segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma visão geral da história da Igreja


Uma visão geral da história da Igreja

DEFINIÇÃO, SIGNIFICADO E VALORES

1. A história da Igreja pode ser definida como o registro organizado e interpretado da origem, do desenvolvimento e do impacto do cristianismo sobre o homem.

2. Os historiadores da Igreja podem ser intérpretes otimistas como Latourette, segundo o qual a Igreja triunfa na história por meio de um processo evolutivo — ou pessimistas- otimistas, como Agostinho, que não tem nenhuma esperança no homem, mas espera pela intervenção sobrenatural de Cristo na história em sua segunda vinda.

3. A história da Igreja oferece uma síntese do passado, uma explicação do presente, um guia para a conduta correta e uma inspiradora motivação para a prática do bem. Fornece, ainda, ilustrações práticas para o pregador e é um estudo que promove a liberdade.

PRIMEIRA PARTE — DA HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA ATÉ 590

I.Do desenvolvimento inicial até 150

A. Preparação. 1. A lei e a cidadania romana unificaram os homens. A paz e as cidades romanas contribuíram para a propagação do evangelho.

2. Os gregos contribuíram com uma língua comum para a pregação e redação do NT.
3. Os judeus contribuíram com o monoteísmo, a ética, o AT e a esperança do Messias (GI 4:4).

B. Fundação. 1. Cristo, uma pessoa histórica (Tácito, Plínio, Luciano, Josefo),

2. Seu ministério e sua morte foram parte de sua mensagem do reino.

3. Cristo deu à Igreja dois sacramentos, uma mensagem, a disciplina básica e o Espírito Santo, mas deixou a formulação da organização e da teologia ao encargo dos apóstolos.

C. A propagação do evangelho. 1. Entre os judeus, por Pedro (At 1-2).

a) A Igreja foi fundada pelo Espírito Santo e cresceu rapidamente sob a liderança apostólica (At 2:41; 4:4; 5:14; 6:7).

b) A perseguição proveniente de autoridades políticas (Herodes) e religiosas                      (o Sinédrio) fez o primeiro mártir (Estevão).
c) A revolução social foi demonstrada por meio de um sistema comunitário voluntário e temporário, pela igualdade dos sexos e classes e pelo auxílio aos cristãos pobres.

d) A pregação apostólica proclamava o Cristo crucificado e ressurreto como sendo o Messias e Salvador prenunciado (At 17:2,3; - l Co 15:3,4).

2. Entre os gentios, por Paulo (At 13-28).

a) Levando um evangelho universal a um império universal, Paulo pregou em cidades estratégicas e organizou igrejas.

b) Escreveu epístolas para tratar de crises específicas (e.g., aos Gálatas, uma carta de oposição ao legalismo).

c) Formulou a primeira teologia sistemática (epístola aos Romanos).

d) No concílio em Jerusalém, defendeu os princípios deque o evangelho é universal e deve ser recebido somente pela fé,

D. Os pais apostólicos (96-1 50) estavam diretamente associados à tradição apostólica. Amavam o AT e procuraram edificar a Igreja enfatizando a tipologia e as profecias cumpridas em Cristo.

1. Epístolas: Clemente de Roma escreveu para Corinto a fim de prover unidade em oposição ao cisma por meio da obediência aos cargos eclesiásticos. Em sua carta, menciona a viagem de Paulo à Espanha (5:5-7). lnácio escreveu cartas às igrejas da Asia opondo-se ao docetismo, heresia que negava a verdadeira humanidade de Cristo, e instando os cristãos a obedecer aos bispos governantes, bem como aos presbíteros e diáconos

(a primeira menção a uma ordem tripla), A assim chamada epístola de Barnabé usava tipos e alegorias para apresentar a morte de Cristo, que tornava a lei mosaica desnecessária para a salvação.

A segunda epístola de Clemente aos Coríntios ilustra a forma e o conteúdo da pregação durante o século II.

2. Literatura apocalíptica, como os Pastores de Hermes, enfatizava o arrependimento e a visão de santidade através de visões, mandamentos e parábolas.

3. Literatura catequética, como o Didaquê, era usada para instruir os catecúmenos com respeito a questões éticas e litúrgicas e para protegê-los dos falsos líderes.

II.Conflitos com o império e heresias, 150-313

A. Perseguição externa. 1. A Igreja foi perseguida pelos judeus, pelos intelectuais e pelo estado romano. causa política fundamental era o medo dos romanos de que o cristianismo exclusivo ameaçasse um governo sincrético em sua religião.

2. A perseguição: a) antes de 250 foi local e esporádica, da parte de judeus, Nero, Domiciano, Trajano (martírio de Inácio) e Marco Aurélio (execução de Justino Mártir);

b) depois de 250, houve períodos de perseguição geral violenta sob Décio e Diocleciano, que em 303 proibiram os cristãos de reunir-se e possuir as Escrituras e prenderam líderes da Igreja. A liberdade religiosa foi concedida como Édito de Milão em 313, durante o governo de Constantino.

3. A perseguição: a) purificou a Igreja à medida que esta se espalhou no meio dos judeu gregos e latinos;

b) obrigou a Igreja a pensar no cãnon das Escrituras;
c) levantou a questão de como tratar aqui que negavam a fé e depois a reafirmavam; e
d) promoveu um rápido crescimento.

B. Heresia interna. 1. Em seu auge (c. 150 d.C.), o gnostícismo equiparava o mal com o Demiurgo (Jeová) e a carne, e o bem com o bom Deus. Esse Deus criou uma hierarquia de seres por meio de emanações. O problema da carne perversa e do espírito bom em Cristo foi resolvido ao se considerar o seu corpo físico semelhante a um espectro ou ao se afirmar que Cristo habitou em Jesus entre o seu batismo e a crucificação. Marcião, que com freqüência é classificado como gnóstico, criou o próprio Canon do Novo Testamento. O gnosticismo levou a Igreja a pensar sobre a necessidade de um cânon e um credo e sobre a importância do bispo como centro da unidade.

2. O neoplatonismo, uma forma mística da filosofia platônica, desenvolvido por Amônio Saccas em .Alexandria foi apresentado em forma escrita nas Enéadas, de Plotino. Juliano (361-363) tentou transformá-lo em religião oficial do império.

3. O montanismo, desenvolvido por Montano para combater o formalismo e a organização da Igreja, enfatizava a revelação direta e continua pelo Espírito Santo e a iminência da volta de Cristo.

4. Ansiosos por defender a unidade de Deus, adocianistas monarquíanistas, como Paulo de Samosata, afirmavam que Jesus foi um homem bom e impregnado pelo Espírito Santo de tal modo que se tornou o Salvador divino.
Monarquianistas modalistas, como Sabélio, acreditavam na Trindade como manifestação: e não essência. Em resumo, a heresia estimulou o surgimento do cânon, de credos e de poderosos bispos.

C. Apologistas e polemistas. 1. Os apologistas refutavam as falsas acusações contra o cristianismo e, ao mostrar a superioridade deste em relação ao judaísmo e paganismo, esperavam que os imperadores legalizassem o cristianismo como religião.

Em sua Primeira apologia, Justino Mártir defendeu o cumprimento das profecias em Cristo e a moralidade cristã superior como motivos para a legalização do cristianismo. Em seu Diálogo com Tufo, procurou convencer os judeus do caráter messiânico de Cristo.

2. Os polemistas lutavam contra a heresia através de escritos argumentativos e usavam o NT como fonte de doutrina,

a) Em sua obra Contra as heresias, Irineu usou argumentos históricos, filosóficos e escriturísticos contra os gnósticos para defender a divindade de Cristo e a ressurreição física.

b) Orígenes desenvolveu o uso de alegorias, que é uma interpretação que busca descobrir um significado oculto em adição ao que o autor propôs literalmente, deu início à crítica textual com a obra Hexapla e escreveu a primeira teologia sistemática, chamada De Prior/pus.

c) Tertuliano foi o primeiro a usar o termo Trindade e a formular essa doutrina em Contra Praxeos.

d) Cipriano defendeu a idéia da sucessão apostólica e a primazia dos sucessores de Pedro,

D. Organização, canon e liturgia. 1. O primeiro bispo-monarca (no tempo de Inácio) tornou-se, em Roma, o primeiro dentre iguais devido à necessidade de uma liderança contra a heresia e em tempos de perseguição.

2. Surgiu nessa era o Credo apostólico, usado como prova de ortodoxia e resumo da fé.

3, Em 180 d.C., o cânon do NT estava quase completo.

4. Ciclos de comemorações como a Páscoa e o Natal surgiram no final desse período.


III. Vitórias da antiga igreja católica imperial, 313-590

A. A conquista cristã do império. 1. Constantino concedeu liberdade religiosa em 313 e, posteriormente, favoreceu o cristianismo com subsídios, isenção de obrigações civis para os clérigos e instituição do domingo como dia de descanso. Inconscientemente, garantiu a preservação da cultura greco-romana durante a idade das trevas ao tornar Constantinopla a sua nova capital, em 330.

2. O édito de Teodósio, de 380, declarou o cristianismo religião exclusiva do Estado.

B. A conversão dos bárbaros. 1. As invasões bárbaras incumbiram a Igreja de uma nova tarefa missionária.

2. Os francos, cujo líder, Clóvis, havia abraçado o Cristo, tornaram-se posteriormente defensores do papado.

3. Os cristãos romanos levaram os bretões celtas ao cristianismo.

4. Patrício ganhou a Irlanda para Cristo no século v. 5. Posteriormente, Columba levou o evangelho da Irlanda para a Escócia.

C. Controvérsias quanto ao credo, 325-345. 1. A controvérsia ariana levou à definição da relação entre as Pessoas da Trindade. Ário acreditava que Cristo era um ser criado, cuja essência diferia da essência de Deus. Já Atanásio ensinava que ele era da mesma essência e existia desde a eternidade. No concílio de Nicéia, realizado em 325 sob os auspicios de Constantino, as idéias de Atanásio prevaleceram. Ao que tudo indica o atual Credo de Nicéia formulado por Cirilo de Jerusalém foi aceito no concílio de Constantinopla, realizado em 381.

2. A definição da relação entre a natureza humana e a divina de Cristo se desenvolveu a partir de controvérsias sobre os ensinamentos de Apolinário — segundo o qual o espírito humano de Cristo foi substituído pelo Logos—e sobre o ensinamento de Eutiques acerca da fusão das duas naturezas em uma única natureza divina. A separação entre as duas naturezas pregada por Nestório enfatizava excessivamente a humanidade de Cristo e o apresentava como uma pessoa imperfeita. O Tomo de Leão I e as declarações do concílio da Calcedônia (451) expressaram a visão ortodoxa das duas naturezas unidas em uma só pessoa pela encarnação.

3. A visão de Pelágio a respeito da salvação foi contestada pelo conceito agostíniano de depravação total e necessidade da graça para a salvação. Em resumo, foi nessa era que, à custa de interferência imperial, surgiram os credos e a Igreja unida.

D. Os pais pós-nicenos. 1. Os pais do Oriente, a) Crisóstomo, intérprete e pregador extraordinário.

b) Teodoro de Mopsuéstia, competente exegeta que usou a gramática e a história na interpretação bíblica, buscando o significado literal em vez do alegórico.

c) Eusébio, pai da história da Igreja, registrou o desenvolvimento da Igreja até a sua época.

2. Dentre os pais do Ocidente, destacam-se Jerônimo responsável pela tradução da Bíblia para o latim (Vulgata), que se tornou a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana no concílio de Trento — e Agostinho, cuja excelente filosofia da história, A cidade de Deus, mostrou-se amplamente influente. Agostinho também se opôs à heresia de Pelàgio e apresentou o princípio de analogia da fé (os ensinamentos completos das Escrituras sobre determinada doutrina).


E. Monasticismo. 1. No Oriente, Antônio fundou o monasticismo solitário e Pacômio desenvolveu o monasticismo comunitário, para o qual Basílio criou uma regra. Atanásio e Jerônimo introduziram essa prática no Ocidente, e Bento de Núrsia criou a regra e a ordem dos beneditinos.

2. Os monges contribuíram para a melhoria da agricultura, preservaram a literatura (Casiodoro), tornaram-se missionários (Columba e Adriano) e abriram hospedarias e hospitais.

F. Centralização do poder e elaboração do ritual. 1. Em conseqüência de sua localização na capital mundial, de sua reputação como defensor da ortodoxia, da teoria petrina de Mateus 16:16-18, do declínio dos bispos rivais, da evangelização de vários povos — como os britânicos, por Agostinho de Cantuária — e por causa de homens competentes como Leão 1, reconheceu-se a primazia do bispo romano sobre os demais bispos.

2. A secularização da Igreja decorrente do patronato imperial e da influência dos bárbaros resultou na elaboração das festas eclesiásticas, no crescimento do número de sacramentos, no surgimento do conceito da missa como sacrifício e na veneração de Maria e dos santos.

3. Com a ajuda do Estado, foram construídas igrejas seguindo o modelo das basílicas romanas.

SEGUNDA PARTE — A HÍSTÓRIA DA IGREJA NA IDADE MÉDIA, 590-1517

Trata do destino de partes do império romano depois de,sua queda. Nas regiões orientais ou asiáticas, a Igreja continuou sob o controle imperial;
As regiões ao sul ou na África foram tomadas pelos muçulmanos; e, na região correspondente à Europa Ocidental, o Sacro Império Romano e a Igreja Católica Romana competiram entre si pelo controle depois que os invasores germânicos se uniram sob Carlos Magno e, posteriormente, sob Oto.

1.0 cristianismo teutônico-latino, 590-1054

A. Gregório 1. Apesar de ter recusado o título de papa, este influente bispo de Roma (590-504) exerceu o seu poder contra rivais, ganhou os britânicos para o cristianismo romano, escreveu comentários alegóricos e foi o principal teólogo popular medieval. Enfatizou o conceito de purgatório e o caráter sacrificial da missa.

B. Perdas e ganhos. 1. O islamismo tomou da Igreja o norte da África e a Espanha e expandiu-se até Constantinopla, sendo detido por Leão III em 717. Carlos Martelo interrompeu seu avanço no Ocidente em 732 na batalha de Poitiers.
Os muçulmanos influenciaram a Igreja ocidental ao transmitir por meio de traduções árabes a filosofia de Aristóteles aos escolásticos e ao provocar as Cruzadas, uma migração de cristãos europeus com o objetivo de recuperar a posse da Terra Santa que fora tomada pelos muçulmanos.

2. Invasores bárbaros germânicos da Europa Ocidental foram convertidos em monges missionários. O cristianismo celta, fundado por Aidan no norte das ilhas britânicas, fez frente ao catolicismo romano do sul, implantado por Agostinho em 597, até que a forma católica romana venceu no sínodo de Whitby, em 663. Esses fatos são relatados na obra História eclesiástica, de Beda. Bonifácio ganhou os alemães para o cristianismo, e os hereges arianos da Espanha se tornaram ortodoxos em 589.

C. O reavivamento do império no Ocidente. 1. Os governantes carolíngios tomaram o Estado franco dos descendentes de Clõvis.

a) Carlos Martelo deteve a expansão muçulmana em Poitiers, em 732.

b) Pepino III lançou os alicerces da soberania temporal do papa através da concessão de terras italianas ao papa em 756, ato conhecido como a Doação de Pepino.

c) Carlos Magno construiu um império europeu e foi coroado imperador dos romanos’ pelo papa no ano 800, unindo desse modo francos e alemães. Promoveu a cultura, a escrita cursiva e as escolas pala- tinas, precursoras das universidades. 2. O monarca alemão Oto criou um império ao redor da Alemanha que, depois de sua coroação, em 963, continuou a existir como Sacro Império Romano até 1806.

D. O zelo religioso no Ocidente. 1. A Doação de Constantino, no século VIII, apoiou o controle papal sobre terras na Itália, e, na metade do século ix, os Decretos Pseudo-lsidorianos fortaleceram o poder do papa sobre os clérigos.

2. 0 trabalho de Ansgar acabou contribuindo para a sujeição dos escandinavos ao controle papal.

3. Os ensinamentos de Radberto sobre a transubstanciação tornaram a missa o principal canal da graça.

4. As congregações de monges organizadas ao redor de Cluny, a partir de 931, apoiaram reformas e a independência religiosa do controle leigo. 5. Papas influentes como Nicolau 1 defenderam e impuseram padrões de moralidade sobre governantes e líderes eclesiásticos poderosos.

E. O surgimento da igreja ortodoxa. 1. João de Damasco (século VIU) sistematizou a teologia conciliar (325-451) em sua obra Fontes de conhecimento.

2. A separação entre as igrejas do Oriente e Ocidente resultou em controvérsias quanto á data da Páscoa. Em 726 também surgiram conflitos quanto á presença de imagens dentro das igrejas, rejeitada pelos ortodoxos, e quanto ao uso do pão asmo na missa. Essa última polêmica serviu de pretexto para o Cisma de 1054 que deu origem oficialmente à Igreja Ortodoxa,

3. A Igreja Ortodoxa alcançou os russos sob a direção de Vladimir em 988, e também os búlgaros e morávios, pelo trabalho de Metódio e Cirilo,

II. Vitórias papais, 1054-1305

A. O auge do poder papal. O concílio de Latrão, em 1059, deu ao Colégio de Cardeais o direito de eleger o papa. 1. Seguindo o espírito do Dictatus Papae, que defendia a supremacia papal, Gregório VII (Hildebrando) acabou com a simonia e o casamento clerical, e humilhou Henrique IV, o sacro imperador romano, em Canossa (1076), devido a uma controvérsia sobre investiduras. O conflito foi encerrado mediante um acordo em Worms, em 1122.2. Inocêncio II (1198-1216):

a) humilhou Filipe Augusto da França, devido a uma controvérsia sobre o divórcio, e João da Inglaterra, por um conflito referente à nomeação do arcebispo de Canterbury, tendo colocado o sacro imperador romano sob seu controle.

b) Patrocinou a Quarta Cruzada, que tomou Constantinopla e instituiu um reino latino (1 204-1 261). Também organizou uma cruzada contra os albigenses.

c) Levou o quarto concílio do Latrão ( 1215) a asseverar a transubstanciação e a confissão anual.
B. Cruzadas e reformas. 1. Foram realizadas cruzadas contra os mouros na Espanha, os albigenses na França e os muçulmanos na Palestina. a) A maior parte dos cruzados foi á Palestina por motivos religiosos, a fim de realizar a reconquista cristã da região e de ajudar o império oriental a se livrar da pressão dos muçulmanos.

b) A primeira cruzada foi realizada em duas partes: a cruzada dos mendigos, que fracassou completamente, e a cruzada dos senhores feudais, que instituiu o reino latino em Jerusalém (1099-1187). A quarta cruzada criou o Reino Latino de Constantinopla (1204-1261), aprofundando desse modo a inimizade entre as igrejas do Oriente e do Ocidente.

c) Os cruzados não conseguiram manter o controle sobre a Palestina, mas fortaleceram o poder dos governantes nacionais, enfraqueceram o império oriental e trouxeram para o Ocidente os ensinamentos e a cultura greco-muçulmanos.

2. As reformas monásticas se deram por meio de monges da nova ordem cisterciana, liderados pelo piedoso Bernardo de Clairvaux místico, hinólogo e teólogo; por meio de ordens militares (os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Hospitaleiros); por meio dos monges mendicantes ou frades da ordem missionária dos franciscanos (de Francisco de Assis) e dos monges mendicantes educadores da ordem dominicana, como Tomás de Aquino e Savonarola.

3. Surgiram movimentos leigos, alguns com base bíblica, como o Movimento VaIdesiano de Pedro Valdo, na Itália. 4. Contra os dois últimos itens citados, a igreja usou as cruzadas, a proibição do uso pessoal da Bíblia e a inquisição.

C. A cultura medieval. 1. Escolasticismo. a) Uma tentativa de conciliar a filosofia natural de Aristóteles com a revelação bíblica, usava a lógica e a filosofia de Aristóteles para sintetizar o cânon, credos e escritos dos Pais da Igreja.

b) Os realistas — como Anselmo, que escreveu Cur Deus Homo, uma obra sobre a expiação, e o Monologium, uma argumentação dedutiva em favor da existência de Deus acreditavam que as idéias já existiam antes das coisas criadas. A fé precede a razão. Realistas moderados, como Tomás de Aguino em sua Summa Theologiae, acreditavam que o individuo usa a razão até o ponto em que a fé deve assumir o controle a fim de revelar conceitos como a encarnação e a Trindade.

A teologia de Aquino é a posição oficial da Igreja Católica Romana. Os nominalistas, como William de Occam, negavam a existência objetiva das idéias, a não ser como nomes para se referir a grupos de indivíduos e as propriedades de indivíduos, e faziam separação entre fé e razão.

c) Os realistas radicais e moderados colocavam a organização corporativa e a hierarquia da igreja acima do indivíduo.
O nominalismo deixava a autoridade teológica ao encargo da igreja e enfatizava de tal modo o aprendizado humano e a atividade do indivíduo que estimulou a ciência e o misticismo.

2. Foi nessa era que surgiram as universidades: a) em torno de grandes mestres, como Abelardo, em Paris;

b) na forma de escolas em catedrais, como em Notre Dame; e

c) a partir da migração de alunos, como aqueles que saíram de Paris e foram para Oxford.

D. Oculto na Idade Média. O centro era a catedral gótica com planta em forma de cruz, arcobotantes, arcos pontiagudos, rosáceas e fachadas triplas. As catedrais de Notre Dame, Rheims, Milão e Salisbury ilustram bem essas tendências. A catedral era usada para os cultos, para o ensino bíblico (entalhes, vitrais) e para atividades sociais.

III.Tentativas de reformar a Igreja, 1305-1517

A. Reformadores internos. 1. A imoralidade de muitos clérigos, o feudalismo que secularizou a igreja criando uma lealdade dupla, os pesados impostos e as taxas exorbitantes cobradas pelo papa, a ascensão das nações- estado cujos monarcas se opunham ã interferência de uma igreja universal nas questões nacionais, o cativeiro babilônio durante o qual os papas ficaram confinados em Avignon, em vez de Roma, entre 1309 e 1377, e o Grande Cisma entre 1378 e 1417 (quando houve papas rivais em Avignon e Roma) todos esses acontecimentos forjaram as condições necessárias para uma reforma.

2. As tentativas de reforma partiram de: a) místicos que procuravam comunhão direta com Deus. Um dos Amigos de Deus escreveu a Teologia germônica. que influenciou Lutero. Dos Irmãos da Vida Comum surgiu a obra imitação de Crista.

b) Na Inglaterra, John Wycliffe passou da reforma do clero para ataques à autoridade papal e à missa, em 1378. Começou a tradução da Bíblia para o inglês, fundou os loilardos e influenciou Hus da Boêmia, cujas idéias resultaram na fundação dos lrmáos Unidos.

c) Entre 1409 e 1449, concílios reformadores representando a igreja, conforme sugerido por Marsilio em Defensor Paris, se reuniram em Pisa na tentativa de acabar com o Grande Cisma, eliminar as heresias e reformar a igreja. O concilio de Constança escolheu um novo papa para substituir os três reivindicadores desse cargo, condenou Hus à fogueira e deu à igreja uma monarquia constitucional no lugar da monarquia absoluta. 

d) O Renascimento nas terras teutônicas enfatizou as fontes bíblicas. Na Itália, porém, Leão X, sob influências clássicas, reconstruiu a basílica de São Pedro em Roma, e Nicolau V deu início à biblioteca do Vaticano. A gramática hebraica e o dicionário de Reuchlin e o NT em grego de Eusébio (1516) permitiram que estudiosos comparassem a igreja medieval com a Igreja primitiva, tornando patentes as desvantagens da primeira, e as obras críticas de Erasmo, tal como Elogio da loucura, exigiram reformas.


B. Exigências externas de reformas. Os governantes das nações-estado: como França e Inglaterra, consideravam a tributação e as cortes eclesiásticas, bem como a posse de terras por uma igreja universal, infrações da soberania nacional. Cooperaram, portanto, para os movimentos de reforma.

C. A igreja ortodoxa. Na Rússia, a igreja ortodoxa tornou-se mais independente de Constantinopla pela transferência de sua liderança de Kiev para Moscou em 1325, transformando-se em uma igreja nacional em 1589.

TERCEIRA PARTE — HISTÓRIA DA IGREJA MODERNA, DE 1517 ATÉ OS DIAS DE HOJE

Na Reforma, a organização da igreja passou de uma igreja universal (católica romana) para igrejas nacionais sob o governo de monarcas e, então, para denominações, depois de 1548. A partir dai, as missões católicas romanas e posteriormente as missões protestantes criaram um cristianismo global que, em meados da década de 1990, era a maior religião do mundo.

1. A reforma protestante e católica romana, 1517-1648

A. Causas. A Reforma foi uma reafirmação da salvação somente pela fé e uma reforma doutrinária com base nos padrões bíblicos. A causa direta foi o protesto de Lutero em suas 95 Teses (31 de outubro de 1517) contra o abuso das indulgências praticado por Tetzel, sob os auspícios de Albert e Leão X.

B. A reforma luterana. 1. Os ensinamentos nominalistas de William de Occam, segundo os quais a razão não desempenhava nenhum papel na teologia, a orientação espiritual de Johann Staupitz, uma visita a Roma, a TeoIogia germânico e o estudo da Bíblia como professor da Universidade de Wittenberg exerceram influências indiretas sobre a conversão de Lutero e seu rompimento com Roma,

2. Depois de conferências incapazes de remediar esse rompimento, Lutero atacou a missa, a hierarquia e a teologia de Roma em três panfletos, impressos em 1520.0
resultado foi sua excomunhão e, em 1521, na Dieta do Sacro Império Romano em Worms, a declaração de sua proscrição. No tempo em que passou escondido em Wartburg, Lutero traduziu o NT para o alemão.
3. O credo correspondente ao início da igreja luterana é a confissão de Augsburgo que foi formulado por Filipe Melanchton no ano de 1530. Em 1535, teve início a ordenação luterana para o ministério.

4. O conflito entre príncipes protestantes e católicos romanos foi resolvido pela tolerância do luteranismo na Paz de Augsburgo, em 1555.

5. As controvérsias dentro do luteranismo levaram à versão definitiva da Fórmula de Concórdia e ao Livro de Concórdia.

6. A teologia de Lutero, os hinos como Castelo forte —, a ênfase na educação para a leitura da Bíblia, o preparo para a liderança na igreja e no Estado, e a Bíblia na língua vernacular foram levados para a Dinamarca por Hans Tausen e para a Noruega, Islândia, Finlândia e Suécia por Olavo Petri, com a ajuda do monarca que libertou a Suécia da Dinamarca.

C. A fé reformada. 1. A reforma na Suíça. com sua tradição democrática e humanista, se deu ao norte de Zurique e Berna por meio dos debates entre Ulrich Zuínglio e os católicos romanos, e por decretos formais dos concílios municipais. No sul. William FareI e João Calvino levaram as idéias da Reforma a Genebra, depois que Calvino publicou suas Institutos do religião cristã (1536) enfatizando a soberania de Deus. Suas Ordenações eclesiásticas (1541) criaram unia igreja que exercia influência sobre as ações do Estado e administrava disciplina moral sobre todos os cidadãos.

2. Os huguenotes, que criaram a igreja reformada na França em 1559, foram alvo do terrível massacre do Dia de São Bartolomeu e envolveram-se em uma série de guerras religiosas. O Édito de Nantes, de 1598, lhes garantiu tolerância até 1685, quando sua revogação os forçou a emigrar.

3. Entre 1560 e 1567, John Knox, com a ajuda de nobres escoceses e comerciantes da classe média, frustrou a tentativa de Maria Stuart de manter a Escócia sob o domínio de Roma e criou uma Igreja de teologia calvinista e de sistema de governo presbiteriano.

4. A luta para consolidar a fé reformada na Holanda esteve associada ao sangrento conflito para obter a independência da Espanha. A consolidação da Reforma foi alcançada em 1571, enquanto a independência se deu em 1581.

Wílliam de Orange foi o líder mais expressivo em meio a essas transformações. Jacobus Arminius, que se opôs ao calvinismo afirmando que este considerava Deus o autor do pecado e o homem um autômato, acreditava que a eleição era baseada na presciência, a expiação era ilimitada e a graça  resistível. O sínodo de Dort decidiu contra a posição arminiana, mas as idéias de Arminius continuam vivas no metodismo e em outros grupos.
5. A teologia reformada foi levada á região norte da Irlanda por James I, que ali implantou o presbiterianismo escocês depois de 1603, o que explica, em parte, a atual divisão da Irlanda.

6. O calvinismo também se espalhou pela Hungria, pela Boemia e pelo reinado germânico.

D. Os anabatistas. 1. Os anabatistas surgiram em Zurique em 1521, quando Conrad Grebel e outros se opuseram ao batismo de crianças em uma igreja do Estado e defenderam o batismo de adultos numa igreja de cristãos,

2. A perseguição em Zurique fez o movimento espalhar-se por todo o Sacro Império Romano, apesar de as práticas milenaristas, polígamas e comunais de João de Leyden em Münster, em 1535, terem manchado a reputação do movimento,

3. Na Holanda, Menno Simons organizou os refugiados em uma igreja que defendia os conceitos de igreja pura, o batismo dos cristãos adultos por aspersão, a expiação geral, a autoridade da Bíblia e a separação entre Igreja e Estado,

E. Anglicanismo e puritanismo. 1. Por meio do Ato de Supremacia, Henrique VIII criou uma igreja católica nacional porque o papa não lhe concedeu a carta de divórcio para que se separasse de Catarina a fim de se casar com Ana Bolena, a qual, Henrique esperava, pudesse dar-lhe um herdeiro do sexo masculino.

O clero inglês sob Thomas Cranmer lhe concedeu o divórcio. Henrique manteve a doutrina católica romana nos Seis Artigos, mas espoliou os mosteiros e deu ao povo uma Bíblia em sua língua materna, baseada no trabalho de Tyndale e Coverdale. Formou-se uma igreja protestante que desenvolveu o seu credo                     (42 Artigos) e o seu livro de orações.

A rainha Maria tentou restabelecer a religião católica romana, mas seu casamento com Filipe da Espanha e o martírio de quase trezentas pessoas nas fogueiras contribuiu para tornar a Inglaterra protestante.

 A rainha Elizabeth criou o sistema anglicano adotando 39 Artigos e o Livro de Oração Comum. A ameaça papal chegou ao fim com a derrota da Armada espanhola em 1588.

2. Os puritanos se opuseram ao acordo firmado pela rainha Elizabeth por considerá-lo “excessivamente católico e expressaram seu desejo de uma teologia calvinista (Cartwright) e de uma igreja estatal congregacional (Henry iacob), de uma liturgia mais simples, abolição de vestes clericais e de uma observància rígida do domingo. seguindo Robert Browne, os separatistas queriam que cada igreja fosse constituída de cristãos unidos em Cristo e uns aos outros por uma aliança.

A Organização Scrooby, de John Robinson, que se estabeleceu em Plymouth, era dessa opinião. Os batistas gerais, influenciados pelos menonitas na Holanda, mantiveram o batismo por aspersão e o arminianismo, enquanto os batistas particulares, que se separaram da igreja de Jacob em 1633, adotaram o calvinismo e o batismo por imersão.

Essas forças puritanas cooperaram contra Jaime I, que aprovou a tradução da versão King James da Bíblia. Cerca de vinte mil deles emigraram para a Inglaterra entre 1629 e 1640. 0 restante sob a liderança de Cromwell e como resultado de uma tentativa da parte do rei de tornar obrigatório o uso do Livro de Oração Comum na Escócia — envolveu-se em uma guerra civil contra CarlosI e o executou em 1649.

A assembléia de Westminster deu ao presbiterianismo a sua Confissão, seus catecismos, sua forma de governo. o Livro de Disciplina e o Livro de Culto. O reinado de Carlos II, em 1660, acabou com o movimento puritano, mas não com sua influência.

F. A contra-reforma. 1. O Oratório do Divino Amor, um grupo de líderes católicos, procurou aprofundar a vida espiritual e realizar reformas.

2. Ordens religiosas como os teatinos, que exigiam dos sacerdotes votos monásticos triplos, dedicaram-se a servir o povo.

3. Papas como Paulo III aprovaram a ordem jesuíta, a inquisição e o Índice de Livros Proibidos.

4. Os monarcas do Sacro lmpêrio Romano e da Espanha, especialmente Filipe II, apoiaram a igreja com suas forças armadas.

5. Contra os hereges, usou-se a inquisição segundo o modelo espanhol.

6. O Índice era uma lista de livros que os católicos romanos não podiam ler

7. A ordem jesuíta, fundada por Inácio de Loyola, era absolutamente obediente ao papa e ajudou a alcançar a Polônia.

8. O concilio de Trento (1545-1563) adotou a teologia tomista como posição oficial da igreja e a versão vulgata de Jerônimo como sua Bíblia autorizada.

9. Portugal, Espanha e França implantaram o catolicismo em suas colônias portuguesas em Angola, Moçambique e no Brasil, na América Central e do Sul espanholas, e nas Filipinas, no Vietnã e na província francesa de Quebec, no Canadá.

G. A guerra dos trinta anos. 1. Foi causada pela intolerância do Império que excluiu os calvinistas, pela interferência jesuíta nos assuntos políticos e pelo surgimento de coalizões rivais de príncipes. Um conflito em Praga serviu de pretexto para a guerra.

2. As fases boêmia e dinamarquesa trouxeram vitórias para Roma, enquanto a fase sueca libertou a Alemanha de Roma e, por fim, a fase francesa levou à paz.

3. O Tratado de Westfália (1648) reconheceu o calvinismo.

H. Resultados da reforma. 1. As igrejas protestantes nacionais tomaram o lugar da igreja universal em vários países.

2. Os protestantes aceitaram a autoridade da Bíblia, a justificação pela fé e o sacerdócio dos cristãos. 3. Vários credos protestantes foram formulados.

4. Um sistema de três níveis de educação foi instituído. 5. A igualdade política passou a ser ensinada por diversos calvinistas. 6. O capitalismo foi estimulado. 7. As pregações foram reavivadas.

II. Deismo, denominações e reavivamentos, 1648-1789

A. O cristianismo na América do Norte colonial. 1. Início, a) Os diretores da Virginia Company levaram colonos acompanhados de ministros anglicanos para a Virgínia. James Blair e Thomas Bray implantaram melhorias no ministério colonial. O anglicanismo também se tornou a igreja oficial de Nova York, Maryland. Carolina do Norte e do Sul e Geórgia.

b) O congregacionalismo da Nova Inglaterra se desenvolveu a partir da migração dos Separatistas da Congregação Scrooby para Plymouth, em 1620, e de acionistas da Massachusetts Bay Company para Salém e Boston com o propósito de formar a colônia de Massachusetts. Posteriormente, Thomas Hooker e seus amigos da Associação Bíblica de Davenport e Massachusetts se uniram para formar a colônia de Connecticut. A Plataforma de Cambridge, de 1648, decretou o calvinismo como teologia oficial e o congregacionalismo como sistema de governo dessas igrejas.

c) Os batistas de Rhode lsland surgiram das migrações impostas a Roger Williams e Anne Hutchinson devido á insistência na separação entre Igreja e Estado e na liberdade de consciência.

d) Por razões econômicas, os Calverts fundaram Maryland como uma colônia com tolerância religiosa,

e) O movimento quacre criou raízes em West Jersey e na Pensilvânia, onde a liberdade religiosa atraiu várias seitas. 

f) Os luteranos suecos em Delaware e, posteriormente, na Pensilvãnia foram un’rficados por Muhlenburg.

g) Francis Makemie estabeleceu o presbiterianismo, que cresceu com a vinda de colonos escoceses e irlandeses (1710-1 750).

h) Robert Strawbridge e Philip Embury implantaram o metodismo, que havia sido organizado por Francis Asbury.

2. O ensino superior foi incentivado a fim de oferecer líderes para a Igreja e o Estado por meio da fundação das universidades de Harvard (1636), William and Mary (1696), Vale (1701), Princeton (1746), Brown (1 764), Rutgers (1825) e Haverford (1833).

3. O Grande Despertar teve início nas colônias centrais com as pregações de Frelinghuysen e Gilbert Tennent e se espalhou para a Nova Inglaterra pelos esforços de Jonathan Edwards, um defensor do calvinismo, e para o sul entre os presbiterianos, metodistas e batistas. O movimento foi coordenado por George Whitefield. O reavivamento redundou em novos membros, faculdades e divisões.

4. A maioria das igrejas, com exceção dos metodistas neutros e dos pacifistas quacres, apoiou a revolução pela independência norte-americana e quase todas formaram organizações nacionais depois da revolução. A separação entre a Igreja e o Estado começou na Virgínia.

5. A participação no governo da Igreja e em seu sustento financeiro conferiu mais poder aos leigos.

B. Deísmo e reavivamento. 1. O deísmo, resultante da ciência de Isaac Newton, da psicologia de John Locke e da filosofia racionalista, era uma religião natural cujos dogmas, conforme apresentados por Herbert de Cherbury, se constituíam na crença em um Deus transcendente, numa vida ética e na imortalidade com recompensas e castigos.

O deísmo espalhou-se pela América do Norte e pela Europa. Enfatizava o caráter bom e aperfeiçoável do ser humano.

2. O reavivamento bíblico se manifestou: a) no reavivamento pietista pelos esforços de Philíp Jakob Spener no luteranismo alemão. Os resultados foram a igreja morávia sob a liderança de Zinzendorf e a revitalização do luteranismo alemão.

b) Whitefieid e os irmãos Wesley reavivaram a população de classe baixa da Inglaterra, e, depois da morte de John Wesley, teve início a igreja metodista, caracterizada pelo arminianismo e pela grande consciência social.
3. Surgiu também o reavivamento da luz interior, sob a liderança de George Fox, fundador do movimento quacre na Inglaterra.

 Seu teólogo, Robert Barclay, declarou que a luz interior provia o ser humano de inspiração e revelação contínuas.

III. Romanismo, reavivamentos, missões e liberalismo, 1 789-1914

Esse período de 1789 a 1914 foi marcado pelos trabalhos missionários ingleses, norte-americanos e alemães nas colônias da África e Asia. Várias mulheres (e.g., Mary Slessor, Ida Scudder) atuaram como missionárias, O sustento das missões provinha de sociedades voluntárias.

A. O catolicismo romano sofreu reveses durante a Revolução Francesa, mas, com a ajuda da ordem dos jesuítas e do competente Pio IX, que declarou a Concepção Imaculada de Maria em 1854 e o dogma da infalibilidade papal no concílio do Vaticano de 1870, também obteve avanços significativos.

O catolicismo romano voltou a enfraquecer-se com perda dos Estados Papais para a Itália unificada, em 1870, e com a legislação anticlerical na Alemanha, na França e em outras partes.

B. A religião na Grã-Bretanha. 1. A igreja anglicana consistia de: a) evangélicos de classe alta, incluindo os de catedrais como a de John Newton, a “Seita de Clapham” de Wilberforce e outros interessados em evangelismo e reforma social.

Eles defenderam a abolição do tráfico de escravos (1807) e da escravatura em si (1833) e a melhoria das condições econômicas e sociais dos trabalhadores (Lorde Shaftesbury);

b) “igreja latitudinária” com seus críticos bíblicos, como o bispo Cloenso, ou seus socíalistas cristãos, como Charles Kingsley; c) movimento de Oxford de John Keble, Edward Pusey e John Newman — ele e cerca de outros novecentos se tornaram católicos romanos —, que enfatizava o ritualismo e sacramentalismo.

2. O Exército de Salvação, organizado por William Booth (1878), os Irmãos de Plymouth, organizados por John Darby, e a Associação Cristã de Moços, iniciada por George William, se destacaram como instituições não-conformistas.

3. Missionários ingleses, começando com William Carey em 1792, enviados e sustentados por sociedades recém-formadas, se tornaram exploradores missionários (David Livingstone desbravou a África e lutou contra o tráfico de escravos), Iingüistas (Robert Moffat) e estadistas missionários (Alfred Robert Tucker incorporou a Uganda ao Império Britânico).

4. O patronato, o direito da Coroa ou de proprietários de terras de nomear ministros, e os reavivamentos provocaram cismas no presbiterianismo escocês, como a Igreja Livre revivalista de Thomas Chalmers.

5. Em 1869, os católicos romanos foram beneficiados pela separação entre Igreja e Estado na Irlanda.

C. Os novos inimigos da Igreja. 1. A filosofia idealista, que considerava a Bíblia apenas um livro histórico a ser analisado pelos críticos das Escrituras, como Julius Wellhausen, resultou em uma Bíblia que continha apenas a Palavra de Deus.

2. A evolução segundo Charles Darwin negou o pecado original e introduziu o conceito de evolução na religião.

3. O sistema ateísta e materialista do comunismo apresentado no Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engeis viria a se tornar um inimigo implacável do cristianismo.

4. O padrão de vida mais elevado resultante da Revolução Industrial conduziu ao materialismo.

O. Cristianismo nacional na América do Norte. 1. O Segundo Despertar, que teve início em Yale com Timothy Dwight a partir de 1789, espalhou-se pela fronteira com os encontros realizados na forma de acampamentos (Cane Ridge, 1801) e resultou em novas igrejas, como a dos Discípulos e a Unitária, em novos seminários, como Andover, e em missões estrangeiras, através do trabalho de Adoniram Judson. Ocorreram reavivamentos posteriores com Charles Finney — o reavivamento leigo de oração, em 1857 e D. L. Moody.

2. Reformas sociais como a proibição de bebidas alcoólicas e a abolição da escravatura receberam o apoio da Igreja.

3. Metodistas, presbiterianos e batistas se dividiram quanto a sua posição sobre a escravatura.

4. Seitas como o mormonismo de Joseph Smith e o adventismo de William MilIer se desenvolveram na nova fronteira, e surgiram nas cidades a Ciência Cristã, fundada por Mary Baker Eddy, e o espiritualismo.

5. Os movimentos migratórios da população rural e de estrangeiros para as cidades industriais deram origem a centros comunitários (como HuIl House), à ACM (Associação Cristã de Moços) e à igreja institucional para atender às necessidades do ser humano como um todo.
O evangelho social de Walter Rauschenbusch procurou melhorar as condições do povo através de medidas democráticas na vida econômica e política. 

6. A obra de Horace Bushnell, A educação cristã infantil (1847), enfatizou a educação religiosa como substituta para o evangelismo de crianças, e as lições uniformes de John Vincent estimularam o crescimento das escolas dominicais.

IV.A Igreja do século xx

O totalitarismo sucumbiu com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão na Segunda Guerra Mundial. O comunismo caiu simbolicamente com a queda do muro de Berlim, em 1989. O colapso dos impérios coloniais ocidentais até 1945 levou à criação de novos países, com a independência de várias nações africanas e asiáticas.

A. A Igreja e o Estado. 1. Apesar de ter-se envolvido com atividades humanitárias e religiosas durante a Segunda Guerra Mundial, a Igreja não se tornou uma instituição extremista, vendendo títulos de crédito, alistando recrutas e propagando o ódio aos alemães, como fizera na Primeira Guerra.

2. O catolicismo romano, que sofreu perdas com o comunismo e a deserção de intelectuais latino-americanos, procurou ganhar território fazendo acordos com Mussolini e Hitler, aproximando-se dos Estados Unidos e apresentando o novo dogma da Assunção de Maria (1950).

3. O comunismo na Rússia e em outras partes se opôs ao cristianismo por meio da legislação governamental, da propaganda ateísta e da perseguição.

4. No final do século, o comunismo já havia desmoronado, devido em parte ao impacto espiritual dos cristãos perseguidos nesses países. A União Soviética se desintegrou em várias repúblicas, a Iugoslávia também se dividiu e a Alemanha foi reunificada.

B. Teologias liberais, neo-ortodoxas e radicais. Desde 1914 até os dias atuais, cada ciclo de teologia foi mais curto do que o anterior. 1. O liberalismo de 1880 a 1920 foi uma teologia imanente, relativista e subjetiva que enfatizou Deus como um Pai amoroso e Cristo como nosso exemplo na criação de uma irmandade de seres humanos. Seu principal representante foi Harry E. Fosdick.

2. A neo-ortodoxia (1921-1960), desenvolvida por Karl Barth, manteve a crítica bíblica liberal, mas defendeu um Deus transcendente conhecido pelo Espírito Santo. Este revela Cristo por meio da Bíblia, que se torna então a Palavra de Deus.

3. Nas décadas de 1960 e 1970, surgiram as “teologias radicais: a) a teologia (psicológica, histórica e filosoficamente irrelevante) de Thomas J. J. Altizer, que afirmava que “Deus está morto, entrou em voga na década de 1960.

b) A teologia da libertação, formulada inicialmente na década de 1970, na América Latina, pelo peruano Gustavo Gutierrez, foi influenciada pelo marxismo ao interpretar a Bíblia como a história dos judeus e de Cristo como uma revolução para libertar os oprimidos. Exerceu influência sobre teologias negras e feministas.

c) A teologia do processo propôs que Deus e o homem evoluíam rumo a uma
ordem mais perfeita e superavam limitações.

c. o surgimento das organizações ecumênicas. O ecumenismo, com base num credo que começou com a Aliança Evangélica de 1846, mostrou-se conservador em termos de teologia. Passou por três formas de desenvolvimento.

1. Começou com a cooperação interdenominacional de organizações de jovens, como o Movimento de Estudantes Voluntários e a Mocidade para Cristo, e de organizações missionárias, como o Concílio Missionário Internacional ou a Associação de Missões Estrangeiras.

2. Foi estimulado pela reunião natural de denominações semelhantes,  como no caso da igreja metodista, em 1939, e de denominações diferentes como no casa da igreja Unida do Canadá.

3. Confederações ecumênicas geraram confederações informais de denominações correlativas, e.g., a Federação Mundial Luterana. O liberalismo e a neo-ortodoxia promoveram igrejas locais confederadas, confederações nacionais, como o Concílio Nacional (EUA, 1950; organizado como Concílio Federal em 1908), e internacionais, como o Conselho Mundial de Igrejas (1950). Os evangélicos responderam com organizações como a Associação Nacional de Evangélicos (EUA) e a Comunhão Mundial de Evangélicos.

D. A unidade evangélica em meio à diversidade. 1. As raízes históricas do evangelicalismo no início da igreja e na Reforma. a) A partir de 1865, o evangelicalismo enfrentou o crescimento do liberalismo proveniente da teoria da evolução de Darwin, da filosofia alemã de Imanuel Kant e de seu respectivo criticismo bíblico.

b) De 1881 a 1918, surgiram tensões entre liberais e evangélicos quando Fosdick se opôs a Charles Hodge, e com respeito a questões de inerrância e pré-milenarísmo, em Os fundamentos (1910) e na Bíblia Scofield (1909).

c) Os conflitos cresceram entre 1919 e 1929 com o julgamento Scopes (1925) sobre a questão da evolução, e com a obra Cristianismo e liberalismo, de J. Gresham Machen (1923), que declarava o liberalismo uma religião nova e não-bíblica.

d) Uma vez que o liberalismo predominou nas principais denominações entre 1919 e 1945, os evangélicos fundaram novas denominações, escolas bíblicas, faculdades, seminários, editoras e a Associação Nacional de Evangélicos (ANE).

e) Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as principais igrejas liberais entraram em declínio e as igrejas evangélicas cresceram.
2. A ampla gama de evangélicos inclui grupos que concordam em termos de doutrinas fundamentais, mas dão ênfase especial a aspectos diversos como, por exemplo, o batismo do Espírito,

a) Dentre as principais organizações que afirmam a inerrância e o pré-milenarismo, podem-se citar escolas bíblicas como o Instituto Bíblico Moody, o Wheaton College, seminários como Trinity, a ANE, a Sociedade Teológica Evangélica e periódicos como ChrístianityToday.

b) Grupos carismáticos pentecostais da Terceira Onda, que enfatizam “sinais e prodígios’ e o batismo pelo Espírito como uma obra da graça separada da salvação, constituem um grupo expressivo da direita.

c) Os grupos da santidade enfatizam uma segunda obra que conduz à perfeição. Charles Finney e Phoebe Palmer foram precursores de grupos como os metodistas wesleyanos e o Exército de Salvação.

d) Fundamentalistas mais fechados, como CarI Mclntire e Bob Jones, rejeitam até mesmo outros evangélicos. Jerry Falwell e Pat Robertson se mostram abertos para cooperar com a restauração da moralidade na vida pública,

e) Organizações não denominacionais como Visão Mundial, Wycliffe Bible Translators e Cruzada Estudantil atendem a vários grupos evangélicos.

f) Na ala da esquerda, encontram-se organizações como Fuller Seminary, que em 1972 já havia abandonado suas antigas convicções de inerrância e pré-milenarismo.

g) A organização Evangelicais for Social Action (EUA) busca uma participação maior no trabalho social.

h) O grupo Evangelical Women’s Caucus tem como objetivo levar as mulheres a reconhecer seus direitos.

i) As principais igrejas evangélicas fundaram novas igrejas como a Presbyterian Church in America ou, como grupos renovados, procuraram levar a denominação de volta ao evangelicalismo.

A Igreja Luterana do sínodo de Missouri e os batistas do sul se mostraram bem-sucedidos.
E. Declínio e expansão no crescimento da Igreja. O crescimento tem declinado entre as igrejas tradicionais e crescido entre os grupos evangélicos na América Latina, África e leste da Ásia. Há um número cada vez maior de mulheres ordenadas servindo nas igrejas.

1. O conceito de crescimento da igreja surgiu dos princípios de Atos apresentados por John L. Nevius e expressos no século xx por Donald McGavran, do Fuller Seminary, segundo o qual as igrejas crescem melhor dentro de grupos de afinidade, que apresentam laços comuns e estão prontos para aceitar o evangelho. O Centro para Missão Mundial de Ralph Winter, nos Estados Unidos, estabeleceu como objetivo implantar igrejas em cada um desses grupos até o ano 2000.

2. Crescimento da igreja. a) Em vários países, o crescimento tem sido estimulado por reavivamentos, pela tradução e distribuição de Bíblias, pelas centenas de missionários no Terceiro Mundo, por grupos de apoio não denominacionais                  (EID, TEE), pela evangelização em massa nos centros urbanos, pelos ministérios na televisão e no rádio, pelo surgimento de mega igrejas (como na Coréia).

b) Na América do Norte, o crescimento foi estimulado por faculdades reavivadas (1950, 1970, 1995) e por grupos carismáticos, pela evangelização em massa nos centros urbanos (Billy Graham), pela igreja eletrônica e pelas mega igrejas (como Willow Creek Community Church).

c) Estados totalitaristas seculares procuram marginalizar a doutrina e os princípios morais cristãos. O nacionalismo de religiões como o budismo, o islamismo e o hinduísmo constituem obstáculos para as missões cristãs. A perseguição envolvendo martírio e seitas como a Nova Era procuram destruir o cristianismo bíblico nos dias de hoje.

F. Novos desafios para a Igreja. 1. O secularismo, com sua ênfase sobre o materialismo, o relativismo e a sabedoria, a tecnologia e a ciência humana.

2. A pobreza extrema no Terceiro Mundo.
3. O reaparecimento de algumas religiões não-cristãs.
4. Ameaças à família ao redor do mundo.

5. A mudança dos países de origem dos missionários, antes provenientes dos Estados Unidos, agora de países do Terceiro Mundo.

6. A liberalização da Igreja Católica Romana pelo Vaticano II e o neotomismo.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)    

Bíblia de Estudo Anotada



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