ISTO DEIXA DEUS DOENTE!
Apocalipse 3.14-22
Uma dor palpitante me atinge como o trem de carga que se aproxima. Faz
lembrar-me que já é segunda-feira. A cada batida do coração, a dor aguda
atinge-me o cérebro. E torturante. Isto sempre acontece às segundas-feiras.
Nunca às terças. Nem às quartas. Sempre às segundas. Segunda feira de manhã é
quando as maiores enxaquecas me atingem e deixam-me paralisado. Fico de molho
pelas próximas 24 horas. Que dia! Estas enxaquecas me dão vontade de arrancar a
cabeça. Qualquer coisa que amenize a dor. Minhas têmporas latejam. A dor
centraliza-se na cavidade ocular, na testa ou no pescoço.
Mas esta não é a pior parte.
O pior é o ataque de náuseas. Meu estômago vira um vulcão furioso, pronto
para a erupção. Quando acordo com esta dor de cabeça, tento controlá-la com
analgésicos, mas sucumbo-me eventualmente. Preso à cama, tento dormir. Mas quem
pode dormir com tamanha dor? Então me levanto, mas já estou tão fraco que
desfaleço de exaustão.
Em poucas horas, acordo e recobro os sentidos. Apenas para vomitar
novamente. Então desfaleço até a tarde, reduzido ao estado vegetativo. O que me
faz tão doente? O que sempre me atinge nas manhãs de segunda?
Não há mistérios sobre a causa da enfermidade. A segunda feira é sempre
precedida pelo domingo. E domingo significa igreja. A causadora desta dor é a
igreja.
A igreja aos domingos sempre me aniquila física, emocional e
espiritualmente. Sair de casa às 5h45min da manhã e nunca conseguir chegar
antes das nove e meia da noite, deixa-me exaurido. Pregando três vezes. Orando.
Aconselhando. Visitando. Atendendo a encontros. Cumprimentando visitantes.
Fazendo anúncios. Ouvindo reclamações.
Achando itens perdidos. Consertando a máquina de xerox. Reescrevendo
notas para os sermões. Beijando crianças. Encontrando parentes. Permanecendo
até que a última pessoa vá embora. E sem comer até às dez horas da noite. Igreja
no domingo vale por um mês. Ela sempre requer de mim mais do que tenho para
oferecer. Isto me deixa doente!
Você acredita que a igreja também pode deixar Deus doente? E até com
náuseas? A igreja pode fazer com que Deus fique mal do estômago. Pode levá-lo
inclusive a querer vomitar.
O que na igreja poderia fazer tanto mal ao estômago de Deus? O que seu
povo faria para causar-lhe tamanha reação?
Um crente morno.
Indiferença espiritual na igreja faz com que Cristo queira vomitar.
Apatia o deixa doente. Pregação morna. Louvor indiferente. Oração sem fé.
Comunhão trivial. Evangelismo insípido. Tudo isto deixa Cristo doente! Não
apenas aos domingos. Mas de segunda a sábado também. Quando nosso coração não
lhe é fervoroso, torna-se morno. E, nessa condição, faz com que Jesus fique
doente do estômago, tenha náuseas e vontade de vomitar.
A causa da mornidão espiritual é o pecado. Mornidão é estar meio dentro,
meio fora. E bocejar à face de Cristo. E ser indiferente à sua. graça. E estar
aborrecido com a vida cristã. Isto deixa Cristo doente! Ele não tem estômago
para tal. Devoção pela metade é revoltante para Jesus. Esta carta é endereçada ao
pecado da mornidão. Em termos contundentes, Jesus avisa que vomitará de sua
boca toda a igreja morna. Este é um sério alerta ao fervor espiritual, devoção
e zelo santo. Aqui está uma ordem solene para que sejamos fervorosos por
Cristo, não mornos.
O Cenário
Laodicéia era notória por sua influência e prosperidade. O comércio, a
manufatura e a medicina faziam dela uma cidade rica. Estrategicamente,
localizava-se na conexão da rodovia mais importante da região. A Estrada Pérgamo-Sardes
cruzava-a de leste a oeste. Situada no fértil Vale do Licos, formava ela um
todo juntamente com Hierápoles e Colossos. Era o eixo político-judicial do
continente.
Destruída em 60 d.C., Laodicéia recusou o auxílio governamental para a
sua reconstrução. Além disso, muito contribuiu com as cidades adjacentes
atingidas pelo cismo.
Laodicéia era o centro financeiro desta parte do mundo. Grandes somas em
ouro, prata e moeda romana eram guardadas ali. Mercadores e homens de negócios
de todos os lugares vinham em busca de financiamentos aos seus projetos e
empreendimentos.
Laodicéia era um importante centro de produção. Suas fábricas eram
famosas por sua lã preta e sofisticada. Era ela quem ditava a moda. Achavam-se
também, aqui, famosos centros médicos. Sua escola de medicina era a melhor da
época. Uma de suas especialidades era a oftalmologia.
Era uma florescente e próspera cidade.
O Remetente
Assim como nas outras cartas, Jesus inicia esta revelando-se à igreja.
Somente essa tremenda revelação de si mesmo poderia sacudir a Laudicéia de sua
letargia espiritual
E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus (Ap 3.14).
O Amém
Jesus denomina-se o Amém; Ele é a personificação da verdade. Tudo o que
diz é preciso e será cumprido. Amém implica em certeza, veracidade e
sinceridade. As palavras de Cristo são absolutas, são verdades imutáveis.
Esta igreja precisa compreender, em primeiro lugar, que Jesus Cristo é a
personificação da verdade. A última realidade. Todas as outras verdades são
avaliadas por Ele. Suas palavras são padrões divinos, O que diz é totalmente
confiável, e deve ser aceito sem reservas.
O Senhor identifica-se desta forma pois o que dirá a seguir será um golpe
para o sistema da igreja.
A Testemunha
Jesus revela-se como a testemunha fiel e verdadeira. Testemunha é alguém
que testifica o que é verdade. Fala a verdade sobre o que ouviu ou presenciou.
A testemunha fiel fala tudo o que sabe e não esconde nada. Jesus é a testemunha
fiel e verdadeira: nunca esconderá a verdade, O que vê na vida desta igreja,
testificar-lhe-á fielmente. Não acrescentará ou suprirá nenhuma verdade. Ele
está totalmente apto a comunicar a verdade completa, e nada mais do que a verdade.
O Criador
Jesus é o Princípio da criação de Deus . Isto não significa que foi o
primeiro a ser criado. Tal idéia é heresia teológica. Na verdade, Jesus é o
Criador (arche) de toda a criação. E o feitor de tudo quanto existe. O líder de
toda a criação. Como Criador, rege a criação, e possui o poder e a prerrogativa
de soberana propriedade.
Por que Jesus se revelaria desta forma a Laudicéia? Qual o significado de
tal revelação?
O que Jesus tem a dizer a esta igreja será atordoador. A avaliação de
Cristo será diametralmente oposta à visão que esses crentes tinham de si
mesmos. Eles vêem-se como ricos, opulentos e não necessitando coisa alguma. Mas
Jesus diz: “Vocês são insignificantes pobres, miseráveis, cegos e nus”. Eles
precisam lembrar-se de que em primeiro lugar Jesus é o Amém, a testemunha fiel
e verdadeira; Ele não pode mentir.
A Condição de Laodicéia
Imagine a cena em Laodicéia. A carta de Éfeso é lida. Em seguida, as de
Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes e Filadélfia. Todas imbuídas de
congratulações aos destinatários. A essa altura, os crentes de Laodicéia já
começam a antecipar os elogios que Jesus lhes faria. Seria por suas grandes
contribuições? Ou por seus programas de expansão?
A expectativa cresce enquanto o pastor lê a carta que lhe é endereçada:
“E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve...” Mas não ouvem nenhum
elogio da parte de Deus. Nenhum elogio ou afirmação. Apenas silêncio. Você pode
sentir o choque deste momento? Lembre-se de que esta é uma igreja inútil. Ela é
orgulhosa, confiante, enganada. Ao invés de elogios, esses crentes ouvem apenas
a mais aguda e contundente reprimenda. Não havia nada a elogiar, apenas pecado.
O Pecado
A cultura mundana de Laodicéia estava moldando a igreja. E isto Jesus não
podia tolerar. O que se segue é a repreensão mais forte e assustadora que Jesus
até então já fizera. Suas palavras são agudas. Seu coração está mui magoado;
vai direto à queixa. Qualquer outra coisa seria supérflua.
Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem
quente, oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem
quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes, rico sou, e estou enriquecido
e de nada tenho falta, e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e cego e
nu (Ap 3.15-17).
Ao declarar “eu sei as tuas obras”, Jesus queria dizer: “Tenho profundo
conhecimento do estado desta igreja”. Externamente, parecia ela estar gozando
de singular prosperidade. Muitas eram as ofertas, assistência e atividades. Mas
Jesus vê com visão de raio X; vê o coração e a alma. Onisciente, tem uma visão
completa e total da situação. Eis o que Cristo vê: uma igreja nem quente, nem
fria. Era algo morno. Por isto, lamenta-se Ele: “Oxalá foras frio ou quente”.
Qualquer coisa, menos morno. Seja frio ou quente. Morno, não!
O Significado de Morno
O que isto representa? O que é ser frio? E quente? E morno?
Frio significa estar espiritualmente indiferente ou apático. Demonstra
alguém descrente, sem interesse no Reino de Deus. Tal pessoa acha-se perdida,
sem salvação e separada de Deus.
Jesus adverte: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos
esfriará (Mt 24.12). Tais corações são frios com relação ao Evangelho.
Insensíveis. Endurecidos. Congelados.
Quente denota alguém fervoroso em Deus. Incendiado pelas coisas
espirituais. E inflamado com o fervor espiritual pelo Reino de Deus. Alguém
aquecido ao ponto de fervura. E uma testemunha viva de Jesus Cristo; consumida
pela paixão carmesim. Tem zelo pelo Senhor.
Depois de sua ressurreição, Jesus apareceu a dois discípulos no caminho
de Emaús. Após desfrutarem de sua íntima comunhão, disseram: “Porventura não
ardia em nós o nosso coração quando pelo caminho nos falava e quando nos abria
as Escrituras?” (Lc 24.32) Seus corações estavam em chamas; o amor por Cristo
era intenso.
O maior problema em Laodicéia era o suprimento de água. A água potável
tinha de ser trazida de Hierápoles e Colossos. A água de Colossos, que chegava
por um aqueduto de seis ou sete milhas, era muito fria e boa para ser ingerida.
Mas Hierápoles era famosa por suas águas quentes. Era parecida com a cidade
mineira de São
Lourenço. Eram águas medicinais; traziam a cura de muitas enfermidades.
Mas havia um problema. As águas de Hierápoles, quando chegavam a
Laodicéia, já estavam mornas. Já haviam perdido suas aplicações terapêuticas. O
mesmo acontecia com as águas de Colossos; também chegavam mornas.
Conseqüentemente havia duas maneiras de as águas tornarem- se mornas.
Ambos os suprimentos em Laudicéja, adaptavam-se à temperatura ambiente. O mesmo
ocorria com a vida espiritual dessa igreja. A pessoa poderia ter sido fria ou
até gelada na fé, mas em Laudicéia ficava indiferente à fé em Cristo. Ficava
morna.
Alguns crentes já haviam sido fervorosos genuinamente salvos, mas
tornaram-se mundanos. Esfriaram-se, adaptando-se ao meio ambiente. Devido à
influência do mundo, o seu amor por Cristo enregelara-se. Embora fossem
convertidos, tinham se tornado carnais. Cristãos mundanos, mornos.
Outros, porém, nunca haviam nascido de novO. Alegavam conhecer Cristo,
mas seus corações não eram convertidos. Faziam parte da igreja visível, mas
Cristo nunca fez parte de suas vidas. Eram indiferentes, sem salvação, e
gradualmente adaptados ao ambiente. Uma vez na igreja, animavam-se e pareciam
verdadeiros cristãos. Todavia, nunca foram salvos.
Este é o problema de muitas igreja hoje. Membros não regenerados.
Presbíteros e diáconos não convertidos. Pastores não redimidos. Judas entre os
verdadeiros discípulos. Joio no meio do trigo. O primeiro campo missionário da
igreja precisa ser seus próprios membros. Muitos que dizem “Senhor, Senhor”
estão n caminho largo, às portas do inferno.
Em Laudicéia, o maior seguimento da igreja era morno. Alguns já haviam
sido quentes mas agora, mornos. Outros haviam sido frios, mas agora, também
mornos. Alguns eram salvos, outros não. Ambos, parecidos. Alguns já haviam sido
fervorosos, mas tinham esfriado. Outros haviam sido frios, mas agora acham- se
mornos. Não o suficiente para serem salvos, apenas para estarem na igreja. Aos
olhos humanos é impossível distinguir o joio do trigo. Assim é entre o morno e
o perdido.
Tocando diretamente no problema, Jesus declara: “Eu sei as tuas obras,
que nem és frio nem quente”.
A Blasfêmia do Crente Morno
Porque Jesus diz “oxalá foras frio ou quente”? Por que esta predileção?
Três importantes razões precisam ser notadas.
A primeira fala sobre o nosso relacionamento com Cristo. A pessoa mais
difícil de se converter é o membro da igreja que pensa ser salvo, mas nunca
nasceu de novo. Ele não tem consciência de que precisa ser salvo. Por ser
membro da igreja, acha que vai para o céu - mas não vai! Tem o nome no rol de
membros da igreja, mas não no livro da vida do Cordeiro. Teve um encontro com o
pastor ou com o evangelista, mas não com Jesus Cristo.
John Walvoord escreve: “Não há nada mais longe da verdade em Cristo do
que alguém que faça uma confissão vã, sem haver fé real. Quantos membros de
igrejas estão longe de Deus, mesmo sendo confessos? Falsa segurança! Não há
pessoa mais difícil de ser alcançada do que o fanático. E muito mais fácil
convencer as prostitutas e os publicanos do que os fariseus e saduceus”.
Na verdade, Jesus disse: “Preferia que você fosse frio! Se fosse perdido,
seria melhor,
pois assim não pensaria que é salvo. Preferia ainda que você estivesse
totalmente contra mim. Então não teria a falsa certeza de ir para o céu”.
Quando a pessoa é gelada, sabe que esta perdida.
Ninguém pode ser salvo sem antes reconhecer que está perdido. Morno, o
crente pensa estar salvo, mas não está. Seria este o seu caso? Está confiante
de que ser membro de igreja ou ter boa vida o levará para o céu? Não! Jesus
disse a Nicodemos, um dos homens mais corretos e religiosos em Israel: “Aquele
que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
Tamanha falsa segurança deixa Deus doente.
A segunda razão refere-se a nossa determinação por Cristo. O efeito
negativo do cristianismo morno é devastador. Um crente morno é a pior
publicidade para o Cristianismo. Esta pessoa tépida atrapalha o que é frio; não
deixa que este se inflame pelo evangelho de Jesus Cristo.
Quando o ímpio vê um cristão morno, pensa: “Por que preciso ser salvo? Se
isto é ser crente, não preciso do cristianismo. Ele não é diferente de mim”.
Por isto diz Jesus: “Ouçam, eu preferiria que fossem frios a mornos, pois vocês
têm levado outros a viverem do mesmo modo”.
Crente morno deixa Deus doente!
A terceira razão trata de nossa adoração a Cristo. Jesus continua a
insistir: “Preferiria que fosse contra mim a ser morno, pois o crente morno é
uma blasfêmia”. G. Campbell Morgan enfatiza: “Ser crente morno é a pior forma
de blasfêmia”.
Ao crente morno, Jesus diz: “Seja quente, ou frio, ou então vá embora!
Como você é morno, Eu o vomitarei da minha boca”. E como se Ele dissesse: “Você
me deixa doente do estômago”.
Isto choca você? Espero que sim.
Deixe esta seta atingir-lhe o coração. Deus não é nenhum escrivão que se
limita a registrar, de maneira fria e calculista, os louvores que você lhe
dirige. Ele possui profundas emoções, zelo ardente e coração amoroso. E deseja
ter um relacionamento íntimo e pessoal conosco.
Deus nos ama de tal maneira que deu o seu Filho para morrer numa cruz em
nosso lugar. Mas se lhe virarmos as costas, estaremos cuspindo-lhe na face. A
tais indivíduos, Ele diz: “Você me dá vontade de vomitar!”
O crente morno provoca uma reação violenta e aguda da parte de Deus. A
falta de coração é-lhe repugnante.
Quando tomamos chá, queremos que este esteja frio ou quente. Morno não é
bom. Chá gelado é gostoso. Quente é ótimo. Chá morno causa náuseas.
Jesus acrescenta: “Desça do muro, achegue-se mais e mais a mim. Ou
afaste-se mais e mais de mim. Apenas não seja indiferente. Seja quente, ou
frio, ou então vá embora”.
Isto me deixa doente do estômago.
Palavras fortes de um Deus apaixonado. Isto descreve o seu coração? Você
é morno? Indiferente? Desinteressado? A chama se apagou? Perdeu sua paixão?
O Que Faz Um Crente Ser Morno
Por que muitos em Laodicéia eram mornos? Como chegaram a este insípido
estado? Jesus expõem o problema: “Como dizes rico sou, estou enriquecido e de nada
tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e cego e nu” (v.
17).
Estavam infestados pelo mundanismo, materialismo e auto- suficiência.
Achavam-se ali pessoas absorvidas com as coisas do mundo, preocupadas com o seu
nível social, avançando em suas carreiras. Elas estavam no topo da moda,
comprando coisas. Viviam em função dos seus bens.
O sucesso mundano produz uma presunçosa auto-suficiência. Arrogantemente
pensavam: “Temos tudo o que necessitamos. Somos ricos e opulentos. Devemos estar
fazendo tudo certo, porque Deus está nos abençoando”.
Inversamente, Jesus - o Amém, a Testemunha Fiel e Verdadeira - teve de
declarar-lhes: “E não sabes que és um desgraçado, e miserável, e cego e nu”. E
não era isto que esperavam ouvir da parte de Deus.
Pensavam estar certos, mas Jesus afirmou que eles estavam completamente
errados. Esta igreja não sabia que não sabia. Uma coisa é ser ignorante. Outra
é ignorar a sua ignorância. E um prejuízo duplo!
Já ouvimos a história do imperador que não vestia roupas. Ele pagou uma
soma altíssima a dois fabricantes para que lhe confeccionassem as mais finas
vestes. Mas para enganá-lo, não colocaram nada sobre ele. Mesmo assim,
garantiram-lhe que vestia o mais fino robe do reino. O vaidoso rei acreditou na
mentira e, orgulhosamente, desfilou nu por seu castelo, achando estar bem
vestido. Todos estavam temerosos em contar-lhe a verdade. Até que um pequeno
garoto notou o que todos já sabiam, mas tinham medo de dizer. O garoto gritou:
“O imperador está pelado!”
Num instante, a farsa teve fim. Envergonhado, o rei correu para
vestir-se.
Espiritualmente falando, é assim que os crentes de Laodicéia
encontravam-se: Nus. Assim como nasceram. Contudo, pensavam estarem bem
vestidos.
Cristãos desse tipo, vão à igreja usando roupas caras, e deixam grandes
somas nas salvas, pensando estar espiritualmente adornados com as vestes da
integridade. Por isto, Jesus lhes é tão categórico: “Vocês pensam estar bem
vestidos; mas estão nus! Pensam estar à frente do mundo, mas estão quebrados!
Pensam serem especiais, mas são miseráveis. Podem realmente pensar que são
felizes, mas por trás de seu sorriso artificial são infelizes”.
É impressionante como podemos decepcionar-nos. É nos momentos que
pensamos não ter nenhuma necessidade, que ela é maior. O que mais precisamos é
enxergar nossas necessidades. Sem um auto-conhecimento, não temos fome de Deus.
Você é assim? Honestamente, diante de Deus, como você está? Morno?
Quente? Frio? Ou indiferente em relação às coisas de Deus? Como você está?
Talvez esteja quente e fervoroso. Maravilha! Talvez haja zelo, paixão e
quebrantamento espiritual.
Por outro lado, pode estar meio a meio. Salvo ou perdido?
Você é morno quanto às Escrituras? Ainda sente fome pela Palavra de Deus?
O seu coração está incendiado pelas Escrituras? Ou lê a Palavra de maneira
mecânica, acadêmica e rotineiramente? Você lê a Bíblia e permanece apático,
imparcial e estéril? Você a tem lido, pelo menos?
É morno quanto à oração? Há zelo ardente e passional em seu coração para
estar na presença de Deus? Há iniciativa de estar a sós com o Senhor em oração?
Existe uma dinâmica transformação sobre sua vida de oração? Ou é aborrecida?
Suas orações são rotineiras? Ao dobrar os joelhos ainda há emoção? Você tem
orado?
Você é morno quanto a testemunhar? Gosta de compartilhar sua fé em Jesus
Cristo? Procura oportunidades para falar de Cristo aos outros? Sente que não
pode deixar de falar sobre Cristo? Ou é apenas morno e esquiva-se
discretamente? Ah! Você não se envolve com a vida dos outros? Não sente a
responsabilidade pela perda? Não se importa se pessoas estejam caminhando para
o inferno?
É morno quanto a servir a Cristo? Há pulsação espiritual em sua vida para
dedicar-se aos outros? Sente vitalidade em servir a Deus? Ou faz seu trabalho de
maneira mecânica? Perdeu a paixão por seu ministério? Tornou-se indiferente em
servir aos outros?
Qual a temperatura de seu coração? Talvez morno por nunca ter nascido de
novo. Se assim for, você é indiferente, pois nunca sofreu uma cirurgia para
abrir o coração. Peça a Deus que tire o seu velho e frio coração, e coloque-lhe
um novo e inflamado coração que bata por Ele. Talvez seja membro da igreja. Sua
pulsação espiritual acelera um pouco ao ouvir o coro cantar ou a Palavra ser
pregada. Mas a verdade é que nunca entregou-se totalmente a Cristo para ser
nascido de novo. Não admira que seja morno.
A Solução
Jesus agora corrige os crentes mornos. Primeiro, dirige-se aos membros da
igreja que conhecem a Cristo, mas esfriaram. Depois, volta-se aos perdidos que
nunca foram fervorosos. Ambos os grupos são mornos. Uns precisam de
reavivamento; outros de regeneração. Ambos necessitam de fervor.
Uma Palavra aos Crentes
Jesus inicia falando aos membros da igreja que são mornos, mas
verdadeiros cristãos. A estes santos auto-suficientes Ele diz: Aconselho-te que
de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos
brancos, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez, e que unjas
os teus olhos com colírio, para que veja. Eu repreendo e castigo a todos
quantos amo; se pois zeloso, e arrepende-te (Ap 3.18,19).
Há, aqui, um toque de ironia. Jesus está falando deliberadamente aos
materialistas. Aos que preferem sair e fazer compras do que orar e adorar a
Deus. Aos que estão mais apaixonados pelas coisas do mundo que pelas espirituais.
A estes Jesus diz: “Aconselho-te que de mim compres”. Noutros termos: “Vocês
precisam fazer negócios comigo. Precisam somente daquilo que tenho para lhes
dar. Ao invés de armazenarem coisas materiais, adquiram de mim as coisas
espirituais. Não podem comprar minhas vestes nas lojas”.
Há uma profunda ironia sobre estes três produtos - ouro, vestes brancas e
olhos ungidos. Laodicéia era famosa por possuí-los em abundância. Aquela parte
do mundo vinha a Laodicéia comprar estes valiosos ítens. Mas Jesus diz-lhes
que, antes de mais nada, precisavam comprar o mesmo dEle. Obviamente, nosso
Senhor está fazendo uma referência espiritual ao que cada um destes produtos
representa. Todos, pois, têm de vir e comprar dEle ouro espiritual, vestes
celestiais e verdadeira unção para os olhos.
São bens inestimáveis que o dinheiro não pode comprar. Apenas o
arrependimento pode completar esta transação.
Os crentes de Laodicéia precisavam comprar “ouro provado no fogo”. Ouro
puro, com todas as impurezas removidas através do processo de refinamento. Ouro
refere-se ao que há de mais valioso e caro. Esta é a nossa fé em Deus. Ela é
constantemente comparada ao ouro refinado em fornos (Tg 1.2-4; Pv 17.3). Jesus
convida tais crentes a se achegarem a uma fé profunda e pura em sua fidelidade
a Ele.
Necessitavam comprar de Cristo vestes brancas. Estas roupas referem-se à
justiça dos santos (Ap 19.8). A admoestação significa entregar-se novamente a
Cristo para obter a justiça dos santos.
Eles também careciam comprar colírio para os olhos. Ou seja: da unção do
ministério esclarecedor do Espírito Santo. Apenas o Espírito pode abrir-nos os
olhos para enxergarmos a Deus, as verdades espirituais e a nós mesmos. O
Espírito Santo precisa remover de nós toda a ilusão e dar-nos a real visão
espiritual. Cristo está dizendo: “Você precisa da ajuda do Espírito Santo para
abrir os olhos, então poderá enxergar quão nu, cego e miserável se encontra.
Até que reconheça o seu pecado, nunca se arrependerá”.
O Senhor insiste: “Venha a mim e compre urgentemente o que precisaá.
Entregue-me sua vida, e dê-me seu coração por completo. Receba de mim o que
realmente necessita - a genuína fé em Deus, um coração renovado para obedecê-lo
e discernimento das coisas espirituais”.
O que acontecerá se os crentes de Laodicéia não negociarem com Deus?
Jesus alerta que os disciplinará: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo”.
Tais palavras são claramente endereçadas aos cristãos. Jesus disciplina apenas
os próprios filhos (Hb 12.5-11). Como pai, não disciplino os filhos de meus
vizinhos. Tampouco as crianças do outro quarteirão. Disciplino apenas meus
filhos. Da mesma forma, Jesus é categórico: “Eu repreendo e castigo a todos
quantos amo”.
Jesus ama os seus, mesmo quando desobedientes. A palavra aqui traduzida
por “amor” não é o ágape, significando a escolha volitiva do desejo de amar.
Surpreendentemente, é phileo. E o amor de sentimentos, afeições e emoções.
Neste contexto, esta é a palavra mais importante que Cristo poderia ter usado.
Jesus já havia aberto seu coração e revelado seu transtorno por causa
deles. Era como se o Senhor dissesse: “Vocês me deixaram doente”. Ao mesmo
tempo, Ele quer que saibam: ainda os ama do mais profundo do coração. Somos
magoados com mais intensidade por aquele a quem mais amamos. Os mais queridos
podem facilmente machucar-nos. Jesus declara: “Ainda o amo (phileo) do mais
profundo do coração, da boca do estômago, do profundo do meu ser. Sinto um
profundo amor por você. Ainda o amo. Volta para mim”.
A palavra zeloso (v. 19) significa estar em chamas. Demonstra algo
alcançando o ponto de ebulição. Ele está dizendo: “Faça uma reviravolta em sua
vida e seja fervoroso por mim novamente. Redirecione seu coração para mim,
antes que eu precise discipliná-lo”.
Talvez você seja um cristão, mas sua paixão já se foi há muito tempo. Mas
Jesus lhe dirige este apelo: “Venha, submeta-se novamente a mim. Deixe as
coisas do mundo. Arrependa-se de sua preocupação com sua carreira, casa, família,
recreação e tudo mais. Redirecione sua atenção para mim. Arrependa-se e seja
zeloso”.
A Palavra para os Ímpios
Jesus agora refere-se aos membros mornos e não crentes genuínos. Este
grupo confessava a Cristo, mas não o possuía. Era joio em meio ao trigo. Não
andava totalmente com Cristo. Eles são mornos, estão perdidos.
Aos não regenerados Jesus diz: Eis
que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
em sua casa, e com ele cearei e ele comigo (v. 20).
Que convite maravilhoso!
Esta porta é a entrada do coração. É aberta ou fechada quando Cristo se
aproxima? Quando fechada, Ele bate, procurando entrar. Bate pacientemente,
tentando obter-lhe a atenção. Este é o ministério persuasivo do Espírito Santo:
esmurra-nos os corações, forçando a entrada para Cristo. Mas os de Laodicéia
achavam-se mui preocupados com os bens materiais, nem mesmo ouviam suas
persistentes batidas.
Jesus poderia derrubar a porta se o quisesse. Mas Ele deseja ser
convidado a entrar. Esta é a nossa responsabilidade. Pela fé, abramos os
corações para receber a Jesus. Convidemos a Cristo a que viva em nossos
corações. Recebamo-lo como nosso Senhor e Salvador. “Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no
seu nome” (Jo 1.12).
Salvação é mais que mero conhecimento intelectual. Ela requer
arrependimento e fé. Se convidarmos a Cristo, Ele promete estabelecer
permanente morada em nossas vidas: “Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta
do coração eu virei a ele”. Que promessa! O Deus do céu e da terra virá e
viverá em nossos humildes corações.
Cristianismo é um relacionamento íntimo e pessoal com Cristo. Salvação é
mais do que tirar o homem do inferno e colocá-lo no céu. É tirar Cristo do céu
e colocá-lo dentro do homem. Quando Cristo entra em nossa vida, partilha a ceia
conosco. Compartilhar a refeição significa íntima comunhão. Significa sentar-se
à mesa com alguém e solidarizar-se com ele. Significa ainda visitar, conversar,
ouvir e encorajar um ao outro. E Intima comunhão.
Assim é o relacionamento com Cristo. Podemos abrir-lhe nossos corações
francamente, e contar-lhe qualquer coisa que queiramos. Podemos ainda
compartilhar com Ele nossos pensamentos mais profundos e as necessidades mais
pungentes. Que privilégio!
Já abriu seu coração para receber a Jesus Cristo? Se ainda não, pergunto:
Por quê? Você não pode ser salvo apenas conhecendo alguns fatos sobre Cristo.
Tampouco será salvo freqüentando a igreja e fazendo boas obras. Salvação
significa convidar a Cristo para viver em seu coração. E experimentar um
relacionamento pessoal e transformador de vida com Ele.
A Promessa
Jesus conclui com uma grande promessa aos fiéis:
Ao que vencer lhe concederei que se assente
comigo no meu trono, assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu
trono (Ap 3.21).
O vencedor não é o que não cai, nem o morno. É o que vence o pecado. O o
vencedor não permanece insípido. Ele vence sua indiferença espiritual,
redirecionando seu coração para Cristo.
Aos vencedores é prometido o privilégio de sentar-se com Cristo em seu
trono. Se tal promessa não estivesse escrita na Bíblia, diria que é uma
blasfêmia. Mas é isto que Jesus nos promete. Sentaremos com Ele em seu trono,
compartilhando-lhe o eterno reinado.
Com esta promessa, Jesus olha em direção à sua segunda vinda. Quando
voltar, introduzirá seu reino na terra. Naquele dia, o Senhor será rodeado
pelos fiéis. Aos que têm servido a Cristo nesta vida, serão tratados com real
deferência. E sentar-se-ão no trono para participar de seu reinado milenar.
Em 1993, uma nova administração mudou-se para a Casa Branca, em
Washington, D.C. Adivinhem quem o presidente colocou em seu gabinete? Ele
acercou-se dos que lhe haviam sido fiéis. Seus colaboradores devotos receberam
cargos de confiança. Alguns de seus oficiais mais competentes, hoje, eram
desconhecidos ontem. Mas agora foram elevados a importantes posições. Ocupam
cargos de grande responsabilidade simplesmente porque foram fiéis ao que agora
é presidente.
É exatamente o que acontecerá na volta de Cristo. Ele inaugurará seu
reino, e delegará a seus vencedores posições chaves. Muitos “Joãos Ninguéns” de
hoje, como você e eu, serão promovidos a posições de liderança no reino
verdadeiro. Um dia, os santos reinarão com Cristo na terra (Mt 19.28; 1 Co
6.38; Ap 20.4).
Com tal futuro diante de nós, como podemos ser mornos? Se Ele sofreu e
morreu na cruz para comprar-nos com o próprio sangue, como podemos lhe ser
indiferentes?
Podemos vencer porque Ele venceu. Cristo venceu através de sua morte
sacrificial. Por meio de sua obediência, foi ressuscitado e está sentado à
destra de Deus nos céus. Nossa obediência a Deus deixa-nos aptos a vencer
também. E através de nossa obediência que, um dia, seremos recompensados com o
direito de sentarmo-nos nos lugares celestiais.
O Alerta
Jesus conclui esta sétima e última carta com um apelo apaixonado e
pessoal para que lhe ouçamos a mensagem:
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas (Ap 3.22).
Ouvir e não obedecer, é não ouvir completamente. Precisamos guardar a
mensagem desta carta. Cristo está falando a cada um e a todos nós,
coletivamente. Ouçamos o que Ele diz.
A mensagem é clara. O crente morno comete um grande pecado. Nossa apatia
espiritual por Jesus, causa-lhe grande desgosto e pesar. Precisamos checar
constantemente a temperatura do nosso coração. Quando nos tornamos mornos,
temos de nos levantar para que a nossa paixão espiritual mantenha-se sempre
ardente.
É isto que Ele diz. Precisamos reacender a paixão espiritual por Jesus em
nossos corações. E assim que a igreja precisa ser. Fomos chamados para ser um
corpo de crentes profundamente apaixonados por Cristo.
Quando o mundo vir a realidade de nosso amor por Cristo, a mensagem do
Evangelho terá credibilidade. Uma vida inflamada por Cristo vale mais do que
uma biblioteca cheia de argumentos. O mundo espera ver a realidade de nosso
amor por Ele.
Certa vez, uma igreja pegou fogo. Toda a vizinhança correu para vê-la em
chamas. O fogo era tão quente que não houve esperança de salvação do prédio.
Entre os curiosos estava um ateu. Era conhecido por sua descrença e ataques
cínicos ao povo de Deus. Ao ficar ali assistindo a igreja queimar, um dos
membros disse-lhe sarcasticamente: “O que você está fazendo aqui? Nunca pensei
que o veria na igreja”.
O ateu respondeu: “Você vai ter que me desculpar. Mas nunca tinha visto
uma igreja em chamas antes”.
Penso que é isto que o mundo precisa ver. A Igreja em chamas.
Não morna ou indiferente. Mas cheia de crentes com amor carmesim por
Jesus Cristo.
É isto que o mundo precisa ver.
A Igreja em chamas!
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Livro:- Alerta Final – Steven J. Lawson