A Necessidade de Paciência
(5:7-11)
A condenação do ímpio (5:1-6)
introduz e consiste em uma parte do alicerce para as exortações à paciência
constantes neste parágrafo, e a íntima relação entre estas duas seções é
indicada pelo uso de portanto no
verso 7.
A afirmação central da necessidade de paciência está presente no
decorrer de todo este texto; ela é enfatizada por argumentos tirados da analogia encontrada na
agricultura (v. 7, 8) e de exemplos tirados da tradição judaica (v. 10, 11).
"Sede vós também pacientes,
fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está próxima" (Tg
5.8).
A paciência, que é segundo a
Bíblia, é atitude essencial no relacionamento com Deus e com os outros; é sinal
de amor e maturidade espiritual.
Tiago nos exorta a perseverar-mos
diante das injustiças e provações e, também, permanecermos firmes e constantes
até a vinda de nosso Senhor. Segundo a visão do apóstolo, a paciência pode ser
considerada sob dois aspectos, a saber: " condição de resistir as aflições com resignação e
a capacidade de suportar as ofensas alheias. "A paciência é a
virtude de suportar a injustiça, o sofrimento, as aflições, confiando a nossa
vida na mão de Deus para corrigir todas as coisas na sua vida"
Vivemos num mundo de pressa e de
mudanças constantes, a ponto de haver elevado número de pessoas neuróticas,
principalmente nas grandes cidades. Contudo, a Palavra de Deus nos exorta a
sermos pacientes, tanto nos momentos de alegria quanto nas tribulações. O texto bíblico em estudo nos
desperta para o valor da paciência, aguardando a vinda do Senhor, que,
certamente, está mais perto do que pensamos,
Conceitos de paciência
1. Sentido comum. A palavra
paciência vem do latim patientia, significando "qualidade de paciente; virtude que consiste em
suportar as dores, incômodos, infortúnios, sem queixas e com resignação".
2. A paciência cristã. Para o
cristão, a paciência, além de ser a capacidade de suportar com resignação,
dores e infortúnios, é a virtude que o capacita a suportar as falhas e ofensas
alheias. É também a "tranqüila espera por algum acontecimento, que venha
a alterar as circunstâncias incômodas. Trata-se da capacidade de esperar por
mudanças, sem demonstrar ansiedade exagerada" (Champlim). É sinônimo de
longanimidade, que é uma das manifestações do fruto do Espírito (cf. Gl 5.22).
3. A paciência divina. Deus é
paciente. É a nossa sorte,
pois, se o Senhor não tivesse paciência conosco, ante as falhas e pecados,
certamente não estaríamos hoje estudando esse assunto.
a) No Antigo Testamento. "O
Senhor é longânimo e grande em beneficência, que perdoa a iniqüidade e a
transgressão..." (Nm 14.18). Moisés, orando a Deus, disse: "Jeová, o
Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras..." (Êx 34.6b). Ele
suportou os pecados de Israel no deserto durante quarenta anos!
b) No Novo Testamento. A paciência
é destacada em vários textos. Em Rm 5.3,4 lemos: "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas
tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a
experiência; e a experiência, a esperança".
A necessidade da paciência
1. Na espera da vinda do Senhor.
Tiago ao exortar os crentes a serem pacientes "até a vinda do Senhor"
(v.7), tinha em mente que
a volta do Senhor seria iminente, exortando, assim, os crentes de sua
época a se manterem pacientes na fé. Ele tomou como exemplo o lavrador, que
"espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência..."
(v.7b).
a) Ante a impaciência e incredulidade.
Naquele tempo, havia uma certa impaciência e descrença quanto à vinda do
Senhor. O apóstolo Pedro escreveu aos irmãos, exortando-os a esperar a volta de
Jesus, alertando para os escarnecedores, que diziam: "Onde está a promessa
da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como
desde o princípio da criação" (2 Pe 3.4).
b) Ante a cronologia de Deus.
Pedro lembra que a cronologia de Deus é diferente da nossa. "Mas, amados,
não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos,
como um dia" (2 Pe 3.8). Ele assevera que Deus é fiel, e que "o Dia
do Senhor virá como o ladrão" (2 Pe 3.10). Sendo assim, precisamos ser pacientes, não só na espera,
mas na fidelidade, de modo que sejamos "achados imaculados e
irrepreensíveis em paz" (2 Pe 3.14). Se no tempo de Tiago, a vinda do
Senhor já estava próxima (cf. v.8), quanto mais agora, quando os sinais dos
fins dos tempos são bem evidentes!
2. No amor fraternal. Tiago,
antevendo a vinda do Senhor, exorta-nos a sermos pacientes, não nos queixando
"uns contra os outros", para não sermos condenados, pois "o juiz
está à porta" (v.9). Naquele tempo, como hoje, infelizmente, é comum a
existência de queixas entre os irmãos. Isso é próprio da natureza falha do
homem. Contudo, se
desejamos ter nossos "espírito, alma e corpo (...) plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.23),
precisamos demonstrar paciência no amor fraternal, pois a caridade (amor em
ação), "é benigna, é sofredora (...), tudo espera, tudo suporta" (1
Co 13.7).
3. Na proclamação do Evangelho.
Tiago recorre ao exemplo do lavrador, que "espera o precioso fruto da
terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporá e
serôdia" (v.7b). A
proclamação do evangelho é comparada à ação do lavrador (cf. Mt 13.44;
Mc 4.1 -20), ora plantando uma pequena semente, ora semeando em terrenos os
mais diversos. Mas é muito importante, na evangelização, seguir o exemplo do
lavrador, cuja característica mais marcante é a da paciência. No livro de Eclesiastes temos
uma solene orientação sobre isto: "Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o
acharás (...) Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires
a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas
igualmente serão boas" (Ec 11.1,6). As igrejas que mais têm prosperado são
aquelas que trabalham diuturnamente, sem desânimo, evangelizando, discípulando
e integrando os crentes.
Exemplos de paciência e
constância
Na Bíblia, encontramos exemplos
notáveis de servos de Deus, que se destacaram no cultivo da paciência em suas
vidas. Por isso, em meio às vicissitudes, eles venceram tudo.
1. Jeremias. Chamado "o profeta
das lágrimas", teve um ministério de quarenta anos (626-586 a.C), tendo sofrido
intensa e pacientemente, ao ver que a "Palavra de Deus ia Sendo repudiada
por seus familiares e amigos, pelos sacerdotes e reis, e pela totalidade do
povo de Judá. Embora fosse solitário e rejeitado durante toda a sua vida,
Jeremias não deixou de ser um dos mais ousados e corajosos profetas".
2. O patriarca Jó. Este servo de
Deus tornou-se, sem dúvida, no exemplo mais marcante de paciência e
constância. Sem saber que por trás de seu sofrimento estava a permissão de
Deus para que o Diabo o atingisse de maneira cruel, Jó permaneceu fiel ao
Senhor, mesmo tendo perdido as riquezas (Jó 1.14-17) e os filhos mortos num só
dia (Jó 1.18,19). Ante tal tragédia, Jó exclamou: "O Senhor o deu e o
Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1.21). Se não bastasse
isso, o Diabo atingiu sua saúde, ferindo-o de uma "chaga maligna, desde a
planta do pé até o alto da cabeça" (Jó 2.7). Ainda assim, Jó superou tudo
e todos, incluindo falsos amigos, e pôde dar o brado de vitória, quando disse: "Porque eu sei que o meu Redentor
vive, e que por fim se levantará sobre a terra" (Jó 19.25).
3. Davi. Chamado para servir a
Deus, desde a sua mocidade, quando era apenas um simples pastor de ovelhas,
teve marcantes experiências em sua vida, sofrendo a inveja dos irmãos (1 Sm
17.28) e a inveja do rei Saul, a ponto de ser ameaçado de morte (1 Sm 18.7-11).
Tendo sido perseguido sem tréguas por aquele rei ímpio (1 Sm 22 - 24), pôde cantar: "Esperei com
paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor"
(SI 40.1).
4.O exemplo de Paulo. Aos
coríntios, ele exortou que "...se
somos atribulados, é para vossa consolação é salvação; ou, se somos consolados,
para vossa consolação é, a qual se opera, suportando com paciência as mesmas
aflições que nós também padecemos" (2 Co 1.6). Em outro texto, diz
o apóstolo que devemos, "como ministros de Deus, tornando-nos
recomendáveis em tudo: na muita paciência, nas aflições, nas necessidades,
nas angústias" (2 Co 6.4). Ele não só pregou, mas soube ser paciente nas mais diversas e difíceis
situações, sofrendo trabalhos, açoites, prisões, perigos de morte,
apedrejamento, naufrágio, perigos de salteadores, dos gentios e "perigos
entre falsos irmãos", passando fome, sede, frio, jejum e nudez (cf. 2 Co
11.24-27). Esse gigante da fé, próximo da morte, afirmou: "Combati o bom combate,
acabei a carreira e guardei a fé" (2 Tm 4.7).
5. O exemplo de Jesus. Foi tão
extraordinário quanto à paciência, que o escritor aos Hebreus, ensina-nos que
devemos correr "com
paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e
consumador de nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou
a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus", e
que devemos considerar esse exemplo, para que não venhamos a desfalecer em
nosso ânimo (cf Hb 12.1-3). Nosso Senhor, pregado na cruz, teve extrema
paciência, suportando a afronta dos que "blasfemavam dele, meneando(Mover
de um para outro lado) a cabeça"; que desafiava-o a salvar-se a si mesmo,
se era o Filho de Deus (Mt 27.39,40) e ouvindo o escárnio dos príncipes de
sacerdotes e até dos salteadores ao seu lado (Mt 27.41-44). Ap 1.9 "fala
da paciência de Jesus Cristo".
E necessário que sejamos pacientes
para com todos (2 Tm 2.24). Jesus
exortou que na paciência possuamos nossas almas (Lc 21.19). Por não
seguirem esses conselhos, muitos têm ficado doentes, inválidos ou até morrido
antes do tempo. Por isso, devemos praticar o conselho de Paulo: "Portanto, meus amados
irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo
que o vosso trabalho não é vão no Senhor" (1 Co 15.58). Podemos
adquirir paciência e constância, meditando na Palavra de Deus, sendo possuído
pelo Espírito, exercendo a prática do amor para com os outros, através da
longanimidade e na oração constante. Que Deus nos ajude não só a falar ou
pregar sobre paciência, mas praticá-la no dia-a-dia, tanto na igreja quanto no
trabalho e, principalmente, no lar, onde nossos ensinos são provados de modo
bem marcante.
Bibliografia
De Lima
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