O Cuidado com os Falsos Ensinos
Colossenses 2.8-15
“Tende cuidado para que ninguém vos faça presa
sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo
a tradição dos homens, segundo os rudimentos do
mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).
Os falsos ensinos são apresentados com enganos e disfarces, com aparência de verdade, de maneira sutil, às vezes agradável, e não raro com ilustrações bem produzidas. Haja vista a forma pela qual a teoria da evolução é ilustrada em mapas, quadros, slides e transparências. O homem é apresentado graficamente como sendo um tipo de macaco, que vai evoluindo até chegar ao nível biológico atual, mais aperfeiçoado. Tudo, porém, não passa de engano e falso ensino. Mas a forma sutil com que é apresentada essa teoria leva muitos à descrença em Deus. As filosofias também são usadas de forma eloqüente, crítica e, muitas vezes, de modo desrespeitoso contra Deus. Só a Palavra de Deus, corretamente interpretada, pode eliminar o efeito das heresias, Por isso, é por demais necessário que haja muito cuidado com os falsos ensinos, que são travestidos de verdade. Os colossenses receberam solene advertência contra as seitas e as heresias de seu tempo.
Os ritos do judaísmo, como a circuncisão e a preocupação com as leis higiênicas e alimentares, ao que tudo indica, foram incorporados à filosofia gnóstica. O despojamento da carne passou a ser muito valorizado, muito mais do que a “circuncisão de Cristo”, que é espiritual, interior, na alma e no espírito. Da mesma forma, o batismo espiritual, através do qual o homem é imerso no corpo de Cristo, que é a Igreja, estava sendo substituído por outros ritos de iniciação, ou de passagem, puramente místicos, levando as pessoas a um culto estranho, voltado para os elementos da natureza, numa competição diabólica contra o Custo encarnado, o Emanuel, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós”,
Paulo enfrentou os ataques heréticos contra seus discípulos colossenses fazendo uso da argumentação bíblica, numa linguagem apropriada àquele tipo de combate espiritual. Utilizou uma linguagem bem conhecida pelos crentes em Jesus, demonstrando que, na batalha espiritual, Cristo era o grande vencedor, pois não só derrotou os inimigos, liderados por Satanás, mas os venceu, “despojando os principados e potestades”, e “os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.15).
1 — As “Filosofias e Vâs Sutilezas”
“Tende cuidado para que ninguém vos faça presa
sua, por meio de filosofias e ãs sutilezas” (2. 8a).
1. As Filosofias
Embora a Epístola aos Colossenses não seja explícita quanto ao que era ensinado pelos hereges gnósticos como vimos no capítulo primeiro do confronto entre o texto bíblico e o fundo histórico, sobre o qual se apresentavam os falsos ensinos, pode-se concluir que o gnosticismo era realmente uma grande ameaça à fé cristã, deixada por Jesus em seu evangelho e proclamada por seus apóstolos nos Atos e nas epístolas. Paulo não combatia a filosofia propriamente dita. Esta, embora ciência de homens, servia de estímulo à busca da verdade, A filosofia (gr. phi1osophia) no sentido geral não era o alvo do combate do apóstolo. Ele combatia aquela “vã filosofia” particular que era usada para propagar os falsos ensinos do gnosticismo. Para que se tenha uma idéia de quanto era perigosa aquela forma de pensamento herético basta que se destaquem alguns de seus ensinos. Os gnósticos ensinavam, dentre outras heresias, as seguintes idéias:
Jesus não era humano
Assim ensinavam, pois, para sua “filosofia”, o corpo, sendo matéria, era mau, e Cristo, sendo um ser celestial, jamais poderia encarnar, assumindo um corpo humano, Essa heresia é a base da doutrina do Anticristo, que afirma que Jesus não veio em carne (em corpo humano), conforme diz João: “e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo” (1 Jo 4.3). “Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo” (2 Jo 7). Hoje, as seitas com fundamento gnóstico continuam afirmando que Jesus não passou de um “iluminado”, ou de mais um entre outros líderes religiosos.
Jesus não morreu na cruz
Segundo os gnósticos, a salvação de Jesus não ocorreu mediante o seu sacrifício na cruz, Aquela morte, para eles, foi apenas aparente. A salvação de Cristo não foi “baseada na fé nem nas obras, mas num conhecimento especial ou gnose da própria condição . ‘..O meio para a salvação, segundo eles, era o conhecimento secreto que diziam possuir, e que só estaria ao alcance de alguns iniciados. A logosofia, a gnosiologia e a teosofia, todas baseadas na gnosis (conhecimento), pregam a mesma coisa. Negar a encarnação de Cristo, e sua morte, é negar a própria base da fé salvífica, emanada dos Evangelhos. A Nova Era é a mistura mais completa desse tipo de ensino herético. A Bíblia é incisiva e clara quanto á morte redentora de Jesus. Dizem as Escrituras: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
Jesus não ressuscitou
Para os gnósticos, como Cristo não encarnou e nem morreu, também não ressuscitou de fato. O que houve, segundo seus falsos ensinos, foi apenas uma “ressurreição espiritual”. No código que contém ensinos gnósticos, encontrado em Nag Hammadi, no Egito, em 1945, está escrito que “O salvador tragou a morte ... Pois transformou-se em um aeon incorruptível, e levantou-se, depois de ter tragado o visível através do invisível, e nos deu o caminho para a imortalidade.**. Isso é a ressurreição espiritual que traga o psíquico junto com o carnal”.
Pode-se perceber nessa afirmação a “sutileza” do ensino herético. Parece consistente, usando uma expressão filosófica, mas não passa de ensino falso, com base em premissas enganosas de inspiração anticristã. Como se vê, a heresia gnóstica era muito perigosa à fé dos colossenses. Paulo, em outro texto, afirma, em defesa da fé cristã: “Porque se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele” (1 Ts 4.14); “Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34).
Livros heréticos
Diversos livros apócrifos foram encontrados, contendo ensinos gnósticos. Dentre eles, surgiram o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Maria Madalena, Atos de Pedro, o Evangelho da Verdade, a Sofia de Jesus, todos contendo ensinos divergentes dos quatro Evangelhos incluídos no cânon do Novo Testamento. No Evangelho de Tomé há “114 afirmações secretas de Jesus... retrata o gnosticismo do século II. O Evangelho de Tomé é influenciado pelo tipo de gnosticismo predominante no século II. Por exemplo, afirma que Jesus disse estas palavras improváveis e humilhantes: ‘Toda mulher que se fizer homem entrará no Reino dos céus”. Mais uma vez, é Paulo quem dá a orientação certa para que se evitem as heresias, contidas nesse tipo de literatura. “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1.8).
As pessoas, em sua maioria, são ignorantes quanto à sua
origem e condição
Com essa presunçosa idéia, os gnósticos pregavam que só se poderia conhecer a verdade sobre a criação, a origem do homem, sua natureza e seu futuro, através da ‘gnosis. E esta só estaria ao alcance dos que se aprofundassem no estudo do conhecimento de sua filosofia, considerada apropriadamente corno “vã filosofia” por Paulo.
O apóstolo combatia esse tipo de filosofia , que levou os gnosticos a uma verdadeira “filosofolatria a adoração da filosofia e a prática de rituais enganosos. Tais idéias são vás e vazias, porque nem sequer contêm a verdade”.
2. As “vãs sutilezas”
Os ensinos dos gnósticos envolvem argumentos filosóficos sutis, que podem levar os incautos ao caminho do erro e do desvio doutrinário. Esses combinam elementos da filosofia, da astrologia, de religiões orientais, do judaísmo e alguns ensinos cristãos. Numa perigosa mistura de ensinos ditos espirituais, as heresias gnósticas têm afastado muitos da verdade do evangelho de Cristo, Paulo alertou os colossenses quanto a esse tipo de sutilezas.Tais ensinos eram tão enganosos, que adotavam uma certa moralidade dúbia e mistificadora.
A libertinagem exaltada
Carpócrates e Epifânio, seu filho, pensadores que representavam uma corrente libertina dos gnósticos, ensinavam que “a libertinagem era a lei de Deus”, incentivando a promiscuidade e a depravação sexual e moral.
1) O ascetísmo exaltado
Por outro lado, havia uma corrente que defendia a ascese, incentivando os adeptos a viverem de modo bem sóbrio, longe dos prazeres da carne, Na área sexual, havia uma forte doutrinação, visando a busca da abstinência das práticas sexuais. Ensinavam que “a criação da mulher era a fonte de todo o mal e a procriação de filhos só multiplicava o número de pessoas escravizadas pelo mundo material. A salvação das mulheres dependia de um dia se tornarem homens e voltarem às condições do Eden antes de Eva ser criada”. Não pode haver maior sutileza do que essa em matéria de explicação quanto à origem do mal, atribuindo à mulher a causa de toda a maldade na face da terra. Mas, segundo historiadores, havia mulheres à frente de muitos grupos gnósticos. Tudo indica que o Diabo, assim como fez com Eva, contínua a ter a mulher como alvo predileto de suas sutilezas, aproveitando-se da sensibilidade feminina pelas coisas ocultas, despertando-lhes a sua natural curiosidade.
O ascetismo chegou a motivar exemplos absurdos, como o de um homem que viveu muitos anos morando sobre uma pilastra e que se alimentava com a ajuda de pessoas que faziam o alimento lhe chegar através de uma cesta. Os monges na Idade Média, também seguiram essa idéia, afastando-se do “mundo” para terem uma vida mais santa. Hoje, muitas religiões adotam de uma forma ou de outra algum tipo de ascese, com o objetivo de manter seus fiéis longe da pecaminosidade.
Mas o evangelho de Cristo não prega a ascese, que isola seus seguidores das pessoas em geral, pelo fato de viverem no pecado. Pelo contrário. Jesus afirmou que os cristãos são o sal da terra e a luz do mundo. Para ser sal, e fazer efeito, o cristão precisa estar no meio da “comida”, ou seja, do mundo, no meio das pessoas, para lhes transmitir o “sabor”, ou a influência poderosa do evangelho de Cristo. Para ser luz, o discípulo de Cristo não pode estar debaixo de um alqueire, mas “no velador”, isto é, numa posição que lhe permita transmitir a luz do evangelho aos pecadores.
Jesus andava entre os pecadores e comia com eles; pousou na casa de um coletor de rendas defraudador; deixou-se lavar os pés e enxugá-los por uma mulher pecadora; entrou nas sinagogas dos judeus; andou à beira-mar com os pescadores e lhes pregou mensagens excelentes acerca da salvação, por meio de parábolas ou de discursos diretos, sempre no meio da multidão. Seguramente, o cristianismo não é ascético. E profundamente envolvido com as pessoas a quem o evangelho é destinado. O que Cristo pregou, e igualmente seus apóstolos, foi a santificação, ou o afastamento do pecado, e não das pessoas a quem o evangelho precisa ser levado,
II— A Tradição dos Homens e os Falsos “Rudimentos do Mundo” (2.8b)
1. “A tradição dos homens”
Em sua defesa do evangelho, Paulo referiu-se aos ensinos dos homens, que não observavam a doutrina de Cristo, considerando-os “tradição dos homens”. Ele advertiu os colossenses que não se fizessem presa de tais ensinos, Não só na época em que foi escrita a epístola. Mas, há muito tempo, existe em curso todo um movimento filosófico, chamado humanismo, que coloca o homem no centro de tudo, excluindo a Palavra de Deus, e o próprio Deus, de suas conjecturas. Segundo nota explicativa da Bíblia de Estudo Pentecostal (BEP), “Hoje, uma das maiores ameaças Téológicas contra o cristianismo bíblico é o ‘humanismo secular’, que se tornou a filosofia de base e a religião aceita em quase toda educação secular, e é o ponto de vista aprovado na maior parte dos meios de comunicação e diversão no mundo inteiro”.
2. O que ensina o humanismo
Segundo essa filosofia, que inclui a “tradição dos homens” a que se referia Paulo, o homem e o universo são apenas originários de energia que se transformaram em matéria, por obra do acaso. E filosofia irmã do evolucionismo biológico. Nega a existência de um Deus pessoal e infinito; “nega ser a Bíblia a revelação inspirada de Deus à raça humana”. Para o humanismo, o homem é seu próprio deus; o homem pode melhorar e evoluir, segundo tais preceitos através da “educação, eistribuição econômica, psicologia moderna ou sabedoria humana”.
O humanismo é relativista, pois “crê que padrões morais não são absolutos, e sim relativos e determinados por aquilo que faz as pessoas sentirem-se felizes, que lhes dá prazer... ensina que o homem não deve ficar preso à idéia de Deus”. De acordo com a Bíblia, os humanistas estão entre aqueles que “mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1.25). Além das “filosofias” e “vãs sutilezas”, Paulo alertava os colossenses contra o perigo do humanismo, que lhes seduzia para se afastarem de Deus e colocarem o homem no centro de todas as coisas.
3. “Os rudimentos do mundo” (2.8c)
Esta expressão na carta de Paulo tem diversas interpretações. No grego há o termo stoicheia, que tem o significado de algo que se coloca em série, à semelhança das letras do alfabeto. No texto, a expressão “rudimentos do mundo” ( stoicheia tou kosmou), equivale aos princípios do mundo , ou ao ABC do mundo, ou “coisas postas em linha” ou “os rudimentos de qualquer matéria, e gradativamente chegou a ser aplicada aos elementos do universo físico”,9 Mas há traduções mais complexas, que dão a entender que a expressão refere-se aos “espíritos elementares do universo”, ou espíritos que controlariam o universo. Como o gnosticismo pregava que as coisas criadas e os seres vivos eram originários de “emanações” divinas, chamadas aeons, certamente Paulo fazia menção em sua carta dessa idéia herética, que colocava Cristo no mesmo nível desses falsos elementos considerados divinos,
Para os gnósticos, as substâncias de que são formados “o mundo, a terra, o ar, o fogo e a água, seriam possuidoras de vida, isto é, toda a matéria seria realmente ‘animada’; e então, por um processo de ratificação e condensação, tudo quanto existe, animado ou inanimado (segundo nossos termos modernos), veio à existência”. Dentro dessa idéia esoterista, muito comum nos preceitos do movimento da Nova Era, o sol, a lua, as estrelas e outros astros são deuses, e devem ser adorados. Para os gnósticos, os planetas seriam lugares de habitação dos espíritos, ou das stoicheia. Nesse aspecto, os gnósticos equiparavam-se aos adeptos do espiritismo e da astrologia. Assim, os colossenses estavam ameaçados por um falso ensino, que defendia a adoração a outros elementos da natureza, além de Cristo.
Segundo pregavam os gnósticos, a humanidade seria dividida em três grupos:
1) hiléticos ou incrédulos, que estavam imersos na natureza material e carnal;
2) cristãos psíquicos ou comuns, que viviam pela fé e atividades pneumáticas;
3) gnósticos ou espirituais”.” Observe-se que os cristãos seriam para os gnósticos adoradores de segunda categoria. Eles consideravam-se em grau superior por causa dos conhecimentos secretos ( gnosis ) que julgavam possuir.
O apóstolo os advertiu para que não fossem presa desse tipo de ensinamento perigoso. Ralph Martin considera que tais stoicheia, ou “rudimentos do mundo”, são “poderes demoníacos”, que seriam “rivais de Cristo, pois procuravam tomar o lugar Único e legítimo como centro da adoração verdadeira, que é o Senhor Jesus”
4. A plenitude da divindade
“porque nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade” (2.9,).
Enquanto os hereges criam que a divindade se apresentava através de “emanações”, dos aeons, Paulo ministrava aos colossenses que, em Cristo, “habita corporalmente toda a plenitude da divindade”,Tendo em vista a preeminência de Cristo sobre todos os seres, visíveis e invisíveis, anjos ou demônios, homens ou animais, ninguém precisa recorrer a qualquer outro ser, em busca da divindade.
Todas as religiões que não pregam a Cristo como centro de seus ensinos e da verdadeira adoração estão incorrendo em grave erro, e desviando seus adeptos do verdadeiro caminho para Deus. NEle, a divindade é infinita e absoluta, Não sobra nada para qualquer outro ser que pretenda usurpar-lhe o direito à adoração. Só Ele — Cristo — é Deus, na unidade com o Pai e o Espírito Santo. Em relação ao homem, o Deus encarnado é Cristo, o Emanuel (Mt 1.23).
Ele é o Verbo, ou o Logos, que se fez homem para libertar o homem do poder do pecado. Diz o apóstolo João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). E, como nEle habita toda a plenitude (gr. piei-orna) da divindade, Paulo fez ver aos colossenses que não necessitavam de qualquer outra fonte da revelação de Deus. Uma vez que conheceram a Cristo, conheceram toda a fonte da revelação divina, toda a fonte do poder que emana de Deus.
5. A perfeição do crente (2.10)
Cristo não só encerra “toda a plenitude” de Deus, mas também faz com que seus seguidores vivam em plenitude ou perfeição espiritual. Diz Paulo: “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo principado e potestade”. Deduz-se, assim, que a plenitude ou perfeição do crente não decorre de sua própria condição, humana, terrena e mortal, mas dc sua comunhão com Cristo: a razão dessa perfeição é estar “nEle”. Desligado de Cristo, o cristão não passa de mera criatura, semelhante a qualquer utro ser humano, Em Cristo, no entanto, na íntima comunhão com o Salvador, o pecador remido passa da posição de criatura para a de filho de Deus (cf. Jo 1.12).
Jesus exortou seus seguidores a serem perfeitos, dizendo: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.48). E isso só é possível se Cristo estiver espiritualmente em cada um, e cada um em Cristo: “Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade...” (Jo 1 7.23a). E Paulo justifica a posição de Cristo, único merecedor de adoração, pelo fato de ser Ele “a cabeça de todo principado e potestade” (2.I0b).
III — A Verdadeira Circuncisão e o Verdadeiro Batismo (2.11-1 5)
1. A circuncisão na carne
A circuncisão era um rito que tinha alto significado entre os judeus. Foi o sinal do pacto que Deus estabeleceu com Abraão, a ser observado pela sua descendência “Este é o meu concerto, que guardareis entre mim e vós e a tua semente depois de ti: Que todo macho será circuncidado, E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado todo macho nas vossas gerações o nascido na casa e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiros que não for da tua semente” (Gn 17.10-12). Era a circuncisão da carne visível no corpo de todo israelita que se submetia ao concerto com Deus.
2. A circuncisão de Cristo
Provavelmente, os gnósticos haviam incorporado em suas doutrinas essa práticas tomando-a num sentido legalista ou indispensável para a salvação. Os judeus e os prosélitos por certo tinham em mente que a circuncisão estabelecida no Antigo Testamento, como sinal do pacto de Deus com Abraão, ainda era necessária. Paulo sentiu a necessidade de dar uma orientação sobre o significado espiritual da circuncisão no contexto da visão cristã. Em Atos dos Apóstolos vemos que os que se converteram ao cristianismo ainda sentiam a força do legalismo judaico. “Então, alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (At 15.1). Pedro teve de enfrentar a oposição dos “da circuncisão” (At 11.2).
Enquanto a circuncisão judaica era na carne, a circuncisão de Cristo tinha um sentido espiritual muito elevado, e nada tinha a ver com o corpo em si, mas com a alma, no ser interior. Paulo exortou-os, dizendo: “no qual também estais circuncidados com a circuncisão não frita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo” (2.11, ênfase do autor).
A “circuncisão de Cristo” era espiritual. O despojo não era da carne, mas do espírito. Para Paulo, o verdadeiro judeu, ou israelita, não era o circuncidado na carne. Disse ele aos romanos:
“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28,29). A “circuncisão de Cristo” é, portanto, a que “é no interior”, “a que é do coração, no espírito. E significa o despojamento do velho homem “do corpo do pecado” (cf. Rm 6.6), ou do “corpo desta morte” (cf. Rm 7.24). No momento em que há uma verdadeira conversão do pecador a Cristo, quando este abandona o pecado, deixando os velhos pensamentos e as velhas inclinações, ele passa pelo processo da “circuncisão de Cristo”, através da qual é nascido de novo, uma nova criatura (cf. 2 Co 5.17).
“O crente segundo o concerto do NT passou por uma circuncisão espiritual, a saber: o despojar ‘do corpo da carne’. Trata-se de um ato espiritual, mediante o qual Cristo remove nossa velha criação irregenerada e rebelde contra Deus, e nos comunica a vida espiritual ou ressurreta de Cristo (vv. 12,13); é uma circuncisão do coração (Dt 10.16; 30,6; Jr 4.4; 9,26; Rm 2.29).”
3. O verdadeiro batismo
“Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes
pela fé no poder ele Deus, que o ressuscitou dos mortos” (2.12).
A semelhança do ensino sobre a “circuncisão de Cristo”, que é eminentemente espirituais Paulo dá ênfase ao “batismo espiritual” através do qual somos “sepultados com ele no batismo”, e nEle também ressuscitamos “pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos”. Com esse ensino, não se deve ter a idéia de que o batismo em águas é um sacramento, conforme o ensino católico romano. E uma ordenança, ao lado da Santa Ceia, mas não tem função salvífica. Representa dc fato a identificação do crente com Cristo, em sua morte, e cm sua ressurreição. Na imersão, têm-se o simbolismo da morte, à semelhança de Cristo. Na emersão, têm-se o simbolismo da ressurreição para uma nova vida com Cristo. Ao escrever aos colossonses, Paulo falava não do batismo em águas mas do batismo espiritual através do qual somos imersos no corpo de Cristo, que é a Igreja.
Escrevendo aos romanos, Paulo esclareceu de modo enfático o significado do batismo “em Cristo”: “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou d mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque se fomos plantados juntamente com ele na semelhança a sua morte, também o seremos na da sua ressurreição” (Rm 6.3-5, ênfase do autor). O batismo “em Cristo” tem um significado espiritual profundo. No pecado o homem é considerado morto para Deus. Na conversão, ele é regenerado (2 Co 5.17), passa pela “circuncisão de Cristo” e, ao mesmo tempo, é batizado “em Cristo”, Esse batismo espiritual é confirmado, publicamente, mediante a profissão de fé, quando da realização do batismo em águas, “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19).
4. A verdadeira salvação
Quando da verdadeira conversão, através da vida que Cristo lhe infunde, o crente é ressuscitado espiritualmente. Paulo lembra a situação em que os colossenses se encontravam, que é a situação de todo pecador, antes do encontro vivificador com Jesus. Nesse encontro, o pecador é ressuscitado, regenerado e justificado por Cristo. Diz o apóstolo: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas” (2.13).
Essa justificação por Cristo é tão eficaz, que o passado de condenação é totalmente anulado, pois tudo o que havia contra o pecador, em sua vida pregressa, é apagado por Jesus. Diz Paulo que ele riscou “a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (2.14). Agora, os colossenses não precisavam mais preocupar-se com a busca de outros salvadores ou salvadoras, pois a salvação em Cristo é plena e eficaz. Sua eficácia alcança toda a existência do homem, desde que ele não se afaste da comunhão com o Senhor, desviando-se para outros (falsos) deuses. O apóstolo João registrou no seu Evangelho o resumo dessa eficácia salvífica de Cristo, que disse: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24).
IV — A Vitória sobre os Poderes do Mal
Além de regenerar o homem, ressuscitando-o da morte espiritual e lhe dando nova vida, Cristo garantiu a vitória ao cristão sobre todas as forças e poderes malignos quando de sua morte no Calvário. Diz Paulo: “E, despojando os principados e potestades os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo (2.15). Apos riscar a cédula de acusação, que era contra nós, e cravá-la na cruz, Jesus assegurou retumbante vitória sobre as forças satânicas. Uma vez salvos em Cristo, podemos fortalecer-nos no Senhor e ficar firmes, revestidos da armadura de Deus , para lutar contra os principados, contra as potestades contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12), e vencê-los pelo poder de Deus em nossas vidas. Esse triunfo do crente é-lhe concedido porque Jesus venceu todos os poderes do mal, “despojando os principados e potestades os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (2.15).
A vitória de Cristo sobre as forças malignas não foi apenas no plano cósmico, invisível, mas foi uma retumbante vitória diante dos anjos5 dos demônios e diante dos homens. Ao morrer na cruz, Ele deu um brando de vitória, ao exclamar: “Está consumado” (Jo 19.30). Na sua ressurreição, publica- mente, diante dos representantes do império dos homens, e diante do império da morte, Jesus levantou-se, glorioso e vencedor, despojando todos os poderes espirituais e humanos.
E, assim, assegurou a vitória a todos os que nEle crêem. Paulo enfatizou aos colossenses essa tremenda vitória de Cristo, para que eles tivessem a confiança e a segurança de que não precisavam de anjos, de seres cósmicos (aeons) ou de outros poderes para ter a vitória. Só precisavam crer em Cristo e ter comunhão com Ele, para vencerem todas as forças contrárias à sua fé.
Bibliografia
1.GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apolqgética, p. 375.
2. Ibid., p. 375.
3.Ibid,, p. 374.
4.Ibid., p. 320.
5.PÁTZIA, Arthur G. Efésios, Colossenses, Filemom, p. 57.
6. GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apolqgética, p. 375.
7.Ibid., p. 375.
8 Bíblia de Estudo Pentecostal, nota sobre Colossenses 2.8, p.
1835.
9.DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia, p. 1292.
10. CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Te5tamento
Interpretado, p. 117
11.GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética, p. 374.
12. MARTIN, Ralph P. Colossenses e Filemom, p. 90.
13. Bíblia de Estudo Pentecostal, nota sobre Colossenses 2.11,
pp. 1835, 1836).
Por: Isaias Silva de Jesus
Copiado do Livro Comentario Biblico Colossenses Elinaldo Renovado
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