domingo, 29 de abril de 2012

CARTA À IGREJA DE SARDES

CARTA À IGREJA DE SARDES, 3.1-6

1. Destinatário (3.1a)

Continuando rumo ao sudeste de Tiatira, o mensageiro teria de viajar cerca de 50
quilômetros até Sardes, a antiga capital da Lídia. Ela era famosa pela sua fabricação de lã e afirmava ter sido a primeira cidade a descobrir a arte de tingir lã. Sardes havia alcançado seu ápice de prosperidade sob o rico rei Croesus (ca. 560 a.C.). Conquistada por Ciro, ela permaneceu desconhecida durante o governo persa. No período romano, houve urna certa medida de restauração. Mas Charles diz que mesmo então “nenhuma cidade na Asia apresentou um contraste mais deplorável entre o esplendor passado e o declínio inquietantemente atual”.

Por esse motivo Ramsay chama Sardes de “a cidade da morte”. Ele escreve: “Assim, quando as Sete Cartas foram escritas, Sardes era uma cidade do passado, que não tinha futuro”. Hoje existe uma pequena vila, chamada Sart. O principal culto em Sardes era a depravada adoração de Cibele (ou Artemis). Charles diz: “Seus habitantes tinham se destacado pela luxúria e libertinagem”.74 Isso dificultou a manutenção dos padrões cristãos de pureza.

2. Autor (3.1b)

Aqui Cristo é identificado como o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas (cf. 2.1). Com sete Espíritos de Deus evidentemente se quer dizer o Espírito Santo e sua perfeição e sua obra por meio das sete igrejas, que representam a Igreja universal de Jesus Cristo (veja comentários em 1.4). As sete estrelas representam os mensageiros (pastores) das sete igrejas (cf. 1.20).

3. Censura (3.1c, 2b)

A expressão Eu sei ocorre no início de cada uma das sete cartas (2.2, 9, 13, 19; 3.1, 8, 15). Nada está escondido aos olhos do Cristo onisciente. Uma vez que Ele conhece perfeitamente, Ele é capaz de julgar com justiça. Seria difícil imaginar uma censura mais avassaladora: tens nome de que vives e estás morto. Essa cidade arrasada não estava apenas morta, mas a igreja também estava morta. Ela tinha perdido sua vida espiritual. Smith comenta: “Sardes evidentemente era conhecida como uma ‘igreja viva’ — em que havia muita atividade, mas Aquele que não olha para a aparência exterior, mas vê o coração declara: Tu [...] estás morto”.

Erdman leva esse pensamento um passo adiante: “Provavelmente, seus cultos eram bem freqüentados e conduzidos de maneira correta. Podem ter havido comitês e aniversários e reuniões. No seu rol de membros podem ter havido líderes sociais notáveis. No entanto, ela estava morta”.

A igreja tinha obras, mas essas obras não eram perfeitas diante de Deus (2). Erdman comenta: “Ela não conquistou nada no reino espiritual: almas não estão sendo salvas; santos não são fortalecidos; ajuda não está sendo oferecida aos necessitados; seus cultos são formais, sem vida e sem sentido: ‘Não achei as tuas obras aperfeiçoadas diante do meu Deus’“
A palavra para perfeitas literalmente significa “suficientes” ou “cheias”. Swete faz a seguinte sábia observação: “Obras’ são ‘cheias’ somente quando são avivadas pelo Espírito de vida”.78 Precisamente, é isso que faz a diferença entre uma igreja morta e uma igreja viva. Uma sente a falta do Espírito Santo; a outra está cheia e capacitada pelo Espírito. Não será o número de atividades ou a organização eficiente que tirará o lugar da dinâmica poderosa do Espírito Santo.

4. Exortação (3.2a, 3)

Sê vigilante (2) é literalmente: “Esteja continuamente vigilante”. Vigilante é o particípio presente do verbo gregoreo, que significa “esteja acordado” ou “vigie”. Jesus usou essa palavra duas vezes no discurso do monte das Oliveiras (Mc 13.35, 37), requerendo vigilância constante na preparação para sua segunda vinda.

A igreja de Sardes foi advertida da seguinte maneira: confirma o restante que estava para morrer. No meio dessa igreja morta havia alguns elementos de vida. Mas mesmo esses estão prestes a morrer — literalmente: “estavam prestes [verbo no imperfeito] a morrer”. Swete comenta: “O imperfeito olha para trás do ponto de vista do leitor da época quando a visão foi recebida e, ao mesmo tempo, com um otimismo sensível ele expressa a convicção do escritor de que o pior logo teria passado”. Isto é, os cristãos em Sardes podiam dizer: “Essas coisas estavam prestes a morrer; mas não vamos permitir que isso aconteça”.

Ramsay destaca em pormenores o significado da ordem à igreja de Sardes de ser vigilante. A cidade tinha sido capturada duas vezes pelo inimigo por causa da falta de vigilância da parte do seu povo. A primeira vez foi quando o rico Croesus era rei. Ramsay descreve a situação da seguinte maneira: O descuido e a falta de manter uma vigilância eficiente, decorrentes da confiança excessiva na evidente resistência da fortaleza foram as causas desse desastre, que arruinou a dinastia e causou o fim do império da Lídia e o domínio de Sardes. Os muros e portões eram extremamente fortes. A colina na qual a cidade alta havia sido erguida era íngreme e imponente. O único acesso à cidade alta era cuidadosamente fortificado para não oferecer chance alguma a um invasor. Mas havia um ponto fraco: em um lugar era possível que um inimigo ágil subisse a parede perpendicular da montanha imponente, se os defensores fossem negligentes e permitissem que ele a escalasse de maneira desimpedida.

Isso ocorreu em 549 a.C. Mas em 218 a.C. voltou a acontecer. Ramsay escreve:
Mais de três séculos depois, um outro caso semelhante ocorreu. Archaeus e Antíoco, o Grande, estavam lutando pelo domínio de Lídia e todo o império selêucida. Antíoco venceu seu rival em Sardes, e a cidade foi capturada novamente por uma surpresa do mesmo tipo: um mercenário de Creta mostrou o caminho, escalando a colina e entrando na fortaleza sem ser observado. A lição dos dias antigos não tinha sido aprendida; a experiência havia sido esquecida; os homens foram desatentos e negligentes; e quando veio o momento da necessidade, Sardes estava despreparada.

O significado dessa lição para os cristãos é óbvio. Precisamos ter apenas um ponto fraco em nosso caráter, um lugar desprotegido em nossa vida espiritual, para ser vítima da astuta estratégia de Satanás. Continua sendo verdade que a “vigilância eterna é o preço da segurança”.

A admoestação à igreja de Sardes continua: Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te (3). Há uma mudança freqüente do tempo no grego que é difícil de reproduzir na tradução simples em português. Literalmente seria o seguinte: “Continue lembrando [presente], pois, como você [singular] tem recebido [e continua possuindo; perfeito] e ouviu [aoristo], e continue guardando [presente], e arrependa-se [agora mesmo; aoristo]”. Lenski observa: “O arrependimentoimediato e verdadeiro é o único remédio para a morte que se estabeleceu ou quase se estabeleceu”. Esse arrependimento sempre quando lembramos da Palavra de Deus que temos recebido e ouvido.

Swete mostra bem a força dos tempos nesse versículo: “O aoristo [ouvido] volta para o momento em que a fé veio pelo ouvir (Rm 10.17) [...]; o perfeito [tens recebido] chama a atenção à responsabilidade permanente da confiança então recebida [...] ‘guarde aquilo que recebeu e imediatamente volte-se da sua negligência passada’
Os versículos 2,3 sugerem “Cinco Passos para um Avivamento”: 1) Sê vigilante; 2)
Confirma o restante que estava para morrer; 3) Lembra-te; 4) Guarda-o; 5) Arrepende-te. Mais uma advertência é anunciada: se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei. Esse é um claro eco de Mateus 24.42-44.
Repetidas vezes somos advertidos de que Cristo virá num momento inesperado.

5. Aprovação (3.4)

Mesmo na igreja morta em Sardes havia um remanescente fiel — algumas pessoas. Deissmann diz que a palavra grega (onoma) aqui tem “o significado de pessoa”.84 Ela é usada dessa forma na Septuaginta em Números 1.2, 20; 3.40, 43, em que provavelmente traz o pensamento adicional de “pessoas reconhecidas pelo nome”. Alguns estudiosos sentem que aqui a palavra significa “algumas pessoas cujos nomes estavam no rol de membros da igreja”.

Os fiéis não contaminaram suas vestes. Moffatt comenta: “A linguagem reflete registros de cumprimento de votos na Asia Menor, onde roupas manchadas desqualificavam o adorador e desonravam o deus. A pureza moral nos qualifica para a comunhão espiritual”.86 Ir à presença de Deus com nossos pensamentos e sentimentos manchados com egoísmo é desonrá-lo. As vestes da nossa personalidade devem ser mantidas puras se desejamos ter comunhão com Deus.

Para aqueles que mantiveram sua pureza, a promessa é a seguinte: comigo andarão de branco. A última palavra está no plural no grego, indicando “roupas brancas”. Uma vez que mantiveram suas vestes limpas eles serão para sempre vestidos de branco, símbolo da santidade divina ou da justiça de Cristo. Aqueles que permaneceram brancos são dignos dessa honra.

6. Recompensa (3.5)

A promessa ao vencedor em Sardes se encaixa com o que acabou de ser dito: O que vencer será vestido de vestes brancas. No melhor texto grego aparece a palavra “assim”. O texto deveria ser traduzido da seguinte forma: “O que vencer, será assim vestido de vestes brancas” (referindo-se ao versículo anterior). Charles diz: “Essas vestes são os corpos espirituais com as quais o fiel será vestido na ressurreição”.
Ele encontra apoio para isso em 2 Coríntios 5.1, 4 e na literatura intertestamentária. Swete dá a essa expressão uma conotação mais ampla: “Nas Escrituras, vestuário branco denota a) festividade... b) vitória.., e) pureza... d) o estado celestial”.88 Ele acrescenta:

“Todas essas associações convergem aqui: a promessa é de uma vida livre de contaminação, radiante de alegria celestial, coroada com vitória final”. Essa parece ser a explicação mais adequada.

Aquele que vencer, que permanece firme até o fim da vida, recebe a promessa: de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida. E isso que as palavras de Jesus querem dizer em Mateus 10.22: “aquele que perseverar até ao fim será salvo”; isto é, eternamente. Esse nome não só permanecerá seguro no registro celestial, mas Jesus promete: confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Cristo não se envergonhará em reconhecer aqueles que Lhe pertencem. A linguagem aqui lembra Mateus 10.32: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”.

7. Convite (3.6)

Essa frase recorrente ressalta a responsabilidade do ouvir. Essas cartas eram lidas em voz alta nas igrejas.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Comentário Bíblico Beacon

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