Sabedoria para Usar a Língua
À semelhança das igrejas
de Paulo, a de Tiago era uma igreja do Espírito.
Embora nela houvesse cargos formais,
como o de presbítero (5:14), não
havia um processo
de ordenação, nem
escolaridade exigida para
que o oficial
tivesse licença para
ensinar e pregar. Por conseguinte,
era relativamente
fácil que
pessoas dotadas de alguma habilidade, mas
de motivação mundana, se oferecessem para
servir como
mestres. (Nossos
processos modernos
de seminário mais
ordenação fazem que
a licença para
ensinar e pregar exija mais tempo, mas não impedem
a motivação errada.
Ao contrário, fazem que
tal pessoa se
torne um elemento
mais permanente
no seio da igreja).
Tais mestres
destituídos de vocação criticavam os demais
e formavam "panelinhas" na igreja; outros membros de igreja
imitavam-nos, falando mal deles. A reação de Tiago é convocar
a igreja para
que controle
a língua, expondo as marcas do Espírito
de Deus, e finalmente
denunciando a motivação humana de muitos crentes,
na igreja.
3:1 Meus irmãos
indica o início
de uma seção. Não
sejais muitos de vós mestres: os mestres
eram importantes na igreja (Rm 12:7; l Co 12:28; Ef 4:11-13), mas a igreja
também estava sendo prejudicada
por falsos
mestres (e.g., l Tm 1:7; Tt 1:11; 2 Pe 2:1).
Era fácil
falsificar o dom
do ensino, bastando que
o falsário fosse bastante eloquente. Mas
era bem certo que, quando uma pessoa se apresentava "voluntariamente" para ensinar, em vez de ser impelida (Fazer mover, mediante força propulsora; impulsionar,
impulsar, propulsar)
pelo Espírito, seus motivos mundanos
com toda
a certeza se manifestavam em ciúme, contenda ou heresia. Tiago valoriza o ministério,
mas percebe que
sua atração
e poder sociais
tornam-no perigoso, e que a pessoa deve ser relutante em investir nele a vida.
O perigo do ministério
é, primeiramente, pessoal:
receberemos um juízo mais severo.
Se cada palavra vã entrará em
julgamento, quanto
mais as palavras dos que trabalham com
palavras? (Mt 12:36) Se os mestres
judaicos deverão ser
julgados com severidade,
quanto mais
os mestres
cristãos? (Mt
23:1-33); Mc 12:40; Lc 20:47) Um exame das condenações
do falso magistério
tanto nos
evangelhos como
em l e 2 Pedro, e em
Judas, demonstram que,
semelhantemente ao que diz respeito
aos presbíteros (l Tm 3; Tt 1), o modo
de viver do mestre é mais importante do que
suas palavras. Os mestres
eram primordialmente modelos e, em segundo plano, instrutores intelectuais. Ao reivindicar a posição de mestres,
colocavam sua vida
e suas palavras
sob a égide
de Deus, que
os responsabilizaria pelo desvio do rebanho, quer mediante a
palavra, quer
mediante o exemplo.
3:2 O perigo aumenta muito pelo fato de que todos tropeçamos em
muitas coisas. Tiago menciona um provérbio que significa que
os cristãos
não apenas
pecam com frequência, mas também
pecam de muitas maneiras diferentes. Esta verdade
é reconhecida por toda
a Escritura:
2 Cr 6:36; Jó 4:17-19; Sl 19:3; Pv 20:9; Ec 7:20; Rm 8:46; l Jo 1:8.
Dizendo se alguém não tropeça em palavra, Tiago focaliza um
pecado especial
que o preocupa: a língua
solta. A necessidade
de controlar a língua
era bem conhecida no judaísmo
e no cristianismo (Pv 10:19; 21:23; Ec
5:1; Siraque 19:16; 20:1-7). Tiago salienta aqui,
como o fez
em 1:26, a importância
de controlar a língua,
pois afirma a respeito
de quem for capaz
de domá-la: esse homem
é perfeito, e capaz
de refrear todo
o corpo. Isto significa que
tal pessoa é madura, tem caráter
cristão completo
(1:4) e, assim, capacitada a enfrentar todas as provações e tentações,
e a controlar todos
os impulsos maus
(1:12-15). É como disse "Ben
Zoma: Quem é poderoso?
Aquele que
subjuga suas paixões".
Ou como
perguntou "Alexandre da Macedônia
aos anciãos do sul: Quem é o herói?
Responderam-lhe: Aquele que controla suas
paixões más (m. Aboth 4: l).
Tiago caminha um
passo à frente
dos rabinos. O controle
dos maus impulsos
é bom (e Paulo concorda com Tiago, l C 9:24-27),
mas os impulsos
mais difíceis de controlar
são os da língua.
Mantenha pura a fala, e
o resto será fácil;
eis a marca
do cristão maduro.
3:3-4 Tiago ilustra sua tese, "controle
sua língua
e você será capaz
de controlar todo o seu ser", mediante
uma série de analogias.
Primeiro, ele pensa em cavalos, que
são maiores
e mais velozes
do que os seres
humanos. No entanto, quando
pomos freios
na boca dos cavalos,
nós os controlamos: não só a cabeça, mas o animal inteiro
é forçado a ir para onde o cavaleiro
desejar. Uma segunda
analogia é tirada
dos navios. Os navios constituíam uma das maiores
estruturas que
os primitivos cristãos
conheceram. Se até um
barquinho de pesca impressionava,
quanto mais
um navio
mercante em
pleno oceano?
Mais impressionantes,
todavia, eram as forças
que o compelem, os ventos
capazes de vergar árvores e espalhar as nuvens. Entretanto,
a despeito de todo seu tamanho e peso, um leme pequenino, do formato de uma língua (pequenino pelo menos
quando comparado ao tamanho
do navio, ou
ao poder do vento),
movimentado pelo
piloto, podia mudar
a direção do
navio. São
dois exemplos
impressionantes, ou
analogias do adágio: "controle
a língua e você
controlará tudo".
De certo modo,
Tiago mudou um pouco
sua argumentação,
enquanto elaborava suas
ilustrações. Ele
havia começado dizendo: "Se você puder controlar a língua, você será um gigante espiritual
capaz de controlar
o resto do corpo".
As ilustrações de Tiago são agudas: "Se você controlar a língua,
você controla o resto
do corpo". Todavia,
esta mudança permite a Tiago mover-se no sentido
de conscientizar-se de que a língua com
frequência incita a pessoa a agir:
primeiramente, você
expressa com
palavras uma ideia proibida
e, a seguir, você lhe dá expressão física;
primeiro, você se mete
numa conversa lasciva
ou numa discussão acalorada
e, a seguir, comete adultério
ou assassinato. É para esse poder da língua que
Tiago se volta agora,
mas ambas as ideias, a dificuldade em controlarmos a fala
e seu fantástico
poder, estão ativas
em sua
mente.
3:5 Assim também
a língua é um
pequeno membro,
e se gaba de grandes
coisas: na verdade a língua
é pequenina, mas
quanta reivindicação
pode ela fazer
como responsável
por grandes
eventos para o mal, ou para o bem! Com
muita frequência os resultados
foram malignos, mas
a língua gabou-se com
o máximo orgulho;
o próprio
emprego do verbo "gabar-se"
leva à memória
do leitor as frequentes condenações de Paulo a quaisquer vanglorias, e que só
deveríamos gloriar-nos em
Cristo (Rm 1:30; 3:27; 11:18; 2 Co 10:13-16; Ef
2:9). A língua é como
um pequeno
fogo que
pode incendiar um grande bosque; pode
tratar-se de um bosque
palestino ressecado ao sol de uma longa
seca, ou
de uma encosta montanhosa do sul do nosso país. Alguém
acende uma fogueira, sem cuidados, ou atira um fósforo aceso;
a ação é irreversível,
porque o fogo
primeiro estala,
depois ruge,
e logo estará devorando alqueires e mais
alqueires de madeira,
rápido como
o vento.
3:6 a língua também
é fogo: É assim que
Tiago começa a traçar
quadros quase psicodélicos
do mal produzido pela
língua. À semelhança
do fogo, a língua é destrutiva.
Basta que
nos lembremos da oratória
de um Adolf Hitler para
que fique sublinhada esta verdade.
A língua não é só destrutiva,
ela é um
mundo de iniquidade; ou, como afirma
uma tradução
alternativa, "um
mundo de injustiça".
O mundo de injustiça
está ocupando seu lugar entre
os nossos membros.
Ela contamina todo
o corpo. O mundo
é algo que
o cristão em
geral considera "lá fora". Tiago aponta para
sua própria
boca e diz: "O mundo
está aqui dentro". A língua descontrolada é a encarnação e a sede
dos impulsos maus
do corpo. A língua
não se limita em
seus efeitos
à sua própria
área, visto
que espalha a iniquidade, ou contamina todo
o corpo. A pessoa
inteira é atingida pelo
fragor de sua
língua. Entretanto,
cada palavra
vã será julgada (Mt 12:36).
Além do mais,
a língua inflama o curso da natureza,
e é por sua vez inflamada pelo
inferno. O problema a respeito
das palavras é que
as consequências não param por aí.
Os efeitos são
seriíssimos. "Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras
não me
machucam" é um conceito sem base
bíblica. As chamas da língua incendeiam
as paixões: aumentam o furor, inflamam a lascívia.
Logo, as palavras,
quer sejam um
diálogo íntimo,
não ouvido
aqui fora,
pois não
houve fala, quer
sejam pronunciadas, transformam-se em ação. As emoções, o raciocínio,
o corpo todo
se envolve incontrolavelmente. E qual
foi a origem desse incêndio
destruidor? O próprio
inferno! É ali que está a prisão de
Satanás e seus demónios. Aquela discussão teria sido inspirada pelo
Espírito de Deus?
Não. Foi inspirada pelo
diabo. As chamas
do ódio, do preconceito,
do ciúme, da inveja
e da calúnia projetam-se do lago
de fogo.
3:7-8 Tendo pronunciado uns conceitos
pesados a respeito da língua, Tiago se empenha
agora em
comprovar sua
tese com
minúcias. Seu
principal quesito
é que a língua,
isto é, a palavra
humana, é desesperadamente perversa. Tiago
inicia com uma analogia
da natureza: Toda
espécie de feras,
de aves, de répteis e de animais do mar
se doma, e tem sido domada pelo género humano. O
argumento de Tiago não
é científico. Não lhe
interessaria saber que
ninguém havia ainda
conseguido domar
o rinoceronte, e que
em seus
dias ainda
não haviam chegado
notícias sobre
tubarões assassinos;
tampouco está Tiago interessado em
saber se determinado
animal foi totalmente
domesticado. Basta lhe saber que felinos e grandes macacos
ficam sob total
controle humano.
Isto é verdade,
quer se trate do prisioneiro
que domestica um
camundongo ou
um rato,
em sua
cela, quer
se trate do dono de um
elefante que
transporta um príncipe
indiano, ou
o encantador de serpentes
na praça, ou
o passarinheiro cujas aves lhe obedecem
o comando. Tudo
isto já
era conhecido
no passado (tem sido domada), mas não pertence
a certa idade
de ouro, meio
esquecida— trata-se de experiência
do presente também
(se doma). Além de tudo, o conceito aplica-se às quatro principais
categorias de vida
animal: feras (i.e.,
mamíferos), aves,
de répteis (inclusive anfíbios)
e animais do mar.
Entretanto, que contraste
quando avaliamos a língua!
a língua, nenhum homem a pode domar.
O problema
de controlar a língua
entrava numa espécie
de ditado popular
das culturas hebraica e grega. Tiago não
precisava provar a verdade
dessa máxima. Não
tinham seus ouvintes
dezenas e dezenas de coisas
que gostariam de "desdizer"
ou muitas palavras que haviam
pronunciado erroneamente? Não haviam
aprendido dezenas
de provérbios que
talvez pudessem ajudá-los? "Há alguns cujas palavras
são como
pontas de espadas,
mas a língua
dos sábios é saúde"
(Pv 12:18). "O que guarda a sua boca preserva a sua
alma, mas
o que muito
abre os seus lábios
tem perturbação" (Pv 13:3). Certamente as palavras
de Tiago não precisam ser
comprovadas perante pessoas
honestas.
Em vez de deixar-se domesticar,
a língua é mal
incontido. É como
Hermas diria, mais tarde: "A difamação
é um mal;
é demónio que não sossega, nunca
tem paz, mas
habita na dissensão" (Mandate 2.3). Em contraste, Deus é perfeitamente
uniforme no pensamento,
estável e tem paz, "pois Deus não é Deus de confusão, senão de paz"
(l Co 14:33). Entretanto,
nossa fala
constantemente se caracteriza pela instabilidade;
a pessoa crê que
controla sua língua,
mas num certo
momento de descuido, deixa
escapar uma palavra
ferina ou
difamatória. Algumas
características dos demónios são a incapacidade
de auto-controlar-se, a ausência de descanso, a instabilidade
— as mesmas da língua,
como Tiago logo
demonstrará (3:16).
Além de tudo, a língua
está cheia de peçonha mortal.
Com isso
concorda o salmista:
"Aguçam a língua como a serpente; o veneno
das víboras está debaixo
dos seus lábios" (Sl 140:3). Essa comparação com as serpentes era bastante difundida na literatura
judaica, talvez
porque a língua
se parece um pouco
com uma serpente,
talvez porque as víboras matem com
a boca e talvez
porque, no Éden,
foi a serpente
que enganou nossos
primeiros pais
com palavras
melífluas (Que flui como
o mel, ou
deita mel.). Não há evidência de que
Tiago esteja na dependência de alguma passagem bíblica particular;
ele está apenas
afirmando que as palavras
jamais são
inofensivas; são perigosas e mortíferas como veneno, se
não forem controladas. Esta é a resposta
de Tiago à tendência moderna de considerar as palavras
destituídas de importância e muito baratas.
3:9 Tendo declarado a perversidade
da língua e a dificuldade
em controlá-la, Tiago nos dá a seguir alguns exemplos concretos
sobre sua natureza incontrolável. Em primeiro lugar, com
ela bendizemos ao Senhor
e Pai. Todos os leitores
hão de concordar com
Tiago. Dar graças a Deus,
agradecer-lhe a bondade, fazia parte do culto litúrgico de todo judeu e cristão: entoavam salmos (a que chamavam salmos
de louvor)
como Sl 31:21 ou
103:1,2; levantavam orações matutinas e vespertinas em que davam graças
a Deus pela
proteção durante
a noite e pelas bênçãos do dia
(as orações de At 2:42); e havia os devocionais antes
de cada refeição:
"Bendito sejas tu,
ó Senhor Deus
de nossos pais,
que nos
dás do fruto da terra..."
Infelizmente, a língua também
é usada para amaldiçoar: com ela
amaldiçoamos os homens.
Há abundantes passagens
bíblicas com maldições, embora a Bíblia imponha limites
à maldição e não
nos deixe tranquilos no que lhe diz respeito:
Gn 9:25; 49:7; Jz 9:20; Provérbios 11:26.
As maldições eram comuns
porque, à semelhança
das bênçãos,
não só
davam vazão às emoções
como também
influíam de verdade sobre as pessoas
e as coisas a que
se destinavam. Embora Paulo proíba a maldição feita
a esmo (Rm 12:14), na prática
o apóstolo pronunciava palavras
duras, à guisa de maldições (l Co 5:1; 16:22; Gl 1:8). A carta
de Judas é, praticamente, uma longa maldição contra os hereges.
Entretanto, estas maldições
de caráter mais
formal sobre
pessoas que
praticam certos tipos
de mal dificilmente seriam maldições oriundas do ódio,
do ciúme, da rivalidade,
jamais são
usadas como arma
a fim de separar
ou rejeitar grupos, dentro
da igreja, quando
há lutas partidárias, e menos ainda
constituem maldições irrefletidas
de alguém que
se viu prejudicado pessoalmente.
Tiago aponta
a incoerência da maldição
a esmo, ao acrescentar
feitos à semelhança
de Deus. Embora
um pronunciamento
de Jesus que proíbe que
se amaldiçoe pudesse ter sido a base emocional mais profunda
(e.g., Lc 6:28), Tiago prefere utilizar este argumento teológico a fim
de salientar a incoerência
da maldição. O Antigo
Testamento refere-se às pessoas
humanas como feitas
à semelhança de Deus (Gn 1:26), e utiliza esse
fato para comprovar a seriedade
do ato de destruir
essa semelhança (Gn 9:6). Até mesmo
o mais depravado ser humano retém a semelhança de Deus, a
qual se entendia, segundo
o pensamento bíblico, representava a pessoa toda. Bendizer a Deus, ou a ele agradecer e, a seguir, voltar-lhe
as costas e maldizer
sua imagem
e semelhança é o mesmo
que engrandecer um
rei, em
sua presença,
e a seguir esmagar a cabeça de sua estátua, à saída
do palácio real.
Na melhor das hipóteses,
é uma incoerência de comportamento; na raiz
desse mal está o ódio
veemente, incontrolável,
sem nenhum
vestígio de arrependimento,
dentro dessa pessoa, que
não se atreve a atirá-lo contra Deus, mas desabafa-o sobre
as pessoas. Entretanto,
Tiago reconhece, cheio de simpatia, a natureza instável
das pessoas e identifica-se com elas, ao usar o verbo na primeira
pessoa do plural
(nós), não
porque ele
aceite essa realidade
como apropriada,
mas porque
procura conduzir
as pessoas ao arrependimento e
mostrar-lhe um caminho
melhor (3:13-18).
3:10 O problema óbvio aqui é a inconstância da palavra falada:
Da mesma boca
procedem bênção e maldição.
Meus irmãos,
não convém que
isto seja assim.
O problema não
é tanto o de bênção,
ou de maldição
em si
— a pessoa poderia,
por exemplo,
amaldiçoar o pecado muito
adequadamente: "Que todos os pensamentos odiosos
que querem invadir minha mente
sejam enterrados nas profundezas do inferno!".
O problema é que
tanto a maldição
quanto a bênção
dirigem-se ao mesmo
objeto: Deus,
e a pessoa feita à imagem de Deus. Isso demonstra duplicidade de pensamento
e, portanto, pecado. É especificamente essa
duplicidade de linguagem (a pessoa "fala com língua
bifurcada", segundo o velho ditado), que a tradição
bíblica rejeita (e.g., Sl 62:4). Esta rejeição foi efetuada mais tarde, no judaísmo, (o livro
apócrifo de Siraque 5:19 fala do "pecador de língua
dobre") e no cristianismo (e.g., Didaquê 2:4, "Não tenhas mente
dobre nem
tenhas duplicidade de língua, visto que a língua dúplice
é armadilha mortífera").
Portanto, Tiago dá prosseguimento
ao mesmo tema
que mencionara em
1:8 e 4:8 — duplicidade, inconstância e instabilidade são
sinais do impulso
mau, e não
devem ser tolerados. O cristão
é chamado para desarraigar
todas essas tendências e chegar
à singeleza e à sinceridade
de coração.
3:11-12 Tiago conclui sua argumentação
com mais
algumas analogias da natureza: Pode uma fonte
de água salgada
dar água doce? Aqui está uma verdade infelizmente
comum por
todo o Mediterrâneo,
quer no vale do Lico (Ap
3:15-16 refere-se ao suprimento de água
da região), quer
em Mara, no Sinai (Êx 15:23-25), quer no vale do Jordão,
onde a água
cai em cascatas
do alto das rochas,
dando uma aparência de boas-vindas ao viajante, até que este
descubra tratar-se de
águas amargas. Por que os seres humanos
tentam fazer o que
a natureza não
faz? A analogia entre
o produto de uma fonte
aquática e o da boca
humana é bem apropriada.
Em segundo lugar,
meus irmãos,
acaso pode uma figueira
produzir azeitonas, ou uma videira figos? Mais uma vez a analogia
é bem apropriada.
Nenhuma árvore produz duas espécies de fruto.
Cada árvore
produz segundo sua natureza.
É contrário
à natureza o ser
humano tentar
fazer o que a natureza não
faz. Entretanto,
pode ser que
Tiago esteja querendo dizer algo mais,
visto que
Jesus utilizou ilustração semelhante (Mt 7:16-20;
Lc 6:43-45; Mt 12:33-35), mas esta analogia relaciona-se a frutos bons e frutos maus,
e ao julgamento de uma planta
segundo o fruto que
produz. Estaria Tiago sugerindo que o fruto mau (a maldição) revela a natureza
da pessoa?
A terceira analogia
confirma essa suspeita: Tampouco pode uma fonte de água salgada dar água doce. Tiago mudou sua analogia. Agora, a fonte é decididamente má, de água
salgada, mas
tenta produzir
água doce.
Isso é impossível.
O mal dentro
da pessoa produz uma "inspiração" frequentemente bem escondida, mas as
"maldições" (crítica maldosa, calúnia, comentários negativos), misturadas
com palavras
piedosas, demonstram a verdadeira fonte de inspiração. O mestre ou
os cristãos
vindicam o Espírito de Deus, ou a sabedoria de Deus;
mas há verdade nisso? Não há verdade quando a linguagem da pessoa revela que esta é uma fonte de água salgada que finge ser doce.
Havendo sustentado o perigo inerente à língua e a
necessidade de pureza
no falar, Tiago move-se agora
para a retaguarda
das palavras, e vai tratar das motivações por trás dessas
palavras. Esta seção
procura olhar
para dois lados. Em certo sentido, olha para trás, para os mestres de 3:1 e para
os problemas reais
que sublinham a palavra
impura, de modo
geral. Noutro sentido,
trata-se de ponte entre
a discussão teórica de 3:1-13 e a denúncia
dos problemas da comunidade,
de 4:1-12. Assim como houve
dois nascimentos, e duas inspirações
em 1:12-18, há duas "sabedorias" e dois Espíritos, aqui.
Bibliografia
Davids
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