CARTA À IGREJA
DE SARDES, 3.1-6
1.
Destinatário (3.1a)
Continuando rumo ao sudeste de
Tiatira, o mensageiro teria de viajar cerca de 50
quilômetros até Sardes, a antiga
capital da Lídia. Ela era famosa pela sua fabricação de lã e afirmava ter sido
a primeira cidade a descobrir a arte de tingir lã. Sardes havia alcançado seu
ápice de prosperidade sob o rico rei Croesus (ca. 560 a.C.). Conquistada por
Ciro, ela permaneceu desconhecida durante o governo persa. No período romano,
houve urna certa medida de restauração. Mas Charles diz que mesmo então
“nenhuma cidade na Asia apresentou um contraste mais deplorável entre o
esplendor passado e o declínio inquietantemente atual”.
Por esse motivo Ramsay chama
Sardes de “a cidade da morte”. Ele escreve: “Assim, quando as Sete Cartas foram
escritas, Sardes era uma cidade do passado, que não tinha futuro”. Hoje existe
uma pequena vila, chamada Sart. O principal culto em Sardes era a depravada
adoração de Cibele (ou Artemis). Charles diz: “Seus habitantes tinham se destacado
pela luxúria e libertinagem”.74 Isso dificultou a manutenção dos padrões
cristãos de pureza.
2.
Autor (3.1b)
Aqui Cristo é identificado como o
que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas (cf. 2.1). Com sete
Espíritos de Deus evidentemente se quer dizer o Espírito Santo e sua perfeição
e sua obra por meio das sete igrejas, que representam a Igreja universal de
Jesus Cristo (veja comentários em 1.4). As sete estrelas representam os
mensageiros (pastores) das sete igrejas (cf. 1.20).
3.
Censura (3.1c, 2b)
A expressão Eu sei ocorre no
início de cada uma das sete cartas (2.2, 9, 13, 19; 3.1, 8, 15). Nada está
escondido aos olhos do Cristo onisciente. Uma vez que Ele conhece
perfeitamente, Ele é capaz de julgar com justiça. Seria difícil imaginar uma
censura mais avassaladora: tens nome de que vives e estás morto. Essa cidade
arrasada não estava apenas morta, mas a igreja também estava morta. Ela tinha
perdido sua vida espiritual. Smith comenta: “Sardes evidentemente era conhecida
como uma ‘igreja viva’ — em que havia muita atividade, mas Aquele que não olha
para a aparência exterior, mas vê o coração declara: Tu [...] estás morto”.
Erdman leva esse pensamento um
passo adiante: “Provavelmente, seus cultos eram bem freqüentados e conduzidos
de maneira correta. Podem ter havido comitês e aniversários e reuniões. No seu
rol de membros podem ter havido líderes sociais notáveis. No entanto, ela
estava morta”.
A igreja tinha obras, mas essas
obras não eram perfeitas diante de Deus (2). Erdman comenta: “Ela não
conquistou nada no reino espiritual: almas não estão sendo salvas; santos não
são fortalecidos; ajuda não está sendo oferecida aos necessitados; seus cultos
são formais, sem vida e sem sentido: ‘Não achei as tuas obras aperfeiçoadas
diante do meu Deus’“
A palavra para perfeitas
literalmente significa “suficientes” ou “cheias”. Swete faz a seguinte sábia
observação: “Obras’ são ‘cheias’ somente quando são avivadas pelo Espírito de
vida”.78 Precisamente, é isso que faz a diferença entre uma igreja morta e uma
igreja viva. Uma sente a falta do Espírito Santo; a outra está cheia e
capacitada pelo Espírito. Não será o número de atividades ou a organização
eficiente que tirará o lugar da dinâmica poderosa do Espírito Santo.
4.
Exortação (3.2a, 3)
Sê vigilante (2) é literalmente:
“Esteja continuamente vigilante”. Vigilante é o particípio presente do verbo
gregoreo, que significa “esteja acordado” ou “vigie”. Jesus usou essa palavra
duas vezes no discurso do monte das Oliveiras (Mc 13.35, 37), requerendo
vigilância constante na preparação para sua segunda vinda.
A igreja de Sardes foi advertida
da seguinte maneira: confirma o restante que estava para morrer. No meio dessa
igreja morta havia alguns elementos de vida. Mas mesmo esses estão prestes a
morrer — literalmente: “estavam prestes [verbo no imperfeito] a morrer”. Swete
comenta: “O imperfeito olha para trás do ponto de vista do leitor da época
quando a visão foi recebida e, ao mesmo tempo, com um otimismo sensível ele
expressa a convicção do escritor de que o pior logo teria passado”. Isto é, os
cristãos em Sardes podiam dizer: “Essas coisas estavam prestes a morrer; mas
não vamos permitir que isso aconteça”.
Ramsay destaca em pormenores o
significado da ordem à igreja de Sardes de ser vigilante. A cidade tinha sido
capturada duas vezes pelo inimigo por causa da falta de vigilância da parte do
seu povo. A primeira vez foi quando o rico Croesus era rei. Ramsay descreve a
situação da seguinte maneira: O descuido e a falta de manter uma vigilância
eficiente, decorrentes da confiança excessiva na evidente resistência da
fortaleza foram as causas desse desastre, que arruinou a dinastia e causou o
fim do império da Lídia e o domínio de Sardes. Os muros e portões eram
extremamente fortes. A colina na qual a cidade alta havia sido erguida era
íngreme e imponente. O único acesso à cidade alta era cuidadosamente
fortificado para não oferecer chance alguma a um invasor. Mas havia um ponto
fraco: em um lugar era possível que um inimigo ágil subisse a parede perpendicular
da montanha imponente, se os defensores fossem negligentes e permitissem que
ele a escalasse de maneira desimpedida.
Isso ocorreu em 549 a.C. Mas em
218 a.C. voltou a acontecer. Ramsay escreve:
Mais de três séculos depois, um
outro caso semelhante ocorreu. Archaeus e Antíoco, o Grande, estavam lutando
pelo domínio de Lídia e todo o império selêucida. Antíoco venceu seu rival em
Sardes, e a cidade foi capturada novamente por uma surpresa do mesmo tipo: um
mercenário de Creta mostrou o caminho, escalando a colina e entrando na
fortaleza sem ser observado. A lição dos dias antigos não tinha sido aprendida;
a experiência havia sido esquecida; os homens foram desatentos e negligentes; e
quando veio o momento da necessidade, Sardes estava despreparada.
O significado dessa lição para os
cristãos é óbvio. Precisamos ter apenas um ponto fraco em nosso caráter, um
lugar desprotegido em nossa vida espiritual, para ser vítima da astuta
estratégia de Satanás. Continua sendo verdade que a “vigilância eterna é o preço
da segurança”.
A admoestação à igreja de Sardes
continua: Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e
arrepende-te (3). Há uma mudança freqüente do tempo no grego que é difícil de
reproduzir na tradução simples em português. Literalmente seria o seguinte:
“Continue lembrando [presente], pois, como você [singular] tem recebido [e
continua possuindo; perfeito] e ouviu [aoristo], e continue guardando [presente],
e arrependa-se [agora mesmo; aoristo]”. Lenski observa: “O arrependimentoimediato
e verdadeiro é o único remédio para a morte que se estabeleceu ou quase se
estabeleceu”. Esse arrependimento sempre quando lembramos da Palavra de Deus que
temos recebido e ouvido.
Swete mostra bem a força dos
tempos nesse versículo: “O aoristo [ouvido] volta para o momento em que a fé
veio pelo ouvir (Rm 10.17) [...]; o perfeito [tens recebido] chama a atenção à
responsabilidade permanente da confiança então recebida [...] ‘guarde aquilo
que recebeu e imediatamente volte-se da sua negligência passada’
Os versículos 2,3 sugerem “Cinco
Passos para um Avivamento”: 1) Sê vigilante; 2)
Confirma o restante que estava
para morrer; 3) Lembra-te; 4) Guarda-o; 5) Arrepende-te. Mais uma advertência é
anunciada: se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que
hora sobre ti virei. Esse é um claro eco de Mateus 24.42-44.
Repetidas vezes somos advertidos
de que Cristo virá num momento inesperado.
5.
Aprovação (3.4)
Mesmo na igreja morta em Sardes
havia um remanescente fiel — algumas pessoas. Deissmann diz que a palavra grega
(onoma) aqui tem “o significado de pessoa”.84 Ela é usada dessa forma na
Septuaginta em Números 1.2, 20; 3.40, 43, em que provavelmente traz o
pensamento adicional de “pessoas reconhecidas pelo nome”. Alguns estudiosos sentem
que aqui a palavra significa “algumas pessoas cujos nomes estavam no rol de
membros da igreja”.
Os fiéis não contaminaram suas
vestes. Moffatt comenta: “A linguagem reflete registros de cumprimento de votos
na Asia Menor, onde roupas manchadas desqualificavam o adorador e desonravam o
deus. A pureza moral nos qualifica para a comunhão espiritual”.86 Ir à presença
de Deus com nossos pensamentos e sentimentos manchados com egoísmo é
desonrá-lo. As vestes da nossa personalidade devem ser mantidas puras se desejamos
ter comunhão com Deus.
Para aqueles que mantiveram sua
pureza, a promessa é a seguinte: comigo andarão de branco. A última palavra
está no plural no grego, indicando “roupas brancas”. Uma vez que mantiveram
suas vestes limpas eles serão para sempre vestidos de branco, símbolo da
santidade divina ou da justiça de Cristo. Aqueles que permaneceram brancos são
dignos dessa honra.
6.
Recompensa (3.5)
A promessa ao vencedor em Sardes
se encaixa com o que acabou de ser dito: O que vencer será vestido de vestes
brancas. No melhor texto grego aparece a palavra “assim”. O texto deveria ser
traduzido da seguinte forma: “O que vencer, será assim vestido de vestes
brancas” (referindo-se ao versículo anterior). Charles diz: “Essas vestes são
os corpos espirituais com as quais o fiel será vestido na ressurreição”.
Ele encontra apoio para isso em 2
Coríntios 5.1, 4 e na literatura intertestamentária. Swete dá a essa expressão
uma conotação mais ampla: “Nas Escrituras, vestuário branco denota a)
festividade... b) vitória.., e) pureza... d) o estado celestial”.88 Ele
acrescenta:
“Todas essas associações
convergem aqui: a promessa é de uma vida livre de contaminação, radiante de
alegria celestial, coroada com vitória final”. Essa parece ser a explicação
mais adequada.
Aquele que vencer, que permanece
firme até o fim da vida, recebe a promessa: de maneira nenhuma riscarei o seu
nome do livro da vida. E isso que as palavras de Jesus querem dizer em Mateus
10.22: “aquele que perseverar até ao fim será salvo”; isto é, eternamente. Esse
nome não só permanecerá seguro no registro celestial, mas Jesus promete:
confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Cristo não se
envergonhará em reconhecer aqueles que Lhe pertencem. A linguagem aqui lembra
Mateus 10.32: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o
confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”.
7.
Convite (3.6)
Essa frase recorrente ressalta a
responsabilidade do ouvir. Essas cartas eram lidas em voz alta nas igrejas.
Elaboração pelo:- Evangelista
Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Beacon
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