segunda-feira, 23 de junho de 2014

O CRISTIANISMO PRÁTICO



O CRISTIANISMO PRÁTICO = EPISTOLA DETIAGO

1. AUTOR

“Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo.” Assim se apresenta o autor desta carta. Mas de que Tiago se trata? Entre as pessoas com esse nome que o NT menciona, um deles pode ser o autor:

1) Tiago, filho de Zebedeu. Este pertencia ao círculo mais íntimo dos doze. Mas sofreu o martírio no ano 44 (At 12.1ss) e dificilmente teria escrito a carta.

2) Tiago, filho de Alfeu. Também este era um dos doze. Mas parece não ter tido destaque na igreja primitiva. Assim, dificilmente poderia ter escrito a carta.

3) Tiago, irmão do Senhor. Como os outros ir mãos do Senhor, no princípio vivia distante do Mestre (Jo 7.5), mas aceitou a fé após ter tido um encontro com o Ressuscitado,  l Co 15.7. Ele fazia parte do grupo que aguardava o derramamento do Espírito (At 1.l2ss) e, mais tarde, junto com Pedro e João. foi uma das colunas da igreja, GI 2.9, comp 1.19. Aos poucos tornou-se o líder da igreja em Jerusalém (At 12.17) e teve um lugar de destaque na reunião dos apóstolos nessa cidade, At 15. Na última visita de Paulo ali, os anciãos se reuniam com Tiago (At 21.18). Por causa da sua devoção foi chamado “Justo”.
A tradição cristã desde os tempos mais antigos aceita que este Tiago, é o irmão do Senhor, e que escreveu a carta.

II. DESTINATÁRIO

A carta é dirigida “Às doze tribos da Dispersão”. Isto pode entender-se de três maneiras:

1) os judeus da dispersão podem ser crentes ou não. Aparecem partes na carta que poderiam ser dirigidas a judeus não crentes (por exemplo, 4.13- 5.6), mas mesmo assim a segunda alternativa é mais motivada.

2) cristãos judeus que são “dispersos”. Isto quer dizer que é dirigida aos cristãos judeus no império romano. Tiago entrou em contato com eles nas festas religiosas realizadas em Jerusalém. Então ele escreve aos judeus da Diáspora.

3) os judeus da dispersão seriam tanto judeus como gentios. Os que pertencem à Igreja são vistos como o novo Israel e como herdeiros das promessas dadas ao antigo povo adquirido (comp introdução a l Pe 1.1). Seria assim dirigida aos cristãos gentios em primeiro lugar.

Se foi dirigida a cristãos judeus ou a gentios não tem grande importância. Basta ser dirigida aos cristãos. Quais as pessoas que Tiago tinha em vitn quando escreveu não importa. O que sabemos é que a carta tem muita coisa a dizer-nos ainda hoje.

DATA

Se foi realmente Tiago, o irmão do Senhor, que escreveu a carta (o que é mais provável), então foi escrita antes do ano 64, da nossa era, pois foi nesse ano que ele sofreu o martírio. Mas quando a escreveu? — Duas opiniões têm sido apresentadas:

1) no início de 60. A apresentação de Tiago a respeito da relação entre fé e obras pode dar a impressão de que ele conhecia as cartas de Paulo escritas cerca do ano 55;

2) em 45-50. Como argumento para esta data tem sido apresentado:
— que na carta não há nenhuma alusão à reunião dos apóstolos, onde Tiago teve grande influência;
— que não se vê nenhuma organização desenvolvida de igreja;
— que Tiago em 2.2, conforme o texto original, usa a expressão “se em vossas sinagogas”, que quer dizer que os crentes ainda eram uma congregação dentro do judaísmo.

Se a carta de Tiago foi escrita tão cedo, então é a Escritura mais antiga do Novo Testamento e que surgiu quando o cristianismo vivia ainda no judaísmo, “quando a nova vida está trabalhando para sair do Velho Testamento”. (Existem certas coisas que possibilitam afirmar que a carta pode ter sido escrita tão cedo.)

RAZÃO

As cartas do NT têm sido escritas como temos visto por um determinado motivo: ou perigos exteriores que ameaçam a Igreja; ou dificuldades e perseguições (comp l Pe); ou perigos interiores: ataques contra pontos principais da fé cristã (comp Gi), ou dissolução da moral cristã (comp l Co).

Quando se trata da carta de Tiago não se nota tão abertamente a razão, mas no seu conteúdo aparece a razão de ela ter sido escrita. Tiago viu uma necessidade de exortação a viver na fé cristã. A carta trata de um cristianismo prático.





MOTIVO

O teor da carta apresenta também o seu motivo. Tiago quer ensinar e animar uma vida de acordo com a vontade de Deus; como uma vida assim pode ser conseguida ele fala em dez pontos. Então pode se dizer que o motivo é:

DESCREVER O QUE É UM CRISTÃO VERDADEIRO:

1. Entra em provações, 1.1-12.
2. Encontra tentações, 1.13-21.
3. Pratica a Palavra, 1.22-27.
4. Não faz acepção de pessoas, 2.1-9.
5. Importa-se em seguir a moral da lei, 2.10-13.
6. Pratica boas obras, 2.14-26.
7. Refreia a sua língua, 3.1-18.
8. Conserva-se separado do mundo, 4,1 T(i,
9. É firme, 5.7-12.
10. Vive uma vida rica de oração, 5.13-20. Pelas sentenças, muitas vezes curtas e interessantes, é apresentado um quadro, onde Tiago alcança o seu alvo, que é dizer o que é o cristianismo prático.

DIVISÃO E CONTEÚDO

Como se vê na disposição acima, são muitos os lados na vida cristã que são tratados. Tem-se chamado a carta de Tiago de um “livro de recortes de questões morais”. Por isso é difícil fazer uma descrição disso. O mais fácil é tomar “a fé” como ponto de partida. O fato é que esse “homem de obras” fala muito da fé como uma força na vida cristã.

A FÉ DÁ FORÇA À FIRMEZA, cap 1:

1. Não somos livres de tentações, vv 2-15.

a. Pelas circunstâncias exteriores difíceis, somos postos em prova, vv 2-12;
b. Pelo nosso próprio desejo, seduzidos a pecar, vv 13-15, mas é possível resistir e ficar firmes.

2. Podemos ter a experiência de que a Palavra é poder, vv 16-27.

a. Fez-nos renascer, v 17;
b. É implantada em nós, v 21;
c. Vai salvar-nos na tentação (se for praticada);

A FÉ DÁ FORÇA ÀS BOAS OBRAS,

1. A fé é morta se não traz consigo obras, vv 1- 17; aqui Tiago indica aquilo que testifica duma fé morta:

a. Fazer acepção de pessoas, v 1;
b. Conduzir ao desprezo os pobres e os símplices, v 6.

2. A fé viva expressa-se em obras,  vv 18-26, pois não pode ser de outra maneira, de vez que a fé da qual Tiago fala é alguma coisa que Deus criou pela Palavra. Por isso é urna força que transforma os homens. Ex: Abraão e Raabe.

A FÉ DÁ FORÇA PARA QUE A VIDA DIÁRIA SEJA ABENÇOADA, cap 3:

1. Pelo refreio da nossa língua, vv 1-12. Em sentenças curtas, interessantes, Tiago fala acerca do que a língua pode causar, não só o mal mas também o bem, se é que a fé torna-se uma força na vida do homem.

2. Pela sabedoria que nos caracteriza, vv 13-18, pois isto se torna uma bênção para nós e para outros, porque a sabedoria é “pacífica, moderada, tratável”, 17.

A FÉ - UMA FORÇA PARA O CARÁTER SANTIFICADO, cap 4:

1. Ela não existe sem mais nem menos, vv 1-4; Tiago descreve os grandes males que podem acontecer onde a fé não é operante: lutas, discussões e desejos.

2. Mas pode acontecer algo conosco, vv 5-17.

a. Onde nós nos humilhamos, v 6;
b. Chegamo-nos a Deus, v 7;
e. Purificamo-nos, v 8;
d. Entristecemo-nos e choramos, v 9, para que haja um término do pecado.

A FÉ DÁ FORÇA A UMA VIDA RICA DE ORAÇÃO, cap 5:

1. Onde nós esperamos o Senhor, vv 1-12.

a. Tiago dirige-se primeiramente àqueles que se aproveitam de outras pessoas, vv 1-6;

b. Depois aos que foram explorados, vv 7-12; ele os exorta a esperar no Senhor, que vai tratar a causa deles. Pela oração podem ser firmes como Jó.

2. Contamos com o Senhor, vv 13-20. não somente esperando o que vai fazer quando vier, mas o que Ele está fazendo agora. Aqui temos a palavra:

a. A “oração da fé salvará o doente”, v 15; e
b. “a súplica do justo pode muito”, v 16.

PENSAMENTOS FUNDAMENTAIS

“A fé sem obras é morta.” Pode-se dizer que isto é o pensamento principal da carta de Tiago. Sua apresentação, porém, tem causado preocupação. Parece não estar em concordância com aquilo que Paulo diz. Podemos, por exemplo, comparar Rm 3.28: “O homem é justificado pela fé sem obras da lei”, com Tg 2.24: “Vêdes então que é pelas obras que,o homem é justificado, e não somente pela fé”; e observamos uma aparência de contradição.

Entretanto, podemos mostrar que aquilo que Paulo e Tiago tinham em vista, tem grande importância para a compreensão. Pode-se dizer que Paulo fala de “obras mortas”, quer dizer, tudo que o homem mesmo pode produzir. Isto nunca pode salvá-lo. Tiago, ao contrário, fala da “fé morta”, quer dizer, a fé que inclui aquilo que achamos por verdade e por isto pode produzir. Aquela fé nunca pode salvar.

Na realidade tanto Paulo como Tiago são unidos de que nunca podemos ser salvos por aquilo que nós produzimos - NEM PELA NOSSA FÉ OU NOSSAS OBRAS. Somos dependentes de que Deus faça alguma coisa, que Ele cria uma fé viva e essa fé nunca pode ser inativa. Como alguém tenha dito

“Somos salvos só pela fé,
Mas a fé nunca é só.”

Tanto Tiago como Paulo pode assinar abaixo. Temos visto no “conteúdo” desta carta que “apóstolo das obras” Tiago fala muito da fé. No mesmo tempo podemos constatar que “apóstolo da fé” Paulo fala muito das obras — assim por ex. em Ef 2.8-10 — somos salvos — não das obras (v 8) mas para as obras. Depois pode acontecer que a situação da igreja requer que às vezes acentua mais uma parte .e outras vezes a outra parte. Talvez isto seja a explicação mais simples “da diferença” entre Tiago e Paulo.

BIBLIOGRAFIA

SINTESE BIBLICA DO NOVO TESTAMENTO = CARLO JOHANSSON E IVAN HELLSRRON

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