ZELEMOS PELO USO DO DOM DE PROFECIA
Na carta dirigida à igreja em Tiatira, Jesus censurou o dirigente dela por tolerar Jezabel, mulher que se dizia profetisa, ensinar e enganar os servos de Deus, para que se prostituissem e comessem de sacrifícios de idolatria, Ap 2.20. Nessa missiva, observa-se que os transtornos da tolerância foram grandes, porque a maioria da igreja se contaminou. Chegou a ponto de se falar em “profundezas de Satanás”, Ap 2.24. Existia na igreja uma minoria fiel: “Os restantes que não têm esta doutrina”, os quais sofreram ataques daquela “profetisa”. Jesus a esses deu uma palavra de conforto. Ele falou sobre vitória e prometeu-lhes poder (At 2.26), e disse: “O que tendes, retende-o até que eu venha!” Ap 2.25.
A mensagem da carta não foi dirigida somente à igreja em Tiatira, pois no final dela lemos: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ë uma mensagem para as igrejas que ouvirem a voz do Espírito Santo, a fim de que zelem pelo uso correto do dom de profecia.
A Bíblia diz: “Procurai com zelo profetizar!” 1 Co 14.39. Paulo nos incentiva a “procurar com zelo os dons, mas, principalmente, o de profetizar”, 1 Co 14.1. Tudo isso mostra a grande importância desse dom. Não deve ser desprezado (1 Tm 4.14), mas despertado (2 Tm 1.6), a fim de que a igreja enriqueça, 1 Co 1.57. O zelo que devemos ter por esse dom expressa-se no cuidado de zelar no sentido de que esse dom seja usado na igreja de acordo com a doutrina bíblica; que seja empregado para a finalidade definida em 1 Co 14.3: “O que profetiza, fala aos homens para edificação, exortação e consolação”. Às vezes, a profecia traz uma mensagem sobre acontecimentos que Deus nos deseja revelar.
Vemos um exemplo desse fato em At 11.27-29, quando Á- gabo profetizou sobre a fome que viria a todo mundo, que realmente aconteceu. Quando o dom de profecia é usado legitimamente, traz ricas bênçãos à igreja, pois constitui uma sustentação espiritual. “Não havendo profecia o povo se corrompe”, Pv 29.18. A profecia traz o espírito de temor pela presença divina, 1 Co 14.24, 25. É como uma chuva sobre a lavoura de Deus, Pv 25.14. Quando, porém, não é usada de modo correto, é como uma “nuvem sem água”, Pv 25.14. Disse Deus:
“Não trouxeram proveito nenhum a este povo”, Jr 23.32.
Um Obreiro perguntou-me há pouco: “É correto que alguém, por meio de profecia, dirija a igreja e ainda convide os irmãos a lhe consultarem”? Como a pergunta é de interesse geral, quero, por meio do OB, escrever algo que a Bíblia fala sobre este palpitante assunto.
Possivelmente alguém já está indagando: “É possível existir erros numa profecia? não é o próprio Deus que fala?” A Bíblia responde a estas perguntas, dizendo: “Falem dois ou três profetas, e os outros julguem”, 1 Co 14.29. Vemos, assim, que não é Deus quem fala, mas que é o homem quem transmite uma mensagem recebida de Deus por meio do Espírito Santo.
Diante disto, vemos a necessidade de o portador transmitir exatamente o que o Senhor lhe ordena. Afirmou Deus: “Se estivesse no meu conselho, faria ouvir as minhas palavras”, Jr 23.22. Paulo declarou: “Eu recebi do Senhor, o que também vos ensinei”, 1 Co 11.23. Portanto, cada um que possui o dom permaneça sob o domínio do Espírito Santo, para transmitir a mensagem corretamente, para não cair no perigo de acrescentar algo ao que Deus lhe revelou ou a omitir o que o Espírito revelou!
A Bíblia adverte-nos contra esse perigo, dizendo: “Sou contra os profetas que furtam as minhas palavras” (Jr 23.30), e “usam a sua língua, afirmando: Ele disse:”, Jr 23.31. É por esse motivo que a Bíblia ordena “Falem dois ou três profetas e os outros julguem”, 1 Co 14.29. “Não desprezeis as profecias! Examinai tudo! Retende o bem!”, 1 Ts 5.20,21. Foi a desobediência a esse mandamento que causou transtorno na igreja em Tiatira, Ap 2.20. Procuremos de coração obedecer a essa palavra e zelar pelo uso correto dos dons!
Uma forma indevida do dom profético é quando alguém procura, por meio de “profecias”, dominar e orientar o dirigente e os membros da igreja! No Velho Testamento, as profecias não vindas de Deus foram um sinal de decadência espiritual, com graves conseqüências para o povo. A Bíblia diz: “Os profetas profetizam falsa- mente e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim deseja, e que fareis no fim disto?” Jr 5.31.
No Novo Testamento não temos exemplo de que o dom de profecia fosse usado por Deus como meio de dirigir a igreja, ou o seu ministério. A Eleita do Senhor é dirigida pela Palavra de Deu8 e pelo ministério constituído! Na grande e decisiva reunião em Jerusalém, quando existiam assuntos de suma importância, Deus não usou o dom de profecia para resolver os problemas. Embora houvesse profetas presentes na reunião (At 15.32) Deus usou os seus ministros; os quais, revestidos do dom de sabedoria, trouxeram à tona a solução do impasse, At 15.13-22.
Observemos que ninguém, por transmitir uma mensagem em profecia, tem parte na direção da igreja, de vez que, quando transmite a. mensagem, cessa sua missão no caso, pois o que é usado para transmitir a profecia não possui a responsabilidade de zelar pela obediência ou observância dele.
Quando Ágabo profetizou para a igreja, coube aos ministros dela a responsabilidade de tomar as devidas providências (At 11.28,29), e quando profetizou a respeito de Paulo, a responsabilidade passou a ser do apóstolo, At 21.8-14. A função dos que profetizam é entregar a mensagem de Deus para conforto e edificação, At 15.32. Está escrito que os profetas “ajudavam” os que edificavam (Ed 5.2), e que os edificadores “prosperaram pela profecia de Ageu e de Zacarias”, Ed 6.14. Assim seja!
Quando alguém, por meio de profecias, penetra na direção da igreja, mostra que é dominado por influências estranhas. Abre-se, então, uma porta para a perturbação. No tempo de Neemias, havia “profetas” que procuravam seduzi-lo a come- ‘ter pecado e a sair do caminho traçado por Deus, Ne 6.7-10.
No entanto, esses eram inimigos da obra. Mas Neemias tinha capacidade espiritual para discernir. Ele disse: “Eu conheci que não era Deus quem o enviara”, Ne 6.12,13. A Bíblia orienta a igreja contra tais abusos, dizendo: “Ninguém vos domine a seu bel- prazer, metendo-se em coisas que não viu, estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl 2.18), e acrescenta:
“Tende cuidado de que ninguém vos faça presa sua!”, Cl 2.8. Quando alguém se faz “oráculo de profeta”, para responder a perguntas e orientar os crentes, está usando indevidamente o dom de profecia. A Palavra de Deus é muito clara sobre esse abuso!
A Bíblia revela que os profetas, no tempo do Velho Testamento, estavam entre Deus e os homens. O povo consultava a Deus por meio de profeta, e este, em nome do povo, levava a pergunta a Deus (1 Sm 8.21; 1 Ra 14.2,3) e depois tornava ao povo com a resposta que recebera de Jeová, 1 Sm 9.6; Éx 19.7,8; 1 Rs 14.7-14. Naquele tempo, não havia chegado o Mediador que Deus prometera. No entanto, nesta dispensação, temos Jesus, o único mediador entre Deus e o homem, 1 Tm 2.5,6. Agora todos os crentes tem, pelo Espírito Santo, acesso a Ele (Ef 2.18) e o direito, quando lhe falta a sabedoria, de pedir a Deus, que a todos dá liberalmente, Tg 1.5. Quando o nosso espírito for renovado, “Experimentaremos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, Rm 12.2. O dom de profecia não atinge, nesta dispensa çâo, a faixa de consulta, pois tem uma outra finalidade: a edificação da Igreja, 1 Co 14.4.
Quando uma pessoa que possui o dom de profecia contraria a Palavra de Deus, e atende a consultas, surge o perigo de ela inventar respostas que transmite em forma de “profecias”. Crentes simples, que não conhecem a doutrina sobre o uso correto do dom, ficam dominados pelos pseudo-profetas. Eis aqui a explicação de tantas decepções e até de fanatismos desenfreados que aparecem, quando pessoas inescrupulosas inventam “profecias” sobre casamentos, problemas matrimoniais, negócios e sobre muitos outros assuntos.
Que Deus guarde a sua querida Igreja dessa praga de pseudo-profetas!
Zelemos, pois, pelo uso correto do dom de profecia! Peçamos a Deus que muitos o recebam e o usem para edificação da Igreja!O que importa é que se administre a sã doutrina sobre o uso correto dos dons na igreja, pois ela inspira e edifica a todos os crentes.
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Revista Obreiro CPAD 1982
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