segunda-feira, 23 de junho de 2014

O cristão deve ter convicção na eficácia da oração



O cristão deve ter convicção na eficácia da oração

Texto Áureo

"Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos". Ef 6.18

Verdade Aplicada

A vida espiritual do cristão acaba quando permite que seja afetada pela carência da oração.

Objetivos da Lição

Conhecer os poderosos efeitos da oração feita por um justo;

Lembrar que os cristãos devem cuidar da saúde espiritual uns dos outros;

Saber que o pecado na igreja deve produzir disciplina, intercessão e restauração.

Texto de Referência

Tg 5.13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores;
Tg 5.14 Está alguém entre vós doente ? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor;
Tg 5.15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados;
Tg 5.16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo;
Tg 5.17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.


A oração e a cura (5.13-18)

Tiago, à semelhança de tantos outros escritores de cartas do Novo Testamento, conclui sua homilia(Pregação em estilo familiar e quase coloquial sobre o Evangelho) com um incentivo à oração. A oração é claramente o assunto deste parágrafo, sendo mencionada em cada versículo. Tiago a recomenda para o indivíduo crente, nas diferentes situações que este possa enfrentar (vv. 13-14), e também para a comunidade (v. 16a). E ele incentiva tal oração, ao sublinhar os poderosos efeitos de uma oração procedente de um coração justo (vv. 16b-18). Pode ser observada alguma relação com o versículo 12, através do tema comum do falar com referência a Deus (discursos maus, v. 12; e bons, vv. 13-18), mas Tiago nada faz para sugerir tal associação. É mais plausível pensar que Tiago queira recomendar a oração como uma grande fonte de forças para a aflição que os leitores estão experimentando (veja o uso de kakopatheia tanto no versículo 10 como no 13). Entretanto, em essência o parágrafo é uma divisão independente.

13. "Orar em todo tempo" é a ordem de Paulo (Ef 6.18; 1 Ts 5.17). De forma semelhante, Tiago exorta os crentes a orarem em qualquer situação em que se encontrem. Eles devem orar se estiverem sofrendo. Kakopatheia, a mesma palavra usada por Tiago no versículo 10 com referência aos profetas, é um termo geral que denota a experiência de todo tipo de aflição e provação. Paulo usou a forma verbal desta palavra, ao descrever sua prisão e exortar Timóteo a estar pronto para passar pelo mesmo tipo de sofrimento (2 Tm 2.9; 4.5). A oração a ser oferecida pelos crentes em tais circunstâncias não é necessariamente em favor do livramento das provações, mas por força para resistir a elas em fidelidade. O crente também deve orar quando está alegre. Euthymeõ não se refere a circunstâncias externas, mas à felicidade e alegria de coração que se pode ter, tanto em tempos maus quanto bons. Paulo incentivou seus companheiros de viagem a terem este sentimento de bem-estar, mesmo quando o navio deles corria perigo iminente de destruição (At 27.22,25) Quando nosso coração está confortado, é muito fácil esquecermos que este contentamento, em última análise, vem de Deus. Talvez por isso, mais do que quando estamos sofrendo, devamos ser lembrados, em tempos de felicidade, de nossa alegre obrigação de admitirmos o controle supremo de Deus sobre nossa vida. Tiago diz que devemos fazer isto cantando louvores. A palavra que ele emprega, psaltõ, lembra-nos da palavra em português, "salmo". Extraída de uma palavra grega aplicada a um tipo de harpa, ela foi usada na Septuaginta para descrever certos tipos de cânticos, especialmente os de louvor. Aquele louvor cantado estava intimamente relacionado com a oração (cf. 1 Co 14.15); na verdade, ele pode ser considerado uma forma de oração.

14. A terceira circunstância na qual a oração deve aparecer com proeminência é agora mencionada de modo específico: a doença. Entretanto, neste caso, o crente enfermo não recebe ordens para orar, mas para convocar os presbíteros da igreja, para que estes façam oração sobre ele. Os presbíteros são mencionados no livro de Atos, em associação com a igreja de Jerusalém (11.30; 15.2; 21.18) e as igrejas fundadas por Paulo (14.23; 20.17). Embora, em suas epístolas, Paulo se refira nominalmente aos presbíteros apenas em 1 Timóteo (5.17) e Tito (1.5), "bispo", mencionado no plural em Filipenses 1.1 e no singular (provavelmente genérico) em 1 Timóteo 3.1, é quase por certo um título diferente para a mesma função. Tanto Pedro (1 Pe 5.1) quanto Tiago pressupõem a existência de presbíteros na igreja, demonstrando que o ofício devia estar amplamente difundido na primeira igreja. É possível, embora não haja certeza, que o ofício tenha sido extraído da sinagoga. A partir do papel proeminente dos presbíteros em Atos e da descrição do ofício nas epístolas pastorais, pode se inferir que os presbíteros eram aqueles homens espiritualmente maduros, responsáveis pela supervisão espiritual de cada congregação local. Uma vez que os presbíteros efésios tinham de "pastorear" seu rebanho (At 20.28), e "pastores" nunca são mencionados junto com presbíteros, é provável que a função que conhecemos como a do "pastor" ou "ministro" fosse cumprida pelos presbíteros. Por isso, é natural que o crente que está sofrendo de alguma enfermidade deva chamar os presbíteros.

Quando os presbíteros chegam, eles devem orar sobre (epi) aquele que está doente. No grego bíblico, apenas aqui proseuchomai (façam oração) é seguido por epi: isto pode indicar simplesmente posição física, mas pode também subentender que as mãos eram impostas sobre a pessoa doente (veja Mt 19.13). Esta oração deve ser acompanhada de "unção com óleo" — provavelmente na mesma hora da oração (considerando o particípio aoristo como contemporâneo, segundo faz a maioria dos comentaristas), mas também é possível que seja um ato preliminar à oração.

Esta unção deve ser realizada em nome do Senhor, representando a autoridade divina com a qual se pratica a unção (veja Atos 3.6,16; 4.7,10). Mas qual é o propósito desta unção com óleo? No Novo Testamento, a prática é mencionada somente em mais um caso: Marcos nos diz que os doze "expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo" (6.13). Infelizmente, ali não se oferecem explicações da prática maiores do que as de Tiago. De modo geral, existem duas possibilidades principais para o propósito da unção.

Primeira, ela pode ter um propósito prático. O óleo era largamente utilizado como remédio no mundo antigo. Na parábola de Jesus, ele nos diz que o samaritano que parou para ajudar o homem que havia sido roubado e espancado "pensou-lhe(Tratamento, sustento, limpeza, curativo, de crianças ou animais) os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho" (Lc 10.34). Outras fontes antigas atestam a utilidade do óleo na cura de qualquer coisa, desde uma dor de dente até uma paralisia (Galeno, famoso médico do segundo século recomendava o óleo como "o melhor dos remédios para a paralisia" Mod. Temp., 2). Então, o que Tiago pode estar dizendo é que os presbíteros devem se aproximar do leito do doente armados de recursos espirituais e naturais — com oração e remédio. Ambos podem ser administrados com a autoridade do Senhor e os dois podem ser utilizados por ele na cura do doente. A dificuldade desta linha de pensamento é dupla. Primeiramente, não há evidências de que a unção com óleo fosse usada para qualquer problema médico — e por que mencionar apenas um remédio (embora muito usado), se tantas enfermidades diferentes podiam ser encontradas? Em segundo lugar, por que os presbíteros da igreja deviam fazer a unção, se o propósito dela era somente medicinal? Seguramente, outros já teriam feito isto, caso se tratasse de um remédio apropriado para a doença.

Como um tipo diferente de propósito prático, outros sugerem que a unção podia ser realizada como expressão exterior e física de cuidado, uma forma de estimular a fé da pessoa enferma. Algumas vezes, Jesus usou "acessórios" físicos em suas curas, aparentemente apenas com este propósito. Mas, quando Jesus agia assim, a ação física era especificamente apropriada à enfermidade, tal como colocar as mãos sobre os olhos de um cego (Mc 8.23-26) ou seu dedo nos ouvidos de um surdo (Mc 7.33). Simplesmente não há evidências de que a unção com óleo fosse usada, de modo geral, com tal propósito.

Assim, é provável que a unção com óleo tivesse um propósito religioso. Esta segunda explicação principal da prática pode ser subdividida em dois tipos, de acordo com o fato de a unção ser vista como detentora de significado sacramental Ou apenas simbólico. A interpretação sacramental desta prática surgiu cedo na história da igreja. Com base neste texto, a igreja grega antiga praticava aquilo que chamava de "euchelaion" (uma combinação das palavras euchê, "oração", e elaion, "óleo", os dois usados neste texto), com o propósito de fortalecer o corpo e a alma do enfermo. A igreja do Ocidente continuou esta prática por muitos séculos, usando também o óleo para unção em outras ocasiões. Mais tarde, a igreja romana conferiu ao sacerdote o direito exclusivo de realizar esta cerimônia e desenvolveu o sacramento da "extrema unção". Este sacramento tem o propósito de remover qualquer vestígio de pecado e fortalecer a alma da pessoa que está morrendo (a cura é considerada apenas uma possibilidade). O Concilio de Trento (XIV, 1) encontrou a "sugestão" deste sacramento em Marcos 6.13 e sua "promulgação" em Tiago 5.14. É claro que este sacramento desenvolvido tem pouca base no texto de Tiago: ele recomenda a unção com óleo para qualquer doença e a associa com a cura, e não com a preparação para a morte. Todavia, o óleo podia ser considerado um elemento com função sacramental, à medida que atuava como um "veículo do poder divino". Da forma como participar da Ceia do Senhor transmite ao crente um fortalecimento na graça, assim a unção pode ser ordenada por Deus como um elemento físico, através do qual ele opera a graça da cura no crente enfermo. Nossa atitude diante desta posição irá depender bastante de nossa visão geral acerca de "sacramento". Mas pode ser questionado se uma prática mencionada apenas uma vez no Novo Testamento (embora çf. Mc 6.13) pode possuir a importância que esta linha de pensamento atribui à unção. É melhor, então, pensar na unção com óleo como um ato simbólico. No Antigo Testamento, freqüentemente a unção é o símbolo da consagração de pessoas ou objetos para o uso e serviço de Deus. E embora, nestes textos, geralmente seja usado chriõ, é provável que Tiago tenha escolhido aleiphõ por causa do ato físico envolvido (veja, abaixo, Nota Adicional sobre aleiphõ e chriõ). Ao orarem, os presbíteros podiam ungir a pessoa doente, a fim de simbolizar que ela estava sendo "separada" para receber atenção e cuidado especiais de Deus. Apesar de Calvino, Lutero e outros expositores pensarem que a prática da unção, ao lado do poder de cura, se limitou à era apostólica, é duvidoso se tal restrição pode ser mantida. A recomendação de Tiago no sentido de que oficiais eclesiásticos regulares realizassem a prática parece deixar subentendida sua validade permanente para a igreja. Por outro lado, o fato de a unção de doentes ser mencionada apenas aqui, dentre as epístolas do Novo Testamento, e também o fato de que muitas curas foram realizadas sem unção demonstram que a prática não é um acompanhamento necessário à oração pela cura. Os presbíteros que oram pelo doente podem utilizá-la, e Tiago claramente recomenda a prática; mas eles não precisam fazer isto.

Nota Adicional: aleiphõ e chrio (5.14)

A Bíblia emprega duas palavras gregas que significam "ungir": chriõ e aleiphõ. A opção de Tiago pela última, no versículo 14, pode ajudar nossa interpretação de sua referência a "ungir com óleo".
Aleiphõ é usada apenas vinte vezes na Septuaginta. Ezequiel é o único autor a usá-la no sentido de "caiar" paredes (sete vezes, todas traduções do heb. tüh). A palavra muitas vezes se refere ao ato de passar óleo na face ou no rosto com propósitos higiênicos ou estéticos (nove vezes, geralmente com o termo hebraico sük). Todavia, em quatro ocasiões o verbo tem um significado cerimonial. O sentido exato de Gênesis 31.13 não é claro, mas em Êxodo 40.15 (duas vezes) e Números 3.3, aleiphõ denota a unção cerimonial dos sacerdotes, por meio da qual eles eram separados para o serviço de Deus.

Este último sentido é também o sentido habitual de chriõ na Septuaginta. Na maior parte de suas setenta e oito ocorrências, ele designa a "consagração" de sacerdotes, de mobílias do santuário ou do rei de Israel. Apenas três vezes se refere ao tratamento cosmético. De modo significativo, nenhuma palavra é usada em relação a propósitos medicinais na Septuaginta.

No Novo Testamento, é mantido o mesmo quadro geral. Chriõ tem sempre um sentido metafórico, designando o ato especial de Deus separar a Jesus para seu ministério (Lc 4.18 [ = Is 61.1]; At 4.27; 10.38; Hb 1.9 [ = SI 45.7]) ou a consagração de Paulo ao ministério dele (2 Co 1.21). Assim como na Septuaginta, aleiphõ aplica-se, na maior parte dos casos, à unção cosmética ou higiênica (Mt 6.17; Mc 16.1; Lc 7.38,46 [duas vezes]; Jo 11.2; 12.3). Entretanto, é possível que a palavra tenha algumas implicações simbólicas no relato da unção de Jesus (Jo 11.2; 12.3).

A importância destes dados para Tiago 5.14 não é totalmente clara. Por um lado, pode ser argumentado que chriõ é a palavra que, com maior freqüência, tem implicações simbólicas e que, se Tiago tivesse tal significado em vista, ele provavelmente a teria escolhido. Todavia, por outro lado, nenhuma palavra é usada nas Escrituras com um sentido medicinal (deixando de lado, por ora, Mc 6.13 e Tg 5.14). Em Lc 10.34, onde óleo (elaion) tem claramente um uso medicinal, é usado o verbo epicheõ, "aplicar". Portanto, Tiago provavelmente optou por usar aleiphõ aqui, porque é a palavra neotestamentária que descreve o ato físico, de ungir; no Novo Testamento, chriõ nunca se refere à unção física.

Mas, apesar de Tiago descrever uma ação claramente física, não é necessário eliminar dela todo significado simbólico. Como já vimos, na Septuaginta, aleiphõ é empregado em equivalência a chriõ, aplicando-se à consagração de sacerdotes (Ex 40.15; cf. chriõ em 40.13; Nm 3.3). (Josefo pode também usar aleiphõ com sentido simbólico, paralelamente a chriõ; compare Antiguidades 6.165 com 6.157.) É melhor, então, considerar a unção referida por Tiago como um ato físico com significado simbólico. Uma vez que o simbolismo da "unção" está geralmente associado com a separação ou consagração de alguém ou alguma coisa para Deus, provavelmente devamos entender isto como o simbolismo pretendido na ação. Os presbíteros, ao orarem pela pessoa doente, também a separam para receber atenção especial de Deus.

15. Apesar de a unção com óleo, devido a seu significado incerto, naturalmente atrair bastante atenção, devemos nos lembrar de que a principal preocupação de Tiago nestes versículos é a oração. Isto é refletido pelo fato de Tiago atribuir a cura prevista à oração dos presbíteros, não à unção. A oração é denotada com uma palavra incomum, euche, que conota um desejo ou petição forte, fervoroso (veja o emprego do verbo euchomai em Atos 26.29; 27.29; Rm 9.3). Mas o que torna a oração eficaz não é o fervor ou a freqüência — é a fé. Fé, em 1.6-8, onde Tiago também discute a eficácia da oração, refere-se a um compromisso inabalável e sincero com Deus. Uma vez que são os presbíteros que fazem esta oração, é claro que aqui a referência é à fé que eles têm. Tiago descreve dois resultados da oração da fé: o enfermo será "salvo" e o Senhor o levantará. Salvar (sõzõ), no Novo Testamento, geralmente se refere ao livramento da morte espiritual, e alguns eruditos pensam que, aqui, este também é o sentido de Tiago. De fato, eles sugerem que todo o trecho dos versículos 14-16a pode ser sobre a restauração à saúde espiritual, em lugar da saúde física. Mas a linguagem de Tiago é bastante específica para dar margem a esta interpretação; é claro que ele está pensando, pelo menos basicamente, na cura física. A palavra sõzõ é certamente apropriada como descrição da restauração da saúde e neste sentido é usada freqüentemente nos evangelhos. De forma semelhante, levantará (egeirõ) é usado para descrever o vigor físico renovado daqueles que foram curados (Mt 9.6; Mc 1.31; At 3.7). Por isso, o quadro é de presbíteros orando "sobre" o "doente" no leito, e o Senhor intervindo para "levantá-lo" dali.

A introdução de Tiago ao tópico do pecado neste ponto é, sem dúvida, ocasionada pela crença comum de que a doença era causada por pecado. Mas o uso que Tiago faz de e se (kan) torna claro que ele não acredita que a doença seja necessariamente resultado de pecado e, neste ponto, é lógico, ele está seguindo o ensino de Jesus (cf. Jo 9.2-3). Por outro lado, o Novo Testamento mostra com clareza que a doença e a morte podem ser causadas por pecado (Mc 2.1-12; 1 Co 5.5 (?); 11.27-30), e é a esta eventualidade que Tiago se refere neste ponto. Isto não deve ser explicado segundo as linhas das modernas descobertas acerca das relações entre doenças físicas e psicológicas. O que Tiago associa com a doença é o pecado, não instabilidade emocional ou desarranjos psicológicos.

Tiago não introduz nenhuma qualificação para as promessas neste versículo: a oração da fé salvará o enfermo, e seus pecados ser-lhe-ão perdoados. Será que isto significa que uma oração por cura, oferecida com fé, será infalivelmente eficaz? Como já vimos, algumas pessoas sugerem que é assim mesmo, mas limitaram tais curas miraculosas à era apostólica. Mas nada no texto sugere esta restrição. Uma observação mais útil é notar que o lembrete específico de Tiago é no sentido de que a oração deve ser a oração da fé. Esta fé, apesar de certamente incluir a idéia de confiança na capacidade que Deus tem de responder, também envolve uma confiança absoluta na perfeição da vontade de Deus. Assim, uma verdadeira oração de fé sempre inclui um reconhecimento tácito(Silencioso, calado. Em que não há rumor; Que não se exprime por palavras; subentendido, implícito) da soberania de Deus em todas as questões; é a vontade de Deus que deve ser feita. E é claro que, indubitavelmente, a vontade de Deus nem sempre é de curar aqueles que estão enfermos (cf. 2 Co 12.7-9). Portanto, a "fé", condição indispensável para a resposta à nossa oração pedindo cura — esta fé, sendo dom de Deus — pode estar de fato presente apenas quando a vontade de Deus é de curar.

16a. Como conseqüência (oun) da promessa de que Deus responde à oração (vv. 14-15a) e perdoa pecados (v. 15b), os crentes devem se comprometer a confessar seus pecados uns aos outros e a orar uns pelos outros. A mútua confissão de pecados, que Tiago incentiva como uma prática habitual (isto é sugerido pelo tempo presente do imperativo), é altamente benéfica para a vitalidade espiritual da igreja. Isto foi visto na época do movimento "metodista", na Inglaterra do século XVIII. A "regra" sugerida para pequenas reuniões de crentes, que abasteciam espiritualmente aquele movimento, tinha como princípio o incentivo à mútua confissão e oração, a partir de Tiago 5.16a.

Que tipos de pecados devem ser confessados? Pode ser que Tiago esteja pensando apenas naqueles pecados que tenham causado dano a outras pessoas (cf. Mt 5.25-26). Mas o final da sentença torna provável que estejam em vista especificamente aqueles pecados que podem ter causado a doença. Para serdes curados expressa o propósito da confissão mútua e da oração. Muitos consideram esta "cura" como de natureza espiritual ou, talvez, uma cura geral, incluindo as esferas física e espiritual. Neste caso, o versículo 16a deve ser encarado como uma dedução geral extraída da situação específica dos versos 14-15. Mas é melhor considerar esta sentença como uma exortação final na discussão da doença física. Isto se deve ao fato de o verbo "curar" (iaomai) ser consistentemente aplicado a aflições físicas. Seguramente, ele é usado na Septuaginta para descrever a cura do pecado da infidelidade (cf. Dt 30.3; Is 6.10; 53.5; Jr 3.22), mas, em geral, naqueles contextos este pecado já fora explicitamente comparado a uma "ferida". No Novo Testamento, iaomai é usado em aplicação espiritual apenas em citações destes textos do Antigo Testamento. Portanto, uma vez que o propósito da confissão e oração é a cura física, é melhor entender a confissão como estando a envolver quaisquer pecados que possam colocar obstáculo à cura, e as orações como sendo especificamente em favor da cura das aflições corporais. É digno de nota que, enquanto no versículo 14 os presbíteros devem orar pela cura, aqui toda a igreja deve estar envolvida na oração pelo restabelecimento. Segundo Davids, Tiago "generaliza conscientemente, tornando o argumento de 5.14-15 um princípio geral de medicina preventiva...". Este versículo demonstra que o poder para a cura está investido na oração, não no presbítero. E, embora seja apropriado que aquelas pessoas encarregadas da supervisão espiritual da comunidade sejam chamadas para interceder pelos seriamente enfermos, Tiago deixa claro que todos os crentes têm o privilégio e a responsabilidade de orar pela cura.

Nota Adicional acerca da Cura

Tiago 5.14-16 é a única passagem nas epístolas neotestamentárias a tratar diretamente da questão da cura física. Então, é apropriado que se acrescentem alguns comentários ao texto e se reflita um pouco mais sobre o assunto da cura. Há vários pontos a se considerar.
a. A cura física e a cura espiritual. Como já vimos, algumas pessoas argumentam que o texto não tem absolutamente nada a ver com a cura física, mas, sim, com a restauração espiritual. Elas afirmam que astheneõ, no versículo 14, pode significar "espiritualmente fraco" (1 Co 8.11; 2 Co 13.3), da mesma forma que kamriõ, usado no versículo 15 (cf. Hb 12.3). E salvará (sõzõ), levantará (egeifõ) e curados (iaomai) são usados para descrever a restauração à vitalidade espiritual. Aparecendo num contexto onde os perigos da letargia(Estado patológico observado em diversas afecções do sistema nervoso central, como encefalites, tumores, etc., caracterizado por um sono profundo e duradouro do qual só com dificuldade, e temporariamente, pode o paciente despertar. Estado de insensibilidade característico do transe mediúnico. Sono profundo.) e negligência espirituais são bem reais (cf. 5.7-11), uma exortação para que os presbíteros orem pelos oprimidos e fracos na fé seria inteiramente apropriada. Apesar de tudo isto ser verdade, a linguagem de Tiago torna impossível a eliminação da dimensão física. Primeiro, embora astheneõ possa denotar fraqueza espiritual, este sentido é geralmente esclarecido por um qualificador (cf. Rm 14.1, "na fé"; 1 Co 8.7, "consciência") ou pelo contexto. Além disso, no material mais importante para Tiago, os evangelhos, astheneõ quase sempre se refere à doença. O mesmo vale para kamriõ. E iaomai, quando não usado numa citação do Antigo Testamento, no Novo sempre se aplica à cura física. Além disso, é importante o fato de que, no Novo Testamento, a única outra menção de "ungir com óleo" apareça numa descrição de cura física (Mc 6.13).

Então, aceito o fato de que a cura física está em vista, é possível que esteja envolvida a restauração espiritual? Muitos pensam que este é o caso no versículo 16a; outros acham que a "salvação", no verso 15, pode ser deliberadamente ampla e incluir tanto a dimensão física quanto a espiritual. Por isso, mesmo que a oração da fé não traga a cura, ela pode trazer a salvação do pecado. Mas esta idéia não se encaixa bem no texto. Em primeiro lugar, a salvação nunca é vista como resultado de oração, no Novo Testamento. Em segundo lugar, conferir dois significados diferentes, embora afins, a "salvar" e "levantar" é um desrespeito a um princípio cardinal de semântica: nunca dar a uma palavra mais significado do que requer o contexto; e devemos ser cautelosos em acrescentar uma referência desnecessária ao livramento espiritual. Vários elementos do texto exigem uma ligação com a cura física; todas as coisas no texto fazem sentido como descrições da cura física. Assim, provavelmente, o significado do texto deva ser limitado à cura física;

b. De quem é a cura?A resposta de Tiago a esta pergunta é clara: "o Senhor o levantará". Em nenhum lugar o Novo Testamento sugere qualquer outra resposta. Os apóstolos, ao "curarem" as pessoas, deixavam claro que faziam aquilo somente através do poder e da autoridade do Senhor Jesus (At 4.7-12). Paulo falou do "dom" de cura (1 Co 12.9, 28), mas este dom, como todos os outros, era permitido e dirigido pelo Espírito que o deu. Entretanto, é interessante que, enquanto Paulo fala de um dom de cura, Tiago refere-se apenas aos presbíteros que oram pela cura. Não havia outras pessoas que possuíam o dom de cura nas igrejas de Tiago? O poder de cura é limitado por Tiago a certos detentores de cargos eclesiásticos? Estas perguntas são de difíceis respostas e nos envolvem na questão maior acerca da relação entre ministérios "carismáticos" e "organizados" no Novo Testamento. Contudo, em breves palavras, parece que as primeiras igrejas diferiam no grau em que certos dons eram manifestados. Na verdade, a igreja de Corinto parece ter sido uma exceção no Novo Testamento, uma vez que apenas ali ficamos sabendo dos dons "espetaculares" como "curas" e "milagres" (contraste Rm 12.6-8 e Ef 4.11). A "organização" eclesiástica não deve ser considerada como depreciadora dos dons ou omissa acerca deles, mas como um meio útil de reconhecimento e manifestação dos dons para a edificação da igreja. Os presbíteros eram aqueles líderes espirituais reconhecidos por sua maturidade na fé. Portanto, é natural que eles, com sua rica e profunda experiência, fossem chamados para orar pela cura. Eles, mais que as outras pessoas, deviam ser capazes de discernir a vontade do Senhor e orar com a fé que reconhece e recebe de Deus a dádiva da cura. Ao mesmo tempo, Tiago esclarece que a igreja, como um todo, deve orar pela cura (v. 16a). Desta forma, embora não negue que algumas pessoas na igreja possam ter o dom da cura, Tiago incentiva todos os cristãos, e especialmente aqueles encarregados da supervisão pastoral, a serem ativos na oração pela cura.

c. Em que condições Deus cura? Talvez não exista maior desafio à fé do que aquele que surge quando orações fervorosas e diligentes a favor de nossa cura e de outras pessoas não são atendidas. Em tais situações surgem várias perguntas persistentes.

Qual pecado da pessoa doente impediu a cura? Não há dúvida de que isto, algumas vezes, pode acontecer. Paulo diz especificamente que alguns cristãos coríntios adoeceram e morreram, por causa do abuso praticado na Ceia do Senhor (1 Co 11.30). Em tempos de enfermidade, é apropriado examinarmos nossa vida espiritual, a fim de vermos se algo não está errado; e, com amor pastoral, incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. Tiago diz que a confissão do pecado pode levar à cura (v. 16). Por outro lado, ele também esclarece que nem toda doença é causada por pecado (veja o comentário ao versículo 15). A idéia de que precisa haver uma correspondência direta entre pecado e doença é evidentemente rejeitada pelas Escrituras (cf. Jó; Jo 9.2-3). Portanto, nem sempre, e talvez nem geralmente, um pecado específico faz que as orações por cura deixem de ser atendidas.

Será que a falta de fé impediu a cura? Eu, ou aqueles que por mim oraram, não creram com suficiente profundidade? Como já vimos, Tiago especifica claramente que é à "oração da fé" que Deus responde. Então, ele parece deixar subentendido que a falta de fé é um obstáculo à opera­ção de cura realizada por Deus. Mas devemos observar cuidadosamente o que isto quer dizer. A fé exercida na oração é a fé no Deus que, de mo­do soberano, realiza sua vontade. Quando oramos, nossa fé deve necessa­riamente incluir esta admissão, implícita ou explícita, dos soberanos propósitos da providência divina. É possível que, às vezes, recebamos o discernimento acerca da sua vontade em circunstâncias específicas e ore­mos com absoluta confiança de que o plano de Deus é atender a nosso pe­dido. Mas é lógico que casos assim são bem raros — mais raros do que nossos desejos emocionais e subjetivos podem nos levar a pensar. Assim, a oração pela cura precisa geralmente se qualificar por um reconhecimen­to de que a vontade de Deus naquele assunto é suprema. E está bem cla­ro no Novo Testamento que Deus nem sempre irá curar o crente. A própria oração de Paulo em favor de sua cura, feita três vezes, não foi respondida; Deus tinha um propósito em permitir que o "espinho na carne", aquele "mensageiro de Satanás", fosse mantido (2 Co 12.7-9). Desta forma, o que estamos afirmando é que a fé com a qual oramos é sempre fé no Deus cu­ja vontade é suprema e melhor; apenas algumas vezes esta fé inclui a certeza de que um pedido em particular está dentro daquela vontade. É exatamente esta qualificação que se requer para a compreensão da pró­pria promessa de Jesus: "Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei" (Jo 14.14). Pedir "em nome de Jesus" não significa simplesmente proferir seu nome, mas levar em conta sua vontade. Apenas aqueles pedi­dos feitos "segundo esta vontade" estão garantidos. A oração pela cura, oferecida na confiança de que Deus irá responder à oração, realmente traz a cura; mas esta fé, um dom de Deus, estará presente apenas quando a cu­ra for da vontade de Deus. Por mais dotados, insistentes ou justos que sejamos, esta fé não pode ser "fabricada". Nesta vida, na maioria das vezes, não teremos capacidade de saber se a vontade de Deus é de curar; nem sempre seremos capazes de sentir se está presente aquela "fé" que obtém o que pede. Portanto, quando nossas orações sinceras e fervorosas em fa­vor da cura não são atendidas, o problema não está em nossa falta de fé; está faltando o contexto no qual aquela fé poderia estar presente.

16b. O lembrete de Tiago acerca do grande poder da oração, na última parte do versículo 16, fornece a base para as exortações à oração, feitas nos versículos 13-16a. O poder da oração não está limitado aos "super-santos"; o justo designa apenas uma pessoa sinceramente comprometida com Deus e que, de coração, busca fazer sua vontade. Aqui, Tiago aplica uma terceira palavra para "oração" (ARC; deêsis), mas aparentemente ele a usa sem fazer qualquer distinção de sentido em relação às outras duas palavras usadas neste parágrafo (cf. proseuchomai nos vv. 13,14, 17-18; euchomai nos vv. 15-16a). Para enfatizar a força da oração, Tiago acrescentou dois qualificadores ao verbo "poder" (pode): a oração pode "em quantidade", muito (poly), e "em sua operação", por sua eficácia (energoumeriê). A última palavra, um particípio, pode ser passiva ou média. Se passiva, devemos traduzir "a oração é muito poderosa quando energizada (por Deus ou pelo Espírito)". Daí, seria introduzida uma qualificação específica sobre a eficácia da oração do ponto de vista da vontade de Deus. Entretanto, é mais provável que o particípio seja médio (como pressupõe a maioria das traduções modernas), com o significado "a oração é muito poderosa em sua operação, ou em seu efeito".

17-18. Como exemplo de um homem justo, cujas orações tiveram grande efeito, Tiago menciona Elias. O profeta, cujos feitos foram tão espetaculares, e cuja "morte" foi tão extraordinária, era uma das mais populares figuras entre os judeus. Ele era exaltado por seus milagres poderosos e denúncias proféticas do pecado. Entretanto, acima de tudo, ele era esperado como o ajudador em tempos de necessidade, cuja vinda iria preparar o caminho para a era messiânica (Ml 4.5-6; Eclesiástico 48.1-10; Mc 9.12; Lc 1.17). Contudo, o que interessa a Tiago não são os dotes proféticos especiais de Elias ou seu lugar único na história, mas o fato de que, embora sendo homem semelhante a nós, sua oração teve grande eficácia. Tiago enfatiza o fervor da oração de Elias, ao usar uma construção "cognata" de influência semítica: literalmente "em oração, ele orou". Ele deseja que seus leitores reconheçam que este poder da oração está à disposição de todos que, sinceramente, seguem o Senhor — não apenas a algumas pessoas.

A situação descrita por Tiago está registrada em 1 Rs 17-18. A seca foi proclamada por Deus, através de Elias, como um meio de punição contra Acabe e Israel, por sua idolatria. Apesar de o Antigo Testamento não declarar que Elias orou para que ocorresse a seca, 1 Rs 18.42 retrata-o orando pelo fim dela, e é legítima a inferência de que ele também orou pelo seu começo. De forma semelhante, provavelmente devamos considerar os três anos e seis meses, especificados por Tiago (cf. também Lc 4.25), como um número mais exato dos "três anos" redondos de 1 Rs 18.1. Talvez "três anos e seis meses" tenha sido sugerido por causa de suas associações simbólicas com um período de julgamento (Dn 7.25; cf. Ap 11.12; 12.14). Mas, à vista do fato de que o Antigo Testamento nunca faz uma menção específica da oração de Elias pedindo a seca, por que Tiago teria escolhido isto como seu exemplo — particularmente por haver outros exemplos de oração de Elias muito mais conhecidos (o fogo que consumiu o sacrifício no Monte Carmelo) ou por serem mais apropriados ao contexto de Tiago (a ressurreição do filho da viúva)? É possível que Tiago pretenda que vejamos no solo morto que volta à vida uma analogia da enfermidade do crente que tem sua saúde restaurada (Davids), que veremos seu comentário na ajuda 2. Por outro lado, existem sinais de uma tradição que associava a seca com a oração de Elias (Eclesiástico 48.2-3; 2 Esdras 7.109), e é provável que Tiago tenha feito esta escolha simplesmente por se tratar de uma ilustração conhecida.

Bibliografia J. Moo

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