sexta-feira, 9 de julho de 2010

Combatendo as Heresias e os Falsos Ensinos

Combatendo as Heresias e os Falsos Ensinos

Colossenses 2,16-23

“Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de

humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não

viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl 2.18).

O cristão é chamado por Cristo para ser livre do pecador do mundo, do Diabo, e de tudo O que era utilizado para prendê-lo ao sistema iníquo que escraviza a alma e o espírito. Mas, muitas vezes, ensinos errôneos e falsos induzem os crentes a viverem apegados a preceitos e normas, que não têm fundamento na Palavra de Deus. Os colossenses, certamente, estavam experimentando a pressão dos hereges, que, a pretexto de humildade, ou de santidade, queriam lhes obrigar a ficar sob o jugo de ordenanças carnais, forjadas para manter seus seguidores presos aos seus ensinos. Em lugar da verdadeira doutrina (gr. dídakê), que tem origem no evangelho de Cristo, os hereges procuram sobrecarregar os incautos e crédulos com “doutrinas que são mandamentos de homens” (Mc 7.7).

Não é raro encontrarem-se pessoas, nas igrejas locais, que se deixam sobrecarregar de ordenanças, regras e normas que não têm fundamento nas Escrituras Sagradas. Conhecemos o caso de um irmão em Cristo que saía pelas reuniões de oração, chamando as pessoas à frente para serem batizadas com o Espírito Santo, com línguas estranhas, conforme Atos 2

E referências. O argumento que ele utilizava, para que todos atendessem o seu apelo, era o de que quem não fosse batizado com o Espírito Santo não era salvo, E muita gente ficava amedrontada diante de tal afirmação, ouvida de um homem com muitos anos de crente, corno o era no caso em apreço. Se as pessoas conhecessem a Bíblia, ou tivessem sido bem doutrinadas, como Paulo doutrinou os irmãos de Colossos, não ficariam preocupadas com aquela “doutrina” que lhes ameaçava com a condenação por não falarem línguas estranhas. Não há base bíblica para isso.

E muito comum, mesmo nos dias presentes, haver quem ameace os cristãos de serem excluídos das igrejas locais aqueles que não cumprem determinadas normas de usos e costumes. Há uma igreja que exige de seus membros um comportamento ascético, a exemplo dos gnósticos, que, se urna pessoa usar óculos esportivo pode ser excluída. Da mesma forma, se a mulher usar um cinto com mais de dois centímetros, também será ré do fogo do Inferno, com a excomunhão dada pela igreja local. A questão dos usos e costumes deve ser levada em conta, para que certos usos e certos costumes não afetem o testemunho cristão que deve ser dado perante o mundo, Mas quaisquer exigências, normas, ou ordenanças, precisam ter fundamento na palavra de Deus, Do contrário, pode-se cair no legalismo, e no fanatismo, que só trazem prejuízo à boa imagem que a comunidade cristã deve ter, como “sal da terra” e luz do mundo.

1 — Exortação Contra o Ascetismo Gnóstico

“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou

pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou

da lua nova, ou dos sábados, que são sombras

das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”

(2. 16-17 )

1. Combatendo ordenanças falsas

Após a solene proclamação da vitória de Cristo e de seus servos sobre os poderes malignos, Paulo confronta de modo direto os ensinos sobre o ascetismo gnóstico. Como já sabemos, a pretexto de buscarem uma vida mais santa, que agradasse aos rudimentos do mundo , ou aos elementos do universo”, que seriam seres celestiais ou divinos, os gnósticos recomendavam, ou até mesmo exigiam, a prática da abstinência de alimentos, de manjares e de prazeres humanos. Sem dúvida, havia uma espécie de policiamento sobre quem não se comportasse segundo as regras ascéticas, O jejum era tido como tendo um valor espiritual elevado, como parte do culto aos poderes cósmicos que deram origem ao universo, Assim, Paulo, negando o valor dessas idéias errôneas, exorta os colossenses que não se deixassem julgar por tais argumentos: “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber” (2.16 a).

Segundo Ralph Martin, “Havia várias razões porque a abstinência da comida e da bebida era praticada no mundo antigo. Uma era uma crença na transmigração das almas que levava à idéia de que consumir carne de animais era uma forma de ‘canibalismo’. Outro ponto de vista (mais importante neste contexto, à luz do versículo 18) era a importância atribuída ao jejum como prelúdio ao recebimento de uma revelação dos deuses . Não se tratava de uma simples abstenção de alimentos, ou de jejum com a finalidade de obter uma melhor concentração no momento de orar; era, na verdade, uma mistura de legalismo e ritualismo, no “culto dos anjos”, ou no “culto aos anjos”. Os gnósticos entendiam que para melhor ter acesso aos poderes cósmicos, deveriam abster-se de alimentos e bebidas.

Sob o ponto de vista genuinamente cristão, a abstenção de alimentos, em determinadas ocasiões, tinha, e ainda tem, seu sentido proveitoso, como recurso auxiliar nos momentos de oração e devoção a Deus, No Antigo Testamento, há exemplos notáveis de homens de Deus que recorreram ao jejum, buscando vitória sobre grandes lutas, O rei Josafá, vendo-se ameaçado por três grandes exércitos, convocou o povo para jejuar e orar. Como resultado, Deus ouviu a oração, e o Espírito do Senhor orientou ao rei, mostrando-lhe uma estratégia inusitada para obter a vitória. Os que cantavam foram colocados à frente do exército, e Deus concedeu extraordinária vitória a seu povo (cf. 2 Cr 20.3-25). Esdras, Neemias, Ester, Davi e outros servos de Deus, obtiveram grandes vitórias, orando e jejuando.

Mas o jejum que eles fizeram nada tinha a ver com culto aos poderes do universo, e sim, como uma forma de quebrantamento perante a face do Senhor, em momentos cruciais em suas vidas.

No Novo Testamento, vê-se, também, a importância do jejum5 como recurso auxiliar à oração. Os discípulos não puderam expulsar o demônio de um menino. Jesus, vendo a crítica situação, com uma palavra expulsou o espírito imundo, e disse aos discípulos que aquela casta só poderia ser expulsa com oração e jejum (Mt 17.21). Cornélio, o centurião romano, orando e jejuando, recebeu importante orientação da parte de Deus (At 10.30). No ministério de Paulo, o jejum fazia parte de sua vida devocional, ante as lutas que tinha a enfrentar, para levar o evangelho aos lugares mais diversos (2 Co 11.27).

Todavia, para os gnósticos5 que ameaçavam a Igreja em Colossos, o jejum não era somente um reforço à oração. Era considerado uma prática indispensável para a purificação interior, e uma forma de agradar aos “espíritos elementares do universo”. Era uma emonstraÇã0 de (falsa) humildade, que levava os gnósticos a se orgulharem de sua condição “superior” aos demais homens. Contra eles, Paulo levantou a espada do Espírito5 que é a Palavra de Deus.

Aqui cabe uma observação, no que tange ao que o cristão deve valorizar quanto à alimentação. No Antigo Testamento, havia diversas leis higiênicas5 ou sanitárias, que visavam livrar os hebreus de terríveis doenças, transmitidas pelos alimentos (cf. Lv 20.25ss). No Novo Testamento, há poucas ecomendaçõe5 a respeito do que comer ou beber, assegurando maior liberdade quanto ao uso dos alimentos. Os judeus procuravam perturbar os novos convertidos ao cristianismo, exigindo que os mesmos cumprissem rigorosamente os preceitos alimentares da lei de Moisés,

Os líderes da Igreja Primitiva, então, deram orientação apropriada sobre o assunto. Tiago levantou a voz, e disse: “Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue” (At 15.19,20). Assim, a recomendação dos apóstolos quanto à alimentação envolvia não só a abstenção de comidas, mas, antes de tudo, da adoração a ídolos e comportamento moral reprovável. E tudo isso, visando agradar a Deus, a Cristo, e ao Espírito Santo, e, nunca, a anjos, ou a outros seres celestiais.

2. Combatendo a escravidão a dias especiais (2.1 6b).

O povo de Deus, no Antigo Testamento, tinha um calendário rico, voltado para a observância de dias e festas especiais. Mas todo o calendário das festas de Israel, da Páscoa, do Pentecostes, dos Tabernáculos, etc,, tinha por objetivo agradecer a Deus pelas bênçãos concedidas à nação israelita. Os gnósticos exigiam a guarda de dias especiais como forma de manter as pessoas dominadas pelas ordenanças e vãs “filosofias que ensinavam.

Essa observância de dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”, fazia parte do regulamento imposto pelos doutrinadores heréticos. Presos pelas práticas do ascetismo, das “sutilezas”, da falsa humildade, que exigia abstinência alimentar, e observando a guarda de dias especiais, os gnósticos queriam repassar aos cristãos esse tipo de opressão espiritual. Certamente, tinham absorvido essas idéias do judaísmo escravizante.

A guarda de dias de festa, ao lado dos sacrifícios exigidos pela lei, tinha razão de ser, antes da vinda de Cristo. Fazia parte do culto, e dos sacrifícios, na antiga aliança, os quais eram “sombra das coisas celestiais” (Hb 8.5), ou “uma alegoria para o tempo presente” (Hb 9.9), ou, ainda “a sombra dos bens futuros e não a imagem exata das coisas” (Hb 10.1). Em sua carta aos colossenses, Paulo assevera que esses “dias de festa”, “da lua nova, ou dos sábados”, “são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (2.17). Sendo assim, os cristãos não precisavam mais ficar presos a essas ordenanças, que eram sombras, ou tipos dc Cristo. o antítipo, ou a realidade trazida à história. A vida cristã liberta o crente de qualquer calendário escravizante, inclusive da guarda dos sábados, que era um concerto especial e perpétuo de Jeová com o povo de Israel (cf. Êx 3 1.13; Dt 5.12; Ez 20.12).

II — Combatel1d0 as Falsas Ordenanças

“Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de

humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas

que não viu; estando debalde inchado na sua

carnal compreendo” (2. 1 8).

1. A falsa humildade

Uma das características de muitos movimentos heréticos é passar a exigir de seus seguidores um comportamento pretensamente humilde, com a imposição de certas regras e costumes, sem o fundamento doutrinário verdadeiro. Os gnósticos5 além de exigirem a observância de dias e datas especiais, e da abstinência de certos alimentos, impunham aos seus seguidores uma falsa humildade. No grego, humildade é tapeínophrosuné, normalmente utilizada, no Novo Testamento, no sentido genuíno do despojamento que deve caracterizar um servo, ou serva, de Deus, Mas os hereges utilizavam o pretexto da humildade para escravizar as pessoas, dominando-as “a seu bel-prazer”, a fim de manterem-nas sob suas rígidas regras ascéticas. Isso porque se consideravam superiores aos “outros”, aos “cristãos comuns”. Esse tipo de humildade é presunçosa. E paradoxal e incoerente com a própria razão de ser dessa qualidade que identifica aquele que é simples, sóbrio e abnegado. A humildade cristã não é hipócrita e confusa. E real e libertadora.

2. O falso culto aos anjos

Os crentes de Colossos estavam sendo induzidos a envolverem-se num culto estranho, de natureza mística e esotérica. Era o “culto aos anjos”. Como se sabe pela Palavra de Deus, os anjos são seres celestiais, criados por Deus, a quem são dadas diversas missões. Anjos apareceram ao patriarca Ló, avisando-lhe da destruição das cidades ímpias de Sodoma e Gomorra (Gn 19.15); Jacó teve uma deslumbrante visão de anjos quando pernoitava no deserto (Gn 28.12).

Eles têm importante papel em relação aos servos de Deus. Acampam- se ao redor dos que servem a Deus (Sl 34.7; 91.11); livram os servos do Senhor (Dn 3.28; 6.22); dirigem no caminho a seguir (Mt 1.20); anunciaram o nascimento de Jesus (Lc 2.13); são enviados a favor dos servos de Deus (Hb 1.14); louvam a Deus (Sl 148.2). Mas os anjos não são perfeitos, nem merecem adoração ou culto.

Diz Paulo: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” (1 Co 6.3a)

Conforme Colossenses 2.18, havia um certo tipo de “culto dos anjos” que deveria ser uma mistura de falsos ensinos judaicos com idéias ou doutrinas pagãs. Anjos são criaturas, e não devem ser adorados. Mas os gnósticos entendiam que eles faziam parte dos “espíritos elementares do universo”. Diz Ralph Martin: “A dificuldade aqui é saber como interpretar a frase: é ‘prestar culto aos anjos’ ou ‘o culto dirigido ou praticado pelos anjos’ que é repreendo ...) De alguma maneira, a veneração deve ter sido pregada aos anjos como parte do aparato ritual desta religião” , E o entendimento mais apropriado o de que havia de fato um tipo de adoração aos seres celestiais, criados por Deus. O culto aos anjos era uma mistura de judaísmo com princípios de religiões místicas orientais. Era um culto que escravizava.

O culto a Deus é libertador. Adorando ao Senhor, o homem encontra a verdadeira paz a alegria genuína do Espírito Santo e a segurança espiritual de que necessita para viver bem neste mundo de engano e mistificações. Nos dias presentes o “culto aos anjos” está em moda. Na mídia, há uma verdadeira avalanche de propaganda desse “culto” falso. Há inúmeros livros, escritos por autores famosos, descrevendo “o papel” dos anjos.

Lamentavelmente, também há igrejas evangélicas que entraram por esse caminho, atribuindo aos anjos uma missão que não lhes foi conferida. Em certos lugares os crentes estão mais voltados para os anjos do que para Deus. A exemplo do que ocorre com religiões espiritistas, há até quem ponha uma cadeira, no púlpito para que um anjo desça e sente-se para poderem iniciar o culto. Existem líderes que dizem falar com os anjos, diariamente, recebendo instruções e orientações especiais. Os anjos podem aparecer, sim, em ocasiões especiais.

Mas não existe base bíblica para afirmar-se que eles estão por aí, dirigindo cultos, revelando “segredos” de Deus. Toda a revelação necessária e suficiente para que o homem e a Igreja saibam como relacionar-se com Deus já foi devida- mente proclamada, através das Sagradas Escrituras, O plano de Deus para a salvação da humanidade já foi trazido por Cristo. Não ha necessidade de urna terceira revelação, como pretendem os espíritas; ou uma quarta revelação, como o querem alguns pretensiosos líderes religiosos. A exemplo do que ocorria em Colossos, há grande necessidade de alertar- se os crentes para que não se deixem dominar por esse tipo de filosofias e vãs sutilezas

3. As falsas visões (2.18b)

Paulo alertava os colossenses para não serem dominados por alguém, sob o manto da falsa humildade, e “metendo-se em coisas que não viu”. De acordo com o Comentário Bíblico Pentecostal, essa expressão “metendo-se”, no grego, é embateuo e quer dizer “entrar em um lugar ou possessão”, “investigar um assunto em detalhes”; era uma palavra usada “como um termo técnico nos ritos de iniciação das religiões místicas”. Poderia ser traduzida melhor como “as coisas que ele viu em sua iniciação”. Sem dúvida, essas visões não eram de Deus. As visões de Deus não confundem seus servos, levando-os a contrariar a verdade que emana de sua Palavra. Eram visões carnais, de alguém “estando debalde inchado na sua carnal compreensão”. Era uma manifestação da falsa humildade com o orgulho espiritual, e uma mistura de legalismo com ocultismo.

Jesus definiu bem quem são os que se interessam por coisas ocultas, misteriosas e secretas. “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas” (Jo 3,19,20). Os bruxos, os feiticeiros e as feiticeiras estão sendo valorado5 nos dias atuais. Eles têm “visões”, e com elas enganam a muita gente. Mas a condenação de Deus é severa sobre quem se dedica a essas práticas abonáVei5. Os crentes em Jesus são libertos dessas falsas revelações que só têm um único objetivo: afastar as pessoas da verdadeira adoração a Deus.

III — Desligados da “Cabeça” (2.19)

“e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo,

provido e organizado pelas juntas e ligaduras,

vai crescendo aumento de Deus” (2. 19)

Um corpo sem cabeça é uma anomalia da natureza. Os hereges de Colossos difundiam seus falsos ensinos porque não estavam ligados “à cabeça, da qual todo o corpo provido e organizado pelas juntas e ligaduras vai crescendo em aumento de Deus”. Era uma alusão à natureza do culto gnóstico. Enquanto exaltavam as stoicheia, depreciavam o papel de Cristo, como “cabeça da Igreja.

Sem essa ligação com Cristo, a Cabeça do ensino verdadeiro acerca das coisas espirituais, os hereges colossenses voltavam-se para as práticas místicas, ascéticas; para a abstenção de certos alimentos, como forma de manter uma falsa santidade; para a guarda de dias e anos; e para o “culto aos anjos” e outros “espíritos elementares do universo” ,Toda a heresia tem essa origem: o desligamento da “Cabeça”, que é Cristo.

Os falsos ensinos têm origem na cabeça de homens, ou de mulheres, que se consideram “iluminados” por Deus para anunciar uma nova religião; para proclamarem “a última revelação” para a humanidade. Paulo quis que os irmãos de Colossos fossem livres dessa opressão maligna, com base na “vã filosofia” herética. Numa analogia ao corpo humano, o apóstolo mostrou que o verdadeiro aumento é o “aumento de Deus”, que se processa através das “juntas e ligaduras”. Essa expressão pode muito bem aludir ao corpo doutrinário que orienta a Igreja do Senhor, As “juntas” seriam os ensinos doutrinários sadios, com base na Palavra de Deus.

E as “ligaduras” seriam os elos espirituais que unem os crentes ao corpo de Cristo, que é a sua Igreja, e os une uns aos outros no amor de Deus. Diz Pedro como deve ser esse crescimento espiritual: “Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). A comunhão com Deus, através de Cristo, que é a Cabeça da Igreja, é o que dá a verdadeira liberdade ao cristão. Sem ela, o crente pode ficar escravo de heresias, falsos ensinos, e mistificações as mais variadas e terríveis.

IV — “Mortos com Cristo”

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos

rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de

ordenanças, como se vivêsseis no mundo” (2.20).

1. Uma nova vida em liberdade

Os cristãos de Colossos já haviam sido libertados por Cristo da velha vida de ignorância espiritual. Estavam, sem dúvida, felizes, experimentando a comunhão com Deus, com Cristo, e uns com os outros. Mas o adversário da Igreja não se conforma em ver homens e mulheres livres de suas cadeias. Assim, procura induzir falsos mestres a assediar os crentes em Jesus para que deixem a liberdade que lhes foi garantida na cruz e voltem a ficar sob o jugo dos ensinos falsos, que levam à perdição. Paulo percebeu muito bem essa astuciosa estratégia do Diabo. Esta se manifestava de forma sutil, sorrateira, até subliminar, certamente.

Aqueles “rudimentos do mundo”, ou “espíritos elementares do universo”, estavam cercando os crentes, de forma tão sub-reptícia que seduziam os cristãos a se deixarem dominar outra vez por certas “ordenanças”, que tinham a pretensão de elevar o nível espiritual; na verdade eram exigências descabidas para quem já houvera obtido a liberdade em Cristo.

Arrington e Stronstad afirmam que “os rudimentos do mundo deveriam ser interpretados como os ‘espíritos elementares do universo’ — isto é, ‘os principados e potestades hostis’ — então poderíamos compreender melhor a natureza extremamente crítica da situação. Paulo não está apenas lidando com uma controvérsia sobre algumas regras alimentares e dias santificados; antes, está enfrentando um caso de sujeição a uma nova forma de servidão às forças espirituais malignas” .

2. Vencendo o legalismo escravizante

“ taís como: não toques, no proves, no manuseies?

As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo

os preceitos e doutrinas dos homens” (2.2 1,22).

As ordenanças não se limitavam à observância de dias santificados, ou a práticas alimentares. Ordens e comandos eram dados em termos de “não toques, não proves, não manuseies” (2.21). Alguém poderia argumentar: “E hoje, em muitas igrejas, não há ordenanças nesse sentido, em que os Crentes são exortados a não tocar em alguns objetos, a não provar certos alimentos ou a não manusear algumas coisas?” Certamente, a vida cristã tem suas regras de conduta, suas normas a serem observadas, mas só devem ser consideradas e obedecidas se tiverem consistente base nas Sagradas Escrituras.

As ordenanças, ou normas, vigentes numa igreja local, de fundamento cristão, não podem ser exigidas com base no capricho de homens, de líderes ou de quem quer que seja se não estiverem fundamentadas na Palavra de Deus. Se a comida é sacrificada aos ídolos, não se deve comer, ou mesmo dela provar; por exemplo, se alguém oferece revistas pornográficas a um crente em Jesus, hoje mesmo, a boa ética bíblica manda que tal coisa seja rejeitada; se alguém oferece bebida alcoólica a um servo de Deus, esse deve rejeitar de modo firme e decidido; se alguém oferece cigarro, charuto ou cachimbo para que o crente em Jesus prove, o servo de Deus tem o dever de não tocar, rejeitando tal oferecimento, Isso é atitude cristã, que honra o nome de Jesus.

O que não se deve é chegar ao exagero de proibir alguém de tomar um determinado refrigerante sob o pretexto dc estar pecando contra Deus; pode-se alegar que tomar determinada bebida, não alcoólica, pode ser prejudicial. por motivos nutricionais, dietéticos, e não por motivos espirituais.

Houve tempo em que em determinadas igrejas locais, proibia-se tomar café, por ser “pecado”; alguém não poderia tomar um banho de mar, sob pena de “ir para o Inferno”; se alguém não usasse chapéu, não era homem serio .Tais coisas não tinham (nem têm) fundamento bíblico. Exigi-las torna-se “doutrinas de homens”.

Na questão de usos e costumes, que muito perturba igrejas ainda nos dias presentes, o que se deve observar é se tais usos e tais costumes estão de acordo, ou contrariam o que está prescrito nas Escrituras. Do contrário, corre-se o risco de entrar-se no caminho do legalismo escravizante.

O problema das ordenanças que os hereges queriam impor sobre os cristãos de Colossos era o fato de pretender impor ordenanças, do tipo “Não toques, não proves não manuscies”: “Vocês têm que observar determinados dias de guarda”; “Vocês não podem comer isso ou aquilo” com base nos tais “espíritos elementares do universo” (gr. ta stoícheia tou kosmou, e não com base na Palavra do Senhor Jesus. Esse era o problema que envolvia as tais ordenanças. De acordo com Paulo, aquelas ordenanças não deveriam mais causar medo ou temor aos crentes, libertos por Cristo Jesus. Elas não teriam mais nenhum poder sobre a vida e a conduta dos salvos.

Aquelas “coisas todas perecem pelo uso” (2.22), isto é, são normas, ordenanças ou exigências5 que não passam de práticas que perdem o significado e o valor, no tempo e no espaço. Porque são “segundo os preceitos e doutrinas dos homens (2.22). São “filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (2.8).

3. Santidade aparente

Paulo chamou a atenção dos colossenses para o fato de que aquelas “ordenanças”, que os hereges queriam impor-lhes5 não tinham nada de importante, ou de valor espiritual para suas vidas, visto que eles já tinham sido “mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo” (2.20). Para que eles fossem santos, não precisavam mais viver sob o jugo dos “poderes elementares do universo”, de espíritos estranhos, que na verdade eram “os principados”, “as hostes espirituais da maldade” (cf. Ef 6.12). O apóstolo demonstrou que aquelas ordenanças, ou exigências, tinham “na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade” (2.23), mas não tinham o valor espiritual que os falsos mestres lhes queriam atribuir. No máximo, o que poderiam ter era algum valor “para a satisfação da carne”, ou seja, tais ordenanças não passavam de meios e formas de apresentar um comportamento que satisfazia os interesses humanos e carnais dos mestres hereges.

Hoje, em muitos lugares, há homens e mulheres que lideram certos movimentos religiosos e, para manter os fiéis sob seu domínio, procuram exigir atitudes e comportamentos que demonstrem que eles são mais santos que as outras pessoas. De um lado, apresentam santidade; de outro, ensinam heresias absurdas, que afastam as pessoas de Deus. Essa não é a santidade cristã, que deve ser fruto da presença de Cristo no coração e na vida dos seus servos, Paulo expressou bem esse ensino, ao exclamar: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).

O cristão tem de se santificar sim, e em todos os aspectos da sua vida. Diz Pedro: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver” (1 Pe 1.15). Paulo corrobora o ensino da santidade cristã, de modo eloqüente, quando escreve aos tessalonicenses: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espíritos e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23).

Bibliografia

1.MARTIN, Ralph P. Colossenses e Filemon, p. 100.

2. Ibid., p. 104.

3.ARRINGTON, French L. & STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal, pp. 1348,1349.

4.Ibid, p. 1350.

Por: Isaias Silva de Jesus

Livro Comentario Biblico Colossenses Elinaldo Renovado

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