CAPÍTULO 20
Alguns expositores consideram
esse capítulo a parte mais sombria de toda essa profecia. E muito provável que
as coisas contidas nele ainda não tenham sido cumpridas; e por isso é mais
sábio que nos contentemos com observações gerais, em vez de sermos concretos e
específicos em nossas explicações dele. Aqui temos um relato dos seguintes
aspectos: 1. Satanás é amarrado por mil anos (vv 1-3). II. O reinado dos santos
com Cristo durante o mesmo tempo (vv 4-6). III. Satanás é solto, e o conflito da
igreja com Gogue e Magogue (vv 7-10). IV O dia do juízo (vv. 11-15).
Satanás É
Amarrado == vv. 1-10
Uma profecia de Satanás sendo
amarrado por um certo período, no qual ele teria muito menos poder e a igreja
muito mais paz do que antes. O poder de Satanás foi quebrado em parte pelo
estabelecimento do reino do evangelho no mundo; foi reduzido ainda mais quando
o imperador se tornou cristão; foi quebrado ainda mais pela queda da Babilônia
mística; mas mesmo assim essa serpente tinha muitas cabeças, e, quando uma está
ferida, outra ainda tem vida nela.
Aqui temos mais uma limitação e
diminuição do seu poder. Observe: 1. A quem esse poder de amarrar Satanás é
conferido — a “...um anjo que tinha a chave do abismo”. E possível que esse
anjo não seja ninguém menos do que o Senhor Jesus Cristo; a descrição acerca
dele dificilmente concordará com qualquer outro. Ele é o que tem poder para
amarrar o valente, expulsá-lo e saquear a sua casa; e por isso precisa ser mais
forte do que ele. 2. Os meios que Ele emprega nessa tarefa: Ele tem uma
“...cadeia” e uma ‘.. chave”, uma “. . grande cadeia” para amarrar Satanás, e a
“... chave” da prisão em que ele será confinado. Cristo nunca deseja poderes
distintivos para quebrar o poder de Satanás, pois Ele tem os poderes do céu e
as chaves do inferno. 3. A execução dessa tarefa (vv. 2,3). (1) “Ele prendeu o
dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás”.
Nem a força do dragão, nem a
sutileza da serpente eram suficientes para salvá-lo das mãos de Cristo; Ele o
prendeu e o manteve preso. E: (2) Ele “... lançou-o no abismo”, lançou-o para
baixo com força, e com uma justa vingança, ao seu próprio lugar e prisão, da
qual tinha tido permissão para escapar e perturbar as igrejas, e enganar as
nações; agora ele é levado de volta àquela prisão, e ali preso em correntes.
(3) E “. .. ali o encerrou, e pôs selo sobre ele”. Cristo encerra, e ninguém
consegue abrir; Ele encerra pelo seu poder sela pela sua autoridade; e seu
fecho e selo nem mesmo os demônios conseguem abrir. (4) Temos a duração do
confinamento de Satanás — “. mil anos”, após os quais ele seria “... solto por
um pouco de tempo”. A igreja teria assim um tempo considerável de paz e
prosperidade, mas nem todas as suas provações haviam passado.
Um relato do reinado dos santos
durante o mesmo período em que Satanás esteve amarrado (vv. 4-6), e aqui
observe:
1.
Quem eram os que receberam tal honra — os que haviam sofrido por Cristo, e
todos os que haviam se mantido leais a Ele, não recebendo o sinal da besta, nem
adorando sua imagem; todos os que haviam se mantido puros da idolatria pagã e
papal.
2.
A honra que lhes foi conferida. (1) Eles foram ressuscitados dos
mortos, e trazidos de volta à vida. Isso pode ser entendido literalmente ou
figuradamente; eles estavam mortos no sentido civil e político; suas liberdades
e privilégios foram reavivados e restaurados. (2) Eles receberam “...tronos” e
“...poder de julgar”; foram presenteados com grande honra, e interesse, e
autoridade, suponho que de natureza antes espiritual do que secular. (3) “.. .
e reinaram com Cristo durante mil anos”. Os que sofrem com Cristo hão de reinar
com Cristo; eles reinaram com Ele no seu reino espiritual e celestial, em
conformidade gloriosa com Ele em sabedoria, justiça e santidade, além de tudo
que tinha sido conhecido no mundo antes. Isso é chamado de primeira
ressurreição, com a qual serão agraciados somente os que serviram a Cristo e
sofreram por Ele. No que tange aos ímpios, estes não serão ressuscitados e
levados novamente ao seu poder até que Satanás seja solto; isso pode ser
chamado de ressurreição, assim como a conversão dos judeus é chamada de
“...vida dentre os mortos” (Rm 11.15).
3.
A felicidade desses servos de Deus é declarada. (1) Eles são
bem-aventurados e santos (v. 6). Ninguém pode ser bem-aventurado a não ser os
que são santos; e todos os que são santos serão abençoados. Esses eram santos
como um tipo de primeiros frutos para Deus nessa ressurreição espiritual, e
como tais são bem-aventurados por Ele. (2) Eles estão protegidos do poder da
segunda morte. Sabemos um pouco do que é a primeira morte, e é terrível; mas
não sabemos o que é essa segunda morte.
Deve ser muito mais horrível; é a
morte da alma, a eterna separação de Deus. O Senhor ajude para que nunca
saibamos por experiência o que ela é. Os que tiveram a experiência da
ressurreição espiritual são salvos do poder da segunda morte.
Um relato do retorno dos
problemas da igreja, e mais um conflito imenso, muito forte, mas breve e
decisivo. Observe: 1. As restrições colocadas por um tempo sobre Satanás são
finalmente tiradas. Enquanto este mundo durar, o poder de Satanás nele não será
totalmente destruído; pode ser limitado e diminuído, mas ele ainda terá algo a
fazer pela perturbação do povo de Deus. 2. Assim que Satanás é solto ele cai
novamente na sua antiga ocupação, “...enganando as nações”, e assim
incitando-as a fazer guerra contra os santos e servos de Deus, o que eles nunca
fariam se ele não os tivesse enganado antes.
Eles são enganados tanto em
relação à causa em que estão engajados (eles crêem que seja uma causa boa
quando na verdade é uma causa má), quanto em relação ao resultado: eles esperam
ser bem-sucedidos, mas certamente vão perder tudo. 3. Seus últimos esforços
parecem ser os maiores. O poder que lhe é concedido agora parece ser mais
ilimitado do que antes. Ele agora tinha a liberdade de recrutar voluntários em
todos os “...quatro cantos da terra”, e levantou um enorme exército, cujo
número era “... como a areia do mar” (v. 8). 4. Temos os nomes dos principais
comandantes nesse exército sob o dragão — “Gogue e Magogue”.
Não precisamos investigar quais
poderes específicos são tencionados por esses nomes, visto que o exército foi
ajuntado de todas as partes do mundo. Esses nomes são encontrados em outras
partes das Escrituras. Mago que encontramos em Gênesis 10.2. Ele foi um dos
filhos de Jafé e povoou a terra chamada Síria, da qual seus descendentes se
espalharam por muitas partes. Só encontramos Gogue e Magogue juntos mais uma
vez em Ezequiel 38.2, uma profecia da qual essa em Apocalipse toma muitas das
suas figuras de linguagem. 5.
Temos a ordem de marcha e
disposição militar desse exército formidável (v. 9): “E subiram sobre a largura
da terra e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada”, isto é, a Jerusalém
espiritual, na qual estão depositados os interesses mais preciosos do povo de
Deus, e por isso para eles uma cidade amada.
O exército dos santos é descrito
como recrutado da cidade, e estando debaixo dos seus muros, para defendê-la;
estavam acampados em volta de Jerusalém. Mas o exército do inimigo era tão
superior ao da igreja que aquele rodeou a este e a cidade. 6. Temos aqui o
relato da batalha e o resultado dessa guerra: “...mas desceu fogo do céu e os
devorou”.
Assim a ruína de Gogue e Magogue
é prenunciada (Ez 38.22): “E uma chuva inundante, e grandes pedras de saraiva,
fogo e enxofre farei cair sobre ele, e sobre as suas tropas, e sobre os muitos
povos que estiverem com ele”. Deus iria, de forma extraordinária e mais
imediata, lutar essa última e decisiva batalha pelo seu povo, para que a
vitória pudesse ser completa e a glória recaísse sobre si mesmo. 7. A sentença
e o castigo do grande inimigo, o diabo: Ele é agora lançado no inferno, com
seus dois grandes oficiais, “.. . a besta e o falso profeta”, a tirania e a
idolatria, e isso não por um prazo especifico, mas para estar lá de dia e de
noite [...] para todo o sempre”
O Julgamento
Universal vv. 11-15
A destruição total do reino do
Diabo muito apropriadamente conduz ao relato do dia do juízo, que vai
determinar o estado eterno de todo homem; e podemos ter certeza de que vai
haver um juízo quando vemos que o “...príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16.11).
Esse vai ser um grande dia, o grande dia em que “.. . devemos comparecer ante o
tribunal de Cristo” (2 Co 5.10).O Senhor nos ajude a crermos firmemente nessa
doutrina do juízo por vir. E uma doutrina que fez Félix tremer. Aqui temos uma
descrição dela, em que: 1. Contemplamos o trono, e o tribunal do juízo, grande
e branco, muito glorioso e perfeitamente justo.
O trono de iniqüidade, que forja
o mal tendo por pretexto uma lei, não tem comunhão com esse justo trono e
tribunal. 2. A aparência do Juiz, e este é o Senhor Jesus Cristo, que então se
veste de tal majestade e terror que “. ..fugiu a terra e o céu” da sua
presença, “. .. e não se achou lugar para eles”; há uma dissolução de toda a
estrutura da natureza (2 Pe 3.10). 3. As pessoas a serem julgadas (v. 12): “...
os mortos, grandes e pequenos”; isto é, jovens e velhos, baixos e altos, pobres
e ricos. Nenhum é tão insignificante que não tenha talentos pelos quais precisa
prestar contas, e ninguém é tão grande para que possa fugir da jurisdição dessa
corte; não somente os que serão encontrados vivos na vinda de Cristo, mas todos
os que morreram antes; os túmulos vão entregar os corpos dos homens, o inferno
vai entregar a alma dos maus, o mar vai entregar os muitos que aparentemente
estavam perdidos nele.
Todos esses lugares são prisões
de reis, e Ele vai fazer com que liberem os seus prisioneiros. 4. A regra do
juízo é estabelecida: “.. . e abriram-se os livros”. Que livros? O livro da
onisciência de Deus, que é maior do que nossa consciência, e sabe todas as
coisas (há um livro de memórias com Ele tanto do bem quanto do mal); e o livro
da consciência dos pecadores, que, embora antigamente secreto, agora será
aberto. “E abriu-se outro livro” — o livro das Escrituras, o livro dos
estatutos do céu, a regra da vida. Esse livro é aberto e contém a lei, a pedra
fundamental pela qual o coração e a vida dos homens serão testados.
Esse livro determina questões de
direito; os outros livros determinam questões de prática. Alguns entendem que o
outro livro, chamado o livro da vida, é o livro dos conselhos eternos de Deus;
mas isso não parece pertencer à esfera do juízo. Na eleição eterna, Deus não
age de forma judicial, mas com absoluta liberdade e soberania. 5. A causa a ser
julgada: as “.. . suas obras”, o que os homens fizeram, e se foi bom ou mau.
“Por suas obras os homens serão justificados ou condenados”; pois embora Deus
conheça seu estado e seus princípios, olha principalmente para estes. Mas mesmo
assim, querendo demonstrar a anjos e homens que é um Deus justo, Ele vai testar
os princípios deles por suas práticas, e assim vai ser justificado quando falar
e puro quando julgar. 6.
A questão do julgamento; e esse
será realizado de acordo com as evidências dos fatos, e a regra do julgamento.
Todos aqueles que fizeram “. . . concerto com a morte e aliança com o inferno”,
serão então condenados com seus infernais confederados, lançados com eles no
lago de fogo, como não estando intitulados à vida eterna, de acordo com as
regras da vida estabelecidas nas Escrituras; mas aqueles cujos nomes estão
escritos nesse livro (isto é, os que estão justificados e absolvidos pelo
evangelho) então serão justificados e absolvidos pelo Juiz, e deverão entrar na
vida eterna, não tendo nada mais a temer diante da morte, ou do inferno, ou de
homens ímpios; pois estes foram todos destruídos juntos.
Que seja a nossa grande
preocupação considerar em que pé estamos com nossa Bíblia, se ela nos justifica
ou condena agora; pois o Juiz de tudo vai proceder de acordo com essa regra.
“Deus há de julgar os segredos dos homens, segundo o evangelho” (Rm 2.16).
Bem-aventurados são os que de tal maneira ordenaram e formularam a sua causa de
acordo com o evangelho para que saibam de antemão que serão justificados no
grande dia do Senhor!
Elaboração pelo:- Evangelista
Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Mathew Henry - Novo Testamento Edição Completa
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