segunda-feira, 23 de junho de 2014

Sabedoria para Usar a Língua



Sabedoria para Usar a Língua

À semelhança das igrejas de Paulo, a de Tiago era uma igreja do Espírito. Embora nela houvesse cargos formais, como o de presbítero (5:14), não havia um processo de ordenação, nem escolaridade exigida para que o oficial tivesse licença para ensinar e pregar. Por conseguinte, era relativamente fácil que pessoas dotadas de alguma habilidade, mas de motivação mundana, se oferecessem para servir como mestres. (Nossos processos modernos de seminário mais ordenação fazem que a licença para ensinar e pregar exija mais tempo, mas não impedem a motivação errada. Ao contrário, fazem que tal pessoa se torne um elemento mais permanente no seio da igreja). Tais mestres destituídos de vocação criticavam os demais e formavam "panelinhas" na igreja; outros membros de igreja imitavam-nos, falando mal deles. A reação de Tiago é convocar a igreja para que controle a língua, expondo as marcas do Espírito de Deus, e finalmente denunciando a motivação humana de muitos crentes, na igreja.

3:1 Meus irmãos indica o início de uma seção. Não sejais muitos de vós mestres: os mestres eram importantes na igreja (Rm 12:7; l Co 12:28; Ef 4:11-13), mas a igreja também estava sendo prejudicada por falsos mestres (e.g., l Tm 1:7; Tt 1:11; 2 Pe 2:1). Era fácil falsificar o dom do ensino, bastando que o falsário fosse bastante eloquente. Mas era bem certo que, quando uma pessoa se apresentava "voluntariamente" para ensinar, em vez de ser impelida (Fazer mover, mediante força propulsora; impulsionar, impulsar, propulsar) pelo Espírito, seus motivos mundanos com toda a certeza se manifestavam em ciúme, contenda ou heresia. Tiago valoriza o ministério, mas percebe que sua atração e poder sociais tornam-no perigoso, e que a pessoa deve ser relutante em investir nele a vida.
O perigo do ministério é, primeiramente, pessoal: receberemos um juízo mais severo. Se cada palavra vã entrará em julgamento, quanto mais as palavras dos que trabalham com palavras? (Mt 12:36) Se os mestres judaicos deverão ser julgados com severidade, quanto mais os mestres cristãos? (Mt 23:1-33); Mc 12:40; Lc 20:47) Um exame das condenações do falso magistério tanto nos evangelhos como em l e 2 Pedro, e em Judas, demonstram que, semelhantemente ao que diz respeito aos presbíteros (l Tm 3; Tt 1), o modo de viver do mestre é mais importante do que suas palavras. Os mestres eram primordialmente modelos e, em segundo plano, instrutores in­telectuais. Ao reivindicar a posição de mestres, colocavam sua vida e suas palavras sob a égide de Deus, que os responsabilizaria pelo desvio do rebanho, quer mediante a palavra, quer mediante o exemplo.

3:2 O perigo aumenta muito pelo fato de que todos tropeçamos em muitas coisas. Tiago menciona um provérbio que significa que os cristãos não apenas pecam com frequência, mas também pecam de muitas maneiras diferentes. Esta verdade é reconhecida por toda a Escritura: 2 Cr 6:36; Jó 4:17-19; Sl 19:3; Pv 20:9; Ec 7:20; Rm 8:46; l Jo 1:8. Dizendo se alguém não tropeça em palavra, Tiago focaliza um pecado especial que o pre­ocupa: a língua solta. A necessidade de controlar a língua era bem conhecida no judaísmo e no cristianismo (Pv 10:19; 21:23; Ec 5:1; Siraque 19:16; 20:1-7). Tiago salienta aqui, como o fez em 1:26, a importância de controlar a língua, pois afirma a respeito de quem for capaz de domá-la: esse homem é perfeito, e capaz de refrear todo o corpo. Isto significa que tal pessoa é madura, tem caráter cristão completo (1:4) e, assim, capacitada a enfrentar todas as provações e tentações, e a controlar todos os impulsos maus (1:12-15). É como disse "Ben Zoma: Quem é poderoso? Aquele que subjuga suas paixões". Ou como perguntou "Alexandre da Macedônia aos anciãos do sul: Quem é o herói? Responderam-lhe: Aquele que controla suas paixões más (m. Aboth 4: l). Tiago caminha um passo à frente dos rabinos. O controle dos maus impulsos é bom (e Paulo concorda com Tiago, l C 9:24-27), mas os impulsos mais difíceis de controlar são os da língua. Mantenha pura a fala, e o resto será fácil; eis a marca do cristão maduro.         

3:3-4 Tiago ilustra sua tese, "controle sua língua e você será capaz de controlar todo o seu ser", mediante uma série de analogias. Primeiro, ele pensa em cavalos, que são maiores e mais velozes do que os seres humanos. No entanto, quando pomos freios na boca dos cavalos, nós os controlamos: não só a cabeça, mas o animal inteiro é forçado a ir para onde o cavaleiro desejar. Uma segunda analogia é tirada dos navios. Os navios constituíam uma das maiores estruturas que os primitivos cristãos conheceram. Se até um barquinho de pesca impres­sionava, quanto mais um navio mercante em pleno oceano? Mais impressionantes, todavia, eram as forças que o compelem, os ventos capazes de vergar árvores e espalhar as nuvens. Entretanto, a despeito de todo seu tamanho e peso, um leme pequenino, do formato de uma língua (pequenino pelo menos quando comparado ao tamanho do navio, ou ao poder do vento), movimentado pelo piloto, podia mudar a direção do navio. São dois exemplos impressionantes, ou analogias do adágio: "controle a língua e você controlará tudo".
De certo modo, Tiago mudou um pouco sua argumentação, enquan­to elaborava suas ilustrações. Ele havia começado dizendo: "Se você puder controlar a língua, você será um gigante espiritual capaz de controlar o resto do corpo". As ilustrações de Tiago são agudas: "Se você controlar a língua, você controla o resto do corpo". Todavia, esta mudança permite a Tiago mover-se no sentido de conscientizar-se de que a língua com frequência incita a pessoa a agir: primeiramente, você expressa com palavras uma ideia proibida e, a seguir, você lhe dá expressão física; primeiro, você se mete numa conversa lasciva ou numa discussão acalorada e, a seguir, comete adultério ou assassinato. É para esse poder da língua que Tiago se volta agora, mas ambas as ideias, a dificuldade em controlarmos a fala e seu fantástico poder, estão ativas em sua mente.

3:5 Assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas: na verdade a língua é pequenina, mas quanta rei­vindicação pode ela fazer como responsável por grandes eventos para o mal, ou para o bem! Com muita frequência os resultados foram malignos, mas a língua gabou-se com o máximo orgulho; o próprio emprego do verbo "gabar-se" leva à memória do leitor as frequentes condenações de Paulo a quaisquer vanglorias, e que só deveríamos gloriar-nos em Cristo (Rm 1:30; 3:27; 11:18; 2 Co 10:13-16; Ef 2:9). A língua é como um pequeno fogo que pode incendiar um grande bosque; pode tratar-se de um bosque palestino ressecado ao sol de uma longa seca, ou de uma encosta montanhosa do sul do nosso país. Alguém acende uma fogueira, sem cuidados, ou atira um fósforo aceso; a ação é irreversível, porque o fogo primeiro estala, depois ruge, e logo estará devorando alqueires e mais alqueires de madeira, rápido como o vento.

3:6 a língua também é fogo: É assim que Tiago começa a traçar quadros quase psicodélicos do mal produzido pela língua. À semelhança do fogo, a língua é destrutiva. Basta que nos lembremos da oratória de um Adolf Hitler para que fique sublinhada esta verdade. A língua não é só destrutiva, ela é um mundo de iniquidade; ou, como afirma uma tradução alternativa, "um mundo de injustiça". O mundo de injustiça está ocupando seu lugar entre os nossos membros. Ela contamina todo o corpo. O mundo é algo que o cristão em geral considera "lá fora". Tiago aponta para sua própria boca e diz: "O mundo está aqui dentro". A língua descontrolada é a encarnação e a sede dos impulsos maus do corpo. A língua não se limita em seus efeitos à sua própria área, visto que espalha a iniquidade, ou contamina todo o corpo. A pessoa inteira é atingida pelo fragor de sua língua. Entretanto, cada palavra vã será julgada (Mt 12:36).
Além do mais, a língua inflama o curso da natureza, e é por sua vez inflamada pelo inferno. O problema a respeito das palavras é que as consequências não param por aí. Os efeitos são seriíssimos. "Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não me machucam" é um conceito sem base bíblica. As chamas da língua incendeiam as paixões: aumentam o furor, inflamam a lascívia. Logo, as palavras, quer sejam um diálogo íntimo, não ouvido aqui fora, pois não houve fala, quer sejam pronunciadas, transformam-se em ação. As emoções, o raciocínio, o corpo todo se envolve incontrolavelmente. E qual foi a origem desse incêndio destruidor? O próprio inferno! É ali que está a prisão de Satanás e seus demónios. Aquela discussão teria sido inspirada pelo Espírito de Deus? Não. Foi inspirada pelo diabo. As chamas do ódio, do preconceito, do ciúme, da inveja e da calúnia projetam-se do lago de fogo.

3:7-8 Tendo pronunciado uns conceitos pesados a respeito da língua, Tiago se empenha agora em comprovar sua tese com minúcias. Seu principal quesito é que a língua, isto é, a palavra humana, é desesperadamente perversa. Tiago inicia com uma analogia da natureza: Toda espécie de feras, de aves, de répteis e de animais do mar se doma, e tem sido domada pelo género humano. O argumento de Tiago não é científico. Não lhe interessaria saber que ninguém havia ainda conseguido domar o rinoceronte, e que em seus dias ainda não haviam chegado notícias sobre tubarões assassinos; tampouco está Tiago interessado em saber se determinado animal foi totalmente domesti­cado. Basta lhe saber que felinos e grandes macacos ficam sob total controle humano. Isto é verdade, quer se trate do prisioneiro que domestica um camundongo ou um rato, em sua cela, quer se trate do dono de um elefante que transporta um príncipe indiano, ou o encantador de serpentes na praça, ou o passarinheiro cujas aves lhe obedecem o comando. Tudo isto já era conhecido no passado (tem sido domada), mas não pertence a certa idade de ouro, meio esquecida— trata-se de experiência do presente também (se doma). Além de tudo, o conceito aplica-se às quatro principais categorias de vida animal: feras (i.e., mamíferos), aves, de répteis (inclusive anfíbios) e animais do mar.
Entretanto, que contraste quando avaliamos a língua! a língua, ne­nhum homem a pode domar. O problema de controlar a língua entrava numa espécie de ditado popular das culturas hebraica e grega. Tiago não precisava provar a verdade dessa máxima. Não tinham seus ouvintes dezenas e dezenas de coisas que gostariam de "desdizer" ou muitas palavras que haviam pronunciado erroneamente? Não haviam apren­dido dezenas de provérbios que talvez pudessem ajudá-los? "Há alguns cujas palavras são como pontas de espadas, mas a língua dos sábios é saúde" (Pv 12:18). "O que guarda a sua boca preserva a sua alma, mas o que muito abre os seus lábios tem perturbação" (Pv 13:3). Certamente as palavras de Tiago não precisam ser comprovadas perante pessoas honestas.
Em vez de deixar-se domesticar, a língua é mal incontido. É como Hermas diria, mais tarde: "A difamação é um mal; é demónio que não sossega, nunca tem paz, mas habita na dissensão" (Mandate 2.3). Em contraste, Deus é perfeitamente uniforme no pensamento, estável e tem paz, "pois Deus não é Deus de confusão, senão de paz" (l Co 14:33). Entretanto, nossa fala constantemente se caracteriza pela instabilidade; a pessoa crê que controla sua língua, mas num certo momento de descuido, deixa escapar uma palavra ferina ou difamatória. Algumas características dos demónios são a incapacidade de auto-controlar-se, a ausência de descanso, a instabilidade — as mesmas da língua, como Tiago logo demonstrará (3:16).
Além de tudo, a língua está cheia de peçonha mortal. Com isso concorda o salmista: "Aguçam a língua como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios" (Sl 140:3). Essa com­paração com as serpentes era bastante difundida na literatura judaica, talvez porque a língua se parece um pouco com uma serpente, talvez porque as víboras matem com a boca e talvez porque, no Éden, foi a serpente que enganou nossos primeiros pais com palavras melífluas (Que flui como o mel, ou deita mel.). Não há evidência de que Tiago esteja na dependência de alguma passagem bíblica particular; ele está apenas afirmando que as palavras jamais são inofensivas; são perigosas e mortíferas como veneno, se não forem controladas. Esta é a resposta de Tiago à tendência moderna de considerar as palavras destituídas de importância e muito baratas.

3:9 Tendo declarado a perversidade da língua e a dificuldade em controlá-la, Tiago nos dá a seguir alguns exemplos concretos sobre sua natureza incontrolável. Em primeiro lugar, com ela bendizemos ao Senhor e Pai. Todos os leitores hão de concordar com Tiago. Dar graças a Deus, agradecer-lhe a bondade, fazia parte do culto litúrgico de todo judeu e cristão: entoavam salmos (a que chamavam salmos de louvor) como Sl 31:21 ou 103:1,2; levantavam orações matutinas e vespertinas em que davam graças a Deus pela proteção durante a noite e pelas bênçãos do dia (as orações de At 2:42); e havia os devocionais antes de cada refeição: "Bendito sejas tu, ó Senhor Deus de nossos pais, que nos dás do fruto da terra..."
Infelizmente, a língua também é usada para amaldiçoar: com ela amaldiçoamos os homens. Há abundantes passagens bíblicas com mal­dições, embora a Bíblia imponha limites à maldição e não nos deixe tranquilos no que lhe diz respeito: Gn 9:25; 49:7; Jz 9:20; Provérbios 11:26. As maldições eram comuns porque, à semelhança das bênçãos, não só davam vazão às emoções como também influíam de verdade sobre as pessoas e as coisas a que se destinavam. Embora Paulo proíba a maldição feita a esmo (Rm 12:14), na prática o apóstolo pronunciava palavras duras, à guisa de maldições (l Co 5:1; 16:22; Gl 1:8). A carta de Judas é, praticamente, uma longa maldição contra os hereges. Entretanto, estas maldições de caráter mais formal sobre pessoas que praticam certos tipos de mal dificilmente seriam maldições oriundas do ódio, do ciúme, da rivalidade, jamais são usadas como arma a fim de separar ou rejeitar grupos, dentro da igreja, quando há lutas partidárias, e menos ainda constituem maldições irrefletidas de alguém que se viu prejudicado pessoalmente.
Tiago aponta a incoerência da maldição a esmo, ao acrescentar feitos à semelhança de Deus. Embora um pronunciamento de Jesus que proíbe que se amaldiçoe pudesse ter sido a base emocional mais profunda (e.g., Lc 6:28), Tiago prefere utilizar este argumento teológico a fim de salientar a incoerência da maldição. O Antigo Testamento refere-se às pessoas humanas como feitas à semelhança de Deus (Gn 1:26), e utiliza esse fato para comprovar a se­riedade do ato de destruir essa semelhança (Gn 9:6). Até mesmo o mais depravado ser humano retém a semelhança de Deus, a qual se entendia, segundo o pensamento bíblico, representava a pessoa toda. Bendizer a Deus, ou a ele agradecer e, a seguir, voltar-lhe as costas e maldizer sua imagem e semelhança é o mesmo que engran­decer um rei, em sua presença, e a seguir esmagar a cabeça de sua estátua, à saída do palácio real. Na melhor das hipóteses, é uma incoerência de comportamento; na raiz desse mal está o ódio ve­emente, incontrolável, sem nenhum vestígio de arrependimento, dentro dessa pessoa, que não se atreve a atirá-lo contra Deus, mas desabafa-o sobre as pessoas. Entretanto, Tiago reconhece, cheio de simpatia, a natureza instável das pessoas e identifica-se com elas, ao usar o verbo na primeira pessoa do plural (nós), não porque ele aceite essa realidade como apropriada, mas porque procura conduzir as pessoas ao arre­pendimento e mostrar-lhe um caminho melhor (3:13-18).

3:10 O problema óbvio aqui é a inconstância da palavra falada: Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto seja assim. O problema não é tanto o de bênção, ou de maldição em si — a pessoa poderia, por exemplo, amaldiçoar o pecado muito adequadamente: "Que todos os pensamentos odiosos que querem invadir minha mente sejam enterrados nas profundezas do inferno!". O problema é que tanto a maldição quanto a bênção dirigem-se ao mesmo objeto: Deus, e a pessoa feita à imagem de Deus. Isso demonstra duplicidade de pensamento e, portanto, pecado. É especificamente essa duplicidade de linguagem (a pessoa "fala com língua bifurcada", segundo o velho ditado), que a tradição bíblica rejeita (e.g., Sl 62:4). Esta rejeição foi efetuada mais tarde, no judaísmo, (o livro apócrifo de Siraque 5:19 fala do "pecador de língua dobre") e no cristianismo (e.g., Didaquê 2:4, "Não tenhas mente dobre nem tenhas duplicidade de língua, visto que a língua dúplice é armadilha mortífera"). Portanto, Tiago dá prosseguimento ao mesmo tema que mencionara em 1:8 e 4:8 — duplicidade, inconstância e instabilidade são sinais do impulso mau, e não devem ser tolerados. O cristão é chamado para desarraigar todas essas tendências e chegar à singeleza e à sinceridade de coração.

3:11-12 Tiago conclui sua argumentação com mais algumas ana­logias da natureza: Pode uma fonte de água salgada dar água doce? Aqui está uma verdade infelizmente comum por todo o Mediterrâneo, quer no vale do Lico (Ap 3:15-16 refere-se ao suprimento de água da região), quer em Mara, no Sinai (Êx 15:23-25), quer no vale do Jordão, onde a água cai em cascatas do alto das rochas, dando uma aparência de boas-vindas ao viajante, até que este descubra tratar-se de águas amargas. Por que os seres humanos tentam fazer o que a natureza não faz? A analogia entre o produto de uma fonte aquática e o da boca humana é bem apropriada.
Em segundo lugar, meus irmãos, acaso pode uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Mais uma vez a analogia é bem apro­priada. Nenhuma árvore produz duas espécies de fruto. Cada árvore produz segundo sua natureza. É contrário à natureza o ser humano tentar fazer o que a natureza não faz. Entretanto, pode ser que Tiago esteja querendo dizer algo mais, visto que Jesus utilizou ilustração semelhante (Mt 7:16-20; Lc 6:43-45; Mt 12:33-35), mas esta analogia relaciona-se a frutos bons e frutos maus, e ao julgamento de uma planta segundo o fruto que produz. Estaria Tiago sugerindo que o fruto mau (a maldição) revela a natureza da pessoa?
A terceira analogia confirma essa suspeita: Tampouco pode uma fonte de água salgada dar água doce. Tiago mudou sua analogia. Agora, a fonte é decididamente má, de água salgada, mas tenta produzir água doce. Isso é impossível. O mal dentro da pessoa produz uma "inspiração" frequentemente bem escondida, mas as "maldições" (crí­tica maldosa, calúnia, comentários negativos), misturadas com palavras piedosas, demonstram a verdadeira fonte de inspiração. O mestre ou os cristãos vindicam o Espírito de Deus, ou a sabedoria de Deus; mas há verdade nisso? Não há verdade quando a linguagem da pessoa revela que esta é uma fonte de água salgada que finge ser doce.
Havendo sustentado o perigo inerente à língua e a necessidade de pureza no falar, Tiago move-se agora para a retaguarda das palavras, e vai tratar das motivações por trás dessas palavras. Esta seção procura olhar para dois lados. Em certo sentido, olha para trás, para os mestres de 3:1 e para os problemas reais que sublinham a palavra impura, de modo geral. Noutro sentido, trata-se de ponte entre a discussão teórica de 3:1-13 e a denúncia dos problemas da comunidade, de 4:1-12. Assim como houve dois nascimentos, e duas inspirações em 1:12-18, há duas "sabedorias" e dois Espíritos, aqui.

            Bibliografia Davids

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