego, tocar-lhe-ia para recobrar-lhe a visão. Se surdo,
para dar-lhe audição. Se algum outro enfermo, para dar-lhe completa saúde. Se
um bebê, segurá-lo-ia para o abençoar. Um leproso; curá-lo-ia instantaneamente.
O toque de suas mãos traz graça fortalecedora.
Não admira que Jesus estendesse a
mão e tocasse o apóstolo que, agora com 90 anos, quase morre de ataque cardíaco
ao ver revelada a glória de Deus. Ele precisava ser restaurado e tranqüilizado.
Na fraqueza de João, o poder de Cristo se aperfeiçoa (2 Co
12.9, 10).
Que contraste! A mão que segurava
a espada de dois gumes, agora gentilmente conforta João. O coração santo por
trás do cinto de ouro é movido, agora, de profunda compaixão. Os olhos de fogo,
agora, olham favoravelmente para João. A voz implacável, como se fora muitas
águas, fala agora palavras meigas de reafirmação e encorajamento. Com a
finalidade de confortar a João, Cristo revela-se a si mesmo. O que Jesus revela
é fortalecedor.
E
eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra,
dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto,
mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e
do inferno
(Ap 1.17,18).
São palavras estarrecedoras;
reivindicam-lhe a divindade. Era como se o Senhor dissesse a João: Olhe para
mim, e receba conforto.
Eu
Sou
Certamente João deve ter se
lembrado daquela expressão tão familiar: “Eu sou”. Fora ele próprio, afinal,
quem havia escrito várias delas, reivindicando a divindade do Senhor Jesus. “Eu
sou o pão da vida” (Jo 6.35). “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12). “Eu sou a
porta das ovelhas” (Jo 10.7). “Eu sou o bom pastor” (Jo 10.11). “Eu sou a
ressurreição e a vida” (Jo 11.25). “Eu sou o caminho a verdade e a vida” (Jo
14.6). “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1). “Eu sou” era o nome escolhido
por Deus para si mesmo. Significava sua eternidade, auto-suficiência e graciosa
redenção. Deus mandou que Moisés o declarasse a Faraó. Mas Moisés ponderou: “Há
tantos deuses no Egito. Como o saberão?”
Deus denominou a si mesmo com um
nome que está sobre todo e qualquer deus. Ele ordenou: “Assim dirás aos filhos
de Israel: Eu Sou me enviou a vós” (Ex 3.14. Isto significa: “Eu sou o
auto-existente, eterno e soberano Deus”. Não “Eu era o que Eu era”. Tampouco,
“Eu serei o que Eu serei”. Mas, “Eu sou o que sou’,.
Agora Jesus toma este nome divino
para identificar a si mesmo. Ele está declarando ser Deus. Nada traz refrigério
a nossas almas como o nome de Deus. Nada.
O Primeiro e o
Último
Jesus afirma ser “o primeiro e o
último”. Esta é outra declaração de sua divindade.
No Antigo Testamento, Deus
afirma: “Eu o Senhor, o primeiro, e com os últimos, eu mesmo” (Is 41.4).
Novamente: “Assim diz o Senhor, o Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos
exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e fora de mim não há Deus” (Is
44.6). Também, “eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu também o último” (Is 48.12).
Agora, sob o Novo Testamento, Jesus reafirma: “Eu sou o primeiro e o último”.
Inequivocadamente, Ele declara ser o verdadeiro Deus.
Pronunciando “Eu sou o primeiro”,
Cristo explicita sua preexistência eternal. Declara ter existido desde toda a
eternidade. E aquele que antedata toda a criação. O próprio João escreveu: “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele
nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).
Por ser “o primeiro”, Jesus é
sempre previdente. Tudo acontece conforme o propósito daquEle que faz todas as
coisas. Como “o último”, é descrito como eternamente imutável. Ele governará
por toda a eternidade. De geração em geração, Ele é Deus. E o mesmo “ontem e
hoje, e eternamente” (Hb 13.8). Como “o último”, terá sempre a última palavra.
Se a sua chamada final é recusada, Ele executará o julgamento final.
O Deus Vivo
Jesus declara: “Eu sou o Deus
vivo”. Assume outro nome divino para si mesmo. Isto significa que Ele é a fonte
de toda vida. E prerrogativa sua dar ou deter toda a vida.
Este nome já havia sido aplicado
a Deus. A Josué, dissera o Senhor: “Nisto conhecereis que o Deus vivo está no
meio de vós” (Js 3.10). Pedro usou este nome para descrever a Deus na famosa
declaração de Cesaréia: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16).
Caifás também o usaria: “Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o
Cristo, o Filho de Deus” (Mt 26.63).
O próprio Jesus declara agora ser
o Deus vivo: “Eu sou aquele que vive”. Obviamente, Ele está dizendo: “Eu sou
Deus”. Além do mais, Jesus afirma: “Estava morto, e eis que estou vivo para
sempre”. O Deus vivo morto? Como pode? O Deus vivo tomando-se homem, morreu na
cruz por nossos pecados. Embora Deus jamais deixasse de viver, Jesus, o Filho
do homem, morreu. Pedro explicou que Jesus foi mortificado, na verdade, na
carne, mas vivificado pelo Espírito (1 Pe 3.18).
Jesus está dizendo: “João, não há
o que temer. Eu venci o pecado, a morte, Satanás e o inferno. Estou vivo para
sempre”.
Aquele que Tem
as Chaves
Finalmente, Jesus declara: “Tenho
as chaves da morte e do inferno”. Morte significa o cessamento da vida. Hades,
o inferno. As chaves de Cristo demonstram-lhe a autoridade soberana para abrir
e fechar a sepultura. Ele governa o acesso das portas blindadas da morte.
Ninguém entra ou sai exceto por sua autoridade. Jesus possui autoridade sobre a
morte; decide quem morre e quando.
Apenas Ele pode tirá-los de lá,
através da ressurreição. Isto equivale a dizer: “Tenho todo poder sobre a
morte. Eu sou a ressurreição e a vida. Ninguém morre exceto pela minha
vontade”. Foi um grande encorajamento a João que já tinha 90 anos. Cristo
queria que o apóstolo continuasse vivo. Sua vida ainda não tinha terminado.
Embora se sentisse como morto, o momento de sua partida ainda não havia
chegado.
Então, o que Jesus ainda tem para
João?
O Ministério
Restaurado
A visão da glória de Cristo
sempre nos renovará o ministério. Ver a glória de Cristo traz grande
responsabilidade. Tendo visto a majestade de Cristo, João agora é convocado a
comunicar aos outros esta mesma glória. Ele é admoestado por Cristo, pela
segunda vez, a escrever.
Escreve
as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer (Ap 1.19).
João é instruído a escrever três
coisas. Primeiro, as coisas que vê - a tremenda visão de Cristo (Ap 1).
Segundo, as que são - as sete cartas às igrejas (Ap 2; 3). Terceiro, as que
devem acontecer - o futuro profético sobre a volta de Cristo (Ap 4 - 22).
João é convocado por Cristo a
escrever o Apocalipse - a tremenda visão do Filho de Deus. E o alerta final de
Jesus à Igreja. Quando João pensava ter concluído seu ministério, o Senhor o
chama a uma missão sobremodo significativa.
Jesus lhe ordena: “Põe-te em pé,
João. Faz o que digo! Não seles a visão. Escreve-a num livro”.
R.C. Sproul escreve: “Há um
padrão na história. Deus aparece, e o homem treme de terror. Deus perdoa, cura
e envia. Do quebrantamento à missão: eis o modelo para o homem.” Cristo
restaura a João. Mantém-no quebrantado para que este registre o alerta final às
igrejas. Antes de Deus usar grandemente um homem, quebranta-o profundamente
para que a sua glória possa refulgir através desse mesmo homem. João é agora um
homem quebrantado, pronto a ser usado por Cristo.
Esta é a grande incumbência do
Apocalipse. Sob o mandado divino, o apóstolo é instruído a comunicar a tremenda
visão a todas as nações.
Também precisamos falar aos
outros sobre nosso glorioso Senhor. Como Billy Graham exorta: “Não guarde a fé
- compartilhe-a!”.
Ouvi certa vez de um homem a
seguinte ilustração.
Quando Jesus chegou aos céus,
após sua ressurreição e morte, perguntaram-lhe os anjos:
- Cumpriste tua missão?
- Sim, está consumado, respondeu
o Senhor.
- Temos uma segunda pergunta,
disseram os anjos. O mundo inteiro já ouviu falar de ti, Senhor?
- Não, disse Jesus.
Os anjos, então, indagaram:
- Quais os teus planos, Senhor?
- Deixei 12 homens para levarem a
mensagem por todo o
mundo. Os anjos olharam para Ele
e novamente perguntaram-lhe:
- Qual o teu plano B?
Não há plano B! O plano A está em
ação. Temos de falar a todo o mundo sobre Cristo. Jesus decidiu alcançar o
mundo através de sua Igreja. Nós, que temos visto o Cristo glorificado,
precisamos falar dele ao mundo todo!
A Mente Renovada
Finalmente, a visão concedida a
João proporciona-lhe profundo entendimento espiritual. Cristo revela-lhe o
primeiro de muitos mistérios do Apocalipse. Enquanto está prostrado, o apóstolo
obtém melhor compreensão da verdade.
O mistério das sete estrelas, que
viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os
anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas
(Ap 1.20).
A luz brilhante da glória de
Cristo permite que João veja a Palavra de Deus mais claramente. O mistério,
agora, lhe é revelado.
O que é mistério? É algo secreto,
ou oculto, que se acha além do alcance natural do entendimento humano. O
mistério só pode ser entendido através da revelação especial do Espírito de
Deus. Se um mistério é verdadeiramente oculto, a revelação é verdadeiramente
revelada.
Cristo explicita a revelação: “As
sete estrelas são os anjos das sete igrejas”. As estrelas, ou anjos, são os
líderes espirituais de cada igreja local - pastores ou anciãos. Como estrelas,
os pastores têm de reluzir a Palavra de Deus. Como anjos, são mensageiros
enviados por Deus para comunicar-lhe a verdade.
Mais adiante, Jesus identifica:
“Os sete castiçais são as sete igrejas”. Como castiçais, as igrejas são para
transportar a luz de Deus pelo mundo que jaz em trevas.A função da igreja é ser
uma casa iluminada numa encosta recortada e rochosa. Enfim, é um farol. Conduz
os náufragos, numa tempestade, para o ancoradouro seguro da graça de Deus.
Apenas os humildes, e que possuem
o temor de Deus, encontram-se aptos a ver mais claramente a verdade espiritual.
Pois Deus oculta sua verdade aos sábios e entendidos, e as revela aos
pequeninos (Mt 11.25). Os orgulhosos andam com o nariz muito empinado para
vê-la.
O entendimento espiritual é
conseguido com humildade. Apenas os que se acham em santa prostração, na
presença de Cristo, lograrão conhecer os mistérios divinos. Deus não os revela
aos orgulhosos, carnais e auto-confiantes (1 Co 3.1-3). Seria como colocar
dinamite nas mãos de um chipanzé. Poderia este discernir entre a utilidade da
dinamite do perigo que ela representa?
Profundo entendimento da verdade
está reservado aos que temem a Deus. Em suas mãos, a glória de Cristo está
segura. Se você está tendo problemas para entender a verdade divina,
humilhe-se. Estas são as marcas dos que permanecem na presença de Jesus Cristo:
coração arrependido, temor, paz, ministério restaurado, mente renovada. A
experiência de João pode ser a nossa. Um terror santo já lhe atingiu o coração?
Você está cheio da glória de
Cristo? Seu coração acha-se pleno
de reverência pelo Filho de Deus?
Esta tem de ser a posição da
Igreja. Rosto em terra diante de seu Senhor. Quebrantada. Humilhada. Convicta.
Contrita. Temerosa. Tocada. Confortada. Reta. Focalizada. Poderosa. Renovada.
Iluminada. Revigorada.
Antes que possamos ouvir, aplicar
e obedecer o alerta final, revelado nas sete cartas às igrejas da Asia Menor,
humilhemo-nos aos pés de Cristo. Certa vez, a rainha Elizabeth retribuiu uma
visita aos EUA. Ela estava acompanhada de sua comitiva e do serviço secreto. Em
Los Angeles, resolveu passar por um gueto, onde, inesperadamente, mandou que o
motorista da limosine parasse. Então, saiu do automóvel, e entrou num
apartamento muito pobre escolhido a esmo.
A moradora da casa ficou aterrorizada.
A rainha da Inglaterra em sua humilde moradia! Despercebida do protocolo
apropriado para lidar com a realeza, não sabia fazer a mínima reverência. Nem
mesmo como se reportar a rainha. Ao invés disso, passou os braços ao redor da
soberana. A comitiva real ficou apavorada. A mídia, chocada. O serviço secreto,
atônito. Ninguém toca a rainha. Mas aquela mulher não sabia disso. Ela não
tinha idéia de como tratar a realeza. Não havia temor ou reverência.
Conseqüentemente, sua atitude foi inteiramente inapropriada.
Isto acontece com freqüência na
igreja. Não sabemos mais como nos aproximar de nosso Rei. Não há temor ou
reverência. Que possamos ser cautelosos para não vir à sua presença com
atitudes descuidadas. Aproximemo-nos dEle com reverência e humilde adoração.
Caiamos a seus pés como mortos; prostremo-nos diante dele.
Que o terror santo encha a Igreja
novamente!
Elaboração
pelo:-
Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Livro:- Alerta Final – Steven J.
Lawson
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