Evidência Física Inicial do Batismo no Espírito Santo
Uma importante questão é saber se a pessoa foi realmente batizada no Espírito Santo. Seria ideal que o crente cheio do Espírito Santo apresentasse muitas evidências de sua condição. Entretanto, não estamos discutindo os resultados a longo prazo do batismo no Espírito, mas o testemunho imediato da própria experiência.
Tem Deus provido tal indicador? Se o livro de Atos não é somente descritivo, mas possui um propósito teológico, e se a experiência da Igreja Primitiva, com seus registros, é realmente normativa (ver Roger Stronstad, The Cbarismatic Theology of St. Luke, Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1984) para a Igreja de todos os séculos, então a resposta é um retumbante
“SIM!”
SINAIS DO DERRAMAMENTO
No dia de Pentecoste, dois sinais antecederam o derramamento do Espírito Santo. Ouviu-se “um som, como de um vento veemente e impetuoso” e “foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (At 2.2,3). Esses sinais particulares não se repetiram em experiências posteriores de batismo no Espírito Santo. Um sinal, entretanto, fazia parte real do batismo pentecostal: todos quantos foram cheios com o Física Espírito Santo “começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4).
Essas “línguas” eram idiomas que eles nunca tinham aprendido, distribuídas individualmente, à parte da compreensão de cada um. Alguns dos presentes, que compreendiam os idiomas, reconheceram que eles estavam declarando “as grandezas de Deus” (At 2.11), Esse sinal foi o mais espetacular dos fenômenos do dia de Pentecoste, e repetiu-se por várias vezes, duas das quais são registradas no livro de Atos(10.46 e 19.6).
E de especial importância o episódio ocorrido na casa de um centurião romano, Cornélio. Ali, por causa dos entranhados preconceitos dos judeus contra os gentios, fazia-se necessária uma evidência convincente. E somente uma evidência demonstrou que aqueles gentios haviam recebido “o dom do Espírito Santo”: os espantados crentes judeus ouviram-nos “falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.46), exatamente como acontecera no dia de Pentecoste (At 2.4,11).
Mais tarde, ao ser criticado por haver entrado na casa de um gentio e comido com eles, tendo comunhão em torno da mesa, Pedro explicou: “E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio. E lembrei-me do dito do Senhor quando disse:
João certamente batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus?” (At 11.15-17). O versículo seguinte mostra-nos que os apóstolos e outros crentes judeus aceitavam o falar em línguas como evidência convincente do batismo no Espírito Santo:
“E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade, até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (At 11.18). Por certo, numa época em que muitos pensam, esperam, acreditam e se maravilham com o batismo no Espírito, uma evidência convincente continua sendo necessária.
Alguns anos mais tarde, em Efeso, os gentios receberam Evidência a experiência pentecostal, e “falavam em línguas e profetiza- vam” (At 19.6). Reperte-se, mais urna vez, a completa experiência do batismo no Espírito Santo. O grego normalmente subentende que eles continuaram a falar em línguas e a profetizar.
“O falar em línguas... continua a trazer enriquecimento ao crente individualmente, em suas devoções pessoais, e à congregação, quando acompanhado pela interpretação de línguas” (Where We Stand, Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1990, pág. 147).
Com a morte de Estêvão, iniciou-se a perseguição, espalhando os crentes (excetuando os apóstolos) e as chamas do Evangelho em muitas direções (At 8.1). Um bom exemplo do avanço do Evangelho é a pregação de Filipe em Samaria, às pessoas que tinham estado sob a influência de Simão, o mágico. Elas creram e foram batizadas em águas, mas o Espírito Santo não desceu sobre nenhum deles. Talvez porque tivessem percebido que estavam errados acerca de Simão, bem como sobre muitas de suas doutrinas samaritanas, e acharam difícil dar o próximo passo de fé para receber o batismo no Espírito Santo (Stanley Horton, O que a Bíblia Diz Sobre o Espírito Santo, Rio de Janeiro, CPAD, 1993, pág. 166).
Dias depois, Pedro e João foram enviados a Samaria, oraram por eles e impuseram-lhes as mãos; então, receberam o Espírito Santo (At 8.15-17). Simão, o mágico, sentindo remorso por seus antigos caminhos, ofereceu-lhes dinheiro pela autoridade de impor as mãos para que as pessoas recebessem o Espírito Santo. Como era óbvio, havia algo evidentemente sobrenatural no recebimento do Espírito. Simão já vira os milagres de Filipe. Obviamente, Simão deve ter ouvido a profecia em seu próprio idioma, mas com certeza foi no falar em línguas que reconheceu algo sobrenatural. Lucas, entretanto, concentra sua atenção sobre a atitude do mágico, e assim não menciona as línguas.
Física Há ainda um outro episódio no livro de Atos que certamente implica em línguas. Paulo, ao ser surpreendido por Jesus, na estrada para Damasco, ficou cego por causa da glória divina.
Foi levado a Damasco, à casa de Judas, na rua Direita, onde recebeu a visão de que um homem chamado Ananias colocaria as mãos sobre ele e o faria tornar a ver. Aquele bom discípulo, ato contínuo, veio e disse que o Senhor lhe havia enviado a fim de que Paulo pudesse enxergar novamente e ser cheio do Espírito Santo (At 9.17). As línguas não são mencionadas especificamente nessa ocasião; porém, mais tarde, Paulo testifica: “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos” (1 Co 14.18). Pelo que aconteceu nas outras ocasiões em que pessoas eram batizadas no Espírito Santo, podemos inferir que a experiência inicial de Paulo em falar noutras línguas ocorreu naquele seu encontro com Ananias.
Se todas as referências à concessão pentecostal, no livro de Atos, forem reunidas em um único bloco, não haverá mais dúvidas de que as línguas são a evidência inicial e física do batismo no Espírito Santo. Visto que reconhecemos nas descrições históricas do livro de Atos um propósito teológico e a intenção de ser exemplo para a Igreja hoje, temos nele um forte fundamento para acreditar que os crentes que eram cheios do Espírito Santo esperavam a evidência do falar em línguas. Alguns escritores afirmam que as doutrinas devem estar baseadas sobre claras afirmações das epístolas, e não na história, no livro de Atos.
Entretanto, o Espírito Santo inspirou Paulo a escrever: “Toda Escritura divina- mente inspirada é proveitosa” (2 Tm 3,16). Outrossim, “tudo quanto dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4). A Bíblia, ao desenvolver a doutrina da justificação pela fé, em Romanos 4, volta à passagem histórica de Gênesis sobre Abraão; ao demonstrar a origem da graça divina, retrocede à outra passagem histórica, sobre Davi. “A palavra traduzida por ‘línguas’, no livro de Atos, é mesma usada em 1 Coríntios, e refere-se a idiomas reais de homens e anjos (1 Co 13.1). Não há justificativa para interpretar a palavra como ‘sons estranhos ou próprios de êxtase’. Nos tempos do Novo Testamento, tal como em nosso tempo, havia pessoas que ouviam e compreendiam o falar cm línguas” (Where We Stand, pág. 147).
FUNÇÕES DO FALAR EM LÍNGUAS
Pode-se indagar se o falar em línguas serve apenas como evidência do batismo no Espírito Santo. A resposta é não, pois o fenômeno das línguas tem pelo menos duas outras importantes funções. Antes de citá-las, é válido lembrar que uma pessoa pode receber as línguas como a evidência do batismo no Espírito Santo e só mais tarde receber o dom das línguas, que pode manifestar-se nas devoções pessoais ou nos cultos públicos (Smith Wigglesworth, Ever Increasing Faith, rev. ed. Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1971, pág. 114; e Frank M. Boyd, The Spírit Works Today. Springfield, Mo,: Gospel Publishing House, 1970, págs. 83- 86).
As línguas pessoais, ou seja, o dom de falar em línguas desconhecidas, têm, nas devoções particulares, o valor de edificar quem estiver ocupado na oração. Orar em uma língua desconhecida é forma exaltada de adoração (1 Co 14.4). Orar em línguas é uma prática útil, e deveria ser cultivada na vida diária do crente, pois assim a pessoa é edificada em sua fé e na vida espiritual. Paulo parece tomar como automático, em suas epístolas, o fato de que os crentes eram normalmente batizados no Espírito Santo e que as línguas eram parte comum de sua experiência diária. Ele mesmo falava em línguas mais do que os crentes coríntios, embora o fizesse em particular (1 Co 14.18,19).
Há também outro uso para as línguas. Embora seja o mesmo em essência, o dom de línguas empregado nos cultos públicos visa um propósito distinto. As línguas mencionadas no livro de Atos são evidenciais e privadas; as mencionadas nas epístolas são públicas, e visam a edificação geral. As línguas particulares não precisam ser interpretadas, visto que o indivíduo é edificado mesmo à parte de seu entendimento. Não obstante, as disciplinas acerca do emprego das línguas em reuniões públicas enfatizam a necessidade de interpretação, para que o culto seja abençoado (1 Co 14.2- 20).
QUESTÕES SOBRE O FALAR EM LÍNGUAS
Um certo número de perguntas têm surgido no tocante ao falar em línguas. Algumas bem podemos considerar aqui (o material seguinte é adaptado de Where We Stand, págs. 150-154):
1. Pode uma doutrina estar baseada sobre menos do que afirmações declarativas? Embora uma doutrina não deva estar baseada sobre fragmentos isolados das Escrituras, pode basear-se numa verdade substancial, implícita. A doutrina da Trindade não está alicerçada sobre uma afirmação declarativa, mas numa comparação de passagens bíblicas relativas à deidade. Semelhantemente, a doutrina das línguas como evidência do batismo no Espírito Santo está baseada em porções substanciais das Escrituras.
2. O falar em línguas é um fenômeno pertencente somente ao período apostólico? Nada, nas Escrituras, indica que o falar em línguas tenha vigorado apenas durante o período apostólico, ou até o cânon do Novo Testamento estar completo. Paulo, ao declararar que as línguas cessariam (1 Co 13.8), indica o tempo em que tal iria acontecer: “Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado” (1 Co 13.10) - “perfeição” talvez seja uma referência ao tempo da volta de Cristo (cf. 1 Jo 3.2).
Paulo indica também que, no tempo em que as línguas cessassem, o conhecimento e as profecias também cessariam (1 Co 13.8). O contexto deixa claro que o tempo de cessarem as línguas ainda é futuro, e que outras coisas como o conhecimento e a profecia mudarão, simultaneamente e de modo significativo. Até esse tempo, as palavras de Jesus terão plena aplicação:
“E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas...” (Mc 16.17; ver Donald F. Stamps, editor, Fuil Life Study Bible. Grand Rapids: Zondervan Bible Publishers, 1990, págs. 106 e 232).
3. Quando Paulo escreveu: “Falam todos diversas [em outras] línguas?” (1 Co 12.30), não estaria fazendo uma pergunta retórica, que requeria uma resposta negativa? Para compreendermos a pergunta de Paulo, é necessário reconhecer as várias funções do dom de línguas: falar em línguas serve de evidência inicial do batismo no Espírito Santo (At 10.46; 11.15); falar ou orar em línguas, em particular, visa a edificação pessoal (1 Co 14.2,4); e falar em línguas na igreja - acompanhadas de interpretação - visa a edificação do corpo local (1 Co 14.5).
Não há contradição entre o desejo de Paulo - de que todos falassem em línguas (1 Co 14.5) - e a sua pergunta. Todos os crentes, por ocasião do batismo no Espírito Santo, começam a falar em línguas e podem prosseguir falando nas orações pessoais com vistas à edificação pessoal. Entretanto, nem todos servem de agentes do Espírito Santo na congregação, onde o Espírito Santo distribui as manifestações conforme sua própria determinação (1 Co 12.11). Longe de haver contradição, o desejo e a pergunta de Paulo se complementam.
4. Por que houve três períodos, na história da Igreja, em que o fenômeno das línguas parecia ausente? Existe a possibilidade de uma doutrina bíblica ser negligenciada. De fato, grandes renovações espirituais são acompanhados, com freqüência, de reavivamentos doutrinários. Para exemplificar, a doutrina da justificação havia se perdido quase completamente até a Reforma protestante, quando Martinho Lutero e outros a reenfatizaram.
A doutrina da santificação fora negligenciada até o reavivamento dirigido por João Wesley, quando, uma vez mais, foi trazida à atenção da Igreja. Embora a verdade do batismo no Espírito Santo e do falar em línguas tenha aparecido, através da história eclesiástica, em certo número de reavivamentos, parece nunca ter recebido uma ênfase como a do presente reavivamento (R. P. Spittler, “Glossolalia”, em Dictionary of Pentecostal and Charismatjc Movements, Regency Reference Library, 5. M. Burgess e G. B. McGee, editores, Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1988, págs. 339 e 340).
5. Haverá perigo de as pessoas procurarem as línguas, em lugar do batismo real no Espírito Santo? Infelizmente, essa é uma possibilidade, mas o abuso contra uma doutrina não a invalida, Os abusos e falsificações, longe de desaprovarem uma doutrina, ajudam a estabelecer as genuínas (a Bíblia de Estudo Pentecostal faz uma boa abordagem sobre o falso falar em línguas e testes quanto ao genuíno batismo no Espírito Santo).
6. As pessoas que falam em línguas não são tentadas ao orgulho espiritual?
A compreensão verdadeira do batismo no Espírito Santo resulta em humildade, não em orgulho.
Os crentes são batizados no Espírito Santo, não por causa de seu valor pessoal, mas para que sejam dotados para um serviço humilde e uma vida mais significativa.
7. Que dizer das pessoas verdadeiramente nascidas de novo que têm realizado grandes coisas para o Senhor, e, no entanto, não falam em línguas?
Não há que se duvidar de crentes dedicados que não falam em línguas mas são habitados pelo Espírito e têm realizado grandes coisas para Deus. Ao considerar a questão, entretanto, todo estudante da Bíblia deve determinar se baseará suas doutrinas sobre a Palavra de Deus ou nas experiências dos crentes, mesmo os mais devotos. Visto que Bíblia indica que todos os crentes podem falar em línguas, na suas devoções pessoais e na congregação, é preciso que cada um decida se deve aceitar ou rejeitar a provisão de Deus. As Escrituras deixam claro que os crentes devem reconhecer-se responsáveis diante de Deus ao invés de avaliar suas experiências cristãs à base de comparações entre seres humanos. Escreveu o apóstolo: “Porque não ousamos classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas esses que se medem a si mesmos e se comparam consigo mesmos estão sem entendimento” (2 Co 10.12).
Doutrinas Biblicas – Willian W. Menzies e Stanley M. Horton
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