sábado, 24 de março de 2012

TERROR SANTO

TERROR SANTO

Apocalipse 1.17-20

As pessoas movimentam-se por todos os lugares. O prelúdio já começou. Adoradores dormem em seus bancos favoritos. Como se fora uma reunião meramente social, o coral entra no santuário, começa sua marcha rotineira e ocupa as galerias. Diáconos bem vestidos mantém as portas abertas, e distribuem periódicos. O santuário está incandescente com a luz do sol que lhe entra pelos vitrais. Porteiros acomodam os visitantes. Flores decoram o altar. Quando o prelúdio começa a crescer, cessa o sussurro. É hora de adorar o Cristo ressurreto. O órgão e o piano comovem os corações. Tudo isto mexe com os seus sentimentos.

O maestro faz sinais discretos, e o coro cresce em uníssono. Com sorrisos exultantes e corações incandescentes, cantam, do fundo da alma, a chamada para a adoração. O hino convida a congregação, já preparada espiritualmente a alegrar-se e a oferecer louvor ao grande Deus e Salvador.
É um momento santo!

Como se estivesse caminhando por um jardim sagrado, o pastor dirige-se ao púlpito. Com as mãos voltadas para o céu, ora para que Deus se faça presente: “Deus, visita o teu povo hoje. Senhor, és bem-vindo neste culto. Vem agora e revela-te a nós. Enche este culto com a tua presença. Em nome de Jesus, para tua glória, amém!” Agora, suponha que Deus respondesse a oração. O que aconteceria se Jesus atendesse ao requerimento do pastor? E se o próprio Jesus, física e gloriosamente, viesse à igreja?
Pense! As portas de trás do santuário repentinamente abertas. Luzes ofuscantes inundando o corredor central. As bases do tem- pio começam a tremer. Bancos tremulam, o incenso entra na igreja.

Misteriosamente, Jesus move-se pelo corredor central. O calor intenso de sua presença é sentido por todos. Para onde quer que Ele olhe, raios de luz despendem de seus olhos e penetram as paredes do santuário. Ele fala; o som é ensurdecedor.
Não há dúvida sobre sua presença. O Senhor soberano da igreja - Jesus Cristo - está presente. O Santuário foi invadido pelo Santo, não pelo carpinteiro de Nazaré, tampouco pelo humilde rabino da Galiléia. Mas pelo glorioso Senhor. Vestido de trajes reais. Sua cabeça, de um branco brilhante. Seus pés, resplandecentes como latão reluzente. Sua voz, ensurdecedora. Ele segura sete estrelas. Uma espada aguda procede de sua boca. Sua face brilha como sol, ninguém pode contemplá-la.

Agora, deixe-me perguntar: Qual seria a reação da igreja? Como o coro reagiria a tal visita? E o pastor? O que os porteiros fariam? Qual seria sua reação? Continuaria cantando? Iria até Ele apresentar-se? Convidaria- o a sentar-se perto de você, e, com Ele, dividiria o hinário? Pediria-lhe que explicasse alguns mistérios que o deixam perplexo? Correria a abraçá-lo? Pediria-lhe um autógrafo em sua Bíblia?

Duvido! A única e imediata reação seria cair de joelhos com o rosto em terra perante Ele. Ficaríamos ofuscados pela sua glória. Cobrindo nossos rostos, cairíamos de joelhos em adoração. Ninguém permaneceria de pé, nem iniciaria uma conversa. Com temor e tremor, reconheceríamos sua divina presença.
Foi precisamente assim que João reagiu à tremenda visão de Cristo. Certo domingo, o próprio Jesus entra, repentinamente na adoração de João. A voz como de trombeta dominou a atenção do apóstolo. Ao voltar-se para ela, contemplou a impressionante glória. Sem véu. Imaculada.
Ele caiu como madeira cortada.

Eis a questão: Jesus anda no meio dos candelabros, e ainda revela-se a si mesmo a seu povo. Ele vem à igreja. Precisamos reagir apropriadamente. Não vamos nos aproximar de Cristo para apertar-lhe a mão. Tampouco o convidaremos a sentar-se ao nosso lado para compartilhar-lhe o hinário. Não iríamos nem mesmo apreentar4he as questões que mais nos inquietam. Nossa reação seria a mesma de João.
Terror santo encheria nossos corações. Seríamos inundados imediatamente pela submissão, certeza, confissão, reverência, reavivamento e conforto.
Assim reagiu João àquela visão impressionante.
Possa nossa reação ser como ele.

E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer: O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas (Ap 1.17-20).

Qual a reação apropriada à impressionante visão de Cristo? Ela acha-se, aqui, na experiência de João.

Um Coração Contrito

Em primeiro lugar, a visão glorificada daquele que é Santo desperta a percepção de nossos pecados. Olhando para quem é Cristo, vemos quem somos. Eis porque a primeira reação de João foi de arrependimento e total submissão.

E eu, quando o vi, caía seus pés... (Ap l.17a).

Imediatamente, João fica prostrado. Cada nervo, trêmulo. Ele procura um lugar para se esconder da presença santa de Cristo. Mas não há onde se esconder. João está diante do Cristo em toda a sua glória. O apóstolo está na presença daquEle que é Santo, daquele infinitamente maior que todo o Universo. Por isto, cai de joelhos. Aterrorizado, prostra-se aos pés de Jesus. A alma, dominada. O espírito, vencido. O coração, partido em pedaços. Ele coloca o rosto em terra diante de Cristo.
Por que João estava tão submisso?

O velho apóstolo olha à própria Deidade. Mas nenhum mortal pode olhai para Deus e viver; seria consumido pelo calor de sua presença! Deus já advertira a Moisés: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Ex 33.20). Ninguém pode ver a Deus e viver. Ninguém. Seria mais fácil caminhar pela superfície do sol que entrar na presença de Deus em toda a sua glória.


“Certamente morreremos; porquanto temos visto a Deus” (Jz 13.22), constrange-se Manoá. O pai de Sansão sabia que merecia a morte, porquanto houvera visto a Deus.
A experiência de Ezequiel não foi diferente. O profeta viu o trono acima do firmamento - exaltado. E, sobre o trono, a figura de um homem - o Cristo glorificado e majestoso! As pernas e os pés, como latão reluzente. Ao vê-lo, Ezequiel prostra-se com o rosto no pó, como se um edifício fora implodido (Ez 1.22-28). Quem pode permanecer em pé na presença do Deus Santo? Novamente Ezequiel vê a glória de Cristo, e cai sobre o seu rosto (Ez 3.22,23). E trazido à instantânea submissão. Vê a face de Cristo brilhando mais que o sol. Ouve-lhe a voz como o som de muitas águas; novamente cai sobre seu rosto (Ez 43.2,3).

Finalmente, Deus revela a glória de Cristo a Ezequiel. E mais uma vez, o profeta cai sobre o seu rosto (Ez 44.4). Todas as vezes que vê a Cristo - deidade resplandecente prostra-Se diante dEle.

Saulo de Tarso age de igual modo. Ao viajar para Damasco, uma luz resplendente, vinda do céu, cerca-o. Era a visão ofuscante da glória de Cristo. Instantaneamente, Saulo cai, fica prostrado: “Quem és Senhor?” Cristo responde: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9.3-5). Submissão instantânea, humildade genuína.
Esta é a experiência do apóstolo João. Vendo a glória de Cristo, o ancião agiu como os que lhe antecederam. Prostra-Se diante de Cristo.

A visão do Cristo glorificado sempre nos levará a dobrar os joelhos diante dEle. Submissão e humildade resultarão disto. Como João, estejamos a seus pés. Humilhemo-nos mais e mais. O reavivamento começa quando vemos a Cristo. E, instantaneamente, não somos mais nós mesmos. Se ficarmos em total submissão diante de Cristo, Deus trabalhará em e através de nós.

Voltemos a João. Ele cai sobre sua face ao ver a deidade de Jesus. Nesse mesmo segundo, vê o apóstolo a própria corrupção. João tem real consciência de si. A santidade de Cristo mostra-lhe todas as imperfeições. No olhar daquele que é Santo, o apóstolo vê a auto-estima quebrada. Ele entende quem Cristo é. Conscientiza-Se da pecaminosidade de seu coração.

Quando vemos o Cristo Santo, imediatamente vemo-nos como ímpios. Entre sua santidade e nossa impiedade, há um infinito abismo. Se entendermos sua santidade, nunca saberemos quão profundos são nossos pecados. Comparando-nos aos outros, parecemos respeitáveis. Mas a Ele, somos as mais indignas das criaturas. Quanto mais nos aproximamos da luz, mais exposta fica a sujeira de nosso coração.

Isaías reagiu à santa presença de Deus devido à convicção do pecado. “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dele; cada um tinha seis asas:
com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos: toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumo. Então disse eu:

Ai de mim, que vou perecendo! “Porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios: e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.1-5).

O profeta dizia: “Sou um mísero pecador! Maldito e sentenciado a morrer!” Esta também foi a experiência de Pedro. Depois de um longo dia tentando pescar, Jesus mandou que Simão voltasse para o alto mar, e lançasse as redes. Simão respondeu: “Sobre tua palavra lançarei a rede”.

Mesmo a contragosto, Pedro obedeceu. E para sua surpresa, a pesca foi tão extraordinária que as redes rompiam-se. Simão fez sinal aos companheiros que estavam no outro barco para que o ajudassem. Foram, e logo ambos os barcos estavam cheios de peixes. Tanto, que os barcos começaram a afundar. Ao ver isto, Pedro entendeu que estava na presença do Deus Santo! Sua soberba foi dolorosamente exposta, e seu mísero coração, cortado ao meio. Na mesma hora caiu aos pés de Jesus, confessando: “Senhor, ausenta-te de mim que sou um homem pecador” (Lc 5.8).

Ele desmanchou-se como um pano já roto. Nunca imaginaríamos que Pedro, mais tarde, nos admoestasse dessa maneira: “Sede sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste ao soberbo, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois debaixo da potente mão de Deus” (1 Pe 5.5,6). O orgulhoso Pedro muito aprendeu sobre a humilhação aos pés de Jesus.

Esta é a postura de todos os que vêem a glória de Cristo. Mesmo hoje, os crentes que vêem ao Cristo glorificado nas páginas das Escrituras são impulsionados a cair de joelhos aos seus pés. Corrie Teu Boom foi uma vez indagada se lhe era difícil permanecer humilde. Sua resposta foi simples: “Quando Jesus entrou em Jerusalém, montado num jumentinho, e todos começaram a acenar-lhe com palmas, atirando-lhas na estrada e dando- lhe louvores, você acha que, por um momento sequer, aquele jumentinho pensou ser para ele alguma daquelas palmas?” E continuou: “Se eu puder ser o jumentinho no qual Jesus Cristo monte em sua glória, dar-lhe-ei toda a honra e o louvor”.

É o que somos. Pequenas criaturas onde o Senhor cavalga sua glória. Nunca podemos esquecer-nos disto. E você? Já viu a ruína e pecado de seu próprio coração? Tem sido humilde diante da santidade de Cristo? Você já caiu com o rosto em terra diante do Senhor? A igreja só avança com os joelhos dobrados.

A Reverente Admiração

Em segundo lugar, a visão do Cristo glorificado implica num santo e saudável temor a Deus. João não se limitou a cair com o rosto em terra; ele o fez de maneira dramática. Caiu aos pés de Jesus como morto! O apóstolo foi assolado por tamanho temor que desmaiou! Estava sem fala, aterrorizado, trêmulo, traumatizado, chocado, imóvel, atordoado. Anos antes, João inclinava confortavelmente a cabeça sobre o peito de Jesus (Jo 13.25). Agora, desintegra-se como um pecador na presença do Deus santo.
Um pequeno garoto teria de atuar numa peça da escola. Suas únicas palavras eram: “Sou eu, não temas!” Mas ficou com tanto medo do palco que, quando subiu ao tablado, tudo que pôde dizer foi: “Sou eu e estou morrendo de medo!” Foi assim que João se sentiu. Estava sem fala, sem saliva; em choque.
Toda visão da glória de Cristo é sempre acompanhada de temor a Deus. Quando os discípulos viram a glória de Cristo no Monte da Transfiguração, ficaram mui chocados. Ao ser transfigurado diante deles, a face de Jesus brilhava como o sol, e suas vestes tornaram-se tão brancas como a luz. Como os discípulos reagiram? “Caíram sobre seus rostos, e tiveram grande medo” (Mt 17.6).

O temor de Deus é a legítima resposta espiritual? No centro de toda fé verdadeira, há um saudável e santo temor a Deus que nos faz tremer. Não é o medo que um jovem sente ao ver o vizinho valentão aproximar-se de si. E o respeito que o jovem sentiria se estivesse diante do presidente do Brasil, no Palácio do Planalto. Temor a Deus é reverência e respeito. Temer a Deus é ver a santidade e o poder de Cristo. É o senso de reverência ao se perceber sua majestade.

A presença de Jesus sempre causa medo. Treme-se ao entender-lhe a deidade. Depois que Jesus acalmou a tempestade, os discípulos ficaram aterrorizados ao darem-se conta de que o Deus Santo estava no barco (Mc 4.4 1). A mulher que lhe tocou a orla dos vestidos, ficou mui perturbada ao tocar-lhe a glória (Mc 5.33).

O temor a Deus é o princípio do verdadeiro conhecimento sobre Ele. “O temor do Senhor é o princípio da ciência” (Pv 1.7). E a essência de seu conhecimento.
Salomão, o homem mais sábio dos homens, escreveu: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e a ciência do Santo, a prudência” (Pv 9.10). Este é o paralelismo hebreu. O temor do Senhor é o conhecimento daquele que é santo. Conhecê-lo é temê-lo.
A primeira regra da vida cristã é temer a Deus. Novamente Salomão escreve: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque este é o dever de todo o homem” (Ec 12.13). Quando reduzimos a vida ao seu menor denominador comum, a essência de seu significado é temer a Deus.

Primeira Regra: Temer a Deus

Pense em Jó. Foi o homem mais poderoso de seus dias. O Senhor mesmo o disse: “Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1.8).

O temor do Senhor era a referência da maturidade espiritual. Não entenderemos de maneira correta esta visão de Cristo até que ela nos inspire temor no coração. Sua presença maravilhosa precisa impulsionar-nos a dobrar os joelhos. Melhor estar morto aos pés de Jesus que vivo em qualquer outro lugar.

Certa vez, Charles Lamb observou a Robert Browning: “Se Shakespeare entrasse neste aposento, deveríamos todos nos levantar para recepcioná-lo, mas se Cristo aqui aparecesse todos deveríamos prostrar-nos e tentar beijar-lhe a orla dos vestidos”. Esta é a diferença entre o respeito comum e a reverente admiração.

Enfrentemos o fato. Não há o menor temor de Deus, hoje, em nossas igrejas.
Todas as coisas, hoje, acontecem com o propósito de afastar tal temor. Ninguém quer ser abalado. Mas a visão de Cristo faz exatamente isto. Abala-nos por dentro e por fora.



A Paz Tranqüilizadora

O Soberano Senhor, agora, estende o braço, e coloca a mão sobre o apóstolo. Ela está estendida a João. E o fim da vida dele? Este é o Cristo da santidade e também da graça. Jesus recusou permitir que João ficasse prostrado sobre sua face sem olhá-lo. Enquanto tremia, algo notável aconteceu.

...ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno (Ap l.l7b,18).

Já que João achava-se claudicante, a onipotente mão o alcançou para restaurar-lhe a alma desintegrada. E um toque de graça sutil; traz conforto e paz. Neste momento, João lembra da misericórdia saradora de Cristo e de sua graça fortalecedora.
Jesus sempre tocou os necessitados. Se um cego, tocar-lhe-ia para recobrar-lhe a visão. Se surdo, para dar-lhe audição. Se algum outro enfermo, para dar-lhe completa saúde. Se um bebê, segurá-lo-ia para o abençoar. Um leproso; curá-lo-ia instantaneamente. O toque de suas mãos traz graça fortalecedora.

Não admira que Jesus estendesse a mão e tocasse o apóstolo que, agora com 90 anos, quase morre de ataque cardíaco ao ver revelada a glória de Deus. Ele precisava ser restaurado e tranqüilizado. Na fraqueza de João, o poder de Cristo se aperfeiçoa (2 Co
12.9, 10).

Que contraste! A mão que segurava a espada de dois gumes, agora gentilmente conforta João. O coração santo por trás do cinto de ouro é movido, agora, de profunda compaixão. Os olhos de fogo, agora, olham favoravelmente para João. A voz implacável, como se fora muitas águas, fala agora palavras meigas de reafirmação e encorajamento. Com a finalidade de confortar a João, Cristo revela-se a si mesmo. O que Jesus revela é fortalecedor.

E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.17,18).

São palavras estarrecedoras; reivindicam-lhe a divindade. Era como se o Senhor dissesse a João: Olhe para mim, e receba conforto.

Eu Sou

Certamente João deve ter se lembrado daquela expressão tão familiar: “Eu sou”. Fora ele próprio, afinal, quem havia escrito várias delas, reivindicando a divindade do Senhor Jesus. “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.35). “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12). “Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10.7). “Eu sou o bom pastor” (Jo 10.11). “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25). “Eu sou o caminho a verdade e a vida” (Jo 14.6). “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1). “Eu sou” era o nome escolhido por Deus para si mesmo. Significava sua eternidade, auto-suficiência e graciosa redenção. Deus mandou que Moisés o declarasse a Faraó. Mas Moisés ponderou: “Há tantos deuses no Egito. Como o saberão?”
Deus denominou a si mesmo com um nome que está sobre todo e qualquer deus. Ele ordenou: “Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós” (Ex 3.14. Isto significa: “Eu sou o auto-existente, eterno e soberano Deus”. Não “Eu era o que Eu era”. Tampouco, “Eu serei o que Eu serei”. Mas, “Eu sou o que sou’,.
Agora Jesus toma este nome divino para identificar a si mesmo. Ele está declarando ser Deus. Nada traz refrigério a nossas almas como o nome de Deus. Nada.

O Primeiro e o Último

Jesus afirma ser “o primeiro e o último”. Esta é outra declaração de sua divindade.
No Antigo Testamento, Deus afirma: “Eu o Senhor, o primeiro, e com os últimos, eu mesmo” (Is 41.4). Novamente: “Assim diz o Senhor, o Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e fora de mim não há Deus” (Is 44.6). Também, “eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu também o último” (Is 48.12). Agora, sob o Novo Testamento, Jesus reafirma: “Eu sou o primeiro e o último”. Inequivocadamente, Ele declara ser o verdadeiro Deus.

Pronunciando “Eu sou o primeiro”, Cristo explicita sua preexistência eternal. Declara ter existido desde toda a eternidade. E aquele que antedata toda a criação. O próprio João escreveu: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).

Por ser “o primeiro”, Jesus é sempre previdente. Tudo acontece conforme o propósito daquEle que faz todas as coisas. Como “o último”, é descrito como eternamente imutável. Ele governará por toda a eternidade. De geração em geração, Ele é Deus. E o mesmo “ontem e hoje, e eternamente” (Hb 13.8). Como “o último”, terá sempre a última palavra. Se a sua chamada final é recusada, Ele executará o julgamento final.

O Deus Vivo

Jesus declara: “Eu sou o Deus vivo”. Assume outro nome divino para si mesmo. Isto significa que Ele é a fonte de toda vida. E prerrogativa sua dar ou deter toda a vida.
Este nome já havia sido aplicado a Deus. A Josué, dissera o Senhor: “Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós” (Js 3.10). Pedro usou este nome para descrever a Deus na famosa declaração de Cesaréia: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Caifás também o usaria: “Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Mt 26.63).

O próprio Jesus declara agora ser o Deus vivo: “Eu sou aquele que vive”. Obviamente, Ele está dizendo: “Eu sou Deus”. Além do mais, Jesus afirma: “Estava morto, e eis que estou vivo para sempre”. O Deus vivo morto? Como pode? O Deus vivo tomando-se homem, morreu na cruz por nossos pecados. Embora Deus jamais deixasse de viver, Jesus, o Filho do homem, morreu. Pedro explicou que Jesus foi mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito (1 Pe 3.18).

Jesus está dizendo: “João, não há o que temer. Eu venci o pecado, a morte, Satanás e o inferno. Estou vivo para sempre”.


Aquele que Tem as Chaves

Finalmente, Jesus declara: “Tenho as chaves da morte e do inferno”. Morte significa o cessamento da vida. Hades, o inferno. As chaves de Cristo demonstram-lhe a autoridade soberana para abrir e fechar a sepultura. Ele governa o acesso das portas blindadas da morte. Ninguém entra ou sai exceto por sua autoridade. Jesus possui autoridade sobre a morte; decide quem morre e quando.

Apenas Ele pode tirá-los de lá, através da ressurreição. Isto equivale a dizer: “Tenho todo poder sobre a morte. Eu sou a ressurreição e a vida. Ninguém morre exceto pela minha vontade”. Foi um grande encorajamento a João que já tinha 90 anos. Cristo queria que o apóstolo continuasse vivo. Sua vida ainda não tinha terminado. Embora se sentisse como morto, o momento de sua partida ainda não havia chegado.
Então, o que Jesus ainda tem para João?

O Ministério Restaurado

A visão da glória de Cristo sempre nos renovará o ministério. Ver a glória de Cristo traz grande responsabilidade. Tendo visto a majestade de Cristo, João agora é convocado a comunicar aos outros esta mesma glória. Ele é admoestado por Cristo, pela segunda vez, a escrever.

Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer (Ap 1.19).

João é instruído a escrever três coisas. Primeiro, as coisas que vê - a tremenda visão de Cristo (Ap 1). Segundo, as que são - as sete cartas às igrejas (Ap 2; 3). Terceiro, as que devem acontecer - o futuro profético sobre a volta de Cristo (Ap 4 - 22).
João é convocado por Cristo a escrever o Apocalipse - a tremenda visão do Filho de Deus. E o alerta final de Jesus à Igreja. Quando João pensava ter concluído seu ministério, o Senhor o chama a uma missão sobremodo significativa.
Jesus lhe ordena: “Põe-te em pé, João. Faz o que digo! Não seles a visão. Escreve-a num livro”.

R.C. Sproul escreve: “Há um padrão na história. Deus aparece, e o homem treme de terror. Deus perdoa, cura e envia. Do quebrantamento à missão: eis o modelo para o homem.” Cristo restaura a João. Mantém-no quebrantado para que este registre o alerta final às igrejas. Antes de Deus usar grandemente um homem, quebranta-o profundamente para que a sua glória possa refulgir através desse mesmo homem. João é agora um homem quebrantado, pronto a ser usado por Cristo.
Esta é a grande incumbência do Apocalipse. Sob o mandado divino, o apóstolo é instruído a comunicar a tremenda visão a todas as nações.

Também precisamos falar aos outros sobre nosso glorioso Senhor. Como Billy Graham exorta: “Não guarde a fé - compartilhe-a!”.
Ouvi certa vez de um homem a seguinte ilustração.
Quando Jesus chegou aos céus, após sua ressurreição e morte, perguntaram-lhe os anjos:
- Cumpriste tua missão?
- Sim, está consumado, respondeu o Senhor.
- Temos uma segunda pergunta, disseram os anjos. O mundo inteiro já ouviu falar de ti, Senhor?
- Não, disse Jesus.
Os anjos, então, indagaram:
- Quais os teus planos, Senhor?
- Deixei 12 homens para levarem a mensagem por todo o
mundo. Os anjos olharam para Ele e novamente perguntaram-lhe:
- Qual o teu plano B?
Não há plano B! O plano A está em ação. Temos de falar a todo o mundo sobre Cristo. Jesus decidiu alcançar o mundo através de sua Igreja. Nós, que temos visto o Cristo glorificado, precisamos falar dele ao mundo todo!

A Mente Renovada

Finalmente, a visão concedida a João proporciona-lhe profundo entendimento espiritual. Cristo revela-lhe o primeiro de muitos mistérios do Apocalipse. Enquanto está prostrado, o apóstolo obtém melhor compreensão da verdade.
O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas
(Ap 1.20).

A luz brilhante da glória de Cristo permite que João veja a Palavra de Deus mais claramente. O mistério, agora, lhe é revelado.

O que é mistério? É algo secreto, ou oculto, que se acha além do alcance natural do entendimento humano. O mistério só pode ser entendido através da revelação especial do Espírito de Deus. Se um mistério é verdadeiramente oculto, a revelação é verdadeiramente revelada.

Cristo explicita a revelação: “As sete estrelas são os anjos das sete igrejas”. As estrelas, ou anjos, são os líderes espirituais de cada igreja local - pastores ou anciãos. Como estrelas, os pastores têm de reluzir a Palavra de Deus. Como anjos, são mensageiros enviados por Deus para comunicar-lhe a verdade.

Mais adiante, Jesus identifica: “Os sete castiçais são as sete igrejas”. Como castiçais, as igrejas são para transportar a luz de Deus pelo mundo que jaz em trevas.A função da igreja é ser uma casa iluminada numa encosta recortada e rochosa. Enfim, é um farol. Conduz os náufragos, numa tempestade, para o ancoradouro seguro da graça de Deus.
Apenas os humildes, e que possuem o temor de Deus, encontram-se aptos a ver mais claramente a verdade espiritual. Pois Deus oculta sua verdade aos sábios e entendidos, e as revela aos pequeninos (Mt 11.25). Os orgulhosos andam com o nariz muito empinado para vê-la.

O entendimento espiritual é conseguido com humildade. Apenas os que se acham em santa prostração, na presença de Cristo, lograrão conhecer os mistérios divinos. Deus não os revela aos orgulhosos, carnais e auto-confiantes (1 Co 3.1-3). Seria como colocar dinamite nas mãos de um chipanzé. Poderia este discernir entre a utilidade da dinamite do perigo que ela representa?

Profundo entendimento da verdade está reservado aos que temem a Deus. Em suas mãos, a glória de Cristo está segura. Se você está tendo problemas para entender a verdade divina, humilhe-se. Estas são as marcas dos que permanecem na presença de Jesus Cristo: coração arrependido, temor, paz, ministério restaurado, mente renovada. A experiência de João pode ser a nossa. Um terror santo já lhe atingiu o coração? Você está cheio da glória de

Cristo? Seu coração acha-se pleno de reverência pelo Filho de Deus?
Esta tem de ser a posição da Igreja. Rosto em terra diante de seu Senhor. Quebrantada. Humilhada. Convicta. Contrita. Temerosa. Tocada. Confortada. Reta. Focalizada. Poderosa. Renovada. Iluminada. Revigorada.

Antes que possamos ouvir, aplicar e obedecer o alerta final, revelado nas sete cartas às igrejas da Asia Menor, humilhemo-nos aos pés de Cristo. Certa vez, a rainha Elizabeth retribuiu uma visita aos EUA. Ela estava acompanhada de sua comitiva e do serviço secreto. Em Los Angeles, resolveu passar por um gueto, onde, inesperadamente, mandou que o motorista da limosine parasse. Então, saiu do automóvel, e entrou num apartamento muito pobre escolhido a esmo.

A moradora da casa ficou aterrorizada. A rainha da Inglaterra em sua humilde moradia! Despercebida do protocolo apropriado para lidar com a realeza, não sabia fazer a mínima reverência. Nem mesmo como se reportar a rainha. Ao invés disso, passou os braços ao redor da soberana. A comitiva real ficou apavorada. A mídia, chocada. O serviço secreto, atônito. Ninguém toca a rainha. Mas aquela mulher não sabia disso. Ela não tinha idéia de como tratar a realeza. Não havia temor ou reverência. Conseqüentemente, sua atitude foi inteiramente inapropriada.

Isto acontece com freqüência na igreja. Não sabemos mais como nos aproximar de nosso Rei. Não há temor ou reverência. Que possamos ser cautelosos para não vir à sua presença com atitudes descuidadas. Aproximemo-nos dEle com reverência e humilde adoração. Caiamos a seus pés como mortos; prostremo-nos diante dele.
Que o terror santo encha a Igreja novamente!


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS


Livro:- Alerta Final – Steven J. Lawson

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